Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 129
Ficará bem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/267862/chapter/129

Eu estava aquecida, mas meus pés estavam congelando. Imogen havia informado que o aquecedor tinha queimado e ia pra manutenção depois do natal. Eu estava em um pequeno quarto, que seria da emprega, a qual eles não tinham. Eu estava com três blusas e ainda assim eu sentia um pouco de frio. A pequena janela no alto da parede estava embaçada, mas dava para ver que estava noite. Sai enrolada no grosso edredon que Imogen havia me reservado. Fui até a sala e Matt estava sentado no sofá. Ele estava coberto da cintura para baixo e os pés sobre a mesa de centro. Me sentei ao lado dele e perguntei sobre Teddy. Segundo ele, estava dormindo em seu quarto. Me encolhi no sofá. Matt comentou sobre meu exagero com relação ao frio. Minha revolta, explicando o quão calor é no Brasil, o fez gargalhar. Matt ria de tudo o que eu dizia sobre o sol ser mais perto do Rio de Janeiro.

“Acho que nem se você colocar seu aquecedor no quarenta, você vai sentir o que eu passei.” –Comentei.

Imogen apareceu na sala e me chamou para ajudá-la a confeccionar algumas pulseiras. Enrolada no edredon, fui com Imogen para seu pequeno escritório. E nos sentamos em cadeiras brancas e sobre a mesa haviam várias caixas com o nome do tipo de miçanga. Ela fez um modelo e pediu para que eu inventasse o meu. Algumas tinham a estampa de pata de gato, outras eram apenas laranjas, listradas, redondas, quadradas. Misturei tudo e Imogen gostou, ou fingiu ter gostado. Na hora de amarrar a ponta, Imogen não tinha me explicado como fazer e decidi descobrir sozinha. Um erro. Derrubei todas as miçangas que eu havia colocado no nylon e elas correram pela sala do escritório. Imogen esboçou um breve sorriso e logo voltou a fazer suas coisas. Ajoelhada, segui atrás das pequenas peças que sumiram de encontro ao chão. Eu as guardava no bolso do moletom preto que eu vestia. Eu sabia que peças ainda faltavam, pois contei vinte miçangas e nem quinze estavam em meu bolso.

“Deixa, querida. Quando varrer, acha.” –Disse Imogen.

Me sentei no chão frio e olhei para ela, que estava concentrada tentando passar o fio de nylon por entre a miçanga laranja. Ouvi a porta se abrir, lentamente, e tocar o meu pé. Teddy pediu licença e entrou no pequeno cômodo. Seu rosto estava amassado apenas do lado esquerdo. Ele se espantou ao me ver no chão e estendeu a mão direita para me ajudar a levantar. Segurei sua mão fria e me pus de pé. Tirei as miçangas do meu bolso e as coloquei na mesa onde Imogen trabalhava.

“Faltam algumas.” –Comentei.

Teddy disse a mesma coisa que Imogen, sobre achar quando varresse. Imogen disse que já perdeu as contas de quantas vezes se viu ajoelhando para catar algumas poucas miçangas.

“Deverias conhecer a noite londrina.” –Disse Teddy.

Já se passavam das oito horas e fiquei na dúvida se deveria sair ou não. Imogen nos incentivou e disse que ela conseguia trabalhar muito bem sozinha. Me ofereceu seu sobretudo preto que estava pendurado em um cabide próximo a porta de saída da casa. Nos arrumamos por vinte minutos e saímos. A rua estava deserta. Ela toda era iluminada por luzes de natal. O asfalto estava coberto por uma fina e rapada camada de neve. Os cantos tinham neve acumulada. Teddy e eu estávamos de braços dados e as mãos enfiadas no bolso dos casacos. O sobretudo de Imogen havia caído perfeitamente em mim. Seu perfume estava forte. Cheiro de flores do campo. Chegamos em um ponto onde bares estavam abertos, pelo vidro, pude ver que lá dentro as pessoas não estavam agasalhadas. Mulheres mostravam seus decotes em “V” e os homens as ofereciam bebidas alcoólicas. Talvez, eles nem se conhecessem, ou se esbarraram na rua enquanto compravam presentes para seus familiares. Teddy e eu nos sentamos próximo a porta e um garçom nos entregou o cardápio. Minutos depois, ele voltou com uma pequena cesta com chocolates e nos desejou um feliz natal. Teddy comeu primeiro.

“Deve estar estragado. Ninguém dá chocolate assim de graça.” –Ele disse, pegando outro.

“Mas é natal.” –Eu disse.

