Ethan ainda estava sentado no banco, conversando com uma senhora, que aparentava ter 70 anos. Eu achei que ele não estaria mais ali, mas estava. Não sei se estava me esperando ou se aquela senhorinha que havia tomado todo seu tempo. Sai do carro e fiquei observando Ethan conversar com a senhora. Ele não parecia muito contente por estar ouvindo as histórias dela, mas ainda estava lá. Fui me aproximando e Ethan me viu, se levantou, parecendo aliviado e disse algo para a senhora.

“Ainda bem que você apareceu, não aguentava mais ouvir sobre o que essa senhora vai fazer no natal dela.” –Ele disse sussurrando.

“Não achei que ainda estaria aqui.” –Eu disse rindo.

“E não era para eu estar aqui, mas ela começou a me contar da vida dela desde quando ela presenciou a inauguração da roda!” –Ele disse.

Era muito engraçado ver Ethan falar esse tipo de coisa. Ele falava sério, como se aquilo realmente tivesse acontecido.

“Mas então, o que resolveram lá?” –Ele me perguntou.

“Não voltamos, mas perdoei ele.” –Eu disse.

“Mas ele te contou toda história?” –Ethan perguntou.

“Sim, eu acho, como eu disse, o perdoei, mas quero dar um tempo para ele pensar no que fez.” –Eu disse.

“Então não voltaram?” –Ele perguntou.

“Acho que aquela senhora o deixou surdo.” –Eu disse.

Ethan sorriu e ficou me olhando com aqueles lindos olhos. Ele era mais alto que eu, mas eu nunca me cansava de ficar olhando para o alto, para olhar seu rosto.

“Sabe, Ethan, eu tenho um outro motivo para não ter voltado com Teddy.” –Eu disse.

“O que?” –Ele perguntou.

“Queria que você me beijasse um dia.” –Eu respondi.

Ethan ficou me olhando, sem saber o que fazer exatamente. Acho que só assim minha mente ficaria tranquila, eu estava confusa comigo, eu não sabia mais o que era o certo e errado, só sei que não estava namorando com Teddy e poderia fazer o que eu quisesse. Eu achei que nunca faria isso, mas eu estava cansada de ficar em conflito.

“Não sei se seria o certo a se fazer...” –Ele disse.

“Por que?” –Perguntei.

“Porque você gosta dele e ...” –Ethan dizia, mas o interrompi.

“Ethan, você tem toda razão, eu amo o Teddy mas...”-Eu coloquei a mão em seu rosto. –“Você mexe comigo de alguma forma.” –Completei.

“Você mexe comigo de todas as formas.” –Ele disse rindo.

“Então...” –Eu disse olhando para ele.

“Não posso fazer isso...” –Ele disse.

“Tudo bem, me desculpa.” –Eu disse.

“Hey. Saiba que eu queria muito fazer isso.” –Ele disse.

Sorri e o abracei. Estava me sentindo uma idiota, mas ainda queria que isso acontecesse, mas também, ele tinha razão, parecia que eu estava o usando, mas não era essa a minha intenção. Eu estava mesmo gostando do Ethan, mas não mais do que sinto por Teddy.

“Vamos sair daqui” – Eu disse.

“Não, espera.” –Ethan disse.

“Tem algum plano melhor?” –Perguntei.

Ethan segurou meu rosto com as suas mãos e aproximou seu rosto muito rápido e quando menos esperei, seus lábios já estavam colados aos meus. Eram quentes e molhados. O beijo durou por poucos minutos. Ethan parou o beijo e não afastou muito seu rosto do meu e ficamos nos encarando.

“E toda aquela conversa de que não poderia fazer isso?” – Perguntei.

“Nem lembro mais o que eu disse.” –Ele disse rindo.

Ethan me deu um selinho e soltou meu rosto, nos afastamos um pouco e respirei fundo.

“Poderia fazer isso mais vezes.” –Eu disse.

“Pode ser agora mesmo!” –Ele disse se aproximando.

“Não, não, não” –Eu disse rindo.

