No final das contas eu nem tinha tanto trabalho, terminei rapidamente a papelada e os relatórios, depois fui ver se não havia nada de errado com o esquadrão, como sempre fazia depois de tudo. Realmente, eu não era uma pessoa tão reservada, mas depois de me tornar tenente todo o cuidado foi pouco e eu não deixava nenhum detalhe passar. Finalmente à hora chegou e eu me dirigi até a sala onde seria a reunião, como de costume não me importei em interagir de mais com os outros, apenas me sentei e esperei até que todos chegassem, e quando isso aconteceu e todos se sentaram, Ise Nanao tomou a iniciativa.

–Bem – Disse ela – Acho que todos já estão cientes dos acontecimentos no mundo real, os hollows em grande número, Shinigamis tendo dificuldades em combate e Arankars indo e vindo do Hueco mundo. Estou certa?

Todos assentiram sérios.

–O.k. O Comandante Yamamoto disse que enviaria alguns grupos para investigar os acontecimentos e acho que devemos nos preparar para tudo, sabemos o quanto foi difícil para nós enfrentá-los da ultima vez e não queremos que algo assim aconteça de novo. Por isso, peço que tomem cuidados caso forem escolhidos para tal missão, e não é só isso, as Zanpakutous se materializaram novamente e isso pode ser um problema, não sabemos o que pode acontecer e muito menos quem está por trás disso desta vez então por ora, é bom não deixarmos isso cair no esquecimento.

–Não existe nenhuma hipótese? –Perguntei, e todos olharam para mim.

–Como assim, Satsuki-chan? – Perguntou Isane.

–Bem... Já pararam para pensar que tudo isso pode estar ligado aos Arankars? E se alguém com um novo poder apareceu? Alguém que não tenhamos conhecimento pode muito bem estar por trás de tudo.

–Mas você não acha que um Hollow ou Arankar pode ter poder para libertar as Zanpakutou, acha? – Kira debruçou sobre a mesa.

–Talvez tenha depois de tudo o que aconteceu, mesmo que eu não estivesse presente acho que pode ter alguma chance. – Coloquei minha mão esquerda sobre a mesa e comecei a tamborilar os dedos – Eu gostaria de ir mais ao fundo disso...

Renji me encarou e soltou uma risada meio nervosa – Olha, por um momento eu pensei que gostaria de ir ao Hueco mundo...

–E por que não? – Olhei-o meio entediada – Afinal é um dos modos mais fáceis!

–Ficou louca? Você acabou de descobrir seus poderes e já quer se aventurar deste jeito? – Nanao fechou a cara – Nada disso, nem mesmo o comandante deixaria!

–Eu nunca mencionei que tentaria, realmente.

–Bom, muito bom. Isso não daria certo mesmo.

Desviei o olhar por alguns segundos e com o canto do olho, pude ver Isane e Matsumoto me encarando de forma estranha... Eu tive vontade de perguntar o que havia de errado, mas pensei que me arrependeria e então deixei de lado. Nanano continuou com os relatos sobre o mundo real e a aparição dos Arankars, as Zanpakutous andavam de um lado para o outro, em silêncio quase tão perturbadas quanto seus mestres, menos Yachiru, que pulava para lá e para cá dando nomes esquisitos a cada uma delas que pareciam meio envergonhadas. No final, Nanao nos entregou alguns documentos sobre tais acontecimentos, não me dediquei muito á ler, afinal, eu mesma havia enfrentado um Arankar e não tinha quase nada ali que eu não soubesse. Eu estava andando pela base do esquadrão treze, completamente perdida em meus pensamentos quando senti alguém tocar meu ombro, voltei-me para encontrar o capitão do Décimo esquadrão com o olhar firme, como quase sempre, Hyourinmaru estava ao seu lado.

–Capitão? – Fitei-o meio preocupada.

–Tenente Satsuki... – Ele olhou por cima de meus ombros – Desculpe-me, mas onde está a sua Zanpakutou?

Então me dei por conta de que Gyakuryu não me contatara desde a nossa luta na floresta de Rukongai, olhei para os lados, meio desacreditada e cocei a cabeça.

–Ela...

