Uma Nova Vida escrita por Jana


Capítulo 32
Capítulo 31 – Espera


Notas iniciais do capítulo

Olá lindos! Depois de um bom tempo, um novo capítulo. Espero que gostem!



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Já se fazia um ano e meio desde que eu fora para Seattle. Desde então, eu frequentava a escola regularmente, fazia aula de piano com meu tio Edward no meu tempo livre, ficava com a minha família, e uma vez por semana falava por videochamada com Katie. Ela não havia gostado quando depois de alguns meses eu determinei que conversássemos apenas um dia por semana. Porém, era necessário.

Eu havia decidido pelo que não poderia viver sem... Minha família. Eles me salvaram, eles eram meus anjos particulares. E nada no mundo me faria me afastar deles. Então, decidi que iria dar o meu máximo para facilitar as coisas para ele. Os Volturi ainda existiam, no outro lado do mundo em seus mantos sagrados. Desde a última vez que aterrorizam a minha família por causa da minha prima Nessie, nunca mais apareceram. É claro que eles não contavam muito o tempo como a maioria das pessoas, ou melhor, seres (agora que eu sabia quantos tipos existiam ao meu redor). Entretanto, essa “visita” era algo que nenhum de nós iria querer. Existia Nathan, algo que assim como Renesmee os Volturi nunca viram antes. Nathan sim que era completamente único. Completamente híbrido. E havia eu. Uma simples humana jovem que sabia demais. Assim como tia Bella um dia fora, eu representava um perigo ao anonimato da espécie deles. Eles não tolerariam isso dos Cullen mais uma vez. Por todos esses motivos deveríamos nos manter seguros e longe de perigo, sem vacilar se quer um pouquinho. Eles devem estar esperando por isso a anos. Tremi com o pensamento, só de pensar na minha família correndo perigo.

Eu sabia que tinha que ajudá-los, por isso tentei ao máximo apenas guardar os momentos bons que passei com meus antigos amigos, e evitar com inúmeras desculpas todos os convites para vê-los. Era mais fácil assim. E das poucas vezes em que voltei a Forks (só de passagem para ir a La Push), fora com Seth. Ele era o mais humano e que poderia colocar menos dúvida neles por não ter envelhecido fisicamente. Levantei-me quando o sinal tocou. Estava na escola, e a aula enfim havia acabado. Antigamente em Forks eu adorava ir ao colégio. Contudo, aquilo não era uma coisa tão legal assim agora. Eu não tinha amigos aqui. Pelo menos ninguém além de Seth.

Não que isso não fosse escolha minha... Desde que eu fora para aquela escola e Seth fez a escolha (terrível pra ele e adorável para mim) de voltar estudar para não me deixar sozinha e triste, não me permiti apegar a ninguém, para não sofrer e nem fazer ninguém sofrer quando a gente tivesse que se mudar (eu sabia que aquilo mais cedo ou mais tarde iria acontecer, e tinha decidido evitar futuras dores desnecessárias).

Todavia, aqueles estranhos (pelo menos alguns deles) faziam questão de se aproximar de mim. A maioria nem ligava para a minha existência, eu era só mais uma naquela escola, mais uma de passagem. E havia poucos que eu realmente me lembrava do nome. Como Natália, uma menina branca com cachos ruivos que pendiam ao lado de seu rosto, ela fazia espanhol comigo, sempre se sentava ao meu lado, era tímida e extremamente fácil de se estar com ela; ou Kiara, uma morena elétrica que tinha um sorriso branco igual neve em contraste com sua pele, vivia falando coisas engraçadas o que não me permitia odiá-la ou afastá-la nas aulas em que tínhamos juntas; e  aquele garoto que estava na minha frente naquele momento... Josh Cappanni. Ele era também do mesmo ano que eu e tínhamos várias aulas juntos. Possuía olhos azuis claros, cabelo loiro em cachinhos, um sorriso fofo e um jeito contagiante. Eu gostava de sua companhia. Sempre que eu estava longe de Seth ele aparecia, provavelmente não gostava dele tanto quanto de mim.

— Humm Sarah? – Josh me abordou quando eu já estava fora da sala. Parei do lado da porta para encará-lo.

— O que foi Josh? – Perguntei curiosa. Seth geralmente me esperava do lado de fora da minha sala no fim da última aula. Talvez Josh estivesse aproveitando que ele não estava lá hoje. Olhei para os lados procurando meu amigo.

