Fomos ao funeral de Kevin, dar os pêsames a família e amigos. Muitos alunos da universidade compareceram para prestar uma ultima homenagem. No enterro de Kevin, todos estavam sentados em cadeiras enfileiradas, de frente para o caixão, onde seu corpo descansava coberto. Devido aos ferimentos em seu rosto, a família preferiu manter o caixão fechado.

O padre local dizia as ultimas palavras de conforto antes que o corpo fosse levado a sete palmos de chão. Bela estava sentada ao lado de alguns alunos na ultima fileira de cadeiras, enquanto eu permanecia em pé as suas costas, com as mãos em seus ombros.

Jimmy estava ao lado de alguns companheiros da equipe de karatê. Eles ficaram logo na dianteira para prestar uma homenagem ao amigo. Ele mantinha os olhos fixos em mim, como se tentasse adivinhar o que estava passando pela minha mente, enquanto eu permanecia séria.

Quando o corpo de Kevin foi finalmente levado a cova, os colegas fizeram uma fila para deixar rosas sobre o caixão que em breve seria coberto por areia. Acompanhei Bela ate metade do caminho, e então vi um sujeito estranho me observando de trás de uma árvore. Ele sorriu pra mim, de um modo bizarro. Então decidi segui-lo.

Afastei-me das outras pessoas, e fui atrás do homem que agora adentrava aos domínios do cemitério. O encontrei novamente parado, em frente a uma sepultura, cujo mesmo se destacava por uma estatua de um animal com asas de anjo.

Ele se vira e me encara ate que eu me aproxime.

-Como se sente esta manhã Alice? –disse o homem desconhecido-

-Então é voce? –perguntei desconfiando-

-Sabe quem eu sou?

-Posso sentir algo familiar...

-Fico feliz que voce me reconheça... Depois de tudo que fiz por voce!

-Foi voce quem fez aquilo comigo?

-Não precisa me agradecer! –ele sorriu-

-Agradecer? –ironizei- Por ter me atacado e me deixado ferida no meio da floresta?

-Fiz um favor a voce trazendo voce a vida! Voce não me parece infeliz!

-Voce libertou essa coisa em mim. Mas esse nunca foi meu desejo...

-Engraçado voce reclamar agora! –ele andou em minha direção- Me parece estar fazendo bom proveito do que te dei! –ele toca meu cabelo enquanto passa ao meu lado-

-Por que atacaram meus amigos? Se já conseguiram o que queriam de mim?

-Não estava ciente desse ataque. Mas meus irmãos têm um senso de humor interessante!

-Dane-se o senso de humor deles. Eles poderiam ter matado minha melhor amiga... Se tocarem nela, eles não vão gostar do meu senso de humor...

-Diga a eles voce mesma! –ele sorri em minhas costas tocando meus ombros- Temos uma reunião amanhã à noite. Voce vai saber o lugar... Agora quanto a sua outra amiga, a loirinha... Deveria ter terminado o que começou... Não é nosso costume deixar nossas presas vivas pra contar historias...

-Eu não a queria morta. Só queria tirar ela do meu caminho... –respondi séria-

-Bonito! Uma atitude digna de uma fêmea dominadora! –senti o hálito dele em meu pescoço- Mas da próxima vez... Termine o serviço...

Sinto que ele se afasta e começa a caminhar. Mas não vai embora antes de dar um ultimo recado:

-Vamos limpar sua bagunça...

Parei por alguns minutos olhando para frente, depois me virei para olhar pra ele imaginando o que ele queria dizer com limpar a minha bagunça... Mas quando me virei por completo, ele já não estava mais lá...

...

À noite decidi ir até o hospital onde Milena estava internada. Fiquei no estacionamento por alguns longos minutos, enquanto ambulâncias entravam e saiam do lugar sem parar. Passaram-se meia hora, depois se completaram uma hora cheia, e eu ainda estava em pé naquele estacionamento, que depois de certo tempo foi ficando vazio.

Mantive meus olhos fixos naquela que seria a janela do quarto de Milena. O estacionamento estava escuro, e não creio que minha presença tenha chamado atenção por ali. Ouvi passos atrás de mim, e então uma voz disse próxima ao meu ouvido:

-Decidiu vigiar ela agora? –disse Wade com voz calma-

-Não quero que seus amigos terminem o que eu comecei... –respondi sem me virar-

-Por que não? Voce a odeia...

-Se eu a quisesse morta, eu mesma teria feito.

-Sei exatamente como voce se sente... –ele segura meus ombros- O que voce sentiu ao ferir ela... A raiva dentro de voce... O que voce sentiu por causa dele é o mesmo que sinto por voce... –ele se referiu a Jimmy-

-Ela não era uma ameaça... Mas merecia uma lição... –respondi firmemente-

-Merecia! –ele aproximou os lábios do meu ouvido- Agora voce sabe o que eu sinto ao ver voce com aquele idiota... O que voce fez com ela, não chega nem perto do que eu faria... Por voce.

Virei-me bruscamente olhando nos olhos de Wade, e levando minhas mãos até o peito dele. Então disse com voz calma e pausada:

-Se voce chegar perto do Jimmy... –eu sorri- Eu mato voce...

-Eu sou parte do que voce é Alice... Coisa que ele nunca será... Não pode negar isso...

-Pode estar certo sobre isso... Parte de mim pode amar voce Wade, mas a outra ama o Jimmy... –desviei dele e comecei a me afastar-

-Uma hora voce vai ter que escolher entre um de nós...

-Eu já escolhi... –respondo sem me virar- E não é voce...

Distanciei-me do hospital, assim como de Wade, sem me preocupar mais com que fariam com Milena, e se fariam alguma coisa. Não seria problema meu... Wade mais uma vez estava certo sobre minha escolha. Mas não creio que realmente fosse uma decisão minha. Sentia-me mesmo divida ao meio... Parte de mim, aquela que Salvatore havia libertado desejava e ansiava por ter Wade ao meu lado. Mas meu lado humano, ainda amava Jimmy com todas as forças.

Não creio que Jimmy aceitaria minha situação atual, e ainda imagino que se ele soubesse o que fiz por causa dele, ferindo Milena daquele jeito, provavelmente me acharia repulsiva. Mas eu não estava pronta para deixá-lo... Ainda tinha controle sobre minha vida, e não deixaria que ninguém mudasse isso tão depressa...