Assaltado escrita por Miss D


Capítulo 7
Dia 17


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sentiram minha falta?!
Então, eu demorei para postar porque eu uso os meus livros de THG para consulta, e eles estão emprestados.
Há décadas. E sempre se "esquecem" de me devolver. ¬¬'
Enfim.
Eu me esforcei um pouco e escrevi esse capítulo, mas se algo não estiver de acordo com os livros... Bem, vocês já sabem porque.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/266689/chapter/7

(Prédio Centro de Treinamento – local desconhecido)

Estou novamente na arena. Não na última, a do Massacre Quaternário; a primeira. Aquela onde tudo mudou entre mim e Katniss. A luz do sol ­– que pode ou não ser realmente o Sol – atravessa as copas das árvores em feixes sobre o chão coberto de folhas mortas.

Aquela necessidade… Aquele único desejo de manter Katniss viva está de volta em mim, mas ela não está em nenhum lugar onde eu possa ver. Caminho por aqui, e por ali. Admito que jamais fui muito bom em me orientar, especialmente num lugar como esse, onde as árvores parecem todas iguais.

Então, subitamente, eu escuto um som. E não é um som qualquer, é uma música. A canção de ninar que assisti Katniss cantar à Rue. Somente as notas flutuam pelo ar, e eu arduamente tento achar de onde quer que som venha.

Um mockingjay. O pássaro da minha… Enfim. Esse animalzinho tão aparentemente insignificante significa tanto para mim. E, pelo que ouvi, para mais um monte de pessoas.

A canção brota de dentro da criatura, e é tão assustadora a exatidão com que ele canta os tons… Porém, nesse momento a música para tão de repente quanto começou. E outro som sai de seu bico. E não é uma canção, dessa vez. Eu reconheço perfeitamente a voz de Cinna distorcida em um grito de desespero profundo, de aguda dor, de sofrimento. E há mais e mais e mais gritos, cada um deles cravando garras em meus ouvidos, e eu apenas não consigo imaginar que tipo de dor ele está passando para gritar dessa forma. No meu subconsciente, sei que não é ele. É apenas esse pássaro que, segundos atrás, entoava uma música tão linda. Mas agora sua voz fere meus ouvidos de tal forma que só percebo que caí de joelhos nos galhos e folhas no chão quando eles começam a arder.

Prostrado, aperto com força as mãos contra meus ouvidos. Os gritos continuam. A agonia continua. E agora eu não sei mais se é mesmo o mockingjay ou se o Cinna está mesmo aqui, sofrendo, sendo torturado.

Cinna. Ah, meu Deus, o que Katniss fará? Ela daria a vida por ele!, não deixo de pensar.

Quando o som se torna insuportável além de qualquer nível imaginável, eu finalmente acordo.

Ainda estou na minha cela. Não há árvores, mockingjays ou Cinna gritando. Não há luz, e de certa forma isso é bom, porque estou com medo do que poderia ver se houvesse.

Fecho meus olhos com força e respiro profundamente.

Um sonho, Peeta. Foi isso. Apenas isso. Pare de pensar demais.

Depois de mais ou menos dez minutos disso, estou mais calmo. A pior parte de dormir, tirando toda ela, é Katniss. Sinto tanto a sua falta que virou quase natural meus braços procurarem seu corpo para abraçar.

No entanto, toda vez tenho que ficar me lembrando de que ela não está aqui. De que ela tem de ser salva. De que eu estou preso e não posso fazer nada.

E é isso o que me deixa com mais raiva.

Horas e horas passam… Não posso dizer como certeza. O tempo se perde em minha cela em algum lugar da escuridão. Já faz algum tempo desde que tive minha última refeição, e meu estômago começa a se queixar violentamente.

Quando você passa a vida inteira no 12, é natural que se acostume com isso. Não há comida suficiente para quase ninguém lá. Aliás, comida , mas não para qualquer um. Apenas para os da Capital, e os que podem pagar. E não é barato. Algumas vezes eu chegava a sentir vergonha de mim mesmo por ter um pouco de pão em casa, mesmo que dormido e começando a embolorar, quando sabia que na minha porta mesmo havia pessoas que estavam mastigando apenas folhas de hortelã para sobreviver mais um dia.

Como Katniss, no dia em que eu a ajudei. O melhor é que ela acha… ela sempre achou aquele ato o mais incrivelmente altruísta que alguém poderia fazer… Que eu poderia fazer. Idiotice. Até a primeira arena, eu nunca soube a importância que ela realmente dava àqueles pães queimados. É claro que naquela época… Naquela época eu já estava apaixonado por ela sem nem mesmo saber o que isso significava. Mas isso não foi o principal. Como é que eu poderia deixar que alguém que chegara a procurar comida na lixeira dos outros morrer de fome, quando nós tínhamos tanto? Como eu poderia fazer isso? Não há nada de altruísta no que eu fiz. Fui apenas humano. Fui apenas o que todas as pessoas deveriam ser, só que é claro que não são, porque estão muito ocupadas se queixando de bobagens quando deveriam dar graças por poderem sequer falar. Além disso, eu a havia visto na escola alguns dias depois da morte de seu pai. Como seu olhar perdera o brilho. Como a tristeza parecia ter se alojado em cada traço de seu rosto, e aquilo estava me matando, também. Quando eu vi, quando percebi a que ponto o desespero dela havia chegado, não pude simplesmente ignorar, como fez minha mãe. Ela não é realmente uma pessoa ruim, só… amarga. Ainda assim, algo tinha de ser feito, era uma obrigação, e eu fiz.

