Between Love And Hate escrita por Nancy Watson


Capítulo 10
Daddy Issues




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Na manhã seguinte, a enxaqueca me obrigou a acordar. Desanimada, entrei no banho. Depois de muitos minutos embaixo da água morna, decidi que agiria como se nada tivesse acontecido na noite passada.

Vesti uma calça moletom e uma camiseta qualquer. Desci para a sala sabendo que não encontraria Ben nem Mark já que, pelo horário, ambos estariam no trabalho.
Jamie estava no sofá, assistindo desenho animado.

— Bom dia.- Eu disse baixinho. Ele respondeu no mesmo tom.

Depois de um café reforçado, peguei as páginas que escrevera inspirada pelo desespero no dia anterior. Mostrei-as para o baterista.

— Me ajuda a transformar essa bagunça em uma música foda? - Perguntei, numa tentativa frustrada de soar simpática. Ele me mostrou um dos seus enormes sorrisos, e fomos para o porão.

Durante os dias seguintes, trabalhamos pesado na canção; e quando os outros dois entraram no processo, tudo fluiu lindamente. Tanto que a tocaríamos no show, que era o que eu esperava.

E, finalmente, o dia chegou.

Durante a semana vi apenas um dos vizinhos. Duff veio me perguntar que tipo de flores Susan gostava. Como se eu pudesse ler a mente das pessoas. Como, caralhos, eu poderia saber?

De qualquer maneira, Mark disse para ele comprar rosas vermelhas. Mais clichê impossível. O estilo do Mckagan faz as garotas esperarem algo mais...selvagem.

Nem rastro dos outros hard-rockers. Duff também contou que eles foram tirar algumas fotos para divulgação da estréia do primeiro álbum, que ainda não tinha data confirmada. Era uma notícia legal. A banda dos caras era super conhecida em L.A. e região. Mais pela atitude e confusões do que a música em si, mas eu já ouvira seu primeiro EP, que era maravilhoso. Mas, enquanto me arrumava para arrasar no Rainbow, era nas músicas da The Pretty Reckless que eu pensava.

Meu cabelo estava com volume, cacheado. Usava uma das minhas camisetas favoritas, da Sonic Youth, preta com estampa branca, do álbum Confusion Is Sex. Eu havia cortado suas mangas, deixando-a cavada o suficiente para mostrar meu sutiã rendado e cintura. A minha calcinha de couro, a qual ficava escondida pelo comprimento da camiseta, tinha tamanho o suficiente para cobrir mais da metade da minha bunda. Nela, prendi a cinta-liga que segurava as meias 7/8 brancas, que quase se confundiam com a tonalidade da minha pele. Calcei meus saltos plataforma transparentes, e finalizei o look com a maquiagem carregada nos olhos.

Desviei a atenção do espelho quando notei, pela cortina entreaberta, uma movimentação na janela vizinha. Apaguei a luz para me camuflar, e fui espiar.

Lá estava o desgraçado do Axl. Sua barba estava maior e seu semblante muito sério. Ele deu uma olhada na direção do meu quarto, mas não me viu. Me irritou o quanto ele estava bonito com os cabelos soltos. Ele tirou a camiseta preta e eu soltei um grunhido de raiva e tesão ao ver seu corpo tatuado definido. Ele pegou uma camiseta branca de algum lugar e a vestiu. Por alguns segundos sumiu do meu campo de visão, e em seguida retornou, usando um blazer bordô, o qual ele dobrou as mangas, expondo seus antebraços.

Foi impossível não lembrar da deliciosa audácia dele no porão, dias atrás. Seu beijo delicioso não havia saído da minha cabeça desde o momento em que acabara.

Eu queria muito tirar satisfação sobre as atitudes dele, a forma como se metia na minha vida; mas não tinha certeza se resistiria caso ele desse alguma investida.

O ruivo deu uma checada no espelho, e depois sentou na cama, olhando para o nada. Era um lunático mesmo. Depois que ele saiu do quarto, assisti enquanto a prole toda entrava no carro de Duff, e ele dava a partida, cantando pneu.

— TAYLOR! ANDA LOGO! - Ouvi Ben chamar. Peguei meu maço de Marlboro vermelho e desci.

— Olha, eu vou levar os instrumentos e volto para buscar vocês. - Ele avisou, carregando sua guitarra e o baixo de Mark.