–Mestra! – Uma voz suave, porém firme soou vinda de trás e Gyakuryu apareceu dando a volta por mim – Como foi a sua reunião? Desculpe sumir assim, não queria atrapalhar.

–Gyakuryu... Ah, bem, ela está aqui! – Voltei a olhar Hitsugaya que parecia meio impressionado.

–Certo... É um reiatsu impressionante, devo dizer.

Hitsugaya olhava meio atordoado para Gyakuryu como se tentasse lembrar-se de algo, o foco eram seus olhos completamente negros destacando apenas as pupilas que eram amareladas. Gyakuryu fingia não se importar, olhava-o indiferente.

–Pois bem, Satsuki Fuyu. – Ele se voltou para mim – Eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas. Está ocupada?

–Na verdade não, já terminei meu trabalho por aqui. – Parei ao lado dele – Sobre o que é o assunto, afinal?

–Seu desempenho no mundo real. Quero saber detalhadamente o que descobriu, sua luta e etc.

–Certo.

–Hum, vamos.

Caminhamos por algum tempo enquanto falávamos sobre os acontecimentos recentes. Hitsugaya parecia tranqüilo em ficar ao meu lado desde o ataque dos Menos ao Seireitei e eu entendia o porquê, eu não era tão diferente dele. Gyakuryu e Hyourinmaru andavam na nossa frente e parecia estar se dando bem, vez ou outra eu podia ver Hyourinmaru dar um pequeno sorriso ou Gyakuryu se animar com o assunto. Duas Zanpakutou de gelo até que se prove ao contrário, mas nunca pensei que Gyakuryu fosse capaz de fazer algum amigo. Paramos perto de um jardim, Hitsugaya pareceu entrar em um acordo com sigo mesmo e então me olhou mais sério que o normal, finalmente, ele perguntou:

–O que sentiu quando os Arankars apareceram?

–Um reiatsu poderoso demais... Pela minha falta de poder, quase desmoronei. Mas eu não tive muito do que reclamar, afinal, se não fosse por eles eu não sei se teria descoberto a Shikai.

–Sim, você a descobriu bem rápido...

–Agora é minha vez de perguntar, capitão Hitsugaya. – Cruzei os braços – Sabe me dizer o porquê de ninguém estranhar o fato de uma Shinigami já saber o nome de sua Zanpakutou em tão pouco tempo?

–O que quer dizer?

Olhei por cima de seus ombros e pude ver Gyakuryu e Hyourinmaru conversando normalmente.

–Quando me encontrou perdida em Rukongai, eu percebi a confusão em seus olhos. Você sentiu algo, tenho certeza, Rangiku-san também sentiu!

–Ora, eu não estou entendendo.

–No momento em que Gyakuryu me chamou logo me disse seu nome... Eu não tive dificuldades para ouvir. Mas mesmo assim, mesmo sabendo o seu nome ela não mostrou sua verdadeira forma até minha luta com o Arankar!

–De fato isso é muito estranho, mas não te chamei aqui para falar sobre seus poderes.

–Sim, tem razão... Mas eu sei que você entende disso, todos aqui me olham de maneira estranha, para mim não é normal. E mais, tem algo no Hueco mundo que me deixa inquieta. Eu sonhei que... – Calei-me a tempo, pensei que entrar naquele assunto não seria boa coisa naquele momento, principalmente para alguém tão cheia de mistérios como eu... Mistérios que nem mesmo sua portadora conseguia descobrir.

–O que sonhou? – Hitsugaya me olhou intimidador.

–Não, não é nada. Mas então, a onde quer chegar com tantas perguntas?

–Matsumoto me contou que tinha planos quanto ao Hueco mundo, fiquei meio preocupado.

–Pense bem, capitão, e se tudo estiver ligado? Até mesmo Kurosaki Ichigo concordou comigo e não acha que depois de tudo o que aconteceu ao longo dos anos isso não seria possível?

–Você não deve ir longe de mais, mal se iniciou como Shinigami e já quer tomar as rédeas de tudo!

–Esse é um defeito fatal meu, e devo continuar com ele.

–Você não vai até Hueco mundo, não é?

