Eu  estava profundamente irritada, o motivo? O universo continuava a conspirar contra mim e colocava o maldito guerrilheiro perto pra confundir ainda mais a minha cabeça. Nós estávamos numa limusine mandada pelo meu pai para nos levar ao resort, eu não vinha nesse lugar há três anos, ele  sempre me trazia lembranças que eu queria esquecer. Suspirei.

- Você está bem, Valente? – Lennon perguntou num sussurro – Eu sei que desde o acidente com a sua mãe você não gosta de vir aqui, mas eu acho que vai ser bom pra você. – Ela abriu um sorriso acolhedor e quente –

- Eu estou ótima Lennon, nem lembrava mais disso. – A mentira passou arranhando a minha garganta –

Ela não disse nada, ela me conhecia bem demais para saber que eu estava mentindo. Voltei meu olhar pela janela e continuei vendo o imenso mar, tão bonito e tão cheio de mistérios. Eu sempre gostei da sensação de liberdade e paz que ele me passava. Mas agora não passava de uma forma de lembrar da pessoa mais importante da minha vida, minha mãe.

A limusine parou em frente ao hotel e nós descemos, eu estava dando graças aos céus por Jonnatan ter me esquecido um pouco e estar em uma conversa amistosa com o Ian, o Robert e, para minha surpresa, com o pangaré. Lennon e Luna vieram para meu lado.

- E ai, animada, hermosa? – Luna me perguntou animada –

- Ah, é claro que está não é, Valente? – Lennon perguntou exalando alegria –

- Bastante. – Disse sorrindo amarelo – Esperem...

- Senhorita Cooper!  - Um senhor de idade me parou com um sorriso encantador e familiar –

- Paolo! – Quase gritei e isso fez com que todos me olharem – Como tu estas?

- Ah, minha pequena sereia! Nós sentimos sua falta, Lila vai amar quando eu contar que você está aqui,  vai nos fazer uma visita não é? – Ele falou me dando um sorriso acolhedor e me abraçou logo em seguida –

- Claro que sim! – Disse sorrindo pela primeira vez em anos de forma verdadeira. Eu não fazia ideia da falta que me fazia esse lugar e essas pessoas –

- Maravilha, eu vou com você até a recepção, Ludmila está mais ranzinza do que nunca, mas vai amar lhe encontrar.

- Claro! – Me virei para  olhar para Lennon que sorria com aprovação e os outros estavam me olhando confusos – Volto já, esperem aqui.

Quando eu era criança eu morava nesse resort, era tudo diferente, a vida ainda era cor de rosa, mina mãe ainda estava comigo, Jullian ainda não tinha aparecido, enfim, eu era feliz. Eu não sabia o quanto o mundo podia ser cruel. E agora, eu estava me sentindo em casa, com Paolo e Lila e eu não sabia como agir. Peguei as chaves das suítes, me despedi de Paolo, que me fez prometer ir a sua casa, e fui encontrar as pragas da minha vida.

- Hey! – Disse interrompendo a conversa – Peguei as chaves!  Luna, você e o Rob vão ficar no mesmo quarto? – Ela afirmou que sim com a cabeça e Rob me lançou um olhar malicioso que me fez revirar os olhos – E você e o Ian? – Perguntei a Lennon –

- Claro que sim, não é bonitão? – Ela perguntou ele ficou vermelho –

- Ok! – Disse e joguei uma chave para Lennon e para Luna –

- Eu vou subindo, vejo vocês em uma hora na piscina! – Lennon disse agarrando Ian e olhando o seu andar –

- Vamos também! – Luna disse sorrindo e puxou o Rob. Ótimo,  ficou eu e os idiotas –

- Pangaré você vai ficar em um quarto só. – Disse jogando uma das chaves que sobraram para ele e Jonnatan sorriu –

- Nós vamos ficar em que quarto,  pantera? – Dessa eu tive que rir –

- Eu vou ficar no meu, você fica nesse! – Disse jogando outra chave e o guerrilheiro gargalhou – Agora vamos!