— Ok. - Falei e fui na cozinha surrupiar alguma bebida. Estava sem muita grana pra gastar hoje, e cantar era muito mais legal quando eu estava bêbada. Encontrei uma garrafa de vodka com menos da metade do conteúdo. Servi um copo e o beberiquei fumando um cigarro. Quando Ben retornou eu já havia tomado tudo.

Deixei ele dirigir meu Mustang, e logo já estávamos no Rainbow.

O local estava extremamente cheio. Jack fizera um bom trabalho de divulgação, que era o mínimo que um empresário deveria fazer, convenhamos. E, falando no diabo, ele estava no bar, conversando com uma mulher. Ben foi falar com ele.

— OLHA LÁ! - Jamie gritou, apontando para um grupo de caras. Foi em direção à eles feito uma criança.

— Aqueles amigos idiotas do Jamie. - Mark resmungou, provavelmente com ciúmes do seu baterista favorito. Dei uma risada. - Puta merda, a Susan está muito gostosa. - Ele comentou enquanto a mesma vinha em nossa direção.

— Pois é, e você favoreceu a concorrência com as rosas vermelhas. - Ri novamente. Ele saiu em direção ao bar antes que ela chegasse até nós, provavelmente para não bancar o idiota babão.

— Você está linda! - Susan disse me abraçando.

— Digo o mesmo! - Dei uma olhada nela de cima a baixo. Ela estava maravilhosa com um macacão vermelho decotado e botas pretas envernizadas.

— Obrigada! Nossa, o Mark nem me esperou para me cumprimentar! - Falou soando indignada.

— Culpa desse decote! O Mark é todo errado com garotas, você sabe. - Dei de ombros e ela rolou os olhos.

— Vem comigo, estou numa mesa com um pessoal que você conhece! - Ela me puxou pela mão, atravessando o recinto comigo em seu encalço.

Em uma mesa próxima a que estávamos indo, se encontravam os GNR. Quando o olhar do vocalista encontrou o meu, virei o rosto. Ainda não estava preparada nem alcoolizada o suficiente para nenhum contato.

Na mesa que Susan me levou estavam alguns antigos companheiros de farra. A única coisa interessante que saía da boca deles eram elogios à minha aparência e fumaça de cigarro.
Minha amiga, notando minha cara de insatisfação, me rebocou desta vez para o bar. Lá me contou tudo sobre o casinho com o Duff e como estava achando fofo ele estar tão louco por ela.

— E você e o Axl? - Quase me engasguei com o shot de vodka.

— O que quer dizer? - Já me irritei.

— Duff me falou do clima entre vocês. E eu não sou cega. Ele não parava de olhar para você quando estávamos na mesa.

— Ele é um metido. E arrogante. E imbecil.

— Nossa, você mal conhece o cara, porque...

— Conheço o suficiente! - A interrompi. - Eu não quero falar sobre ele. - Fiz sinal para que o garçom me desse mais um shot.

Quando Jamie avisou que estava na hora de subir ao palco, eu já estava vendo estrelas.

Axl's POV

A cocaína que eu havia cheirado algumas horas antes já fizera seu papel de estimulante. Agora só restava uma inquietude e turbilhão de pensamentos - nenhum deles positivo.

— Ei, cara. - Slash interrompeu meus devaneios. - Vamos ver o show no mezanino. - Ele levantou, indo atrás de Izzy, Steven e Susan, que estava agarrada em Duff.

Lá de cima tínhamos uma ótima visão do palco, que não era muito grande, nem alto. Haviam muitas pessoas na frente dele, maioria garotas. Não era sempre que uma banda com vocalista feminina tocava no local.

Os caras subiram primeiro, ajeitando seus instrumentos. Em seguida, a loira subiu rebolando, como sempre. Ali começaram os assovios e "elogios" vindos da platéia, principalmente dos homens. Ela deixou um copo de whisky em cima de um dos amplificadores, e se posicionou em frente ao microfone.

— Hey, boa noite. Nós somos a The Pretty Reckless! - Nisso, Jamie já começara a batida da primeira música.

Era impressionante como Taylor tomava conta do palco. Ela se movimentava como uma leoa; precisa, perigosa e feroz. E a presa era todo mundo ali a assistindo jogar o cabelo para o lado e abaixar-se lentamente, passando mão pelas pernas, brincando com a cinta-liga, cantando que era "misused, miss-cunt-strued".