–Não agora... Ainda não estou pronta. Mas eu não vou desistir de minhas idéias agora, com certeza não.

–Sabe que sou contra isso.

Olhei para Hitsugaya e dei um pequeno sorriso – Não achei que estaria de qualquer forma. Quero lhe pedir um favor.

–O que é?

–Lute comigo!

Por um momento achei que Hitsugaya fosse me xingar, mas ao invés disso ele me olhou debochado e cruzou os braços – Ficou maluca? Eu não vou lutar com você.

–Ora, então, senhor capitão do décimo esquadrão... Está com medo?

–Novata, não venha com intimidades para cima de mim!

–Realmente você ainda tem muito a conhecer sobre mim, como... Eu não tenho medo, Toushiro!

Ele me olhou com um sorriso sinistro, parecia bem zangado.

–É “Capitão Hitsugaya” para você, garota.

–Oh, me desculpe... Toushiro.

–Já chega! Eu não vou lutar com você – ele me deu as costas – E tire isso da sua cabeça, eu não sei se poderei guardar segredo quanto aos seus planos.

–Entendo... – Apareci em sua frente usando o Shunpo – Mas esta luta não é um pedido... –Retirei a espada da bainha – É um desafio!

–Você é muito cheia de si...

–É quase um dom!

–Vamos para um lugar mais afastado, não quero destruir a casa de ninguém.

–Que assim seja.

Eu não fazia idéia de como seria a luta e nem se tinha chances de vencê-la, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu não ia desistir tão fácil e eu tinha que tentar. Fomos até a arena de treinamento do décimo esquadrão onde alguns Shinigamis se reuniram para nos olhar, pessoalmente eu não gostei muito da idéia, pois não gostava muito de ser observada, mas aquela era a minha chance de entrar em sincronia com Gyakuryu. Talvez ela me escutasse agora, talvez eu conseguisse controlá-la.

–Você está pronta? – Hitsugaya retirou a espada da bainha e apontou-a para mim.

–Como sempre!

Gyakuryu parecia meio perturbada, estava ao meu lado com o olhar fixo em Hitsugaya como se estivesse com raiva enquanto Hyourinmaru mantinha-se de um modo tranquilo ao lado de Hitsugaya, ao contrário de Gyakuryu, ele parecia tranqüilo.

POV: Hitsugaya.

Ela foi rápida em descobrir tudo, sabia que eu a achava estranha, sabia que eu estava confuso sobre ela... Mas isso já não importava, aquela Shinigami era realmente estranha, não era minha intenção lutar com ela, mas por algum motivo seus poderes geraram em mim a curiosidade, eu queria ver com os meus próprios olhos o que aquela Zanpakutou podia fazer... Ela era tão estranha quanto à dona, e os seus olhos eram idênticos aos dele, o Hollow dentro de Kurosaki Ichigo. Se ela estava escondendo alguma coisa, aquela era a minha chance de descobrir, qualquer coisa errada eu reportaria... Não ia deixar mais nada nos ameaçar.

–Aqui vou eu! –Avisei, e investi contra ela.

Satsuki deslocou-se de seu lugar ao mesmo tempo, apareceu atrás de mim e tentou me golpear, mas eu a bloqueei tentei cortá-la no rosto algumas vezes, mas em todas, ela conseguiu desviar, pulou para trás e investiu novamente, quando estava bem perto, teve sua chance.

–Hyosho! –Gritou, e ao cortar o vento, lâminas de gelo foram atiradas em minha direção.

–Esqueceu com quem está lutando? – Assim que a lâmina de minha espada tocou as lâminas de gelo, elas se quebraram.

–É claro que não!

Foi então que percebi, Satsuki havia sumido e sua Zanpakutou também, procurei-a pela arena, mas nada encontrei até receber um aviso de Hyourinmaru que apontou para cima.

–Hauru Toketsu – Disse enquanto descia sua lâmina – Gyakuryu!

Gyakuryu tentou me atingir com suas garras, no final das contas o “Hyosho” era apenas uma distração, Satsuki sabia que não conseguiria me vencer usando o elemento gelo, mas ela tinha outra coisa... Ela tinha as correntes. Defendi Gyakuryu sem problemas e tomei força para jogá-la para o lado. Eu não podia usar toda a minha força ali, seria arriscado e com certeza envolveria alguém que estava fora da luta, então eu precisava vencer sem me esforçar de mais.

