À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 24
Capítulo 13.1


Notas iniciais do capítulo

Peso morto. Olha que apelido bonitinho que eu ganhei *-*
Mamãe que deu *--------------------------------*



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Meu coração batia frenético sobre o peito e eu pouco me importava. Fiz mais duas abdominais, se podia sentir o coração bater era porque não estava cansado o suficiente.

“Estão ouvindo o barulho da respiração? Não estão? Pois então continuem!” – O tenente disse em sua mente surgindo em meio às lembranças.

Estava quase beijando o chão empoeirado quando a faxineira bateu na porta. Era aquela mesma baixinha, gordinha de todos os anos. A única faxineira muda do asilo, própria para o meu quarto. Não ousaria contar a ninguém minha idade, a menos que quisesse rever meu canivete de estimação.

Deixei-a bater, esmurrar, até cansar. Não estava tentando enganá-la tentando parecer ausente, só demonstrando a vontade de ficar sozinho. O quarto estava mesmo sujo, mas quem se importa? Logo a porta estará aberta e toda poeira será varrida pelo vento. Mas até que esse dia chegue, tenho que me preparar.

– Cinquenta e oito, cinquenta e nove, sessenta. – Contei descansando os cotovelos no chão. – Acho melhor tomar um banho e continuar esculpindo, antes de dormir termino as cem.

Ao me levantar senti uma pontada na perna esquerda que quase me derrubou. Corpo inválido, só me trazia desgosto.

Deixei a água fria cair sobre a cabeça e estranhei a falta de cabelos molhados nos ombros. Ainda não tinha me acostumado com a tosa... Enrolei a toalha na cintura e encarei o reflexo no espelho. Meu corpo tinha mudado desde que punha os pés no asilo. Perdi massa muscular, ganhei marcas de expressão no canto dos olhos e até uns pelos brancos.

Mas o cabelo tinha voltado a ser como antes. Talvez, se tirasse a barba veria melhor a sombra do passado. Tirei a espuma de barbear intacta de dentro do armário e espalhei no rosto.

O presto barba era novo e tinha mais lâminas do que a minha avó poderia imaginar. Incrível como deslizava sem causar grandes danos na minha pele. Essas modernidades... Posso me acostumar com elas.

Depois de limpo notei que a velhice não tinha me abatido assim, por completo, como imaginava. Faria a desgraça de muitas mulheres, se quisesse. Mas a vontade me faltava, só haviam duas mulheres nas quais eu pensava. E por mais estranho que possa parecer, eu não queria o mau das duas.

Marta, a recepcionista, que eu tinha a maior vontade de mandar para o inferno, quebrar os dedos e fazê-la comer terra. E Lívia.

– É. Quem te viu e quem te comeu. Nem eu estou acreditando... – Disse passando a toalha de rosto molhada ao redor do rosto.

Voltei ao quarto tomando o canivete nas mãos, esculpindo com raiva o pedaço de madeira circular. Ainda faltavam alguns detalhes, mas já não me importava com isso. Ele ficaria comigo mesmo.

O telefone da cabeceira toca. Pensamentos destrutivos tomam minha mente. Como seria interessante vê-lo voar pela janela... Mas atendi.

– O que é, Marta? – Perguntei.

– Graças a Deus nasci homem! Liguei para perguntar que horas passamos para te buscar mais tarde.

– Diga a seu pai que esse ano ele não faz caridade. Depois ele acerta as contas com o seu Deus. – Disse desligando o telefone na cara de Calvin.

Olhei para o porta retrato e me questionei.

– Por que eu não te afoguei quando tive oportunidade? – Disse enfiando um par de meias no canto da mala estupefata.



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