À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 19
Capítulo 10.1


Notas iniciais do capítulo

Reviews, reviews tantos reviews *-* Obrigada pessoal!



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– Não vai me perguntar por que não fui te ver? - Perguntei quebrando o maldito silêncio que persistia desde sua entrada.

Lívia se remexeu no sofá e deitou a cabeça na almofada olhando-me com os olhos apertados. Mal se aguentava em pé, estava completamente dopada de anti-inflamatório.

– A resposta não é óbvia para você? Porque para mim está bem clara. - Respondeu fazendo caretas ao mover o braço.

Abusada. Achei que fosse até que não fosse naquela segunda-feira, mas ela apareceu contra a vontade da mãe, do Matias, de Deus e o mundo. E veio com toda a raiva embutida nas pálpebras pesadas e a língua afiada.

Preferia que ela não tivesse vindo e me desse uma folga para esculpir.

– E a faculdade? Como foi a aula hoje? - Perguntei forçando-a a abrir os olhos.

– Não fui. - bocejou - Não tinha condições de ir a aula hoje...

Levantei-me da cama e caminhei até a terceira prateleira da segunda estante. Tomei um livro nas mãos e folheei-o até o capítulo que queria. Comecei a ler em voz alta a frase de um dos meus escritores favoritos.

– "Não há nada impossível; há só vontades mais ou menos enérgicas." O que ele diz a você com isso? - Perguntei sentando-me a sua frente.

– Julio Verne é o maior de todos os sonhadores. É isso que eu acho. Mas por que escolheu justamente essa frase?

– Qual é a sua vontade de terminar com mérito a faculdade?

– Tão grande quanto conseguir compreender você. - Disse apoiando-se no braço do sofá.

Segurei-a pela cintura dando apoio para se levantar. Ela se agarrou ao meu pescoço com o braço são e só largou quanto teve certeza de que estava em pé.

– Se vai embora, pelo menos prometa-me que vai estudar. - Pedi.

Colocou a bolsa no ombro, bateu o casaco amassado e dirigiu-se a porta, quieta. A mão escorregou pela maçaneta duas vezes e eu esperei que tomasse logo uma decisão, se ia ou ficava.

– Tenho que parar de esperar coisas de você. - Disse com a voz dura.

– Não sei quando foi que começou a economizar sentimentos por mim, mas... Eu fico grato. - Comecei.

– Pode parar Eduardo. Não preciso de gratidão nem de pena. Só que você aja como humano. E se não tem afeto por alguém que não demonstre nenhuma vez.

E ela saiu do quarto, fechando a porta delicadamente. E pela primeira vez senti uma pontada de arrependimento. Abrir uma porta nunca havia me causado tantos problemas.

Já não bastava Matias perturbando-me ora por telefone ora pessoalmente com seu discurso falido de regras e toda aquela picuinha de um homem tradicional.

Eu nunca tinha parado para pensar por mais de meia hora sobre as atitudes que tomaria com uma mulher. Mas Lívia se fazia merecer, não podia prever suas reações... Não sabia como ia agir. Agora pouco, por exemplo, achei que depois de dizer que era grato por seus sentimentos ela ia ficar, sorrir, talvez até num impulso, me abraçar.

Mas ela me veio com uma resposta afiada. Rancorosa.

Tomei o telefone nas mãos e disquei o ramal da recepção. Era a segunda vez em um ano que eu o usava depois de anos vivendo nesse quarto. Marta atendeu com o costumeiro mau humor e logo repassou a ligação para o escritório de Matias.

– Já tem minha resposta? - Ele perguntou antes de saudar-me.

– Sim. - Respondi ouvindo vozes falando junto com ele na sala.

"Pai, estou indo levar Lívia para casa. Disse que não está sentindo-se bem." - Ouvi Calvin dizer batendo a porta do escritório.

– E então? - Perguntou retomando a nossa conversa particular.

– Não me comprometo mais em seguir as regras. Desculpe, amigo.


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