Eu contava com meus vinte anos na primeira vez que visitei a magnífica Cidadela Branca de Gondor. Digo, talvez antes, em minha infância, eu já a tivesse conhecido, mas minha memória mais marcante foi naquele dia de primavera, ano 2070 da Terceira Era.

Meus irmãos e eu viajávamos com nosso avô, Príncipe Angelimir, para que conhecêssemos o então governante Regente Ecthelion II. Vovô sempre dizia que ele e sua linhagem eram homens de grande valor e tenacidade. “Gondor tem vivido bons anos nas mãos de Ecthelion, e viverá muitos mais, se o bom Eru permitir!”.

No fundo, em meu coração, sabia que tinham planos para mim, e não ansiava para conhecê-los. Até a primeira vez que pude vislumbrar a capital do país. Minas Tirith erguia-se alta e imponente, como uma fortaleza branca esculpida nas montanhas de Gondor, para proteger seu povo e guiá-los em tempos difíceis. Havia algo de poético e místico naquela imagem, como uma atmosfera onírica que se adensava à medida que chegávamos mais perto.

E foi a primeira vez que eu o vi. Ele estava ali, parado à distância de uma flechada em meio ao pátio da Cidadela Branca. Como uma estátua esculpida em pedra, uma expressão impassível em seu rosto forte e seu corpo era guardado fortemente por uma brilhante cota de malha, na qual acinturava a bainha de sua espada. Já ouvira dizer, de minha mãe, que o regente tinha um filho com o qual meu pai queria casar a mim ou à Ivriniel, mas jamais o imaginara como agora podia vê-lo. Uma coisa em especial me surpreendera: ele era loiro, de cabelos longos, e de olhos cor de oliva, olhos como estes eu jamais havia visto em qualquer lugar.

Aproximei-me para cumprimentá-lo, mesmo sabendo que não deveria fazê-lo sem que antes fossemos apresentados por meu avô, por uma questão de costumes. Mas, neste caso, era diferente - estava encontrando uma pessoa pela qual há muito esperava, como duas almas que, depois de muito separadas, se reencontram. E quando nos encontramos, e nossos olhos também se encontraram, todo o passado e todo o futuro pareciam ter desaparecido, e só existia para nós aquele momento.