A casa estava vazia hoje, mandei Charlotte com Alice para casa de minha mãe e dispensei Jasper. Passamos a noite em claro resolvendo as coisas de Isabella. Só que também passei um bom tempo pensando em como a vi, ela não tinha sofrido seu luto como deveria, ela chorava muito desesperado e uma dor muito grande. Realmente muito grande. Eu estava na cozinha preparando o café quando ela desceu, seu rosto inchado de tanto chorar e uma expressão estranha.

- Bom dia. – a cumprimentei.

- Bom dia Sr.Cullen.

- Vamos acabar com as formalidades sim? Me chame de Edward e eu de Isabella.

Ela sorriu tímida.

- Bella, me chame de Bella.

- Então Bella como vai querer seu café?

- Eu não tomo café Edward.

- O que toma de manhã?

- Chá.

- Acho que tem alguns saquinhos, eu vi... – olhei para os armários e abri um – Vi aqui.

- São meus. – ela abriu um sorriso que achei encantador. E coloquei uma água para ferver. – Onde estão todos?

-Dispensei, pensei em conversamos com calma hoje.

Ela abaixou a cabeça, deve ter lembrado da noite passada.

- Desculpa por ontem.

- Não precisar falar isso Bella, só estou preocupado com uma coisa.

- Eu... olha...

- Mesmo que assine procurações mil e tenha liberdade para mexer em tudo o que tem nada disso vai mudar o fato de que precisa ver as coisas Bella, precisa ver as coisas. Suas coisas. Não pode deixar tudo na mão de outras pessoas e confiar de olhos fechados como tem feito. Poderia estar na ruína se Jasper não fosse honesto como é.

- Não tenho cabeça para isso.

- Precisa ter. São suas lembranças Bella, acho que Michael não gostaria que as tratasse assim.

Ela arregalou os olhos e eu fui fazer o chá, ignorei sua surpresa ao ouvir minhas palavras  e quando me virei ela estava enxugando algumas lágrimas finas e delicadas que caiam de seu rosto. Servi o chá e observei ela pegar um adoçante numa prateleira.

- Medo de engordar? – brinquei.

- Costume, Michael era diabético.

- E Brian?

- Não, ele gostava de açúcar. – ela riu.

- Hum...

Ela tomou o chá pensativa e me observa enquanto eu vi algumas ligações e e-mails no celular.

- Tenho uma proposta e não estou falando que isso dará certo porque somos duas pessoas muito interessantes Edward. Eu encaro a minha dor se você encarar as suas.

- Não entendi. – Tinha entendido muito bem, mas estava nervoso. O que Bella queria comigo?

- Por que foge de Charlotte?

Um golpe baixo. Pensei e respirei fundo. Foi a minha vez de encarar a minha dor, a única dor que tinha em toda a minha vida.

- Trato feito,mas a sua agora é urgente. A minha pode ser tratada por assim dizer no carro. Vamos?

Ela arregalou os olhos.

- Para onde? O que vamos fazer?

- Sua casa Bella, precisa ir lá.

E ela ficou alguns minutos pensando e absorvendo aquilo. Deixei pacientemente ela pensar sobre isso.

- A minha dor péla sua Sra. Swam. É um trato justo.

Eu queria ela liberta daquilo e ela precisa encarar aquilo.

- Edward eu nunca mais voltei lá.

- Eu também nunca contei a ninguém o que aconteceu na noite em que Tânia morreu. Por isso Sra. Swam acho que os dois precisam conversar e encarar os fatos. Não vamos mudar nosso passado, só podemos melhorar o futuro.

Nessa hora ela me olhou diferente, um brilho nos olhos. O que seria aquilo? Queria ter acesso aquela mente... entender sua dor por completo. Penetrar no seu mundo.

- Bom... acho que não pode ficar pior do que está. Vou me arrumar, precisamos sair agora se quisermos chegar lá.

- Onde morava?

- Washington, não no centro. Numa parte afastada, muito bonita.

- Muito bom, vou me trocar. Te espero na garagem.

E ela demorou para se arrumar, acho que precisava de um tempo. Fiquei dentro do carro esperando ela depois que coloquei uma calça jeans e uma blusa esportiva. Também separei algumas roupa e coloquei numa sacola, esperava que ela fizesse o mesmo. Poderíamos ir dirigindo, mas teríamos que dormir em algum lugar. Liguei para minha secretária pedindo para ela reservar dois quartos num hotel e quando desliguei o celular lá estava ela de vestido e sandálias. Com uma bolsa na mão. Entrou e colocou a bolsa no banco de trás vendo a minha bolsa.

