À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 34
Capítulo 19




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Suas nossas vidas mudaram muito desde então. Eu prefiro não comentar sobre o problema que ela teve com meus pais depois de chegar em casa nem o quanto  argumentou para fazer Eduardo por os pés no apartamento.

Àquele ano novo foi muito difícil, e ao mesmo tempo, diferente dos outros. Como diferente? Lívia não fechou os olhos para desejar bons momentos para o ano que entrasse, não torceu os dedos esperando a sorte, não pulou ondas, não jogou flores ao mar, não rezou, não, não e não. Quis apenas que aquele momento vivesse para sempre, os dedos estavam ocupados, entrelaçados nas mãos de Eduardo, as flores ficaram no cabelo e do mar... Ah, do mar ela ganhou as ondas quebrando com a água geladinha nos pés.

- Voltarei a trabalhar. – Foi o que disse ao seu pai quando os primeiros fogos de artifício estouraram na praia de Copacabana.

- Ah bem! Achei que fosse viver na aba da minha filha pelo resto da vida! – Gritou Paulo desatando a gargalhar.

- Paulo! – Adverti-o a mãe – Só hoje, homem! Dê uma trégua!

- Ah, Vera, eu já aceitei que eles fiquem juntos. Mas isso não me impede de fazer umas piadas, não é?

Passaram-se alguns dias até que eles decidiram mudar-se para o apartamento que Lívia tinha ganhado, para viverem com mais privacidade. Pedro foi o que menos gostou da ideia. Chorou e esperneou quando os viu arrumando as caixas com os pertences de Lívia.

- Eu até gostava de você. Mas agora não gosto mais. – Disse para Eduardo escondendo-se atrás da porta.

- Mas o que eu fiz? – Perguntou lacrando uma caixa de roupas.

- Vai levar minha irmã para longe! – Gritou.

- Vamos morar muito perto daqui. Dá até para ir à pé. E você pode nos visitar sempre que quiser... – Articulou.

- Mas eu não quero ser visita! Eu quero morar com a minha irmã! – Teimou.

Lívia chegou naquele momento e pegou o irmão no colo. Jogou os jornais no chão e testou sua psicologia infantil conversando com Pedro.

- Eu posso vir dormir alguns dias aqui com você.

- Pode nada! Você está levando tudo do quarto! Onde vai dormir? No chão?

Ele começou a espernear novamente e a sacudir-se para sair de seu colo. Estava inconsolável demais para conversar. Ressentido e enciumado. Lívia deixou-o ir e atirou-se na cama, cansada.

- Ele vai me odiar a vida toda? – Perguntou Eduardo afagando seus cabelos.

- Não... No máximo uns quinze anos. Depois fica tudo bem. – Disse rindo.

O telefone começou a tocar na cabeceira. Um, dois, três toques e Eduardo o tirou do gancho.

- Alô? Sim... É a casa dela sim. Sou eu mesmo. Como sabe meu nome? – perguntou atônito.

Lívia imaginou que fosse uma de suas amigas e continuou observando a cara de surpreso que Eduardo estava.

- Você não pode fazer isso! – Começou a se alterar.

- Eduardo, quem é? – Perguntou ela estendendo a mão – Me dá o telefone.

- Isso está errado! Você está errado em fazer isso! Eu? E o que eu tenho a ver com sua falta de profissionalidade?

- Eduardo, me dá esse telefone agora!

- Espere aí, eu ainda não terminei...! – Exclamou olhando para o fone. – Desligou.

Lívia estava pálida. A cor dos lábios se perderam e o sangue tinha fluido para qualquer lugar que não fosse seu rosto.

- Quem era? – Insistiu apoiando-se na cabeceira para levantar. – Quem era, Eduardo? Responda!

- Seu professor.

- Meu professor?! E por que discutiram? O que ele disse à você?

- Que era para eu te dar o recado de que o trabalho estava pior e que você foi reprovada.

