POV Sarah

Já fazia horas que eu estava jogada no meio da rua. Agora chovia e ventava muito. Eu estava com frio e com fome, mas isso já era algo comum para mim. O pior era a dor. Não sentia mais minhas pernas, e eu tinha a sensação de que havia uma pedra em cima de minha cabeça.

Tudo o que queria era ser atropelada ali mesmo, para acabar de vez com toda essa agonia. Porém eu estava numa rua onde quase não passava carros de dia, muito menos de noite.

Eu sabia que esse era o meu fim, e estava até feliz. Não aguentava mais a minha vida. Se é que posso chamá-la assim...

Sempre acreditei em Deus e em anjos. Mas se Deus existisse, teria me buscado antes, não me deixaria sofrer tanto.

Tinha perdido todas as esperanças, até que uma luz muito forte bateu em meu rosto. Sim, ele havia me escutado. Será que agora podia parar de vez com essa dor?

E então eu os vi. Eram oito. Será que era um anjo para cada ano de vida que eu tinha? Tão lindos e perfeitos, muito melhor do que nos meus sonhos.

Haviam se aproximado de mim muito rapidamente, e falavam coisas que eu não conseguia distinguir. Somente três estavam do meu lado, os outros tinham se afastado com uma cara de agonia.

A mais bela de todos passava a mão em meus cabelos. Ela tinha olhos negros, e uma pele muito branca, seus cabelos eram loiros iguais aos meus, e ela repetia com uma voz de fada, que iria ficar tudo bem e que ela iria me ajudar.

– Eu acredito em você! Mas por que demoraste tanto?

Murmurei baixinho.

Ela levou um susto e olhou para o outro anjo que estava ao seu lado. Ele também era loiro, e tinha olhos dourados, sua pele era tão clara quanto à dela, e era realmente muito bonito.

Havia também atrás dela outro anjo, era alto e forte, com cabelos negros cacheados, e olhos escuros. Sua cara também era de agonia. Ele ficava sempre ao lado dela, como se estivesse a protegendo.

O anjo loiro me pegou no colo com muito cuidado, e este movimento me fez gemer. Por que a dor ainda não tinha sumido?

Ele me levou para um carro preto, e me deitou no colo de minha anja. Não entendi o porquê de um carro, eu não iria para o céu? Percebi então que eles não tinham assas.

Mas eram anjos, eu tinha certeza. Eles murmuravam coisas o tempo todo. Deviam estar resolvendo algum assunto muito importante, pois pareciam preocupados.

A minha anja gritava. Eu queria acamá-la, mas não conseguia falar mais nada, a dor estava muito pior.

Comecei a chorar, não aguentava mais tanto sofrimento. No mesmo momento a minha anja olhou para mim com olhos piedosos, e me disse que ficaria comigo.

E eu acreditei, não tinha como não acreditar em algo tão belo como ela. Com muito esforço consegui sorrir e falar:

– Minha anja...

Sua face se retorceu em mais dor ainda, e não entendi o porquê.

Minhas pálpebras começaram a se fechar, mas eu não queria dormir ou morrer. Queria olhar para ela, e nada mais...