Retalhos escrita por Mandy


Capítulo 5
Capítulo 5 Amargo veneno


Notas iniciais do capítulo

Por favor nao entendam isso como uma apologia ao suicidio, tudo o que foi escrito é o pensamento da personagem.
espero que gostem de conhecer, pelo menos por pouco tempo, a historia da mulher de Dean.



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In the desert

I saw a creature, naked, bestial,

who, squatting upon the ground,

Held his heart in his hands,

And ate of it.

I said, "Is it good, friend?"

"It is bitter -- bitter," he answered;

"But I like it

Because it is bitter,

And because it is my heart."

Becausa it's bitter and because it's my heart- Stephen Crane

Ela estava cansada, muito cansada. E andava pelas ruas da cidade do Kansas como um cachorro sem dono, triste e amargurada. Quando foi que tudo em sua vida começou a dar tao errado? Ela não tinha resposta para isso.

Como uma mulher que sempre teve sorte na vida cujo nome estava debaixo de plantas de grandes prédios e com uma fortuna imensurável acabaria assim reduzida a lagrimas? Isso ela sabia.

Para a mulher que andava naquelas ruas em tal horário da noite nada mais importava, seu amor que um dia dissera ser forte como um diamante não passava de um copo de cristal, bonito que tinha acabado de se quebrar. Olhando para a banda de ouro branco da aliança nada pode tirar de sua cabeça que a culpa para tudo isso era unicamente dela.

Se pelo menos ela fosse mais flexível...

Quem ela estava enganando? Ela sabia que ela nunca seria mais flexível, tinham se passado seis meses e nada, nenhuma mudança tinha acontecido. Nenhum instinto maternal tinha britado-lhe. Não para com o menino. Ela não conseguiria dizer ser a mãe dele, não depois de tudo o que ele a fez passar.

Ela ouvia a voz de Dean em sua cabeça. Para ela os olhos verdes dele, os mesmos olhos que a tinham convencido a se casar em uma cerimonia ultrarrápida em Las Vegas e cuja determinação a fez descer de sua condição de patricinha para admitir gostar de ser uma mulher, mulher de um unico homem sempre estariam decepcionados. Certamente eles ficariam pior depois de hoje.

O que ela estava para fazer não tinha mais volta.

-O que você vai querer?

A voz parecia canada assim como ela, provavelmente tinha chamado seu nome pelos últimos minutos. A mulher de cabelos loiros em sua frente parecia não querer mais nada a não ser sair dali e ter seu fim de semana inteiro gasto com qualquer coisa mais normal.

Aquela loja, ela nunca tinha estado ali e tinha a certeza de que se um dia tivesse colocado os pes naquele chao sujo não gostaria de voltar de novo. Ela sabia que voltar não seria seu problema. Todos os seus pensamentos estavam convergindo para aquela determinada fase macabra onde tudo o que fizesse não mais a importasse, ora, ela não mais precisaria se importar com nada.

A recomendação de um amigo era tudo o que ela precisou. O lugar era feio, sujo como mijo e completamente coberto por coisas que ela jamais imaginou existir. Se sua velha tia estivesse viva ela tinha certeza de que a velha mulher faria de tudo para tira-la dali. Infelizmente sua determinação era a única coisa que lhe sobrava, não seria o fantasma de sua tia ou Dean, na verdade não seria ninguém que tiraria sua presença daquele lugar.

Todo o sofrimento que tinha passado nos últimos seis meses a drenaram. Os conselhos das enfermeiras a entediavam e acima de tudo a boa vontade e a fé cega do homeme que considerou ser seu eram a pior coisa que ela poderia ver.

