Capítulo 8

Resultado

Voltei me arrastando para a sala enquanto outra menina vinha na direção contrária, para a sala espelhada das audições. Ela pareceu sorrir pra mim, até dizer um oi, mas ignorei completamente. Joguei minha bolsa de qualquer jeito no canto e me sentei, abraçando minhas pernas. Está tudo perdido!

As pessoas iam e viam da sala de audições. Umas confiantes e outras chorosas dizendo que não tinham chance alguma. Mandei uma mensagem pro John dizendo que o resultado ainda sairia hoje e eu esperaria até não sei que horas.

Mas uma surpresa me aconteceu. John apareceu na sala e foi falar comigo. Eu ainda chorava baixinho por ter passado vergonha na frente de todos aqui da sala e dos jurados; quando ele viu, correu até mim.

– Meggy! – Ele disse se jogando no chão perto de mim. Tirou meus braços da frente do meu rosto e viu meus olhos vermelhos. – O que aconteceu?! Alguém te ofendeu lá dentro?

Aí eu comecei a chorar, mas neguei com a cabeça.

Contei o que havia acontecido aqui e lá e John arregalou os olhos.

– Não acredito!

– Pode acreditar, Charlie fez essa cena toda. Acha mesmo que eu vou ser aceita? Quer saber, John?! Acho que vou embora. Me leva pra casa? – Falei me levantando e John me olhou com pena. – Não conta nada pra mamãe, não quero que ela se preocupe.

– Olha, pode parecer maluquice minha, mas fica. – Ele disse e eu olhei confusa pra ele. – Mesmo que você não for aceita, acho que você não perderia a oportunidade de pedir um autógrafo.

Autógrafo? John enlouqueceu?

– Como assim, John? Por que eu pediria um autógrafo da Charlotte? – Falei confusa e ele negou com a cabeça rindo.

– Eu andei pensando de onde você conhecia o garoto oriental que te ajudou, sabe o nome dele?

– Sei, ele estava na banca avaliadora. O nome dele é Hideki.

– Então, faz alguma idéia de quem ele seja? Pense bem.

Fiquei pensando, mas como desde aquele dia, eu não me lembrava. Não vinha nada à cabeça.

– Não. – falei chateada. – Depois falamos sobre isso, John, eu estou com dor de cabeça. – Falei tentando me levantar, mas John me empurrou de volta.

– Vou te dar uma dica. – Ele disse tampando a parte do nariz pra cima com a mão. – E agora?!

Olhei com a minha melhor expressão de poucos amigos.

Demorou, mas aí eu surtei! Não pode ser, ele não pode ser o Kichin!

– Está maluco?! Ele e o Kichin a mesma pessoa?! – Falei mais baixo, afinal estávamos chamando atenção.

– É, presta atenção, o porte físico e a parte de baixo do rosto.

Nossa, que grande referência.

– É, até parece, mas não tenho certeza.

– Meggy, vamos esperar e perguntar pra ele. – John disse e eu assenti. Meu coração batia muito forte.

Isso seria perfeito. Eu adorava aquele coreógrafo e se for ele mesmo, eu dancei uma coreografia dele! Meu Deus, por isso ele parecia meio tenso... Será que ele percebeu que eu era uma fã?! Será que o Hideki era o Kichin?

Não demorou muito para ele aparecer na sala. Surtei discretamente e John me pediu pra fazer silêncio.

– Kichin... – Falei sussurrando, olhando ele ver umas fichas que ele folheava.

– Olá pessoal, eu vim aqui anunciar as duas bolsas! – Ele disse animado e todo mundo riu. Ele era bem simpático. Ele parecia fazer sucesso entre as pessoas, mesmo conhecendo há poucas horas. – Nossa, eu realmente me surpreendi com os candidatos, estão de parabéns! Foi bem acirrado, mas decidimos quem vai dançar aqui a partir de amanhã!

Todos estavam tão apreensivos que sei lá, eu estava até normal em comparação.

– James Cook e Sally Yale! – Ele disse e eu fiquei boquiaberta. Olhei pro John e ele escondia o rosto nas mãos. Os dois se abraçaram e selaram os lábios. Nossa, que sortudos serem aprovados juntos... – Parabéns! Por favor, procurem a recepcionista para fazer suas matrículas e peguem essas fichas aqui comigo para pegarem bolsa.