A bofetada em meu rosto não era nada comparada à desesperança no semblante de Katniss. E valeu mil vezes a pena quando eu vi a chama de seus olhos começar, sutilmente, a arder outra vez. Nada poderia obscurecer isso.

Faço o possível para não pensar em meu estômago vazio há apenas um dia, lembrando das pessoas do 12 que passam semanas sem uma migalha de nada. Quase funciona.

Já estou começando a sonhar acordado com meu banquete de noivado na Capital quando a porta é escancarada num átimo. O homem de cabelos daquela cor estranha de cobre está novamente na minha frente, sua expressão ilegível.

Ele olha apenas um segundo para mim antes de dizer:

– Levem-no até a sala 43.

E dois soldados irrompem pela porta quase da mesma maneira que fizeram em meu quarto lá em cima, me tomam pelos braços enquanto sou meio conduzido, meio arrastado até a tal sala 43. O encontro de meus braços com os ombros está dolorido quando chego lá. E tudo ainda continua escuro.

O homem de antes parece ligar um gerador, e logo a sala está perfeitamente iluminada com uma luz muito artificial meio azulada. Sou praticamente arremessado em uma cadeira com braços… Quando percebo que estou preso. Foi tão rápido que nem notei, mas algemas de ferro saíram de algum lugar nas laterais da cadeira e envolveram meus braços e pernas.

Tento apenas respirar mais profundamente. É o máximo que consigo fazer para não me desesperar.

O homem trabalha em silêncio absoluto. Ele traz uma mesa cheia de aparelhos tecnológicos até mim, cola uns adesivos estranhos nas minhas têmporas e os cobre com uma touca da cromada.

— Eu posso pelo menos saber o que está acontecendo?

Estou pensando nas bestas da arena. Frio escorre pelos meus ossos.

— Experiência. Estamos fazendo um teste com um novo procedimento, utilizando censores cerebrais.

Tenho um péssimo pressentimento sobre isso. Pior que péssimo.

Não há tempo para pensar, porém. Sinto uma agulha perfurar meu braço e um líquido se infiltrar por minha corrente sanguínea.

Uma espécie de óculos de metal é acionada à frente dos meus olhos e então eu não estou mais na sala.

Tudo fica escuro um instante antes de eu reconhecer as árvores da primeira arena, com que eu sonhei não faz muito tempo.

Há algo estranho. Eu me sinto estranho. Me sinto pesado, desconfortável… Minhas mãos estão suando.

Avisto uma silhueta à frente, vindo na minha direção. O sol brilha de uma forma intensa e perturbadora, atordoando um pouco a minha visão.

Eu reconheço a pessoa. Nunca poderia confundi-la com mais ninguém.

— Katniss?

Percebo onde estamos. Ela acabou de derrubar o ninho das teleguiadas.

— Katniss, você tem que correr! Cato e os outros… Eles…

Ela ainda está de costas para mim e agora eu definitivamente estou sentindo um pavor crescente me apossando. Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui.

Katniss se vira, e seus olhos estão completamente negros. Ela segura o arco, e o aponta na minha direção — direto para o meu peito. Um sorriso diabólico estampado em seu rosto.

Estou em choque quando a vejo soltar a corda, enquanto eu desvio. O pavor me consome como nunca achei que fosse possível, ao mesmo tempo em que meu cérebro agitado me diz que não posso ficar aqui. Tenho que fugir.

Fugir dela.

 Eu me agachei, depois me movi para a esquerda, tentando sair do caminho da flecha. Uma dor desponta em minha perna, aguda, e sangue. Sangue jorra.

O que está acontecendo?

E eu tento fugir, mas ela me persegue. O branco do globo ocular desapareceu, e seus olhos brilham como chamas negras. Estou mancando com o sangue escorrendo pela perna, e o um único pensamento em menteVai me matar. Ela vai me matar. Eu só posso correr. E correr.

Até apagar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu me sinto realmente arrasada quando imagino essas coisas, as coisas que fizeram a ele. Como eles drenaram a esperança cega e doce daquele garoto gentil, como o transformaram para sempre... Como marcaram sua personalidade para sempre.
A Katniss sofreu bastante, mas além de todas as batalhas que ele enfrentou com ela e tudo o que ele perdeu, esse foi o pior. O Peeta enfrentou um tipo totalmente diferente de Jogos Vorazes.
Ç.Ç

Espero que vocês tenham gostado!

P.S.: Comentar/recomendar não vai matar ninguém, né?! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assaltado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.