Por um momento a mulher sentiu-se culpada por ter certos níveis de inveja. Seu amor não a amava mais da mesma maneira, não depois do parto e não depois da vinda das duas almas que ela pós nesse mundo. Todos os esforços dele eram resumidos em hospitais, em conversas com especialistas e em literatura medica. Nunca a sua casa tinha virado um lugar tao entediante. Para quem um dia tinha se apaixonado por um Winchester, um homem cheio de vitalidade e confiança vê-lo definhar em uma postura de fracasso e miséria era o fim.

Ele não tinha mais nenhuma conversa que pudesse compartilhar. Ela não queria conversar, não sobre o elefante que estava bem diante dela.

O nome dele tinha sido ela quem escolheu, o segundo nome era uma homenagem a seu irmão Christopher...

Christopher... era ironico saber que um dia ela finalmente o entenderia.

Quando ele tinha pulado da janela naquela tarde chuvosa a única coisa que ela pensou foi em como ele pode ser tao covarde. Como ele pode deixar ela e sua mãe viuvá sozinhas no mundo e em como ele era fraco. Ela nunca tinha entendido o por que de seu irmão mais velho ter se suicidado justamente quando a sua família, ou o que tinha restado dela, mais precisava.

Agora ela entendia. Ela era capaz de saber o por que de tudo.

Ela não mais o considerava um covarde ou uma pessoa egoísta. De uma forma ou de outra, as coisas ficaram muito melhor seu ele em sua vida. Seu irmão não tinha como saber tudo o que ela sabia, ele não poderia ajudar sua família a voltar a ser o que era. A mulher solitária tinha certeza de que se ele ainda estivesse vivo o rumo das coisas não culminaria para aquele fim... não havia possibilidade para que sua família voltasse a ser rica, não quando havia uma pessoa doente por dinheiro no meio deles. Sendo assim, percebendo que Chris pode ter pensado em tudo aquilo, em como o vicio no jogo poderia prejudicar a re- ascensão de sua família, a desesperada mulher começou a ve-lo com uma outra óptica.

Agora o suicida era o herói.

E ela também queria ser uma heroína, a heroína de sua própria vida.

Jane Marie Winchester iria encontra-lo para dizer tudo isso pessoalmente.

-Por Deus! Se não for para comprar nada saia já daqui que eu tenho coisas melhores para fazer!

Jane tinha sido mais uma vez puxada para a loja, a única loja com artigos macabros que ela poderia conhecer. Em um único instante ela se lembrou de seus propósitos, de querer ser uma heroína esse livrar das amarras que a vida tinha lhe imposto. Sem nem ao menos se importar em manter uma expressão neutra ela disse olhando para a desconhecida de cabelos loiros em sua frente;

-Preciso de um veneno.

Se ela sentiu sua pele arrepiar com o sorriso maligno que a atendente acabou por mostrar nada foi impresso em seu semblante. A engenheira detestou cada segundo daquela conversa.

A atendente de madeixas louras virou-se de costas e fez com que a outra mulher a seguisse para uma outra sala que por incrível que possa ser era ainda mais assustadora do que a primeira. Jane poderia ter certeza de que os crânios que estavam dispostos em vasos estavam frescos. Tudo ali cheirava a morte e a muito ódio.

Mesmo assim ela estava determinada. Em sua cabeça nada a diferenciava dos crânios nos vasos. Ela era apenas um monte de carne sem alma, um monte de carne que tinha deixado sua alma sair voluntariamente.

Era certo de que seu espirito também estivesse em um lugar como aqueles. Uma mãe que rejeita um filho não era e nunca foi o que ela desejou se tornar.

Infelizmente para seu mal não existia remédio. Não havia mais nenhuma possibilidade de volta.

-Temos aqui todo o tipo de veneno, curare...

Por mais que ela tentasse não foi capaz de ouvir o resto. Os nomes eram muito complexos para alguém que passou toda a vida vivendo de números. Tudo o que ela queria era algo que pudesse resolver seu problema.

