Não podia estar acontecendo. Definitivamente, não podia! Estou à beira da morte. Acabei de ver minha mãe se suicidar na minha frente. E tudo isso... Tudo isso por causa do meu pai! Nunca senti tanta raiva de alguém que eu nem sequer conhecia na minha vida! Mas agora, meu ódio por meu falecido pai só aumentou.

As chamas estão se espalhando pelo que resta do antigo apartamento de minha mãe. De repente, escuto a porta de entrada abrir bruscamente. Isso prova que, pelo menos, a entrada do apartamento ainda estava intacta. Será que Somnia está bem? Não o vejo desde a semana passada. Aliás, não o vi desde que as aulas começaram. O que será que aconteceu com ele? Ou será que... será que minha mãe fez algo com ele antes desse surto psicótico dela?!

Se ela fez isso, eu não posso mais perdoá-la por nada. Somnia era meu único amigo. O único ser na face da Terra que ainda me entendia. Eu não precisava me desabafar com ele para ele saber o quão grave as situações estavam. Ele apenas sabia e fazia de tudo para me alegrar. Sem dúvidas, ele era o melhor gato que eu poderia ter.

Mas por enquanto, não posso ficar pensando nisso. Tenho que pensar em continuar vivo, já que as chamas ainda não me pegaram. Acho que bati minha cabeça em algum lugar, pois estou com uma dor insuportável na parte de trás da cabeça. Meu nariz está sangrando. Tenho feridas por diversas partes do meu corpo. Depois de uma explosão daquelas, como ainda sobrevivi?! Quase não tenho mais forças para levantar... Quase. Mas então, apenas fechei os olhos e alguns minutos depois, os abri de novo. Como eu poderia cochilar com uma situação dessas acontecendo? Eu não sei. Mas agora eu já estava um pouco mais recuperado. Me apoiei no sofá que estava atrás de mim e então levantei. Ao olhar novamente para o sofá, vejo que não é mais o sofá que eu costumava conhecer e sentar para tomar chá e conversar com minha mãe, mas sim um grande móvel feito inteiramente de rosas de todas as cores. Ao olhar para o chão, vejo várias rosas negras espalhadas pelo carpete do apartamento, soltando uma espécie de pólen que impede que o fogo se alastre rapidamente pelo apartamento. Caio uma ou duas vezes antes de me levantar definitivamente e tentar me mover. Mas claro, não consigo! Minha perna está quebrada e não vejo como me mover para sair dali, a não ser me arrastando. Até que de repente, o ar em minha volta começa a gelar e eu sinto sendo erguido por uma roseira sem espinhos e depois conto até 10. Me belisco. Não. Aquilo não era um sonho. Era real. E muuuito real.

Vejo as silhuetas de três garotas e um garoto. Todos trajando armaduras, que, pelo que me pareciam, eram antigas armaduras gregas. Uma das garotas segurava uma foice, enquanto os outros usavam escudos e espadas normais.

── Vamos tirá-lo logo daqui antes que a Lady perca suas forças e o incêndio volte ao normal! ── diz o garoto para a menina com a foice.

── Lady e Dafne, vocês conseguem fazer com que as suas roseiras e flores nos carreguem para fora daqui, rápido? ── pergunta a menina com a foice, se virando para as duas garotas que estavam atrás dela.

Quem seriam essas pessoas e o quê estava acontecendo?! Seja o que for, elas estavam lá para me ajudar e no meu estado atual, isso é a coisa que eu mais preciso.

As duas garotas conhecidas como Lady e Dafne se viraram para mim e recitaram alguns versos de um hino em grego antigo e a roseira que me sustentava começou a se mover e a pegar os outros que lá estavam também no apartamento. Ouço mais algumas ordens vindas da menina com a foice e do garoto e então, fecho os olhos uma última vez, mas dessa vez, foi involuntário. Eu desmaiei.