João’s POV

Cara, o que ta acontecendo comigo? Eu nunca fui assim, nunca fui de discutir, nunca fui de bater em ninguém, eu nunca fui muito de ser vingativo. Qual é a minha?

Agora, sentado no meu quarto, encarando uma parede branca eu percebo o quanto eu sou um inútil. Eu me afastei de tudo que era importante pra mim, amigos, família e Annie.

Ah Annie, o que eu fiz? Como fui tão idiota? Porque você me deixa assim? Assim como? Assim tão sei lá. Eu te perdi, éramos um casal perfeito. Se você falasse que estava com frio eu trazia Apolo aqui pra você, se dissesse que não gostava do mar eu beberia ele de canudinho. Mas o que eu fiz? Eu fui estúpido ao ponto de te perder.

Agora você está feliz ao lado do Jake, ao lado do cara que te faz sorrir, ao lado do cara que te ajudou e superar os meus ataques idiotas, ao lado do cara que assistia um filme com você enquanto eu estava com vadias idiotas, o cara que você confia enquanto eu não dava a mínima, que está onde eu devia estar.

E o pior de tudo, eu não tenho coragem de pedir desculpas, eu sempre acabo piorando tudo, sempre acabo brigando com você. E além do mais, pelo que você disse agora a pouco você acabou me superando, eu fui tolo o suficiente em pensar que teria você aos meus pés para sempre.

O que mais doeu foi ver saindo da sala de mãos dadas com Jake, você sorri tão naturalmente quando vê ele, ri tão gostoso quando ele solta alguma daquelas piadinhas bestas.

Fui tirado dos meus pensamentos pelo barulho da campainha, caminhei até a porta do meu quarto, só agora fui perceber o quanto calor estava no cômodo, na verdade, tem calor pra tudo quanto é lado hoje em dia.

Enfiei a cabeça para fora e vi Annie ir atender a porta, quando ela abriu eu vi Rachel, ela estava envolta por uma névoa verde e os olhos verdes também. Uma profecia.

Rachel entrou e parou na frente da sala, depois abriu a boca e disse numa voz três vezes mais alta que sua própria voz:

- As pombas, a forja, o sol e a uva para o oeste devem ir

  Nem pelo ar e nem por terra os cinco devem agir

 Lutar com o guerreiro destemido e encontrar o traidor

 A morte abraçará um deles e da dor surgirá um amor.

Piper’s POV

Oh deuses, mas uma profecia com morte?  Será que eu tenho que comentar que eu não gostei nem um pouco da parte “encontrar o traidor” ou “a morte abraçará um deles”? Porque tudo tem que ser complicado?

Ao fim dessas sábias palavras ela caiu no chão, depois levantou o  olhar de perguntou:

- Onde estou?

- Ahn, na minha casa eu acho – Annie respondeu coçando a cabeça.

Rachel se levantou e olhou em volta:

- E o que eu to fazendo aqui? Eu fiz uma profecia certo? Porque a ultima coisa que eu me lembro é estar discutindo com meu pai por causa que eu estava escutando música alta demais.

- Falou mesmo – Leo disse – agente tava num papo bom, aí você chegou e falou um monte de coisas sinistras.

Rachel estremeceu e se sentou num banquinho.

- Podem repetir a profecia?

Annie repetiu toda a profecia e a anotou num papelzinho, Rachel estremeceu mais uma vez e começou a murmurar alguma coisa.

- Não, não, não. Então é por isso que eu tenho tido esses sonhos estranhos, nem pelo céu e nem por terra? Água? Não, não, não. Por que?

Todos os olhares da sala caíram sobre ela.

- Do que estão falando? – João apareceu no corredor.

- Profecia. – Annie disse indiferente. Aí tem coisa.

- Posso ver esse papel? – ele apontou para o papel que Annie segurava.

Annie virou e olhou João nos olhos, por um momento os dois só ficaram assim se olhando, nenhuma palavra foi dita, nenhum pedido de desculpas aconteceu. Só uma troca de olhares.

- Claro. – ela desviou o olhar – vou chamar o Jake.

E foi para o quarto de Jake. Alguns minutos de silêncio passaram até que escutamos risadas, risadas bem altas vindas do quarto de Jake, alguns segundos depois Jake e Annie apareceram, ambos ainda com sorrisos bobos nos lábios.