— Posso te fazer uma pergunta? – Perguntou olhando para os pés.

— Pode. O que queres saber? – Adoraria poder ler mentes como meu tio Edward, seria de suma importância agora.

— Então, é... Não quero que me ache metido, nem nada... – Falava enquanto coçava a parte de trás da cabeça. Dava pra ver claramente que ele estava sem jeito. Dei uma risadinha. Ele era fofo com vergonha.

— Pode falar Josh. – Tentei tranquilizá-lo.

— É que eu, e talvez a maior parte daqui... – Ele riu nervosamente. – Gostaríamos saber ser você e o hum, Seth... – Levantei uma sobrancelha quando ele pronunciou o nome do meu melhor amigo. O que ele queria saber de Seth? – Se vocês por acaso... namoram. – Ele suspirou quando terminou de falar. E eu fiquei perplexa o olhando. Eu e Seth namorando? Poderia ter pensado em qualquer coisa, menos que aquilo seria sua pergunta. Tudo bem, Seth e eu éramos unha e carne, mas namorar? Tratei de fechar minha boca antes que ele me achasse uma idiota. O garoto já estava nervoso demais em fazer aquela pergunta. Pergunta, aliás, que ele já deve estar querendo fazer a bem mais de um ano, porém não devia achar que éramos íntimos o bastante. Talvez os trabalhos que fizemos juntos ultimamente devem tê-lo feito achar que éramos bastante amigos.

— Eu e Seth namorando? Não! – Respondi entre risos. – É claro que não! Porque achariam isso?

— Como por quê? Vocês nunca se desgrudam! – Josh disse com obviedade dando ênfase na palavra nunca. Torceu a boca em desgosto no final. Ele deixou claro que não gostava nada daquilo.

— É, tudo bem, você tem razão. – Sorri mordendo meu lábio inferior. – Mas o Seth é da minha família. Pelo menos tecnicamente. – Dei uma risadinha. Minha família incomum. Nada de sangue, tudo de amor.

— Tecnicamente? – Falou em um tom de pergunta com uma pontada de medo.

— Sim. Ele é irmão da esposa do meu primo. – Ri junto com ele da minha história confusa. Isso tecnicamente também era verdade. – Só que sei lá, eu o conheço desde que nasci. Ele é tipo meu irmão.

— Bom, fico feliz em saber disso. – Josh falou radiante. Dei uma risada. – Posso te acompanhar até lá fora? – Perguntou tranquilo.

— Pode, é claro. – Sorri. Caminhamos juntos calmamente até o estacionamento.

— Aula chata essa do Sr. Benson, não é? – Ele perguntou casualmente.

— Nem me fala. Eu quase dormi! – Confessei rindo.

— Hum, sabe aquele futuro trabalho que ele disse? Se você quiser podemos fazer juntos. – Ele sorriu timidamente.

— Eu adoraria. Pelo menos você não dormiu na aula, deve saber alguma coisa sobre o trabalho. – Rimos juntos.

— Oi Sarah! – Seth disse chegando ao meu lado. Passou o braço pela minha cintura e beijou o alto da minha cabeça.

— Eae Seth! – Respondi alegre. Mesmo que eu tenha o visto horas atrás, não podia conter minha felicidade em vê-lo. Ele irradiava alegria.

— Eai Josh! – Seth falou de cara fechada.

— Seth. – Josh respondeu inclinando a cabeça. Ambos não sorriam. Revirei os olhos. – Hum, então acho que até amanhã Sarah! – Josh disse desapontado.

— Até Josh! – Respondi sorrindo! Observamos ele se afastar.

— Desculpa a demora, professor chato. – Seth se explicou.

— Tudo bem. – Sorri. Entrelacei meu braço no seu e caminhamos pra fora da escola, até o local aonde alguém da nossa família sempre estacionava. Eles evitavam serem muito vistos. Quanto menos as pessoas os conheciam, melhor era.

— Tudo bem mesmo pra ti, tivesse companhia não é? – Falou bicudo. Dei uma risada.

— Que ciumento Seth! – Apertei sua bochecha. Ele me mostrou a língua. – Aliás, você nem imagina a pergunta engraçada que ele me fez!

— Vindo dele aposto que é engraçada mesmo.

— Ele me perguntou se somos namorados, da para acreditar? – Perguntei divertida. Estávamos perto do carro, podia ver que era o tio Edward que nos esperava. Mas Seth parou e me virou para olhá-lo.

— Ele perguntou isso? – Seth me olhava sério.

