Os Dias de Enishi escrita por Yuki


Capítulo 3
A dor angustiante




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Como pode o nada doer tanto?

O vazio gélido atormenta a mente

E tal qual um macabro encanto

Fere corpo e alma, constantemente

 

Enishi tomou o rumo de sua casa. Foi andando automaticamente, cortando a mata, desviando das raízes e ramos no caminho.

Chegou à estradinha que levava a sua casa. Pegou a bicicleta que deixara escondida num arbusto, mas não foi pedalando. Foi empurrando-a, com apenas uma mão, a direita, no centro do guidão. Olhando de longe dava a impressão que a bicicleta andava por contra própria ao lado do dono.

Bem que ele queria que ela tivesse vida própria, assim, quem sabe, pudesse sentir-se menos só.

O trajeto não foi tão curto, até porque o fez a pé, mas ele nem se deu conta do tempo: quando deu por si estava no portão da chácara. Abriu o portão, guardou a bicicleta e entrou na casa.

Não parava de pensar na sensação estranha de vazio em seu peito. Mesmo sabendo que de nada adiantaria, colocava suas mãos por cima do coração, tentando esquentá-lo, em vão.

“Por que isso?” Ele se perguntava. “O que está havendo comigo...? Não... essa pergunta de novo não!”. Não agüentava mais essa situação, essas perguntas, esse sofrimento.

Ouviu um barulho de correntes, vindo do grande quintal. Foi ver o que era, abriu a porta, deu uns passos à frente e foi atingido por algum animal. Assustou-se com o impacto, mas reconheceu imediatamente o responsável pelo impacto: Gin, seu Werimaraner!

- Ora seu...! - Apertou as orelhas do cachorro e pegou-se rindo da careta que fez no cachorro.

Sentou-se e, como que se tivesse percebido o clima pesando, Gin simplesmente acalmou-se, encarando com seus olhos verdes os também verdes olhos de seu dono.

“O que é esse vazio? Como ele pôde tomar conta de mim dessa forma? Como pude quase me esquecer de você?”

Gin encostou sua cabeça no peito do dono, como sempre faz quando pede carinho. Mas Enishi percebeu que, desta vez, ele era quem estava recebendo o carinho.

- Obrigado...

Esse gesto trouxe Enishi ligeiramente de volta a sua vida real, porém não era o suficiente para extinguir seu vazio interior.

Tomou um banho demorado, algo que ele próprio condena, mas hoje foi necessário. Não sentia fome, mas esforçou-se para comer uma banana e uma maçã, preparou um chá, que o esquentou temporariamente.

Começou a sentir a angústia voltando, quando foi escovar os dentes. Olhou para o espelho e a única luz acesa na casa, bem na sua frente, bem nos seus olhos, fez um efeito quase mágico: seus olhos estavam brilhando num verde cuja intensidade era, até então, inimaginável a ele.

“Verde é a esperança. Assim devo encarar as coisas”, ele pensou.

“Vejo a vida com meus olhos; meus olhos são verdes, são a esperança; é assim que devo olhar para minha vida”.

Então ele, que, naqueles momentos de angústia que teve no dia, pensou em dormir sem fazer suas orações, as fez de uma forma especial hoje, antes de dormir, agradecendo por mais um dia passado neste Mundo, mesmo querendo apagar grande parte deste dia das suas memórias.

Mas o sono estava demorando a chegar...

 


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