O Circuito Do Rio escrita por LuluuhTeen, Luisa Druzik


Capítulo 1
Prólogo - 200 anos


Notas iniciais do capítulo

Sei que não é sexta, ou sábado, ou domingo, mas não consegui esperar.
Primeiro capítulo como provinha.
~LEIAM O AVISO, É EXTREMAMENTE IMPORTANTE.~



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Prólogo

200 anos

O ano é 2213, o lugar é a Amazônia, a situação é precária.

Depois de muita insistência dos EUA, o Brasil acabou cedendo à proposta e vendeu a maior floresta do mundo. Bom, a ex-maior floresta, na verdade. Hoje a competição está acirradíssima entre o Central-Park, ou o que sobrou dele, e o jardim de um museu de botânica na Austrália, mas lá, quase tudo é artificial ou de laboratório. Pois bem, o ponto é que a floresta Amazônica não existe mais. Ponto. Isso mesmo, todos os macacos, dinossauros, advogados, girafas, coqueiros, pinguins, ou qualquer coisa que existia aqui não existe mais.

Toda essa natureza deu lugar a uma nova selva, essa feita totalmente de metal e cimento, revestido com muita tinta e vidro, e talvez até mesmo mais metal. E tudo isso resulta em um gigantesco conjunto de arranha-céus, totalmente robotizados para atender as necessidades dos moradores, que se resumem em pílulas de vitaminas e nutrientes, que substituem o alimento usado pelos nossos ancestrais.

Poucas são as pessoas, hoje, que têm acesso à alimentos reais, como verduras, frutas, lacticínios e até mesmo carne. Eu sou uma delas. Minha família sempre morou na Amazônia, desde os Tempos Antigos. Aqui nasceram meus bisavós, meus tataravós, e todos aqueles outros. Há alguns séculos morar aqui era sinal de pobreza, por ser um lugar com muito “mato”, sem acesso a “civilização” e blá, blá, blá... O que eu sei, ao certo, é que eles moravam aqui quando tudo foi pra América. Literalmente. Toda essa floresta passou a ser território Americano, propriedade dos Estados Unidos da América.

Alguns americanos, em 2007, fizeram a proposta da privatização da Amazônia, querendo pagar para comprar áreas, e assim, gradualmente, tomar para si a floresta. O vídeo, que tive acesso pela minha posição social atualmente, era realmente lindo, falavam de dados e preservação, então, no fim, eles começaram a falar em comprar a floresta. Minha avó me contou que seu avô, quando viu aquilo, sendo um homem muito preservador da natureza quis tomar o primeiro voo para os EUA para, como ela disse, “Ensinar uma lição a esses jovens, que pensam que todos os seres vivos estão disponíveis à compra!”. Minha avó também me contou que meu tataravô achava que esse era um crime pior que a escravidão, comprando os pobres animaizinhos que não têm como se defender. Mas ela me falou que seu avô morreu tentando salvar um leão de um circo, ninguém que ter um fim como o dele, então, é melhor deixar as coisas como estão.

As propostas não pararam por aí, algum tempo depois, em 2013, há exatamente 200 anos atrás, os EUA fez sua primeira proposta oficial, por R$100.000.000.000,00. A partir daí o mundo parou. Calculando, se bem explorada, ela valeria em torno de US$4.637.740.904.875,00, agora, os EUA sabia disso, já o Brasil, não. O governo persistiu na recusa. Mesmo depois de algumas outras propostas bilionárias, chegando até a 500 bilhões, os EUA pararam de tentar. Até aquele momento o valor do lucro que os EUA obteriam já tinha baixado um pouco, mas nada que atrapalhasse os planos dos Estados Unidos, que é claro, o Brasil não tinha conhecimento.

Até chegar à proposta de 30 trilhões.

Agora, além de parar, o mundo segurou a respiração, quando isso passou no jornal da época, televisivo, consta nos arquivos de alguns chamados “blogs” da antiga geração moderna que “Todos prenderam a respiração, aguardando por uma decisão que mudaria o status do Brasil, de país das ‘Mulatas, Futebol, Samba e Florestas’ para simplesmente país de 3º mundo”.

A resposta do Brasil foi simples: “Sim”.

A fortuna não durou o esperado. Os corruptos, que não eram poucos, apareceram como abutres para conseguir pegar um pedaço da carniça, sem nem mesmo serem discretos as contas dos políticos saltavam alguns bons zeros em alguns dias, e inexplicavelmente, esses se afastavam do cargo e iam morar na Europa.