— Uhum. – Respondi confusa com sua expressão.

— E o que você disse?

— Que não ué. – Dei uma risadinha sem graça. Eu deveria dizer outra coisa? – Que você era da minha família. – Expliquei.

— Tecnicamente, nem na nossa história inventada nós somos Sarah. – Seth disse me olhando ainda sério.

— Mas pra mim você é Seth! Como meu irmão. – Falei com obviedade. Quando percebi que sua fisionomia não mudara, um sentimento de rejeição me atingiu. – Pelo menos pra mim... – Deixei a frase morrer. Afastei-me de Seth indo em direção ao carro.

— É claro que você também é pra mim muito mais do que uma amiga Sarah. – Ele falou agarrando meu braço e me obrigando a olhá-lo. Seus olhos mostravam compaixão. – Eu só acho que até mesmo teu pai preferiria que você tivesse dito que nós somos namorados. – Disse dando de ombros.

— Meu pai? Sério Seth! Você só pode estar brincando! – Falei rindo nervosamente. Meu pai morria de ciúmes de Seth comigo. Sempre querendo nos afastar.

— Acho que nessa situação ele apoiaria esse nosso “falso namoro”. – Seth disse olhando seus pés.

— Ah e por quê? – Perguntei rindo sem entender.

— Porque assim afastaria os outros garotos de ti... – Ele deu um meio sorriso sem graça. Eu fiquei perplexa.

Naquele momento entendi o que unia os dois... O ciúme por mim. Bufei. Eu não acreditava que podiam ser tão egoístas! Na verdade eu até poderia crer nisso vindo do meu pai, era bem a cara dele. Mas de Seth?

— Eu não posso acreditar nisso Seth! Vocês querem me impedir de viver! – Respondi revoltada.

— Ter um monte de garotos atrás de ti é tua ideia de vida Sarah? – Seth disse em um tom repreendedor.

— Isso acontece com toda garota normal na minha idade! Porque eu preciso ser tão diferente nisso também? – Minha voz se elevava a cada palavra. – Já não basta ser a única garota com uma família anormal, ser obrigada a mentir, a fugir das cidades! – Derramei tudo em Seth que arregalou os olhos e ficou em silêncio com isso. Ai merda! Fechei os olhos sem poder encarar o vampiro que nos observava do carro. “Desculpa tio! Não fala nada pra ninguém mais da nossa família, por favor. Eu sou muito grata a vocês sim, desculpa.” Pensei desesperada. – Não era isso que eu queria dizer Seth... – Comecei a me desculpar.

— Não, esta tudo bem Sarah. Você tem toda a razão. Desculpa ta? Não vamos mais falar nisso. – Ele me deu um sorriso sincero e virou sem que eu pudesse prestar mais atenção em seu rosto. – Vamos, teu tio deve estar impaciente e sua família em casa também.

— Ok. – Suspirei e o segui.

— Pode sentar na frente hoje Sarah. – Seth gritou já sentando no banco de trás. Nem pude discutir.

— Oi tio! – Falei sem conseguir encará-lo. Meu tio (talvez por ser o mais fofo do mundo) nem se quer deu a entender que estava prestando atenção na conversa. Apenas agiu como sempre me obrigando a conversar com ele normalmente.

Após chegarmos em casa, cumprimentei minha família e comecei a subir as escadas. Como sempre para fazer as atividades. Percebi que Seth estava parado na entrada, olhando para os seus pés ao invés de me seguir.

— Não vai fazer a tarefa comigo Seth? – Perguntei.

— Eu não tenho muita coisa hoje. – Deus de ombros.

— Mas eu tenho! – Dei uma risadinha.

— Nathan pode te ajudar hoje. – Disse com um sorriso.

— É claro! – Nathan levantou do sofá sorrindo.

— Hum, não precisa Natt. – Falei virando as costas.

POV Seth

Saí da sala bufando. Professor chato, não sabia respeitar o sinal? Nem me incomodei de ir até a sala de aula de Sarah, pela hora ela deveria já estar me esperando no estacionamento. Parei do lado de fora do prédio procurando por ela. Logo a avistei. Infelizmente ela não estava sozinha. Revirei os olhos. É óbvio que aquele garoto irritante aproveitou minha deixa.

— Oi Sarah! – Falei quando estava do seu lado. Eu percebi como a fisionomia do garoto mudou assim que cheguei, então aproveitei pra mostrar quão grandes eram as nossas diferenças. Passei o braço pela pequena cintura dela e beijei o alto de sua cabeça. Eu podia fazer aquilo, ele não.