Quando a segunda canção começou eu já estava desidratado de tanto babar. Devia ser proibido uma pessoa ser tão sexy. E o pior: ela sabia disso, e fazia obscenidades no palco, com certeza com o objetivo de matar alguém (eu) de tanto tesão.

Os espectadores estavam loucos, e meus amigos estavam no clima também. Slash balançava aquela cabeleira feito um louco, Steven dava pulinhos e gritava "U-HU" toda vez que a Momsen atingia uma nota alta ou dava um grito rouco, Izzy prestava muita atenção em Ben, que certamente mandava muito na guitarra. E o Mckagan, bom... Esse estava mais preocupado em agarrar Susan.

— Eita porra. - Slash exclamou quando Taylor pegou sua guitarra para fazer a base da música que ela disse se chamar 'My Medicine". - Que cena linda. - Rolei os olhos. Se o cabeludo desse em cima dela teria problemas.

Aquela foi uma das músicas mais ovacionadas, e em seguida ela começou a cantar algo que deixou extremamente surpreso.

"I have a tale to tell about a girl whose soul was screwed
She was born into a life with everything to lose
Her father sold her to the trade when she was just a child
She was seventeen and never ever learned to smile"

Aquele trecho soou tão sombrio quanto a história que ela me contara no porão de sua casa. Durante o seguinte, seus olhos estavam cravados em mim:

"She took a bullet and she blew out her brains
She didn’t say goodbye, she just went away
And now who’s missing her?
I wish she was here
Her name was Angel and she’d had a bad year"

E então ela estava cheia de raiva.

"So you wanna call me the devil’s advocate
When you don’t know the half of it?
Cause I was raised to believe in miracles
My life is so cold

Where did Jesus go?
Where did Jesus go?
Where did Jesus go?
He disappeared"

Troquei um olhar com Susan, que olhava a amiga com uma expressão de pena.

Depois de um dos trechos finais, que dizia: "She needed an angel to love
/ And no one sent her an angel / She needed an angel to love her / But no one sent her an angel" não pude evitar questionar se aquela música era mais sobre Angel ou sobre ela. De qualquer maneira, combinava com as duas.

Ela não me olhou mais nenhuma vez enquanto estava em cima do palco. Fez de tudo, chamou garotas para dançarem com ela, deu um soco no olho de um cara que tentou subir no palco, fez gracinhas com os companheiros de banda, levantou a blusa, ficou de quatro, tudo, menos me lançar mais uma porra de olhar. Tentei não me importar, já que ela estava tão extasiada pelo som, envolvida com sua música. Eu conhecia a sensação, mas gostei da atenção que ela me dera na canção sobre Angel, deixando claro que a cantava para mim, finalizando o assunto e expondo toda sua raiva.

A banda finalizou com chave de ouro, cantando uma música a qual Taylor dedicou à Susan, chamada "Factory Girl". A garota do Duff sabia a letra de cor.

Assim que se retiraram do palco e guardaram os instrumentos, se juntaram a nós no mezanino, mas antes, tiveram de esperar que a muvuca de pessoas se dissipasse.

— Que show do caralho, brother! - Steven não se conteve e deu um abraço em cada um dos caras, e em Taylor que fora a última a subir.

— Obrigada, Adler! - Ela respondeu com um sorriso enorme no rosto. Começaram todos a falar sobre a apresentação e eu, com dificuldade de comportar todo aquele tesão físico e psíquico, fiquei no meu canto.

Taylor, que parecia estar me evitando, não pode fugir do meu olhar quando foi falar com Susan, que estava ao meu lado. Elas trocaram algumas palavras animadas, as quais não compreendi, pois minha atenção estava voltada para o corpo da minha vizinha. Ela estava um pouco suada e ainda eufórica.

Quando a conversa acabou, Susan se afastou, e a garota me encarou.
Seu semblante agora estava sério. Devolvi com um olhar de desejo.

— Precisamos conversar. - Ela disse com um tom autoritário, enquanto acendia um cigarro.

— Sobre? - Me fiz de desentendido. Obviamente ela ia me xingar por eu ter contado para seus amigos sobre suas babaquices (se é que eles haviam conversado com ela sobre isso), ou me diria para nunca mais chegar perto dela, por causa do nosso delicioso beijo.