E então a menina caiu desmaiada em seus braços. Eduardo chamou por seus pais e eles surgiram no quarto tão rápido quanto aquela conversa. Desesperaram-se quando souberam da noticia e ainda mais quando reanimaram Lívia e viram que ela continuava tonta, mesmo com 500 gramas de algodão embebido em álcool no nariz.

- Chame um médico! – Gritou Eduardo para Vera, que só sabia roer unhas.  – Lívia, Lívia! Acorde...

A menina piscava os lacrimosos olhos sem parar.  Tentava balbuciar algumas palavras, mas a voz tinha lhe abandonado. Eduardo segurava sua mão enquanto o pai colocava toda a culpa nele, agorando-o.

Vera disse que o médico não atendia, o celular estava desligado. Decidiram então levá-la a um hospital particular para ser atendida. Um exame de sangue, uma vitamina. Qualquer coisa que fizesse lá dentro seria mais útil que água com açúcar ou álcool no nariz.

- Vou procurar as chaves do carro. – Disse Paulo saindo do quarto.

- Acho melhor não. Chame um táxi, está muito nervoso para dirigir. – Comentou Eduardo.

Ele simplesmente acenou, concordando com as palavras de Eduardo, sem contradizer ou contra argumentar como de costume. Tomou o telefone nas mãos e discou para uma companhia de táxi das proximidades. Vera arrumou numa bolsa os documentos de Lívia, identidade, cartão de plano de saúde e essas coisas burocráticas.

As coisas se acalmaram subitamente quando ela pôs os pés no hospital. Aquela falsa sensação de segurança de que estavam protegidos contra qualquer tipo de problema se estivessem ao lado de um médico. Os pais deram entrada na emergência e Eduardo conversou com o doutor que a atenderia.

- O que aconteceu com a paciente? – perguntou acompanhando a transferência de Lívia para uma maca.

- Antes do desmaio foi uma notícia impactante. Pensamos que logo passaria, quer era só o emocional, mas ela continuou tonta...

- Tudo bem. Você é o que dela? Tio? – Perguntou sem nem olhar em seus olhos, anotando coisas em sua ficha.

- Sou namorado. – Respondeu Eduardo rispidamente.

- Farei um hemograma completo. Dentro de duas horas, mais ou menos, já teremos o resultado.

O médico não conseguiu não reparar nele. Olhou-o de cima a baixo, analisando-o. Talvez perguntando se ele estaria fazendo algum tipo de piada ou falando a verdade, de fato.

A sala de espera estava lotada de pessoas tensas, chorosas, cansadas e deprimidas. A pior das atmosferas. Nem o branco e verde do acolchoado estava funcionando em seu papel de acalmar os parentes. Vera rezava seu terço sentada na cadeira sem nem parar para respirar, Paulo segurava Pedro que insistia em destruir os copos plásticos do bebedouro, desfiando-os. E Eduardo permanecia de pé, pensando no pior.

- Eu vou entrar. – Disse para si mesmo – Não estou aguentando.

Caminhou calmamente pelo corredor, tentando disfarçar seu plano de infiltração na sala da emergência. Abriu a porta e pulou para dentro e entre tantas macas com pessoas gemendo e gritando deparou-se com Lívia, olhando para o teto, em silêncio.

- O que houve com você? – Perguntou ajoelhando-se.

- Não se preocupe. Não é nada ruim... O doutor acabou de sair para chamar vocês. Onde estão meus pais?

No momento em que ela perguntou a porta se abre atrás dos dois. O doutor, Vera, Paulo e Pedro entrando juntos.

- Não esquece de abaixar. – Murmurou bem baixinho.

O médico levantou a prancheta, posicionou o papel e passou os olhos mais uma vez sobre ele. Revezou os olhares entre nós e o que estava escrito várias vezes.

- Ande logo com isso! O que ela tem? – Perguntou Eduardo arregaçando as mangas da blusa.

Ele pigarreou, passou a mão nos olhos e depois na cabeça, pediu que Vera segurasse a mão do marido e enfim anunciou.

- A menina está grávida. 