“Mas é de graça!” –Disse Teddy, inconformado.

Teddy escolheu a refeição por mim. Enquanto aguardávamos a comida, Teddy acabou com todo o chocolate que havia na cesta. Ele ficou me encarando. Por mais que eu conhecesse a pessoa, o fato de ter alguém me encarando, observando cada detalhe imperfeito do meu rosto, me incomodava.

“Vamos brincar de adivinhar o que cada pessoa é.” –Eu disse.

“Ainda brinca disso? Olha só quantos anos você tem.” –Disse Teddy. –“Mas eu acho que aquele homem divorciou-se da mulher semana passada e está saindo com uma prostituta.” –Ele completou.

Indiscretamente, olhei para o homem o qual Teddy estava falando. Meu pensamento era outro. Ele não se divorciou da mulher, aquela é sua mulher, a jovem de vestido vermelho e decotado nas costas, com seus cabelos negros presos em um coque alto. Eles parecem estar comemorando um ano de casado, planejam ter dois filhos. A mulher atrai os olhares dos outros homens, o que faz com que seu marido a agarre pela cintura. Os dois estão no bar do restaurante. Ela sentada sobre a cadeira alta e ele em pé ao seu lado.

“Quer dizer que não tenho mais idade para essa brincadeira, senhor “aquele homem divorciou-se da mulher”?” –Perguntei.

Teddy disfarçou reclamando sobre a demora da comida.

“Não tem nem dez minutos que pedimos.” –Eu disse.

Teddy deu de ombros e voltou a observar as pessoas ao nosso redor. Uma discussão começou ao fundo. Uma mulher saiu chorando do banheiro. Ela corria com a cabeça baixa e as vezes a levantava para enxergar melhor o caminho. Seu rímel escorrida por sua pele pálida. Ela me olhou com um olhar triste e saiu pela porta. Lá fora, ela parou para colocar seu sobretudo cinza, o fechou e voltou a correr. Ela começou a sumir da nossa vista.

“Deveriam ir atrás dela.” –Eu disse.

“Nem a conheço.” –Comentou Teddy.

Todos se voltaram para o homem que seguiu os caminhos dela. Ele parecia furioso. Me levantei e Teddy segurou meu braço esquerdo.

“Não está pensando em se meter na história, né?” –Perguntou Teddy.

“Eu deve...”- Fui interrompida por um som de tiro.

Uns correram para o fundo do restaurante e outros foram para a rua ver o que era. Me soltei de Teddy e fui lá fora. No final da rua, um homem corria para longe, enquanto uma mulher se contorcia no chão. Corri junto com mais três rapazes e era a mulher do restaurante com as mãos tapando o tiro que havia levado na barriga. Teddy chegou logo depois e desesperada, pedi para que levássemos ela ao hospital. Estávamos sem carro, então um homem a carregou nos braços e a colocou no banco de trás. Antes que ela fosse embora, perguntei seu nome. Todos acharam que esse não era o melhor momento, mas ela respondeu. Vivian. Fecharam a porta do carro e me afastaram dela. O carro derrapou na neve que estava repousada sobre o asfalto e foi em direção ao hospital.

“Por que perguntou o nome dela?” –Perguntou Teddy.

“Eu não sei... achei que parecia importante naquele momento.” –Comentei.

“Você a conhecia?” –Um homem me perguntou.

“Não. Sei que seu nome é Vivian.”

Rapidamente, o homem pegou o seu celular. Ele parecia garçom do restaurante. Senti Teddy passar seu braço direito por trás de mim e repousá-lo sobre meu ombro direito. O homem estava no telefone falando sobre Vivian, que era uma prostituta que sempre levava seus clientes para este restaurante, pois se sentia segura, mas ela nunca dizia que seu nome era esse, tinha um nome diferente para cada cliente. O garçom ficou admirado com o fato de ela ter confiado seu nome a mim. Ele contou também, que Vivian não tinha onde morar, mas já estava juntando dinheiro o suficiente para comprar um pequeno apartamento no interior de Londres e sairia dessa vida. Voltamos para o restaurante e minutos depois, um prato com frango e batatas já estava em nossa mesa. Uma hora depois, um garçom se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido.

“Vivian ficará bem. Ela pediu para te dizer isso.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ainda lerem a fanfic e terem paciência comigo. ♥ haha Curtam a página FANFIC FOLHAS DE OUTONO e saibam quando tem capítulo novo! Obrigada pelo carinho.
Jenny, thewalkingteddy



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Folhas De Outono" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.