— Sua mania de se meter na minha vida. - Dei uma risadinha. - Qual é a graça? - Ela estava claramente bêbada demais até para me xingar, já que seu tom foi de tigresa para gatinha mansa.

— Você deveria parar de beber, está estragando seu disfarce de durona. - Disse me aproximando mais. Ela não se afastou.

— Pare de se meter na minha vida. - Agora ela parecia magoada. Franzi o cenho.

— Não consigo. - Falei sinceramente. Ela engoliu seco, e se afastou um pouco. Eu queria lhe dizer que não podia mais. Não agora que sabia algo sobre seu pai que ela não sabia. Aquilo não saía da minha cabeça, eu não parava de pensar o quanto era injusto.

— Vá se ferrar. - Ela saiu dali com pressa, e lá de cima vi ela indo até o bar.

Num ato de impulso, a segui. Quando cheguei até ela, o barman estava lhe entregando um copo de whisky, o qual tirei de suas mãos.

— Ei, o que pensa que está fazendo?! - Ela se indignou.

— Escuta, eu não queria fazer isso. Mas não dá. Não os culpe, eles só querem a sua felicidade. - Tentei desajeitadamente explicar o que eu estava prestes à falar. Ela ficou confusa.

— Do que você está falando?

— Seus amigos mentiram sobre seu pai. - A expressão dela foi além de surpresa.

— O... O quê? O que você está dizendo, Axl? - Ela parecia atônita. - Como... - Sua respiração começou a ficar pesada. Se eu não estivesse perto o suficiente para lhe segurar, ela teria caído no chão. - Eu preciso de ar. - Ela disse, molenga.

A ajudei a caminhar até o lado de fora.

Lá, ela soltou-se dos meus braços, e se escorou na parede. Respirou fundo algumas vezes.

— Me explica isso direito. Olha se você estiver mentindo...

— Não estou mentindo! - Por um momento me irritei, mas me recompus. Aquela era uma situação delicada. - Olha eu não devia ter lhe falado isso. - Metade de mim se arrependia, a outra dizia que eu estava fazendo a coisa certa, e que talvez ganhasse a confiança dela.

— Fala logo! - Ela ordenou, num misto de agonia e raiva.

— Eles me contaram quando eu fui falar sobre você. Eu questionei sobre seu pai, porque uma garota imprudente como você não deveria ter toda essa liberdade. Eles disseram que sabem onde ele está, mas que você não precisa dele. - Falei tudo de uma vez.

A cara que ela fez foi de dar pena. Colocou uma mão na testa, sua respiração voltou a ficar pesada.

— Hey. - Me aproximei e peguei seu rosto entre as minhas mãos, fazendo-a me olhar nos olhos. - Eles devem ter algum bom motivo para esconderem isso de você. Não os culpe.

— Co...Como? Eu não... - Ela estava sem palavras, parecia estar prestes a ter um ataque de choro.

Mas o que ela fez em seguida não poderia ter me pego mais de surpresa.

Ela atacou meus lábios com uma espécie de fúria desesperada. Suas mãos foram para a minha nuca, na qual ela cravou as unhas. Não hesitei em prensá-la fortemente contra a parede, nem deslizar minhas mãos para dentro da sua camiseta.

E, antes do que eu esperava, lá estava eu, tomando mais uma dose da minha nova droga favorita. E dessa vez foi muito melhor, já que fora ela quem tomou a atitude. As circunstâncias certamente não eram as ideais; ela estava bêbada e desesperada, mas eu estava feliz por ela ter escolhido me beijar para não se sentir tão mal, ao invés de fazer alguma merda que machucasse a ela ou seus amigos.

Enquanto minha língua dançava sensualmente com a sua, e nossos lábios se encaixavam de forma perturbadoramente gostosa, notei que ela tremia de frio, sua pele estava gelada. Sem quebrar o contato entre nossas bocas, tirei rapidamente meu blazer e pus sobre seus ombros.

Ela pareceu despertar de um transe, e abriu os olhos, se afastando de mim.

— O que está fazendo? - Ela parecia confusa.

— Você estava tremendo de frio. - Falei, puxando-a de volta para o meu abraço. Sorri quando ela não o negou.

— Eu não sei o que pensar. - Ela sussurrou.

— Então não pensa. - Sussurrei ao pé do seu ouvido, e lhe tomei os lábios mais uma vez, louco para ter uma overdose.


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