- Já falei pra Jake a profecia. – ela soltou um risinho baixo.

Senti João fechar as mãos, em forma de um soco ao meu lado. Eu podia sentir a raiva dele quando via os dois juntos. Para falar a verdade, não precisava ser um gênio para saber aquilo.

- Temos que ir pro acampamento, falar com Quíron e fazer o que a profecia diz. – Rachel sugeriu.

- Mas o que raios a profecia diz? Alguém pode me explicar, porque eu não entendo. – João disse irritado.

- Ah gente, vocês ainda não estão sabendo? Essa profecia só pode se referir a uma coisa. O vento, ele foi roubado meus queridos. – Rachel disse.

Todos da sala engoliram em seco, eu e Leo já sabíamos disso, era por isso que a Terra estava virando um forno.

- Então vamos agora ué. – Jake disse.

- Agora seria suicídio, há mais monstros a noite. Vamos amanhã de manhã, eu passo aqui para buscá-los as dez horas. Boa noite para vocês, vou voltar para casa. – Rachel disse e todos murmuramos um tchau mal-humorado.

Ouvi a porta bater e Annie foi trancá-la.

- E agora iremos fazer o que? – Leo perguntou animado.

- Não estou com sono – Jake disse e todos confirmamos.

- Tive uma ideia – eu disse – eu tenho uma brincadeira para fazermos.

Todos animaram um pouco com a ideia, engraçado, a alguns minutos atrás recebemos uma profecia que falava que teríamos um traidor e um morto. Legal!

Em alguns minutos estávamos todos sentados em volta da mesinha de centro, com cinco papeizinhos a nossa frente.

- É o seguinte, alguém aqui já brincou de detetive? – Annie e Leo assentiram – bem, vou explicar rapidinho, aqui temos um papel onde está escrito “detetive” outro “assassino” e o resto “vítima”. O objetivo do jogo é quem tirar o papel escrito assassino deve matar as pessoas piscando pra elas, sem ser visto pelo detetive, se o detetive ver alguém piscando pra outra pessoa ele diz “preso em nome da lei” e o detetive ganha. Se você for uma vítima e for morto você diz “morri”. É bem simples.

Eu peguei um papelzinho onde estava escrito “assassino” todos fizeram o mesmo. Até que Leo grita:

- Ah. Não vale. Não quero ser vítima.

- Ah Leo, qual é, vamos, temos que tirar de novo.

Todos trocaram os papeizinhos e eu tirei detetive. O jogo começou todo mundo começou a se encarar, e Jake disse:

- Morri.

Comecei a olhar mais atentamente para cada um deles, vi Annie dando uma piscadela para João.

- AHA, presa em nome da lei Annie.

- Droga – ela bufou e todos rimos.

Trocamos os papeizinhos e eu fique com vítima. Mais uma vez todos começaram a se encarar, um minuto, três minutos, cinco minutos e nada.

- Ah assassino, se manifeste.

- EU TO TENTANDO MATAR O JAKE MAS O DESGRAÇADO NÃO OLHA! – Leo gritou e todos caímos na gargalhada.

Jogamos mais algumas partidas e eu olhei para o relógio, marcava 1:43.

- Boa noite minha gente, eu to indo dormir. Eu vou pegar um cobertor para o Valdez. – Annie disse e levantou.

Ela voltou um pouco depois e disse:

- Piper, você pode dormir no quarto do Jake.

- E onde eu vou dormir? – Ele perguntou se fingindo de ofendido.

- Ah amorzinho, eu tava pensando em te mandar dormir lá no banheiro o que acha? – ela perguntou fazendo biquinho, o que nos rendou algumas gargalhadas.

- Magoou – Jake fingiu limpar uma lágrima.

- Vem, você dorme na minha cama.

Ela puxou Jake pela mão e os dois saíram da sala deixando duas pessoas de boca aberta e uma tremendo de raiva. Não preciso dizer quem ficou com raiva certo?

- Eu vou dormir. – João disse.

- Eu vou junto. – Eu disse

- Boa noite pra vocês – Valdez se jogou no sofá.

Fui até o quarto do Jake e me joguei na cama, amanhã seria um grande dia.