— Eae Seth! – Ela me respondeu alegre. Não havia coisa no mundo que me fizesse mais feliz do que quando ela sorria para mim daquele jeito. Eu sabia que eu era a única pessoa do mundo no qual a fazia sorrir assim. Eu via a forma na qual ela sorria para os outros, para sua família e seus amigos. Não tinha como conter o júbilo que me enchia com isso.

— Eai Josh! – Eu disse me direcionando ao pequeno rapaz na minha frente. Não podia negar a sua presença. É claro que meu rosto não era o mesmo de quando cumprimentava minha Sarinhah.

— Seth. – Josh respondeu inclinando a cabeça. É claro que ele poderia me fazer gostar ainda menos dele. É claro. Percebi Sarah revirando os olhos ao meu lado. – Hum, então acho que até amanhã Sarah! – Josh disse desapontado. Sorri com isso. Até que enfim!

— Até Josh! – Sarah respondeu sorrindo abertamente. Porque aquele sorriso todo? Observei ele se afastar até ter certeza que nos deixaria em paz.

— Desculpa a demora, professor chato. – Virei-me á ela para explicar. Não podia deixar de pensar o quanto odiava aquele professor por deixar minha Sarah a mercê de Josh.

— Tudo bem. – Ela sorriu. É claro que para ela não pareceu ter tanta importância minha demora. Sarah entrelaçou seu braço no meu enquanto caminhamos para fora da escola, até o local aonde algum dos Cullen, Jake ou minha irmã sempre estacionavam. Eu odiava não poder simplesmente ainda vir de carro. Mas tinha que manter as aparências. Eu dizia ter 15 anos. Ficava feliz em saber que no ano seguinte já poderia usar o carro.

— Tudo bem mesmo pra ti, tivesse companhia não é? – Falei sem conseguir esconder meu desapontamento. Ela deu uma risada. A risada mais gostosa do mundo desde seus oito anos.

— Que ciumento Seth! – Respondeu enquanto apertava minha bochecha. Mostrei a língua em resposta. Não conseguia manter um humor sombrio com ela. – Aliás, você nem imagina a pergunta engraçada que ele me fez!

— Vindo dele aposto que é engraçada mesmo. – Falei em desdém, porém curioso.

— Ele me perguntou se somos namorados, da pra acreditar? – Sarah perguntou espontaneamente. Aquilo realmente me surpreendeu. Parei e puxei Sarah para me olhar. Eu conseguia ver Edward pelo canto dos olhos nos observando do carro. Porém eu queria saber sobre isso antes de entrar.

— Ele perguntou isso? – Perguntei sem conter minha expressão.  

— Uhum. – Ela disse confusa.

— E o que você disse? – É claro que eu sabia que nossa aproximação causaria esse tipo de pensamento nas pessoas, e eu adorava a ideia. Assim conseguia afastar garotos como Josh dela. Contudo, nós nunca conversamos sobre isso. Eu queria saber o que é que ela respondeu ao mesmo tempo em que tinha medo da resposta.

— Que não ué. – Ela deu uma risadinha sem graça. Apesar de eu já saber qual era a sua resposta senti desmoronar por dentro. – Que você era da minha família. – Explicou com soar óbvio. É claro que ela acha isso Seth!

— Tecnicamente, nem na nossa história inventada nós somos Sarah. – Não pude deixar de argumentar. Meu coração ardia, mas não de uma forma boa.

— Mas pra mim você é Seth! Como meu irmão. – Falou com toda certeza.  Eu deveria ficar feliz em ouvir isso não deveria? Ela me considerava seu melhor amigo, seu irmão. Porque a felicidade não vinha? Só um sentimento ruim de rejeição. – Pelo menos pra mim... – Ela deixou a frase morrer.  Afastou-se de mim indo para o carro. Percebi que minha fisionomia teve outro sentido pra ela. Revirei os olhos e a puxei. Eu não podia magoá-la.

— É claro que você também é pra mim muito mais do que uma amiga Sarah. – A obriguei a me olhar. Tendei demonstrar isso com meus olhos também. – Eu só acho que até mesmo teu pai preferiria que você tivesse dito que nós somos namorados. – Eu disse dando de ombros. Isso era verdade, Emmett concordaria comigo se soubesse da situação.