Eu estava arrasada, agora finalmente tinha caído a ficha. Eu não havia ganhado a bolsa... Meus olhos encheram d’água, assim como muitos ali. John me abraçou e eu chorei um pouco.

– Eu disse. Não sei por que ainda estou aqui. – Olhei pra frente e Hideki olhava pra mim sério. Ele estava encostado na parede e agora pude perceber seus shorts.

...ele usava cores excêntricas em suas roupas (menos seus shorts que era o mesmo, preto e bem largo na altura do joelho)...

Eram os mesmos shorts! Qual a probabilidade de não ser ele? Se for mesmo, o que ele faz aqui em Londres? Eu olhava assustada pra ele e ele me olhava curioso. John se levantou do chão e me puxou pra ficar em pé.

– Sinto muito. – Falou triste pra mim e eu assenti.

– É, acho que vou ficar dançando no meu quarto pra sempre que é melhor.

John riu sem graça e me abraçou de lado.

– Vamos lá falar com ele, eu sei que isso vai melhorar seu humor.

Eu ia andando na frente e Hideki, que estava conversando com um dos bolsistas, olhou pra mim com um sorriso “sinto muito”. Não sei se isso foi sincero ou simplesmente o jeito simpático dele de ser, mas isso me confortou.

– Oi. – Falei sem graça e o bolsista saiu da sala. Só estava eu, John e ele agora.

– Olá. – Ele disse sorrindo e eu sorri também. O sorriso dele era contagiante.

– É... Posso te fazer uma pergunta?

– Se for sobre o resultado, não posso dizer nada. – Ele disse sem graça e neguei com a cabeça.

– Não, não é. É sobre... – Fiquei sem graça. – uns vídeos. – Terminei de falar e ele sorriu divertido.

– Eu sabia que alguém ia me reconhecer. Acho que eu não sou muito discreto.

Arregalei os olhos. Era realmente ele! Olhei para John discretamente que ria.

– Eu sou muito sua fã. Muito mesmo, não tem idéia... Meu Deus, você é o Kichin! – Falei desesperada e ele sorriu mais ainda. – Como você está aqui?! Eu pensei que você fosse morasse no Japão.

– E sou. – Ele riu e coçou a nuca. – Recebi a proposta há umas duas semanas pra dar aula na Begum. – Ele disse.

– Desculpe se estou sendo muito invasiva, mas eu posso tirar uma foto com você?! – Falei e John se pronunciou. Acho que depois de quase pular em cima dele perguntando o que ele fazia aqui, nada seria mais invasivo.

– Meggy! – John me cutucou discretamente. Empurrei John e o Kichin pareceu constrangido.

– Se não puder, tudo bem. É só uma recordação. – Falei sem graça.

Ele pareceu pensar, mas logo deu um sorriso de canto de boca.

– Claro, não tem problema. – Ele disse e eu me assustei. Olhei pra John que me dava uns tapinhas nas costas.

– Vá para o lado dele, eu tiro a foto. – John disse me empurrando e me posicionei do lado do garoto. Ele sorriu animado e eu mais ainda!

John bateu a foto no meu celular e eu agradeci.

– Muito obrigada. Isso foi muito importante pra mim. Obrigada por salvar meu dia. – Falei um pouco sem graça me virando para ir embora com John, meio que tropeçando, e John sorriu.

– Esse é o único defeito dela. – John disse do nada e Hideki sorriu um pouco. Olhei feio para John.

– Se você é desengonçada assim, não demonstrou dançando. – Ele disse e eu fiquei parada por alguns segundos, processando o que ele havia me dito. Corrijo o que eu havia dito antes: ele era muito simpático, gentil.  

John teve que me segurar depois do quase tombo e me virei ainda pra vê-lo mais uma vez. Consegui tropeçar em mim mesma.

– Ah obrigada. – Falei rindo nervosamente. – Eu preciso ir, tchau. – Acenei e ele acenou de volta. Quando saímos da sala, fui escorregando na parede. Mas agora, de alegria.

– Não acredito até agora. – Falei abraçando meu celular. – Ele está aqui em Londres, estava na minha frente... – Falei sussurrando. John ria da minha cara e me puxou de volta.

– Vamos, Meggy, Lauren deve estar esperando a gente. – Ele disse rindo.