–Hyouryuu Senbi! – Cortei o ar e uma rajada de gelo foi lançada em direção a Satsuki.

Infelizmente ela era bem rápida, desviou-se do ataque e avançou contra mim. Quando me alcançou, enrolou a corrente da empunhadura em meu pescoço e apontou a espada de gelo em sua mão direita para o meu rosto.

–É uma pena não podermos destruir este lugar. – Lamentou – Mas até que foi divertido.

–Ainda não acabou, o ultimo a cair no chão vence! – Segurei a corrente e minhas mãos automaticamente se congelaram, não tive tempo para pensar o quão estranho aquilo foi, apenas arremessei Satsuki para longe e voltei-me para sua direção – Nada mal para uma iniciante.

–Preste atenção!

Atrás de mim, Hyourinmaru bloqueou um ataque, só então pude ver o que ela tramava, Gyakuryu me atacaria enquanto distraído, mas por sorte Hyourinmaru estava por perto e não me deixou cair em uma armadilha tão tola. Elas trabalhavam bem em equipe, isso eu tinha de admitir.

–Sem sorte! – Zombei e corri até ela.

Nossas lâminas se encontraram várias vezes, nesse ritmo acabei provocando um corte em seu rosto, mas ela pareceu não se importar, apenas continuou talvez lutar fosse realmente divertido para ela... De certo modo, aquilo me preocupava um pouco. Enquanto lutava eu estava perdido em meus pensamentos, quase não prestava mais a atenção na luta, de fato o que ela falou era verdade. Eu queria entender como e por que Satsuki descobriu seu potencial tão rápido, e queria espantar aquelas preocupações de minha mente... Ora, ela era apenas uma garota qualquer com um reiatsu elevado, talvez eu estivesse tão impressionado que acabei me deixando levar pelas minhas idéias loucas... Ou talvez, eu estivesse certo.

POV: Satsuki.

Hitsugaya estava distante, achei que seria a hora perfeita para atacar e derrubá-lo, mas no momento em que eu ia fazê-lo, uma borboleta infernal alarmou a todos naquela área, paramos para escutá-la com mais atenção, e pelo visto, era urgente.

“Atenção, esquadrões. Os Arankars apareceram novamente no mundo real, os capitães: Kuchiki Byakuya e Hitsugaya Toushiro, os tenentes: Abarai Renji e Rangiku Matsumoto devem aguardar por ordens ao lado do portal neste exato momento, serão enviados como reforço se algum problema maior acontecer. Não tomem decisões precipitadas, e lembrem-se que toda informação conseguida deve ser entregue”

–Os Arankars... – sussurrei.

–Me desculpe.

Hitsugaya aproveitou a situação para segurar meus ombros e chutar a minha perna fazendo-me cair no chão.

–Sujeira! – Protestei.

–Não era a derrota que eu queria lhe dar... –Ele estendeu a mão para mim – Mas não tenho tempo, quem sabe terminamos essa luta depois.

Aceitei a ajuda e permaneci segurando sua mão – Ta, eu aceito. Mas não se esqueça de avisar que sou o reforço quando passarmos pelo portal!

–Como é que é?!

–Acha mesmo que vou perder a oportunidade de avançar em minhas pesquisas?

–Eu não tenho muito tempo...

–Ora, então vamos!

Não esperei uma resposta, usei o shunpo para sumir de vista e Gyakuryu me seguiu. Eu sabia que estava irritando Hitsugaya com a minha teimosia, e sim, eu continuaria, gostava de fazer aquilo... Mas agora não era uma simples questão de teimosia, eu não ia deixar as informações passarem batidas por mim, mesmo correndo o risco de perder o meu posto como tenente. Passamos pelos portões, o capitão Byakuya me deixou meio desconfortável por me olhar meio confuso algumas vezes. Tentei não encará-lo. Ele lançou um olhar sério para Hitsugaya que revidou com um “Por favor, não me pergunte o porquê” e então seguimos caminho.