— Meu pai? Sério Seth! Você só pode estar brincando! – Ela falou rindo nervosa. Tudo bem, vendo pelo lado óbvio da coisa não fazia sentido. E é claro que ela só via esse lado.

— Acho que nessa situação ele apoiaria esse nosso “falso namoro”. – Falei envergonhado olhando pra baixo. Seria tão mais fácil se ela entendesse.

— Ah e por quê? – Perguntou rindo sem entender. Suspirei.

— Porque assim afastaria os outros garotos de ti... – Fui obrigada á olhá-la. Dei um meio sorriso tentando melhorar a situação. Ela me olhava boquiaberta. Deixei com que ela pensasse por um momento. Bufou.

— Eu não posso acreditar nisso Seth! Vocês querem me impedir de viver! – Respondeu-me revoltada.  O que ela queria dizer com aquilo?

— Ter um monte de garotos atrás de ti é tua ideia de vida Sarah? – Não pude deixar de perguntar enojado. Aquilo me doía só de ouvir.

— Isso acontece com toda garota normal na minha idade! Porque eu preciso ser tão diferente nisso também? – Sua voz se elevava a cada palavra. Ela queria isso? – Já não basta ser a única garota com uma família anormal, ser obrigada a mentir, a fugir das cidades! – Começou a falar tudo em disparada. Não pude deixar de arregalar os olhos com o tom de suas palavras. Fiquei em silêncio com o rumo que a conversa tinha tomado. Mais do que nunca o peso de Edward nos ouvindo no carro apareceu. “Edward ela só está mal e magoada.” Tive que a defender. – Não era isso que eu queria dizer Seth... – Começou a se desculpar.  Senti o peso da culpa em mim.

— Não, esta tudo bem Sarah. Você tem toda a razão. Desculpa ta? Não vamos mais falar nisso. – Tentei dar o sorriso mais sincero antes de me virar e correr para o carro. – Vamos, teu tio deve estar impaciente e sua família em casa também. – Aquilo com certeza era verdade.

— Ok. – Ela me seguiu.

— Pode sentar na frente hoje Sarah. – Gritei sentando no banco de trás. Não queria encarar Edward e nem que Sarah pudesse me olhar. Mal dei importância à conversa de Sarah e Edward. Só tentava aguentar o caminho até em casa sem me transformar.

Assim que o carro parou desci automaticamente do carro e segui Sarah até a casa. Porém, tive que parar na porta. O sentimento de vazio que me invadia não me permitia agir normalmente. Eu precisava de um tempo pra mim. Um tempo que eu não tinha desde que Sarah surgiu na minha vida. Desde que ela se tornara a minha vida.

— Não vai fazer a tarefa comigo Seth? – Ela perguntou assim que percebeu minha ausência ao seu lado na escada.

— Eu não tenho muita coisa hoje. – Falei dando de ombros.

— Mas eu tenho! – Ela deu uma risadinha. Todos os Cullen presentes nos observavam curiosos.

— Nathan pode te ajudar hoje. – Falei com um suspiro. Esperava que ela se contentasse e ele me ajudasse. Não me permiti olhá-lo, muito menos o olhar atento de minha irmã.

— É claro! – Nathan falou animado.

— Hum, não precisa Natt. – Ela falou subindo raivosamente.

Esperei até que ela subisse as escadas. Depois virei às costas e saí em disparada. Senti minhas duas pernas se transformarem em quatro conforme minhas roupas voavam pelo ar. Preciso ficar sozinho. Pensei em forma de apelo á Edward. Eu sabia que ele sempre fora um grande amigo, nunca me negou nada. Mas será que ele contaria algo á eles? Emmett e Rosalie? Minha irmã chata? Eu não sabia se eles ficariam bravos comigo, preocupados com Sarah, ou achariam algo sem importância. Eu só queria ficar sozinho, me sentir livre.

