AHS não me pertence.

Me Tornando Você

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Violet se perguntava quando começara a matar.

Se foi com os pássaros que tiveram a infelicidade de escolher a poça formada pelo buraco no telhado do jazigo para banharem-se numa tarde úmida de verão. A luz elétrica havia sido cortada da Murder House quando a imobiliária finalmente desistiu de vender a casa mal assombrada, de forma que, a bateria de seus aparelhos eletrônicos haviam acabado há muito tempo e para ouvir só lhe restara os gritos horripilantes, os choros desesperados e as gargalhadas insanas que ecoavam por aqueles corredores decadentes.

Então, Violet matou os pássaros. Sua ideia era de aprisioná-los numa gaiola de ferro que achou no porão, mas descobriu que, de uma forma dolorosamente irônica, todos eram livres para irem onde quisessem dentro dos limites do terreno da casa. Os pássaros atravessaram as grades brancas da gaiola antiga, voaram pela janela e pousaram numa das árvores do jardim, a mais afastada da janela de Violet, ela nunca mais os ouviu cantar.

Ou se foi com o gato. Um gato malhado, muito magro, um vira-latas rejeitado da vizinhança perfeita daquele bairro adoravelmente residencial da cidade dos anjos. Ela não podia dizer que gostou de matar o gato. Ele gritou e fez uma sujeita, mas ela estava se sentindo tão sozinha e queria algo para abraçar durante a noite.

Mas o gato acabou ressentido com ela por tê-lo matado e as crianças do porão o adotaram.

Ou ainda, se a morte que a batizou com sangue foi a dela mesma.

A que ainda acontecia quando a casa vencia outra vez e ela acordava coberta de vômito num cama de pílulas. De onde ela havia tirado aquilo? Haveria alguém trazido no dia das bruxas? Não sabia nem mesmo como ela havia chegado ali. Não pensava muito naquilo.

Um dia decidiu que: já que as coisas que ela matava sempre a abandonavam, o jeito era matar a que a matou e que ela abandonou.

E quebrou a maldição.

Ele veio rápido e ela sorriu. Ele a abraçou e ela o esfaqueou nas costelas. Ele caiu pesadamente no chão, enchendo o carpete com sangue falso e ela o arrastou para a banheira onde ele fingiu impedir sua morte, desejando apenas tê-lo matado ali, morrer não fez dele menos pesado ou dela mais forte.

Ele acordou quando ela tirava a amarra de sua boca. Ele piscou, a falta de sangue ainda nublava sua mente, ele tentou mover os braços, mas estavam amarrados nas bordas da banheira que enchia lentamente.

Finalmente conseguiu abrir os olhos e Violet entrou em foco.

Os cabelos molhados grudavam em seu pescoço e havia sangue em seu vestido e bochechas, sangue dele. Em sua mente perturbada era como se ele a encontrasse vestindo umas das suas roupas. Ela estava sentada sobre ele, as bordas do vestido flutuando na água sangnolenta e tinha uma faca. Ele sorriu.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

- Camões

N/A: Eu confesso, "roubei" a cena da banheira de outra fic. Minha Violate preferida "Melt" da minha também ficwriter prefrida do gênero Gray Glube. Se você lê em inglês, não se esqueça de ler as fics dela.