2:30 da madrugada. E os conselheiros de cada chalé ainda estavam na Casa Grande, debatendo sobre assuntos importantes para o acampamento e sobre futilidades. Como sempre. Até agora, eu só conhecia três conselheiros. Mas sei que os mesmos estão do meu lado e poderiam me ajudar em qualquer momento. O medo é sobre a reação dos outros.

O Chalé 15 estava completamente silencioso, como sempre costuma ficar. Meus outros três irmãos estavam dormindo. Eu estava com... insonia. Odeio estar com insonia. Isso não é bom para filhos de Hipnos. Desde minha conversa com Ícelo que eu não consigo mais dormir direito. Tenho agora pesadelos, coisas que nunca me aconteceram anteriormente.

"Você vai saber o momento certo para a insurreição hoje, Dan. Nós o enviaremos um sinal." Albert dissera-me tais palavras um pouco antes de ir para o conselho. Mas que tipo de sinal seria esse? Talvez algum ender invadisse meu chalé e me aviasse, mas acho que tal coisa seria impossível.

Mas o que eu faria exatamente nessa insurreição, já que nem poderes eu tenho? As flores criadas por aquelas filhas de Perséfone podem ser bem mais úteis que eu!

Procurei afastar esses pensamentos da minha cabeça. Tudo o que eu queria agora era dormir, como os meus outros irmãos, mas isso parecia impossível no momento.

Tentei fechar os olhos e deitar em minha confortável cama. Quase consegui dormir. Quase.

── Levante-se desta cama, imprestável! ── gritou alguém ao meu lado. Era uma voz feminina, porém eu não a reconhecia.

── Q... quem é você?! E o que faz aqui? ── pergunto, indignado com a invasão de propriedade alheia. Talvez fosse uma semideusa idiota de Hermes que estava tentando me roubar ou coisa do tipo.

── Quem eu sou? Não se lembra de mim, bebê? ── Por um momento, aquela voz me parecia familiar.

Virei em direção a minha companhia. Quem estava lá? Apenas uma garota de no máximo 17 anos, usando uma calça jeans surrada e uma camisa da banda Guns N' Roses. Parecia uma adolescente riquinha e mimada. Típico de uma garota de Beverly Hills. Mas não. Algo me dizia que havia alguma coisa diferente nela. Algo quase que... Divino. Como a presença e a energia poderosa que eu senti quando estive na presença do Sr. D e de meu irmão.

── Você é... Você é...

── Sim, sou eu. Ênio, a deusa dos massacres. Mas pode me chamar de 'A destruidora de cidades', também gosto deste apelido. ── Disse a deusa, sorrindo. Agora, seus olhos brilhavam com um vermelho intenso e seus cabelos pareciam estar pegando fogo. Ênio. A deusa dos massacres e da guerra fria estava na minha frente. O que ela queria? Bem, antes de tudo, eu deveria ser calmo com esse tipo de divindade. Deuses da guerra são sempre estressados, acho. Mas como sou filho de Hipnos, calma e paciência não me faltam. Então, logo perguntei:

── Bem, Destruidora de Cidades, o que veio fazer aqui?

── Te treinar. E te levar para as realidades espectrais que seus irmãos criaram para proteger a fortaleza de Hipnos, e que mais tarde serviram como "terra" de nascimento de todos os sonhos e pesadelos.

Mais uma vez, informações de mais para minha pequena mente de semideus. Por que os deuses tendem a complicar tantas coisas? Não basta simplesmente simplificar a frase? Mas nãaao, eles querem colocar mais coisas para deixar as frases longas. Que irritante!

── É, eu sei. Também odeio falar difícil, mas meus superiores me mandaram dizer exatamente tais palavras. ── Agora a deusa revirava os olhos. Seus olhos voltaram para o castanho normal e o cabelo voltara para o mesmo preto intenso de antes. ── Então... como nas realidades alternativas criadas pelos onírios o tempo não passa, você terá tempo o bastante para ser treinado por mim e por Ícelo, e depois voltar para cá, exatamente na mesma hora que você saiu daqui. Virás comigo?

Mais uma decisão que eu devo tomar. Porém, todas as minhas antigas decisões só me ajudaram a tomar a decisão "correta" que eu deveria tomar agora. Todo o plano dos rebeldes em busca da compreensão e justiça seriam estragados caso eu não cooperasse. E então, resolvi fazer isso.

── Eu vou, Ênio. Mas como iremos...? ── perguntei, mas não recebi respostas.

A deusa apenas estalara os dedos. Agora, nós estávamos indo para as fortalezas dos meus irmãos, protetoras das fortalezas do meu... pai. Desde que entrei para o Acampamento Meio-Sangue, eu ignorei todos os pensamentos que me levavam direto ao meu pai. Todos os acontecimentos que me levaram àquele acampamento e tudo o que acontecera desde que ele supostamente "morrera". Porém, quase foi impossível. Mas agora, quando eu estava tão próximo dele, minha ira inteira voltou. A raiva que eu sentia por ele ter tirado a vida da minha mãe de uma maneira tão macabra estava voltando mil vezes mais forte.

Eu precisava vencê-lo. Tinha uma meta além de fazer o desejo dos rebeldes se tornar realidade. Eu queria tomar o posto do meu pai. Me tornar o novo "Hipnos". Um mais forte que o que me 'criou'.

Quando eu voltei para a realidade, já não estava mais no dormitório do meu chalé. Eu estava em outra dimensão. Não havia nem chão e nem teto. Não havia limites. Tudo o que se via era uma imensidão preta e estrelas. Nada de planetas. De repente, sinto uma energia familiar surgindo.

── E aí, irmãozinho, pronto para treinar? ── perguntou Ícelo.