Felina escrita por MuriloVonNachtwind


Capítulo 17
Xadrez




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Marcinha estava no quarto. Ainda irritada, seu coração palpitava. Laís era incapaz de amar, esse era o motivo de todo aquele carnaval. Mas outro pensamento assomava na mente da jovem. Ela se deita na cama. Quando veria Lúcio de novo?

Laís estava na rua. Vê Lúcio voltando, com sua tia, para casa. Ele diz duas palavras com a parente e esta segue o rumo de casa. Lúcio vai ter com Laís. Esta se assusta com a avidez do rapaz, mas era natural, afinal todos os rapazes eram, com ela e para ela, ávidos.

              "Perdão por tomar o tempo de Marcinha hoje. Eu não sabia."

              "Não tem nada não, aquela ali é uma desmiolada."

Devia ser um pretexto. E nem dos piores. Já fora abordada por muitos rapazes e sempre era com uma cantada ridícula ou um ponto em comum. Ora, o ponto em comum era Marcinha. Laís teve, então, uma luminosa ideia. Conquistaria o rapaz e provaria para a irmã que sua beleza era absoluta e reinante.

              "Lúcio, não é?"

              "Sim."

              "Perdão por tomar Marcinha. Ela tinha de ir. Nossa família é muito tradicional, sabe? Então. Papai não perdoaria o atraso."

              "Católicos tradicionais?"

              "Não, não. Só a Marcinha é desviada."

              "Eu sou, então, um desviado?"

              "Não, não. Respeito sua opção. Você é católico?"

              "Pra chuchu."

              "Que raro. Nenhum católico é católico pra chuchu hoje em dia."

              "Bem, isso é verdade. E Marcinha, como está?"

              "Bem, de castigo."

O leitor bem sabe que é mentira. Mas Laís tinha que mentir para se pôr no lugar da irmã. Era certo que o rapaz gostava de Marcinha, então seria algo novo para ela. Ser cortejada era o usual. Mas agora ela é quem devia cortejar.

              "Que pena. Estava pensando em chamá-la para comer algo hoje à noite."

              "Bem, não adianta tentar. Você não conhece papai. Não volta atrás com a palavra. Mas que tal, para não perder a noite, sairmos e comermos algo? Eu posso comentar mais sobre Marcinha, e você pode me pagar com sua ótima companhia."

O rapaz estranhou a súbita mudança de comportamento da menina. Tinha a sua idade e era bonita. Muito bonita. Daquelas belezas absolutas, que ninguém contesta. Lúcio sabia apreciar a beleza que os outros viam, além de apreciar o que os outros ignoravam. Posto isso digo que Lúcio amou mulheres bonitas. Digo isso para contraste: Em Laís Lúcio não via nada além da beleza não tinha nem fumaça, dirá fumos, de uma grande pessoa, de uma ótima personalidade. Essa súbita mudança era sinal do exato oposto. Mas Lúcio queria mesmo saber sobre Marcinha, então aceitou o convite.

              "Mas" disse Lúcio "Se vamos jantar é de bom tom que eu saiba o seu nome" Laís ri, acha idiota o jeito cortês do rapaz.

              "Laís" disse. "Sou irmã da sua namorada."

              "Não é minha namorada. Quem dera fosse." Laís contém o riso.

              "É uma boa menina. Um pouco desmiolada, uma criança, mas uma boa menina."

              "Eu sei disso. Soube desde a primeira vez que a vi."

              "E da primeira vez que me viu?"

              "Você me fechou a porta na cara."

              "Não fiz por mal. É que não te conheço."

              "Não levei a mal. Não guardo mágoas. Se Marcinha está de castigo, bem, paciência. Mas jantamos hoje."

              "Melhor ainda. Vamos na cinco bocas." Laís disse.

              "Show. Gosta de angu?" Laís não gostava.

              "Leu minha mente." Mentiu a menina.

              "Na sua porta às oito?"

              "Não, não. Lá mesmo às oito e meia. Não quero que Marcinha pense mal do nosso encontro."

              "Oito e meia, então."

                Separaram-se. Lúcio passaria o resto da tarde lendo sobre Direito Constitucional, nada de significativo. Laís foi para casa. Precisava se arrumar. Ficar ainda mais bonita e assim humilhar de toda forma a irmã. Não diria que sairia com Lúcio até conquistá-lo, pelo efeito implosivo que ela queria fazer em Marcinha. Queria que a irmã se pusesse no lugar a que pertencia, o pó de onde veio. Que sabia Marcinha do amor para dizer que ela nunca tinha amado? Marcinha, que nunca dera ou recebera amor. Que não devia nem ter sido beijada.

Nisso Laís estava certa. Marcinha nunca havia sido beijada. Mas nesse mesmo intervalo de doze horas descobriu mais amor que em todos os mais de doze namorados que Laís teve ao longo da vida, desde que tinha doze anos. Bem queria que Lúcio fosse só um peão no seu jogo, mas Lúcio estava resistindo muito a ela. Realmente não era como os outros rapazes. Laís volta para casa.


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