À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 11
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Leitora novaaaa! Seja bem vinda! Ana Paula ganhou uma coleguinha *-* hihi'



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- Alô, Bianca? - Disse Lívia ao celular caminhando pela saída do metrô.

- Oi, Lívia! Tudo bom? Quando vamos marcar aquela festa do pijama, hein? Estou com saudades do seu brigadeiro de panela... 

- Logo logo, deixa passar a época de provas. Eu queria te pedir um favor. Pode me emprestar a apostila da semana passada para xerocar? Perdi a minha com anotações e tudo! Preciso muito estudar para a prova do Alexandre...

- Meu fichário está aqui no banco do carona. Estou indo para o asilo, a Dona Teresa vai me ensinar a fazer tricô hoje! E você, também está indo? Como vai com seu 'avô postiço'?

- Estou sim... Quando chegar lá conversamos. Você está dirigindo e nós batendo papo. Que coisa feia! - Riram juntas -  Até logo!

E deligou apressada. Além da faculdade agora tinha que se preocupar com a desculpa que daria aos amigos para sua 'técnica de conversa' com Eduardo, eles nunca entenderiam.  

Se bem que agora esse era o menor dos problemas. Estava mais preocupada com o batalhão de provas que teria e quando perguntaria novamente ao Sr. Eduardo se poderia entrar. Eles já tinham 'conversado' muitas semanas, e ele até ligou a vitrola! Se é que aquilo era um bom sinal... Depois daquele dia dos Bee Gees ela tinha a certeza de que iria vê-lo em pouco tempo. Começou a brincar de imaginar em que tom era o branco de seu cabelo.

Entrou pela recepção, pegou a esteira e não viu Calvin em nenhum momento.

- Marta, o Calvin está na sala do Sr. Matias? - Perguntou enquanto se servia com um copo d'água.

- Eles ainda não chegaram. Quer deixar algum recado? Caso um deles ligue...

- Não. Obrigada. - Respondeu notando a cara da recepcionista mais azeda que o de costume - Seu cabelo está bonito hoje, o que fez de diferente?

Na mesma hora Marta abriu um enorme sorriso e passou a mão nos fios oleosos.

- Não fiz nada. Acho que foi o xampu novo... Só isso.

Ela não agradeceu, mas pelo menos sorriu um pouco. Lívia não tinha visto nada de bonito no cabelo dela, mas como todos sabem, dar um elogio é chave para a conquista.

Percorreu os corredores batendo os braços para os amigos de longe, viu Dona Teresa separando revistas e lãs numa cadeira, Igor ensinando hap para seu avô postiço e outros mais dançando quadrilha.

Logo o asilo seria enfeitado com as bandeirinhas de São João e a quadrilha dar terceira idade, esse ano teria alguns novos participantes.

- Cheguei, Sr. Eduardo! - Disse esticando a esteira no chão - Está animado para a festa junina? Eu também estou. Por mais que os doces daqui sejam todos muito lights e essas coisas, será divertido... Quem será o casal de noivos esse ano? 

Dez minutos de conversa e seu celular toca. 

- Desculpe. Preciso atender... Alô? 

Lívia escutou a voz de Calvin alterada, chorosa, descontrolada tentando esboçar alguma coisa.

- O quê? O Sr. Matias está internado? - houve uma pausa - O quê? Acalme-se, Calvin! Eu já estou indo.  - Desligou o telefone, enrolou a esteira e escutou uns bagulhos de coisas caindo dentro do quarto. - Fique calmo, Sr. Eduardo. Eu te mando novidades. Mas tente manter a calma, eu dou um jeito de falar com o senhor quando tiver mais notícias, ok? 

Escutou um baque na porta, como se ele tivesse atirado alguma coisa, mas não se preocupou com isso e saiu correndo pelos corredores. Esbarrou numa senhora e levou um tropeção. 

- Ei, menina! Olhe por onde anda! - Disse Dona Teresa com o dedo indicador levantado.

- Por que está correndo, Lívia? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou Bianca largando as agulhas de tricô sobre a cadeira.

- Mais ou menos. Indo para o Quinta Dor. - Respondeu ofegante.