Coloquei as mãos em seu peitoral e o impedi que se aproximasse, eu ria tanto que ia perdendo as forças e ele se aproximava mais.

“Para, Ethan.” –Eu disse rindo.

Ethan me abraçou e logo me soltou.

“Vamos, vou te acompanhar até em casa.” –Ele disse me dando seu braço esquerdo.

Segurei seu braço e começamos a andar. Pelo caminho, voltamos a nossa “brincadeira” de adivinhar o que as pessoas são.

“Aquele ali, acho que sente a falta da namorada.” –Ele apontou para Teddy.

Teddy não nos viu, estava virando a esquina, rumo a sua casa. Ele estava com capuz do seu casaco verde e eu pude ver seus fones de ouvido. Ele caminhava com as mãos nos bolsos do casaco e andava rápido, talvez acompanhando o ritmo da música.

“Você também não ajuda.” –Eu disse apertando o braço do Ethan.

Ethan sorriu e beijou a minha cabeça. Não demoramos muito e chegamos em casa.

“São que horas?” –Perguntei.

Ethan olhou seu relógio preto, que estava no pulso direito.

“Quase 7 p.m.” –Ele respondeu.

“Janta comigo então.” –Eu disse.

Ethan demorou pra responder e olhava o relógio toda hora.

“O que foi?” –Perguntei.

“Nada. Eu normalmente janto com minha família.” –Ele disse.

“Tudo bem, Ethan, a gente se vê na escola amanhã.” –Eu disse sorrindo.

“Outro dia a gente marca um jantar, mas em algum restaurante.” –Ele disse.

“Aguardarei o convite.” –Eu disse.

“A gente se despede com um abraço ou selinho?” –Ele perguntou.

“Ethan!” –Eu disse rindo.

Ethan começou a rir e me abraçou. Senti ele beijar minha cabeça enquanto me abraçava. Ethan acenou e começou a caminhar em direção a sua casa. O esperei sumir na esquina e entrei.

Ao lado da porta, tem uma mesa, onde deixamos as chaves e recados importantes. Havia uma rosa, tão perfeita, parecia que havia acabado de desabrochar. Nenhum recado estava a sua volta. A peguei e ela estava um pouco molhada, como se a tivessem regado. Para variar, Mary estava na sala.

“Mary, que rosa é essa?” –Perguntei.

“Deixaram ai na porta, mas quando a abri, já não tinha mais ninguém.”- Ela respondeu.

“Tão bonita...” –Eu disse a cheirando.

“Ah, se me lembro bem, a única pessoa que estava na rua, era um rapaz, mas ele tava com um capuz, não deu pra ver quem era.” –Ela comentou.

“Capuz?” –Perguntei. –“Que cor?”

“Verde.” –Ela respondeu.

Verde? Pensei. Era a cor que Teddy estava vestindo. Eu odeio receber flores, eu disse pra ele um dia. Ele entendeu o recado, eu disse “flores”, plural. Qual o problema em receber uma? Singular. Lembro de quando recebi flores e as coloquei em um jarro ao lado da cama, farei o mesmo com essa. Fui até a cozinha e peguei um copo no armário superior e coloquei água até a metade. Coloquei a rosa nele e subi para o quarto. A coloquei ao lado da cama e me sentei. Fiquei olhando para aquele pequeno pedaço de vida, que sumiria em dias. Tirei a mochila das costas, a joguei no chão e deitei no meio da cama, olhando para o teto. Ethan... Teddy... as únicas fontes de energia para os meus pensamentos. Eu voltaria para o Rio em poucos dias, tinha que resolver logo tudo. Minha vida com Teddy só dependia dele, minha vida com Ethan só dependia de mim. Se eu não tivesse me inscrito para o grupo de violino, nada disso estaria acontecendo. Uma única decisão na minha vida, mudou o destino de várias pessoas. A vida é algo inacreditável. Se tá fácil demais, a queda também será fácil demais. Eu preferia magoar a mim, do que ter que magoar um dos dois.