O prédio era bem alto. A sombra que o mesmo provocava era fria, apesar do sol forte. Eu era obrigada a toda hora ter que tirar o cabelo do rosto. Pelo número, ele deveria estar hospedado no quarto andar. Contei na fachada. Vinte andares. Camilla me forçou a entrar e me deixei levar. Dez fãs, ou até menos, estavam sentadas na porta do hotel, proibidas de entrar. O porteiro, que parecia um segurança, abriu a porta de vidro para nós. Choque térmico. Lá dentro estava exageradamente frio. O saguão estava um pouco vazio, talvez pelo fato de não ser grande temporada. Fomos até a recepção e uma mulher loira falava no telefone. Ao notar nossa presença, ela desligou.

“Pois não.”

“Gostaríamos de falar com o Edward do...” –Olhei no papel. – “304 B.”

“Todas ali também querem falar com ele.” –Ela apontou para as meninas.

A entrada era toda de vidro e era possível ver as garotas sentadas.

“Sim, mas eu o conheço.”

“Todas dizem isso.”

Camilla não aguentou apenas observar e decidiu falar com a mulher. O tom de sua voz estava se elevando e as pessoas começavam a parar para observar a discussão. Camilla mostrou o papel com a letra do Teddy.

“Liga pra ele!” –Camilla disse pra mim.”

Eu confesso que não havia pensado nisso. Procurei pelo o celular na bolsa e liguei para Teddy. De novo, na segunda chamada, ele atendeu. Desliguei o celular e cinco minutos depois, o telefone da recepção tocou. Camilla cruzou os braços e ficou observando a mulher ao telefone.

“Podem subir.”

Camilla continuou encarando a mulher e deu um sorriso. Segurei sua mão e aguardamos o elevador chegar.Camilla começou a ficar aflita, dizendo se sentir sufocada. Comparado ao elevador do nosso prédio, esse era enorme. Era espelhos e decorado com madeira. Camilla ficou no canto esquerdo e sua respiração estava acelerada. PLIM. O som anunciava que chegamos ao nosso destino. A porta abriu lentamente e Camilla saiu. Ela se abanava e parecia mais aliviada. O corredor era enorme. A nossa esquerda, estava o 301 A, que dava para a frente do hotel. 302 B era no final do corredor, nosso lado direito. Fiquei olhando para o número na porta e antes que eu tomasse alguma atitude, Camilla bateu três vezes. Teddy abriu a porta. A claridade que invadia a enorme janela, escapava pelo escuro corredor. Teddy nos convidou para entrar e pude ver um homem sentado a mesa, comendo um cupcake, aparentemente de chocolate. Ele se levantou e limpou suas mãos em um guardanapo de pano, com o nome do hotel.

“Stuart.” –Ele se apresentou, apertando nossas mãos.

Nos sentamos no pequeno sofá cinza, próximo a janela. Teddy bebia um copo com uma bebida alcoólica. Nos ofereceu e recusei. Camilla foi para a varanda e se sentou em uma cadeira de acrílico branco.

“Podemos conversar agora?” –Ele perguntou.

“Começar por onde? Pelo o ‘me perdoa’ que você sempre sonhou em ouvir ou o por que de eu não ter voltado para Framlingham?”

“Difícil.”

Começamos a rir e ele optou pela explicação.

“Aqui mesmo ou tomando uma xícara de chá em um cybercafé?”

“Você leu mesmo a carta! Estou surpreso.” –Ele disse, rindo.

“Leio todos os dias. Sei cada vírgula.”

Ele ficou me olhando e seu sorriso era diferente. Não era o típico sorriso de alguém que acabou de achar graça do que eu disse. Tinha um outro sentimento estampado nele. Antes que eu me explicasse, Teddy se levantou e abriu a mala que estava sobre a cama de casal. Ele retirou meu caderno.

“Mais um assunto da carta.”

Peguei meu caderno e estava em perfeitas condições. Não cheirava a mofo. Tinha o cheiro do perfume da mala.

“Você carrega isso na mala?” –Perguntei.

“Confesso que eu tinha uma certa esperança de encontrar você por aqui, ou deixar o caderno em algum lugar. Eu não sei, mas algo me fez trazer isso.”

Sorri. Folheei o caderno e como minha letra era diferente. Parei em uma página e falava sobre Ethan, indiretamente, mas eu entendi que era sobre ele.

“Eu li o caderno inteiro. Achei, realmente, muito interessante.”

Teddy se sentou ao meu lado novamente e eu o agradeci. Ele também disse que havia se apegado ao caderno e pensou duas vezes antes de me devolver. O que me fez rir. Stuart desceu e levou Camilla com ele, para comer algo no refeitório do hotel. Teddy ligou e pediu chá. Quinze minutos depois, bateram na porta. O homem uniformizado colocou a bandeja com as duas xícaras e uma jarra com chá sobre a mesa. Teddy deu uma nota para ela. Não parecia Real. Ele me serviu e se sentou ao meu lado, novamente.

“Pronto para te ouvir.” –Ele disse, antes de dar um gole do chá.

Bebi quase o chá inteiro antes de dizer e Teddy já estava ficando impaciente. Então contei. Ele se levantou na hora. Ele negava com a cabeça e dizia que eu estava mentindo. Comecei a chorar e continuei a contar.

“Você está mentindo!” –Seu tom de voz estava alto.

Nessa hora, Stu e Camilla entraram e ela estava bebendo um suco de laranja. Ambos nos olharam assustados. Pensei em ir embora, mas eu não tinha tanta oportunidade de encontrar o Teddy novamente e fiquei.

“Poderiam descer de novo?” –Teddy perguntou.

Stu fechou a porta. Se eu conheço a Camilla, ela estava ouvindo a conversar por trás da porta. Pedi para que Teddy se sentasse e ele obedeceu. Seus pés estavam inquietos. Meu rosto já estava seco, como se eu não tivesse chorado. Repeti a história, cada detalhe. Ficamos conversando por meia hora. Ele parecia chateado. Ficou em silêncio enquanto me ouvia e nada queria dizer.  

“Por que não acredita em mim?”

“Eu acredito. Só não quero.”

“Mas por quê?”

Teddy negou com a cabeça e me olhou. Acho que ficamos assim por poucos minutos, mas pareciam horas e eu pude reparar a cada novo detalhe do seu rosto. Alguém bateu na porta e Teddy gritou para que voltasse mais tarde.

“Você acha o que? Que me apaixonei por alguém aqui e não quis voltar.”

“Por ai.”

“Só por que tenho isso no dedo?” –Apontei para o anel de noivado.

“Talvez.”

“Eu não quero me casar, Teddy!”

“Sabia!” – Camilla disse, abrindo a porta.