Sentir minhas patas “voando” pelo chão da floresta era reconfortante. Pelo menos até agora nenhum deles havia se transformado para me encher o saco. Isso era uma vantagem na nossa nova era. Antigamente, na época que eu recém virei lobo, ficar sozinho era um desafio. Hoje em dia é mais comum. Os lobos de La Push só fazem ronda por pura precaução, não havia mais vampiros na região além dos Cullen. Já Jake, Leah, Nathan e eu por pura diversão e para não envelhecer. Todos os três tinham grandes motivos pra não envelhecer. E eu também, há seis anos. Lembrei-me de como era a minha vida numa época distante. Eu vivia bem, eu era feliz. Meus pais tinham um bom casamento, minha irmã namorava, eu estudava na reserva, tinha meus amigos e uma garota na qual gostava: Charlotte. Nós estudávamos juntos desde sempre, éramos amigos, e eu sabia que mais cedo ou mais tarde nós acabaríamos juntos. Era normal na reserva, vivíamos entre nós, a maioria se casava entre si, mesmo nos tempos atuais. Então uma série de coisas aconteceu. Sam mudou seu jeito de ser e abandonou Leah, minha irmã maneira, virou depressiva. Eu não a culpava, também não entendia a razão para aquele acontecimento, os dois se amavam. Minha mãe assim como eu não entendia, porém meu pai de uma forma tão irritante defendia Sam. Aquilo era demais para Leah, os dois só brigavam. Eu apoiava minha irmã, também não entendia meu pai. E em meio a todo rancor dos filhos, meu pai morreu. Minha vida desmoronou. Vi-me na obrigação de crescer, de virar o homem da casa e proteger as duas mulheres mais próximas de mim. Minha irmã não conseguia se perdoar por estar brigada com nosso pai, minha mãe era inconsolável. Quando tudo parecia não poder ficar mais estranho, Leah e eu nos transformamos. Para Leah aquilo foi à resposta para o abandono de Sam e a proteção de meu pai para com ele, contudo ela odiou desde o princípio o fato de se tornar uma aberração: a única fêmea na história a ser lobo. Para mim foi à chave para a felicidade, poder ter algo a que ocupar a cabeça, não precisar pensar o tempo todo na morte do meu pai. Charlotte esteve comigo quando meu pai morreu, não fugiu de mim depois que faltei uma semana a aula e voltei diferente. Mostrou-me ser uma pessoa com quem eu poderia sempre confiar. Eu sabia mais do que nunca do meu sentimento por ela. E sentia que era mútuo. Entretanto minha vida ficou agitada depois de virar lobo, a série de acontecimentos que envolviam Bella, Edward e Jacob atingiam completamente a matilha. Com todas as lutas, rondas, vampiros... Não tive tempo para me envolver de outra forma com alguém. Eu mal frequentava a escola. Mamãe era compreensiva desde que assumira o papel de nosso pai no conselho e soube de todas as verdades. Permaneci na matilha de Jacob até depois do imprinting dele com Nessie. Não tive motivos para volta á Sam, já que ele permaneceu em Forks por um tempo. Já minha irmã, assim que as coisas se ajeitaram para todos, fugiu. Resolveu viver na forma de lobo. Ela não aguentava ver todos com finais felizes, menos ela. Então tive que permanecer ao lado da minha mãe. Ela sentia falta de Leah, precisava de mim. Estava feliz com Charlie, e eu feliz por vê-la amando de novo. Contudo minha irmã fazia falta. Eu voltei a estudar por ela, e a morar em casa. Charlotte estava lá. No mesmo lugar de sempre. Porém namorando. Não pude deixar de ficar chateado, um sentimento egoísta, como se ela fosse me esperar. Continuei minha vida, me formei. Mas não queria abrir mão da minha transformação. Essa era uma constate discussão minha e de minha mãe. Ela queria que eu voltasse a viver normalmente, esquecesse esse negócio de lobo. Não havia perigo em parte. Os Cullen se mudaram, tudo estava normal. A dúvida pairava em mim. Parar de me transformar e ir para faculdade, viver minha vida... Ou continuar a fazer algo me fazia feliz, mas machucaria minha mãe?

Como se para dar mais força ao pedido da minha mãe, na formatura Charlotte apareceu dizendo que me amava, e que se eu sentisse o mesmo por ela, largaria seu namorado e iria para onde eu fosse. Eu sabia que gostava dela, mas não sabia se aquele sentimento era suficiente. Nós ficamos naquele dia e ela terminou seu namoro no dia seguinte. Minha mãe explodiu em alegria, sempre apoiou nosso relacionamento. Eu, contudo não me sentia da mesma forma. Nathan havia nascido no mesmo momento, e Jake e Nessie estavam trazendo-o para nós conhecê-lo. A pedido de Jacob, Leah viria ver a criança também. E então a felicidade chegou à vida da minha irmã. Ela sofreu um imprinting por Nathan e decidiu ficar onde ele estivesse. Minha mãe se livrou do peço da tristeza por ver sua filha longe e infeliz.

