Três dias haviam se passado desde que tomei a decisão de participar do “seqüestro”. Três dias foi o suficiente para armarmos um plano de distrair os Cullen e trazê-la para Volterra. Eu tive três dias para repensar minha decisão. Mas não tinha mais volta. Eles iriam pegá-la com ou sem mim, então eu precisava estar lá para garantir que nenhum deles faria um lanche com ela. Estremeci com o pensamento.

Desde que marcaram a data de nossa viajem eu me senti ansioso e quase desesperado para poder vê-la de novo. Olhar seus olhos castanhos e ter a certeza de que ela estava bem era tudo o que eu precisava para ficar em paz novamente.

- Está na hora! – Jane chamou da porta de meu quarto.

Suspirei pesadamente. Eu esperava que desse tudo certo e que ela não ficasse com medo de nós como ela parecia ter da última vez que foi ao castelo. Eu tentaria ao máximo deixá-la confortável conosco. Até mesmo Jane concordou em tentar ser simpática. Eu sabia que ela seria. Ela tinha simpatizado com a garota no momento em que soube o que ela significava para mim.

- Espero que os vegetarianos não nos dêem problemas. – Demetri resmungou enquanto se sentava em uma das poltronas do jato.

- Você acha mesmo que eles a entregarão sem tentar lutar? – Alec perguntou arqueando a sobrancelha. – Você viu o que o Cullen fez quando Aro cogitou a idéia de matá-la. Ele tentou atacar Aro!

- Eu sempre quis fazer isso! – Demetri falou rindo e foi acompanhado por Alec.

- Vocês são loucos? – Jane perguntou raivosa. – Aro é nosso mestre, devemos protegê-lo e obedecê-lo, e não pensar em atacá-lo.

- E se vocês se esqueceram, ele poderá ver isso assim que tocar em vocês! – completei sorrindo zombeteiro.

Demetri e Alec trocaram um olhar amedrontado, e isso arrancou um sorriso irônico de Jane. Eu somente revirei os olhos. Eu também já tive muita vontade de arrancar os membros de Aro e jogá-los em uma fogueira e quando ele viu isso em meus pensamentos somente riu. Eu não precisava ler mentes para saber o que ele estava pensando. Ele certamente pensava que eu estaria morto antes que conseguisse tocar em um fio de cabelo dele.

- Ele não fará nada conosco! Somos os mais eficazes e talentosos da guarda, Demetri! – Alec falou com um sorriso presunçoso e estendeu o punho para que Demetri batesse com o dele. Jane revirou os olhos assim como eu. – Já você é outro caso, Felix!

O olhei com a expressão vazia e depois estreitei meus olhos.

- É verdade! – Demetri concordou – Você é muito eficiente em suas missões, mas pode ser descartável. Você não tem um poder que te deixe na lista de jóias raras de Aro, então você é facilmente substituível.

Algo que ele disse despertou uma série de questões em minha cabeça. A guarda Volturi não era a mesma para mim, não depois que eu descobri algo tão grandioso como meus sentimentos por Bella. Eu não sentia mais a necessidade de servir a Marcos, Caius e Aro. Eu queria deixar a guarda, mas tinha certo receio.

Eram poucos os que abandonavam a guarda, mas todos tinham total liberdade para sair e voltar quando bem desejasse. Aro sempre deixou isso bem claro para todos os membros, ele não impediria ninguém de sair, mas isso não quer dizer que ele não faria tudo ao seu alcance para que eles fiquem.

- Você acha mesmo que sou substituível? – perguntei tentando manter minha voz vazia de emoções.

- Não se ofenda, mas achamos. – Alec respondeu se recostando em sua poltrona.

Então era verdade, eu não era tão requisitado na guarda para que Aro fizesse uma cena por minha saída. Eu poderia sair sem problemas, e eu faria isso assim que a situação com Bella se resolvesse.