Os brasileiros não queriam ter o futuro de seus filhos acabado, então, iam tentar a vida em lugares próximos, como a Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Peru e outros países da América do Sul. E eventualmente, o seu antigo Amazonas. A floresta foi se enchendo, lotando, sendo destruída, e os EUA, que achavam que só teriam lucro, acabaram tendo de montar uma espécie de Muro de Berlim, para conter os brasileiros para fora, e manter somente os americanos e amazonenses realmente do estado. Mas como o de Berlim, o muro caiu, e para salvar o pouco que restava os EUA simplesmente cortaram tudo. Exato, todas as árvores, que antes formavam a maior floresta do mundo foram derrubadas para dar espaço a uma New York tamanho GG. Formas de arranha-céus e construções mirabolantes decoravam o céu à noite, e os mais pobres que não tinham um terreno, ou seja, que não eram realmente amazonenses foram obrigados a partir, voltando à dura realidade de ser brasileiro em 2050. Depois disso, o Brasil acabou se tornando um pedaço de terra abandonado, pelo governo, pelos outros países, pelo mundo, e até mesmo pelos próprios naturais de lá. A terra que antes era uma ameaça na copa do mundo simplesmente afundou em um mar de dívidas e abandono. Esquecida no tempo. Menos por um grupo de pessoas. O Governo Americano estava de olho na terra, afinal, não importa o quão abandonada, terra sempre é terra. E terra sempre é um bom lugar para fábricas. E fábricas é uma maneira de conseguir dinheiro. E é claro, que os Americanos nunca tinham dinheiro de mais.

Brasil agora é sinônimo de poluição, fábricas e tecnologia. De tudo o que o ser humano tinha em casa, agora não mais tão parecidas como as do século XX e XXI, grande parte era produzida nas fábricas do Brasil, que deram emprego à milhares de pessoas, que aos poucos foram substituídas por máquinas que elas mesmas criaram. E é claro, que também tinham laboratórios científicos. Todos os melhores cientistas do mundo tinham o sonho de trabalhar no Brasil, apresentar seus projetos e um dia os ver em todos os lugares, todas as lojas, todos os escritórios, serem reconhecidos como quem levou a espécie à um novo grau de compreensão. Mas quem realmente revolucionou a nossa vida foi John Peter Gerhard, um cientista russo que simplesmente mudou o sentido da nossa existência.

De acordo com ele “Gastamos grande parte de nosso dia e nossa vida nos alimentando desnecessariamente, sendo que poderíamos obter todos os nutrientes necessários com apenas algumas pílulas que contenham todos eles”. Claramente, o argumento foi suficiente para ganhar o interesse da população, afinal, tempo era a palavra chave para se conseguir a atenção de qualquer um naquele tempo ou em qualquer outro.

A proposta foi que 100 pessoas viajassem ao Brasil, e durante um mês se alimentassem somente de cápsulas. Muitos dos pobres brasileiros se propuseram, mas é claro que os mais ricos tiveram preferência, e por fim, o grupo de cobaias não passava de uma quantidade bastante grande de famosos e políticos que queriam somente aumentar sua popularidade entre as pessoas comuns.

Por fim, o projeto foi aprovado, tanto pelas modelos que conseguiram emagrecer tomando menos pílulas que o necessário quanto pelos políticos que conseguiram poupar ainda mais sua não honesta fortuna, substituindo as porções generosas de caviar por pílulas com o mesmo sabor e ainda mais nutrientes e vitaminas.

O único problema era que o preço era acessível somente às cobaias. Por pouco mais de US$100,00 você poderia comprar pílulas para um dia de um organismo regular. É claro que a maioria da população não poderia gastar três mil dólares por mês com uma alimentação saudável, mas o tempo gasto se alimentando era grande e desnecessário, e como tempo é dinheiro logo não existiam mais produtos normais para a população normal. Alguns dos mais pobres morreram de fome e os que tinham um pouco mais de dinheiro começaram a plantar em casa, pois até mesmo comprar já estava ficando caro de mais. Minha família foi um deles.

Morávamos na Amazônia e com um terreno amplo e terra fértil cultivamos o hábito de plantar nosso alimento e criar animais para o consumo. Quando os alimentos se tornaram raros e caros, aumentamos nossa produção para poder comercializar, o que nos resultou em um aumento enorme de capital e posição social. Minha avó era uma mulher que olhava sempre cinqüenta anos à frente, e isso fez com que ela armazenasse uma grande quantidade de material histórico numa biblioteca em nossa casa e também alguns equipamentos que mantivesse as conchas, coletadas por gerações de futuristas, conservadas. E isso foi de grande ajuda depois que um hacker, contratado pelo governo, deletou praticamente todos os sites, levando junto toda a história do mundo, somente por que elas demonstravam “Desacato à autoridade, falando sobre nossos honradíssimos governantes”.