- Acho que precisaremos pensar onde dormir.

- Já reservei um hotel no centro. Está nervosa? – perguntei ligando o carro e saindo da garagem.

- Gosto do seu carro.- Meu Volvo.

- Está nervosa? – Já estávamos na estrada.

- Um pouco. Sei que vou chorar e muito. Está preparado para ter uma mulher descontrolada ao seu lado?

Sabia que sua escolha de palavras não tinha sido em vão, ela queria saber de Tânia e a viagem seria longa.

- Ela era a minha secretária. Linda. Ela tinha uma vida e alegria diferente. Me fez ser mais aberto, comecei a beber e sair com pessoas que ela conhecia. Tânia tinha 19 anos quando a conheci, tinha acabo de se formar em Harvard e tinha um futuro lindo pela frente. Dei minha vida a ela assim que a conquistei. Sabia que fiquei quase um ano atrás dela? – Bella sorriu como se me dissesse que aquilo era inacreditável. – Ela dizia que iríamos misturar as coisas e que não poderia perder o emprego caso não desse certo. Quando finalmente aceitou sair comigo foi uma noite incrível, fizemos amor até de manhã e ficamos juntos. Charlotte é resultado dessa noite Bella. É claro que todos acham que foi um golpe muito bem dado e eu sinceramente não sei. Acho que ela se perdeu no meio do caminho só isso. Nos casamos, ela teve Charlotte a muito contra gosto. Ela engordou um pouco e se tornou uma mulher insegura, a confiança dela se foi quando a barriga cresceu. Charlotte foi um bebê lindo... acho que pensa a mesma coisa Brian não?

- Com certeza! – ela disse sorrindo.

- Ela não gostava de ouvir o choro dela, precisei de duas babás para me ajudar com Charlotte. Depois dessa fase depressiva veio a  histeria. Passei dois anos com uma mulher histérica e obcecada com a beleza. Ela não chegava perto de Charlotte e não me deixava muito tempo sozinho com a menina. Fui fraco, não me impus. Os anos foram passando e acho que me acomodei em não dar atenção a ela. Fui consumido por Tania e sua futilidade, histeria e bebedeira. Ela ficou alcoólatra e sempre tinha que procurar por ela pelos bares.

- Por isso a casa distante de tudo?

- Minha tentativa de manter ela longe da bebida.

- Mas não deu certo, ela bebeu e continuou bebendo.

- Sim, a internei algumas vezes, mas ela fugia e dava mais trabalho. No final ela arranjou um amante que bebia e comprava bebida para ela sem se importar com mais nada. Na noite em que ela fugiu.... – respirei fundo. A dor.

- Se acalme, respire fundo. – ela disse num tom profissional. Sorri para ela.

- Bom, brigamos. Ela bateu em Charlotte e saiu com um carro.  As malas...bem, depois tudo fez mais sentido. Minha filha estava sangrando e ela pegou o carro, em vez de dar atenção a Charlotte eu corri atrás de Tânia. Me culpo por isso.

- Fazemos escolhas erradas, isso não define quem somos. Você só escolheu errado. Mas o que mais me impressiona é não ter vontade de ficar com ela. Ela é linda.

Seu ar de admiração e devoção a Charlotte era algo contagiante. Todas as babás se preocupavam em manter ela longe de mim e fazer ela ficar quieta, Bella se preocupava em manter ela feliz.

- Daria tudo por mais um dia com Brian. – ela falou – Tudo Edward para brincar com ele no quintal, pintar flores de vermelhas, ler histórias... – ela começou a chorar. – E você tem uma filha linda e não consegue ficar perto dela mesmo depois de todas as escolhas erradas que fez.

E aquilo me fez me sentir pior. Bella com seu jeito me mostrou aquilo que todos esses anos estavam tentando me convencer. Só que ver sua dor finalmente abriu meus olhos. Não sei porque, mas sabia que aquela viagem nos prometia muito mais do que uma simples avaliada ao nosso passado sofrido. Ela foi feliz no casamento.Eu não fui. Ela não tinha mais seu filho querido. Eu tinha Charlotte e não ficava muito com ela. Ela tinha muitos desafios pela frente e eu estava disposto a estar com ela em cada um deles.

- Tome. – estendi um lenço.

- Obrigada.

- Preciso para em um lugar para continuarmos sim?

- Onde?

- Uma surpresa.