Eu não sei se deixei meus pensamentos vazarem em minha expressão ou se Jane podia ver algo em meus olhos, mas sua expressão mudou de repente.

- Não. É mentira! – Jane protestou – Você não é substituível, ninguém pode ficar no seu lugar! – ela falou intensamente, parecia quase desesperada enquanto falava. Fiquei com pena dela. Se eu fosse embora ela teria somente Alec para cuidar dela. Não que ela precisasse ser cuidada.

- Calma Jane. – Alec riu – Não é como se o Felix estivesse indo embora! – ele tentou tranqüilizá-la, mas não funcionou. Ela continuou a me olhar de modo estranho pelo resto da viagem.

Horas depois chegamos a Port Angeles, ainda teríamos que dirigir até Forks em uma viagem que duraria uma hora, mas faríamos em vinte minutos com a minha condução.

Quanto mais os minutos passavam, mais ansioso eu ficava para ver minha Bella. Eu queria mais do que tudo ver seus olhos castanhos novamente.

Logo vi a placa de “Bem-vindo a Forks” e meu nervosismo se intensificou. Eu estava cada vez mais perto dela. A cada segundo eu estava mais perto de minha vida. Minha Bella.

Em certo momento, Jane disse para deixarmos o carro estacionado perto da entrada da floresta e irmos a pé agora. Corremos com nossa velocidade vampiresca farejando o ar.

- Por aqui. – Demetri chamou quando ele sentiu o fraco cheiro de Bella. Seguimos até o local que o cheiro vinha e paramos em frente a uma pequena e, aparentemente, aconchegante casa branca. O cheiro dela era muito mais forte aqui. Era a casa dela. Sentimos cheiro de vampiros também. Edward e Alice, eu reconheci. E também o de outro humano, um homem. Mas dentro da casa, eu podia ouvir somente um coração batendo. Era o dela. E ela estava sozinha.

- Será mais fácil do que pensamos! – Alec sorriu vitorioso.

- Quem vai entrar? – Demetri perguntou.

- Eu vou! – falei já caminhando para os fundos do quintal. Havia duas janelas que davam acesso a algum quarto do segundo andar. Saltei para uma delas e me surpreendi com o que vi lá dentro. Era o quarto dela, eu sabia disso. Não somente por que seu cheiro era mais forte aqui do que no resto da casa, mas por que descansando na pequena cama no meio do quarto estava a garota que eu tanto amava.

Instantaneamente, assim que pus meus olhos sobre ela, toda agonia que eu sentia por nossa distancia se foi e eu não podia pensar em nada a não ser na bela menina a minha frente. Era quase doloroso se quer pensar que algumas semanas atrás eu achava que jamais a veria de novo. Agora olhando para a minha Bella, era impossível para eu simplesmente ir embora e deixá-la lá. E eu sabia que mesmo se Aro não nos mandasse nessa missão eu teria voltado por ela e a levado comigo.

Eu não sabia quanto tempo fiquei olhando para ela enquanto ela dormia, mas em certa parte da noite, ela se remexeu na cama e de repente abriu os olhos. Ela sentou-se ereta na cama quando me notou parado nas sombras.

Mesmo com os cabelos revoltos e selvagens, ela estava linda. A única coisa que estava me incomodando eram seus olhos assustados me observando. Ela não deveria estar assustada, eu queria que ela se sentisse segura comigo e não assustada.

Ela apertou ainda mais os olhos, foi aí que notei que estava escuro demais para seus olhos humanos, ela não conseguia me ver com tão pouca luz. Dei um passo à frente saindo das sombras. O coração dela corria enquanto ela olhava para mim. O medo era visível em seus olhos por mais que ela tentasse esconder. E isso me machucava.

Ela esfregou os olhos com as costas das mãos, talvez para espantar o sono, eu não sabia dizer. Ela parecia adorável. Mas o que me pegou de surpresa foram suas próximas palavras.