Não deu para cronometrar o tempo que levou para o punho de Paulo acertar o rosto de Eduardo, nem do instante em que Lívia levantou da cama e se pôs a sua frente. Da mãe caindo desmaiada no chão ou de Pedro perdendo a voz de tanto berrar, assustado, segurando a mão da mãe.

Foi necessário três enfermeiros além do médico para segurar e acalmar Paulo. Lívia agarrou-se ao braço de Eduardo de tal maneira que nem ele conseguia tirar. Seus pais e seu irmão foram tirados de dentro da sala e Lívia encaminhada para um quarto.

- Você já sabia. – Afirmou enquanto ela era levada para o quarto.

- Suspeitei. Nós não nos protegemos... – Murmurou.

- Está com medo?

- Por nós três. – Respondeu mordendo os lábios.

Agora eram três. Eduardo pediu que ela soltasse seu braço e voltou à sala de espera. Pediu educadamente para conversar com Paulo, que ainda tremia com o copo d’água nas mãos.

- Senhor Paulo, eu gostaria de ter uma conversa com o senhor.

- Vera, segure o Pedro e peça para o médico chamar a funerária. Não quero ter de pagar a internação desse maldito. Serei breve.

O velho se levantou com dificuldade, amassou o copo e jogou-o na lixeira. Começou a estalar os dedos – e dizer que Eduardo não engoliu em seco seria ocultar a verdade. Temeu pelo que poderia receber e também pelo extremo caso de revidar.

- Eu sei que não tenho as palavras que o senhor quer ouvir mas, dou minha palavra que honrarei compromisso com sua filha. Podemos nos casar no cartório assim que sairmos daqui do hospital. Recebo uma boa pensão da aeronáutica, mas planejo um investimento num negocio muito bom...

- Espere. Espere ai rapaz. Está querendo me dizer que além de ter deflorado a ingenuidade da minha filha vai casar enfiado num cartório? Mas de jeito nenhum! Exijo a benção de Deus. Vai se casar na Igreja e fazer juramento de fidelidade eterna. Se bem que com a sua idade e seus problemas de saúde... Ela vai poder se casar de novo...

- Como sabe dos meus problemas de saúde, senhor Paulo?

- Na minha casa não existem segredos. A minha esposa me contou e fique sabendo que eu lhe tenho muita pena.

Eduardo virou as costas e caminhou em direção ao elevador. Já tinha falado tudo que era necessário. Nunca foi homem de ouvir desaforos, já tinha saturado toda capacidade.

Adentrou o quarto de Lívia e encontrou Pedro encarando a barriga descoberta da irmã.

- Tem um bebe aí dentro? – Perguntou apontando para seu umbigo.

- Ainda não é um bebe. É só uma sementinha. Uma sementinha que vai virar um bebe. – Respondeu percebendo a entrada de Eduardo no quarto.

- Dona Vera, eu...

- Não precisa falar nada, Eduardo. Depois eu faço meu discurso você já ouviu do meu marido bem mais do que eu quero dizer. – disse levantando-se do sofá – Vem Pedro, sua irmã precisa falar com Eduardo.

- Mas mãe... Eu ainda nem perguntei como foi que ela colocou a sementinha ali dentro!

- Vem, garoto. Isso o Eduardo te conta mais tarde. E aí você me conta, eu também estou curiosa para saber...

Eduardo encarou-a da porta num misto de culpa e felicidade. Lívia já fazia círculos na barriga com o dedo indicador.

- Eu disse para abaixar. – Disse ela apontando para baixo do seu olho roxo.

- Não deu tempo. Seu pai é muito rápido...

- Chegue mais perto! Eu sou a única pessoa que não quer te matar nesse momento.

- Ah, não? – Perguntou desconfiado.

- Não, idiota. Estava aqui pensando quanta coisa temos a fazer agora que temos um bebe. Temos que comprar um milhão de coisas e começar a fazer o enxoval...

Eduardo debruçou-se na cama, segurou-a pela nuca e a beijou abruptamente.

- Casa comigo?


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Notas finais do capítulo

Ficou grandinho ^^
O próximo é o último, meus amores!
Obrigada por acompanhar a história de Lívia e Eduardo até aqui!



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