Eu disse e eles me acompanharam até o elevador. Eu apertei no ultimo andar, décimo sexto, onde eu ficava desde criança, e o Jonnatan apertou o quinto. O guerrilheiro não apertou. Bufei, era só o que me faltava ficarmos no mesmo andar. Mas sabe como é a lei de Murphy né? Pois é, adivinha o andar do guerrilheiro? Ganhou mil dólares quem disse que foi no meu.

Deixei o pangaré ir na frente e logo ele parou na porta que ficava ao lado do meu antigo quarto.

- É castigo, só pode! – Disse irritada –

- Deixa de besteira patricinha que você amou me ter aqui pertinho de você. – Ele disse chegando perto de mim –

-  Nos seus sonhos imitação de Che, eu sou de grife e não ando com pangarés sem classe! – Disse tentando manter o tom de voz – Agora me deixa em paz! – Eu encostei o cartão na maçaneta da porta e ela se abriu e entrei, deixando-o lá com a cara de bobo.

Entrei no cômodo e a sala continuava a mesma coisa, a decoração acolhedora e clara feita pela minha mãe não havia sido tocada, só haviam tocado a televisão e colocado mais alguns aparelhos eletrônicos, passei abri a porta que tinha uma pequena placa com os dizeres “Princesa Valente” que minha mãe tinha mandado fazer quando eu ainda era um bebe e não tive nenhuma surpresa,  meu quarto continuava a mesma coisa, a decoração azul com branco meio infantil continuava intocada, tinha uma cama enorme no centro, com uma colcha de borboletas que minha mãe tinha comprado quando viajou com meu pai para a Itália,  os moveis brancos ainda continham livros antigos que eram dela, algumas bonecas e ursos de pelúcia, junto com as cortinas haviam penduricalhos de búzios e pedras. Minhas coisas já estavam em um canto perto do guarda-roupa.

Eu sei que aquilo era para me deixar feliz, eu me sentia perto dela, mas a culpa me corroia. Eu não conseguia ficar lá. Sai do quarto batendo a porta e me vi na sala, eu não sabia o quarto da Lennon, o que era uma droga.  Sentei encolhida no chão e aos poucos as lagrimas que eu tanto queria prender começaram a jorrar e a lembrança da ultima vez que eu vira minha mãe me invadiu a cabeça.

Flashback onn

- Posso entrar, princesa Valente? – Ouvi a voz doce da minha mãe do outro lado da porta –

- Oi mãe! Amei o meu quarto novo, tem você em cada parte dele. – Disse sorrindo – Como foi a audiência? Ganhou de novo? – Ela me sorriu –

- Que bom filha! A audiência foi ótima e eu ganhei sim. – Ela sentou ao meu lado na cama – Está tão bonita, vai sair? Eu só espero que não seja com o tal Jullian, Robert e Lennon disse que ele não era uma boa pessoa.

- Não se preocupe mãe,  eu vou terminar com ele, to começando a ficar sufocada! Mas ele é uma boa pessoa, só é um pouco fechado. – Eu sorri – Eu tenho 15 anos mãe, já sou bem grandinha, conheço as pessoas. – Ela riu – Confie em mim.

- Geniosa que nem o pai! – Ela disse passando as mãos nos meus cabelos – Tome cuidado, filha, eu confio em você, não nele.

- Tudo bem, Claire. – Falei a chamando pelo nome e ela fez uma careta – Como eu estou? – Perguntei  levantando para ela ver minha roupa, eu estava com uma saia jeans rasgada, uma camiseta vermelha do AC/DC e um all star –

- Está linda, mas eu ainda prefiro um de seus vestidinhos!

- Sem essa mãe, não tenho mais cinco anos! – Disse sorrindo e pegando a bolsa – Já vou indo.

- Você sempre vai ser minha princesinha! – Eu fiz uma careta e ela sorriu - Só lembre que iremos para a cabana hoje, seu pai chega às nove da noite!

- Estarei lá!

Flashback off

Eu não sei quanto tempo eu fiquei parada ali, mas as lagrimas tinham cessado e havia alguém batendo freneticamente na porta. Levantei limpando as lagrimas que restaram e me assustei com quem estava do outro lado.