Quando nasci todos da família ficaram surpresos, afinal, fazia muito tempo que ninguém nascia com os olhos verdes, na verdade, desde que o Brasil era um país belíssimo e natural não tínhamos pessoa alguma com olhos da cor do oceano em nossa família, apesar de isso estar no sangue a muitas eras. Eu tive essa sorte, ou azar, já que fui muito cobiçada pela elite quando bebê. Como todas as coisas também têm um efeito colateral, as pílulas deixaram muitas pessoas inférteis e acabou não sendo mais crime comprar, literalmente, uma criança de uma família mais pobre.

Meus pais não me venderam, eles respeitavam os ideais do meu avô e eu sempre achei isso fantástico, tanto que desde pequena plantei, colhi e cuidei de tudo que era vivo ou era fruto da natureza.

Minha avó me ensinou a ler, as escolas eram escassas, pois as crianças passavam grande parte de seu tempo no HSH (High System Happiness), popularmente chamado de Home, Sweet Home. Depois de aprender a ler não parei mais, mas fui levada, como todos os outros, a utilizar o sistema. O programa era realmente fascinante, livros e mais livros, didáticos, ficcionais, geográficos. Todos os tipos. Mas é claro que essa era a parte menos usada de todo o HSH, a mais frequentada era a grande estação de salas de bate-papo, onde muitas pessoas se encontravam e discutiam sobre os mais variados assuntos. Quando tentei encontrar alguém com quem falar sobre livros, conheci Janet, viramos grande amigas, e durante dois anos nos contatamos e falamos sobre os livros que estávamos lendo. Infelizmente, um dia entrei no chat e fui falar com ela, mas quem me respondeu foi sua mãe que me falou que Janet havia falecido na noite anterior, fruto da falta de exercícios combinado com cápsulas a mais de carboidratos, resultando em um corpo obeso. Eu fiquei muito depressiva e durante uma semana não saí de meu quarto, afundando em uma leitura constante de clássicos que antes pareciam chatos e sem sentido, mas naquele momento diziam palavras que me chamavam cada vez mais para dentro do enredo combinado com uma alimentação “moderna”, a base de cápsulas horríveis de vitaminas e minerais.

Minha avó foi a primeira pessoa com quem tive contato naqueles dias, muito preocupada ela veio ao meu quarto e me levou algumas frutas, disse que não era bom eu me acostumar à alimentação de cápsulas e me aconchegou em seus braços, cantando enquanto eu chorava em seu ombro. Eu sempre a amei muito, ela é e sempre foi meu porto-seguro.

Um dia eu estava almoçando com toda minha família reunida, do jeito que sempre foi e meu irmão, que não se acostumava com a nossa vida tradicional, estava como sempre com seu net-tab na mão quando o aparelho começou a apitar.

-Ih! O Governo pirou! – Todos olhamos para ele com uma interrogação no rosto quando ele começou a ler a notícia. – “Nós, do Governo dos EUA, percebemos que nossa realidade atual, fruto de muitas anos de pesquisas e trabalhos que foram desenvolvidos durante séculos, fez com que a população abandonasse os hábitos saudáveis, que eram incentivados pelos políticos desde a infância de nossos ancestrais. Para reforçar a necessidade de exercícios físicos propomos um desafio aos nossos jovens e adultos que se sintam em boa forma. Estaremos abrindo uma vaga n’A Legião, para o vencedor de nosso circuito. Para mais informações, clique no link abaixo.” Pode uma coisa dessas?

A partir daí meus pais e minha avó começaram a falar sobre me mandar, afinal, eu estava em ótima forma e uma vaga n’A Legião era algo de valor inestimável. Eu também não hesitei ao me cadastrar na competição e duas horas depois um e-mail com o regulamento me foi mandado.

Depois disso, tudo mudou, eu viajei até Manaus, onde ocorreria O Circuito do Rio e descobri que não era a única em forma. Muito menos a única que havia ido. E pior ainda, não era a que tinha mais chances de vencer.


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Notas finais do capítulo

Tudo bem, meu twitter é @LuisaDruzik, o blog onde você pode ver mais informações sobre a fic, os capítulos e até spoilers sobre as próximas: ficlegiao.wordpress.com (peço desculpas pois tenho que conciliar os meus blogs, então, pode ser que esse fique um pouco abandonado, mas nada que interfira na fic, ok?
Posto semanalmente, como disse no aviso, sexta, sábado ou domingo terá um capítulo novinho aqui (nessa mesma semana porque sou boazinha...)
Beijos.



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