Eu nunca achei que o mundo fosse acabar. Nunca acreditei em todas essas profecias que sempre existiram. Nunca vi nenhuma lógica nem mesmo em achar que Deus nos tiraria da Terra, e apenas os que aceitassem Jesus sobreviveriam. Apesar de ter estudado minha vida inteira em colégios católicos, nunca acreditei em Apocalipse nenhum.

Pois é. Eu acho que eu estava um pouco errada quanto aos meus conceitos.

Apesar de ter nascido num mundo caótico, cheio de crises econômicas, guerras, mortes misteriosas, eu nunca consegui aceitar que aquilo seriam sinais do fim do mundo.

Ouvia falar sobre estarmos indo para a 5ª dimensão (como se não provaram nem a quarta? Pois é o que eu me pergunto), sobre tornarmos puramente energia, sobre estarmos evoluindo... Nada me fazia sentido.

Sim, eu sofria as consequências de todas as mudanças. Fui morar com meus tios, ainda criança, pois minha mãe precisava lutar pelo o que acreditava, e para isso, ela não podia ficar comigo. Eu não me lembro do dia, mas sempre me disseram que eu não derramei uma lágrima. Que eu simplesmente fui para onde seria meu quarto, peguei uma boneca, e fui brincar.

Não conheci minha família além dos meus tios e minha mãe, a qual eu nem me lembro mais. Meu DNA, o sangue do meu sangue, minha herança genética, tudo sempre foi uma incógnita na minha vida, que eu nunca fiz questão de descobrir.

Eu, na verdade, nunca tive contato com todo o caos que eu ouvia dizer que viria, até meus 16 anos, quando minha tia ficou grávida. Sim, o mundo estava decaindo, mas a vida continuava. Desde o início, eu e meus tios amamos aquela criança, a pequena Lisa. Desde o início, decidimos que nossa vida seria protegê-la, e com o tempo falhamos. Era impossível vencer o que estávamos vivendo, e apenas nós não percebíamos isso.

Assim que minha prima nasceu, minha tia desapareceu. Pelo menos é o que chegou à nós, uma carta junto com o bebê, assim que ele saiu da maternidade. Perdi minha “mãe”, quem me criou e me amou. Éramos só eu, meu tio e Lisa. E assim nós demos um jeito de continuar.

Seria meu primeiro ano na faculdade, e minha prima estava doente. O mundo estava literalmente em caos, doenças erradicadas voltaram, nazistas e anarquistas guerrilhavam por todo lado (não guerras “contemporâneas”, mas sim algo como combates de gladiadores), pessoas se organizavam em seitas, comunidades alternativas, se suicidavam... Era uma nova Era do Terror, só que bem pior e mundial. Eu não permiti que meu tio saísse, e fui tentar achar remédios (afinal, não saíamos mais de casa. A comida vinha até nós. As ruas eram perigosas de mais. Se saísse, era pra morrer ou ser sequestrado. Quando isso não acontecia dentro das próprias casas) Não me surpreendi quando cheguei em casa, e a achei vazia. Eu estava sozinha. Eu tinha falhado na minha única promessa. Minha única alternativa era sair, pois eu sabia que voltariam. Eles sabiam de mim. Sempre souberam. Desde antes meu nascimento. E pareciam esperar ansiosamente para porem suas mãos em mim.