No dia em que fui ver Charlotte algo mais forte do que eu não me deixou dizer sim á ela e viver aquele amor, abandonar minha forma de lobo e viver uma vida normal. Eu não estava preparado. Tive que dizer á ela parte da verdade e vê-la mudar de estado, sozinha e triste. Minha mãe já estava completa por uma filha, eu não precisava me sacrificar por ela também, precisava? Durante os próximos anos vivi migrando da casa da minha mãe, da casa dos Cullen e do campus da minha nova faculdade. Matriculei-me na faculdade e decidi permanecer lá até o fim. Não importava se me achassem novo demais, o que constava na identidade era o suficiente. Conheci tantas pessoas, tantas garotas. Gostei mesmo de uma... Olivia. Era sorridente e calorosa. O tipo de pessoa que combinava comigo. Ficamos juntos por um semestre. Entretanto meus segredos constantes fizeram com que ela se cansasse. Isso aconteceu com a maioria dos outros amigos. Eu vivia duas vidas. E não consiga manter as duas bem. Percebi que não dava pra viver uma vida normal enquanto continuava a me transformar. Voltei então a La Push, onde permaneci dando aulas de Artes Marciais á crianças. Ficava com minha mãe, visitava minha irmã e os Cullens, era lobo. Minha mãe estava cansada de me pedir para desistir dessa vida de eterno jovem e ter uma vida comum.  Eu achava tão injusto o fato de Jake e Leah poderem permanecer lobos para sempre com suas almas gêmeas, enquanto eu estava obrigado á levar uma vida pacata e comum, crescer, envelhecer, e morrer. Entretanto concordava com a minha mãe que não podia mais viver assim. Leah e Nathan se casaram. E os Cullen voltariam a morar em Forks. Prometi a minha mãe que iria parar de me transformar e viver uma vida comum assim que eles partissem de novo daqui. Eu como todos os outros, sabia do acontecido no Rio de Janeiro. Da criança que os Cullen adotaram. Estávamos todos curiosos para conhecê-la. Assim nos encontraríamos todos na casa de Sam e Emily. Eu estava voltando da minha corrida com Jayden quando tudo enfim fez sentido na minha vida.

Corri sem parar durante todo o tempo em que pensava em minha vida. Resolvi então parar para descansar. Ainda aguentava mais algum tempo de corrida, mas precisava de tranquilidade. Sentei-me no chão e encarei o rio que descia a minha frente. Lembrei-me da sensação do primeiro momento em que vi Sarah.

Eu sabia o que era um imprinting, tinha detalhes de todos os outros lobos que já passaram por isso. Mas naquele segundo eu percebi que não fazia ideia da intensidade daquilo. Todos os anos da minha vida perderam o sentido ao mesmo tempo em que ganharam. Eu percebi porque adiara tanto aquela transformação. Porque não conseguia me livrar da minha forma de lobo. Porque não conseguia encontrar alguém que me preenchesse. Porque não havia. Porque a pessoa dona do meu coração ainda não tinha nascido. Tudo que me prendia naquele mundo até aquele momento não tinha mais nenhuma importância. A única coisa que importava para mim era aquela menininha loira desconhecida, que parecia minha conhecida de anos. O amor que eu tinha por ela era mais forte do que a gravidade que me sustentava no chão. Todo meu passado não ligava, todo meu futuro era dela. E eu podia sentir a mesma intensidade de que senti naquele momento, hoje mesmo. Ainda estava ali dentro de mim, ainda era por isso que eu respirava todos os dias. Nesses seis anos eu fui mais feliz do que em toda minha vida. A única coisa que me importava era ver Sarah sorrir. Eu esperava por ela pacientemente. E continuaria esperando. Mas nunca se quer pensei na possibilidade de que talvez ela, não só depois de alguns anos, mas nunca me visse de outra forma. De uma forma romântica. Nunca até hoje. Eu ainda a aguardava, ainda a via como uma menina. Porém, ela hoje me deixou claro que não se via mais assim. Que podia sim se apaixonar. E que eu não estava em suas possibilidades. Como agora eu poderia sobreviver sabendo que talvez ela nunca me quisesse? Eu pensava saber por que nunca dera certo com Charlotte, com Olivia ou com a menina da lojinha de La Push. Porque a minha alma gêmea nasceria muito longe, em uma cidade de um país distante. Ela era minha alma gêmea. Mas talvez eu não fosse à dela... Seria possível? Não fazia sentido eu ter um imprinting por alguém que não me pertenceria. Então talvez eu tivesse que acreditar no meu instinto e esperar. Talvez fosse cedo demais para Sarah me perceber de outra forma, e não que isso nunca aconteceria. Suspirei meu suspiro de lobo. Paciência. Tolerância. Você não poderia viver sem ela, não é Seth? Então o que tens que fazer é esperar. Esperar pacientemente do lado dela. E mais cedo ou mais tarde ela te verá de outra forma. Eu tenho esperança que sim.