-Eu só quero algo que me mate e que não deixe rastros! Seu grito desesperado deveria ter assustado a mulher. O olhar de malicia nos olhos da outra não agradou-a nem um pouco. Ela não era para estar ali, ela estava cuspindo no prato que comeu... ela não deveria tirar sua própria vida!

Mesmo assim tudo aquilo parecia tao claro. Era certo que a atendente já tinha estado na presença de outros como ela e era ainda mais transparente o fato de que a mulher não tinha feito nada, absolutamente nada, para impedir que outros tirassem suas vidas.

Se um dia ela encontrasse sua tia a velha mulher a mataria de murros.

Entrar em um local onde as pesoas não se importavam se ela viveria ou não, em um local onde provavelmente o assassinato e seja lá que coisas piores parecem ser aprovados era espantoso.

Mesmo assim ela estava decidida.

O amor de mãe não tinha vindo para ela, nem com o menino e muito pouco com a menina.

Suas expectativas de vida tinham se reduzido a zero e ela era incapaz de acompanhar o homem que uma vez amou na busca por uma vida melhor. Ela sabia que ele merecia algo mais do que ela, todos eles mereceriam algo melhor do que ela. O que ela estava fazendo era apenas se doar, dar sua vida em troca de uma brecha de felicidade, em troca de deixar seu marido livre e sem ter que se importar com ela... ela daria tudo para que ele fosse feliz e se a felicidade estava atrelado a uma criança sem expectativas que assim seja. Ela faria de tudo para deixa-lo bem. Aquilo não era covardia.

-Muito bem.

A voz da outra mulher ainda ecoava em seus ouvidos quando um pequeno frasco branco muito similar a de um perfume caiu em suas maos. Dessa vez ela deixou-se arrepiar com o toque repentino. A entrada da atendente em seus espaço pessoal era algo aterrador, a mulher tinha algo de muito frio em sua alma e o sorriso ao ouvir de morte, de um pecado grave aos olhos de Deus não era a coisa que mais a fez ter medo.

A serenidade da atendente era o que mais a amedrontava. A mulher poderia vê-la jogar sua vida fora como se estivesse vendo a um filma chato.

Mesmo que ela estivesse determinada a jogar sua vida fora e entrar no inferno o comportamento da outra era estranho, muito estranho. Para alguém que tinha treinado repetidamente o que dizer e como agir, para alguém que esperava uma verdadeira guerra ou pelo menos uma pessoa que levasse-a a repensar no que estava por fazer a serenidade nos olhos negros era desconcertante.

Ela não tinha mais a quem recorrer em caso de duvida.

-Coloque isso em qualquer bebida e você não estará mais aqui para reclamar do ardor.

As palavras eram como flechas em seu ser. Era bebendo um café que ela se via terminando com sua vida assim como sua mãe escolheu deixar esse mundo. A única diferença era que sua mãe não tinha escolhido se matar, ela tinha bebido veneno sim, mais não conscientemente.

Nem ao menos ela sabia o por que de alguém querer matar sua mãe. Ela não tinha sido capaz de descobrir nada. Era assim que ela pensou para o futuro de Dean, seu marido não merecia saber que ela tinha se suicidado.

Assim como uma heroína ela trabalharia sob a escuridão do anonimato.

-Muito obrigada.

Ela pagou com dinheiro e já estava prestes a sair do lugar repugnante quando a mão da atendente a puxou:

As duas se entreolharam por alguns segundos e a cada passar de tempo Jane tinha mais e mais medo da outra mulher. Era como se nesse instante ela estivesse se alimentando de seu desespero ou de sua falta de expectativas.

Ela começou a pensar que ir ali tinha sido um erro. Era muito mais fácil se jogar na frente de um carro.

-Ninguém nunca me disse obrigada.

Por um instante a mulher Winchester pensou que a outra iria acrescentar algo, perguntar o por que de sua decisão ou até mesmo impedi-la de se suicidar. Para sua desgraça nada a mais foi dito.