- Está passando mal? Correndo dessa maneira!?

O olhar acusador de Teresa transformou-se em aflição. Lívia preferiu não dizer que quem estava passando mal era o Sr. Matias para evitar outros 57 infartos no asilo. 

- Não... Um conhecido está mal. 

- Posso te levar de carro. Vamos! Não se importa não é, Teresa? 

- Não, minha filha, pode levar a menina, chega a estar pálida... Vou rezar por seu conhecido, menina.

- Ah, obrigada... - Disse antes de sair correndo, outra vez.

O caminho estava parado num trânsito infernal e como se não bastasse, Lívia não parava de receber ligações no celular.

- Lívia! Ele... Os médicos estão dizendo...

- O quê? Não consigo entender.

Foram seis sinais vermelhos, quatro amarelos que elas ignoraram e oito ligações sem sentido.

Ao chegar no hospital não sabiam em que andar, quarto ou sala cirúgica Matias poderia estar. E mesmo que a recepcionista lhes dissesse não tinham autorização para subir porque não eram integrantes da família. 

Ligar para o celular de Calvin já não era uma opção, mas uma ideia descartada. Perturbar o menino ligando sem parar não ajudaria em nada.

Elas ficaram sentadas no sofá da recepção esperando o tempo passar, Calvin aparecer ou qualquer outra novidade.

Elas ficaram, aproximadamente, duas horas sem falar nada. Apenas sentadas, rezando pelo melhor.

Engraçado como a fé toca as pessoas nos momentos de necessidade. É muito fácil ser ateu quando se tem saúde, casa, comida e família. Mas, nos momentos difíceis o nome de Deus vem a boca das pessoas com a mesma perseverança que o salário no começo do mês. 

Entre uma olhada e outra no relógio da recepção, Lívia viu passar o vulto de um homem correndo. O borrão azul claro a fez lembrar das camisas que Calvin costumava usar. Levantou para confirmar suas suspeitas e como ela tinha pensado, era ele que estava de joelhos na grama.

Lívia caminhou lentamente e passou a mão nos fios alaranjados. Ele levantou a cabeça, assustado e a abraçou. Estava com o rosto inchado, com um mão roxa e os olhos apertados.

- Pronto. Vai ficar tudo bem. - Disse Lívia afagando-lhe a cabeça. - Já passou.

Um enfermeiro apareceu perguntando se ele não queria um calmante, mas Lívia não permitiu. A amiga, que antes os observava de longe, agora se aproximava.

- Lívia, preciso ir. Desculpe não poder ficar mais... Amanhã eu passo na sua casa e levo as apostilas, tudo bem?

- Muito obrigada, Bianca. Amanhã mesmo faço uma panela de brigadeiro pra você. 

Assim que ele parou de fungar ela pediu que se levantasse.

- Vamos para a capela. - Ela propôs.

Eles adentraram a capelinha vazia. Sentaram lado a lado no banco de madeira.

- Você é uma ótima psicóloga. - Foi a primeira coisa que ele disse depois de erguer a cabeça.

- Quer me contar o que aconteceu?

- Ele... Começou sentindo muitas dores de manhã, eu o trouxe para o hospital e quando me dei conta, já estava infartando. O cedaram agora... Deve dormir por algumas horas.

- E você?

- Eu o que?

- Como está?

- Quase infartei junto! Ele segurou minha mão tão forte! - Disse esticando a mão arrocheada.

- Matias é um homem forte. Vou comprar algo para comermos, você deve estar morrendo de fome. 

Lívia saiu da capela e antes que desse cinco passos pegou o celular para fazer uma ligação. 

- Casa de repouso...

- Marta. É a Lívia. Preciso de um favor. Urgente. Ligue para oo quarto 09 e diga que está tudo bem com seu amigo, foi só um susto.

- Não tenho ordens do Sr. Matias para passar qualquer ligação ao quarto 09.

- Foi o próprio Sr. Matias que pediu que eu ligasse. - Mentiu.

- Então está bem.

Respirou aliviada. Pronto, já não tinha mais com quem se preocupar.


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