Resolvi voltar para casa. Minha Sarah deveria estar chateada comigo.

— Eai Seth. – Jake falou fingindo estar desinteressado quando sentei-me ao seu lado no sofá. A maioria dos Cullens não estava ali, provavelmente faziam alguma coisa interessante. Bom, pelo menos ninguém estava demonstrando curiosidade em meu surto.

— Eai, quem ta ganhando? – Falei me referindo ao jogo que passava na TV.

— Você que não vai ser, caso demore muito pra ir ver a birrenta. – Nessie que pintava as unhas no chão falou. Suspirei. Jake e Nathan riram e continuaram vendo TV. Levantei e fui em direção às escadas.

— Esta tudo bem? – Edward apareceu do nada pelo corredor, e perguntou baixinho em meio aos degraus.  Pelo menos ele manteve tudo entre nós. Ed confirmou com a cabeça ao meu pensando. Sim, tudo ok. Respondi em pensamentos. Ele tocou meu ombro e eu sorri. Fui até o quarto da loirinha e bati na porta. Ninguém respondeu. Bati de novo. Suspirei e entrei.

— Olha to entrando. – Anunciei para o caso dela não poder ser vista. Tive que parar para admirá-la. Ela estava sentada em sua penteadeira cheia de maquiagens na sua frente. Maquiava-se de uma forma simples que realçava ainda mais sua beleza. – Oi. – Falei me sentando em sua cama. Ela continuou o seu trabalho e nem me respondeu. Dei uma risadinha. – Não vais falar comigo?

— Porque você quer falar comigo? Você não esta muito ocupado? – Respondeu ríspida. Ela era a garota mais mimada que eu conhecia.

— Não mais. E agora eu gostaria de dar atenção a minha pequena.

— Que pena, pois sua pequena não precisa mais de atenção. – Sorriu para mim cínica.

— Sarah... – Comecei cansando.

— Não me venha com Sarah. Você está muito estranho e não sou obrigada a agir como se não percebi isso! – Disse brava.

— Eu não estou estranho. Só não estava a fim de estudar hoje. Queria ficar um pouco sozinho. Será que você poderia deixar de ser um pouquinho egoísta e entender isso?

— Você está colocando a culpa em mim? – Virou com raiva para me encarar.

— Sarah... – Suspirei. Eu sabia que a briga poderia durar tempo demais, ela nunca admitia não estar com razão. E eu não estava a fim de brigar mais. Só tinha vontade de morder aquelas bochechas e apertá-la até esmagar. – Amorzinho... É sério mesmo que você quer brigar? – Ela continuou bicuda me encarando. – Que tal a gente fazer as pazes e assistir um filme?

— Sabe Seth, você me decepciona. Realmente pensa que eu ainda tenho oito anos. – Virou-se para terminar de passar o rímel e depois levantou. Foi até a janela e começou a tirar selfies. Ela estava com um shorts jeans e uma blusinha de manga comprida vermelha. Você esta enganada Sarah. Não é só os teus amiguinhos que perceberam que você cresceu. Pensei sozinho.

— Ok. Eu vou te deixar sozinha. – Falei saindo do quarto. Fui até o meu e me joguei na cama. Liguei a TV e comecei a ver o jogo. Depois de um tempo escutei a porta bater. – Pode entrar.

— Oi. – Sarah colocou a cabeça para dentro. – Você quer me ajudar a escolher as fotos que ficaram mais bonitas? – Perguntou com um sorriso amarelo. Eu sorri. Pelo menos não era só eu que não conseguia ficar bravo com ela por muito tempo.

— Pode ser. – Falei com ar de desinteresse, mas morrendo de alegria por dentro. Ela se aninhou ao meu lado. Eu faria qualquer coisa para nunca perder aquela menina. Minha menina. Beijei o alto de sua cabeça enquanto ela passava as fotos.


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Notas finais do capítulo

Eai pessoal? Tudo bem?
Então, só para relembrar. Não vou desistir dessa fic, mais cedo ou mais tarde, ela vai ter um fim. kkkkk
beijinhos



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