Ela não tinha mais nada que a impedisse de cumprir seu desejo. Era ela por si mesma agora.

Seu sorriso saiu assustado quando a mulher se deslocou para deixa-la passar. A sala tinha ficado subitamente fria e seus nervos não iam aguentar o cheiro de tudo.

A mulher cliente não tinha outra escolha senão sair de lá, e foi o que ela fez, o mais rapidamente possível.

Ela nunca mais voltou a ver a cara da mulher que lhe vendeu o veneno. Ela estaria morta antes disso.

Jane se dirigiu para o primeiro wal-mart vinte e quatro horas que encontrou. Em sua lista de compras apenas estava uma garrafa de suco. Ela deixou-se desfrutar do gosto do pesgo antes de colocar qualquer tipo de ingrediente a mais no liquido, seria a ultima vez que ela faria aquilo e era melhor gastar seus últimos suspiros em algo que ela tinha certeza que não iria decepcionar do que em pensar em como seria a vida de seu marido sem ela.

Assim como um heroi ela deveria tomar essa decisão sozinha. Dean jamais a entenderia e isso ela tinha certeza. Ela faria de tudo para que ele fosse feliz, mesmo que o tudo implicasse em acabar com sua própria vida.

Sem nem ao menos cogitar a ideia de ligar para o homem que lhe tinha dado tudo ela escreveu em um bilhete feito de papel amarelo seus últimos pensamentos e colocou-os dentro de sua carteira. Mesmo suicida a engenheira não poderia se perdoar por deixar de dar uma satisfação, Dean merecia saber de tudo e a policia também.

A loira jamais suportaria descobrir que seu amor foi preso acusado de assassinato. Ela não faria isso com ele.

Depois de escrever um segundo bilhete- dessa vez para seu filho- ela decidiu que já tinha passado da hora de ela partir. Quatro sempre tinha sido seu melhor numero.

Colocando o conteúdo do frasco pequeno dentro de seu suco favorito seu ultimo ato na terra foi consumado.

O rosto de Dean, seu amado Dean tinha dançado em sua mente enquanto seus labios tocavam o veneno amargo.

-Se um dia você pudesse me perdoar...

Ela sabia que seria impossível, os Winchester não abandonam as lutas assim. Ela já tinha conhecido os dois irmãos de forma suficientemente satisfatória para saber disso. O fato de não ser capaz de continuar vivendo, de não conseguir desejar uma esperança em uma possibilidade distante a fazia nada comparado a o que era ser uma Winchester.

Ela não seria uma lutadora, não como os homens que ela conheceu, ela não queria sacrificar seu tempo e esforço em algo que já estava consumado. Ela seria a heroina da noite, aquela que daria sua vida em troca da possibilidade de felicidade, pois ela não poderia fazer ninguém feliz com seus gestor tristonhos, ela não faria Dean feliz ao continuar sem acreditar que um dia o filho que pós no mundo seria mais um menino como todos os outros.

Jane sabia quando desistir de uma batalha perdida. Isso era o que a fazia ser uma verdadeira super-mulher. Nada mais habitava sua mente ou seu espirito, o amor de mulher tinha se ido embora, o amor de mãe tinha se transformado em ódio e a vontade tinha se esvaído de seu ser.

Tudo o que lhe restava era o cansaço, o cansaço de uma vida perdida.

O minimo que ela poderia fazer era usar seus últimos momentos em uma boa ação. Sem suas atitudes amargas Dean poderia ter mais chances de viver, mais chances de gastar seu tempo e esforços na vida do filho que ela tinha sido incapaz de amar.

A atendente estava certa. Ela foi incapaz de sentir o gosto amargo do veneno. Tudo o que ela sentiu foi o amargor do gosto de seu coração.


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Notas finais do capítulo

Faltam mais algumas outras cenas perdidas para terminar!
Aceito sugestoes de proximos capitulos.
Comentarios sao bem vindos.
XD
Mandy



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