Sydney's POV

-Eu aposto que você não consegue – Adrian disse mais uma vez. Seus olhos verdes esmeralda olhando desafiadoramente para mim.

Reprimi um gemido. Quantas vezes eu precisava repetir? Era obvio que eu conseguia, afinal eu era uma alquimista.

-Eu já disse que consigo – repeti, meu tom de voz se elevando.

Tudo começou quando Eddie me pedira ajuda com a sua lição de casa de química. E quando eu digo ajuda, quero dizer para eu fazê-la.

Como uma boa amiga eu o ajudei. Mas claro; outra pessoa também havia se intrometido.

-Isso definitivamente não é possível – Adrian dissera olhando para as equações químicas que eu fazia.

-O que não é possível? – perguntei olhando para ele. Nós estávamos sentados na mesa de jantar de Clarence, Adrian na minha frente encarando diretamente o livro de química.

-Tudo isso – ele disse apontando para o livro em minhas mãos.

Não pude evitar; eu ri.

-Adrian – eu disse balançando levemente minha cabeça -, você realmente está dizendo que a ciência não é verdade?

-Eu só estou dizendo que nada disso funciona – ele disse dando de ombros.

-Você quer dizer que todos os remédios, que por sinal são feitos puramente com conhecimentos químicos, não funcionam? – eu disse arqueando levemente a sobrancelha.

-Eu não estou dizendo que duvido da competência das indústrias farmacêuticas que movem o nosso país – Adrian disse como um verdadeiro patriota, fazendo-me rir. – Só tenho certeza que as equações bobas que colocam em um livro de química não funcionam na prática.

-É claro que funcionam! – eu disse. Era obvio que funcionavam. – Pessoas passaram suas vidas inteiras provando essas teorias e eu passei minha vida inteira as aprendendo. Dizer que isso tudo é mentira é o mesmo que dizer que as vidas de todos os alquimistas são inúteis.

Adrian olhou intensamente para mim.

-Bom, talvez a existência da maioria dos alquimistas não seja relevante – ele disse –, mas eu conheço uma que excede as expectativas.

Senti minhas bochechas esquentarem, mas eu não tinha certeza se era porque eu estava ficando realmente irritada com Adrian e sua descrença na ciência ou se o motivo era o comentário dele.

-Adrian – eu disse sem traços de humor -, eu estou falando sério. Tudo que está escrito nesse livro é verdade.

-Eu aposto que não é – Adrian disse. – Por exemplo, eu aposto que você nunca conseguiria fazer uma bomba caseira exatamente como esse livro descreve.

Levantei minhas sobrancelhas. Ele realmente estava duvidando das minhas capacidades químicas?

-Adrian - eu disse lentamente tentando não gritar as palavras. – É obvio que eu consigo. Qualquer um consegue.

-Eu aposto que você não consegue – ele retrucou.

Bom, foi assim que começou o inferno que eu estava vivendo.

Mesmo agora, dois dias depois, Adrian ainda estava duvidando. E eu ainda queria bater nele por isso.

-Você quer saber? – Eu disse. Até mesmo eu pude ouvir o quanto minha voz soava irritada. – Eu vou fazer uma bomba caseira exatamente igual a do livro, só para provar para você que a teoria realmente funciona na pratica.

Nós estávamos no apartamento de Adrian. Era sábado, por isso Jill decidiu que queria visita-lo.

Mesmo que eu nunca fosse admitir, eu havia adorado essa ideia.

Eddie, Jill e Angeline estavam assistindo à TV na sala enquanto Adrian eu estávamos na cozinha.

Ele olhou para mim e deu um sorriso torto.

-Supondo que você não consiga fazer a bomba – Adrian disse as palavras lentamente -, o que eu ganho com isso?

Cruzei os braços. Ele realmente acreditava que eu não iria conseguir?

-Quando eu fizer essa bomba perfeitamente – eu disse, no mesmo tom irritante que ele usara –, o que eu vou ganhar com isso?

Adrian se inclinou na minha direção, seu rosto ficando a centímetros do meu.

-O que você gostaria de ganhar? – ele perguntou a sugestão por trás de suas palavras era clara.

Senti minhas bochechas corarem e dei alguns passos para trás.

-Quando eu fizer a bomba – eu disse claramente -, eu quero que você peça desculpas para mim e prometa que nunca mais vai duvidar do trabalho dos alquimistas.

-Fácil – Adrian deu de ombros. – Mas, se eu ganhar –

-Você não vai ganhar – eu o interrompi.

-Se eu ganhar – Adrian continuou -, eu tenho direito a uma noite com você.

Senti meu corpo se arrepiar.

-Não – disse com a garganta seca.

-Ai meu Deus, Sage – Adrian olhou para mim como se eu fosse louca. – Não desse jeito. Eu quis dizer que eu tenho direito de leva-la em um encontro, onde quer que eu escolha. Depois se você quiser nós vamos para a próxima parte.

Senti meu coração acelerar. Por que Adrian tinha esse efeito em mim?

-Tudo bem – eu disse, sabendo que ele não iria ganhar. Ele não podia ganhar. Eu era uma alquimista.  – Eu vou sair para comprar as substâncias.

Adrian sorriu.

-Não precisa – ele disse caminhando em direção ao armário – eu já comprei tudo.

Respirei fundo. Adrian já sabia que eu apostaria com ele. Por acaso eu era tão previsível assim?

“Porque ninguém te conhece melhor do que eu” as palavras que Adrian me dissera meses atrás ecoaram em minha mente.

Assim que Adrian colocara os frascos em cima da mesa, eu comecei a fazer a mistura. Aquela era uma bomba extremamente simples, nada comparado às complexas soluções ácidas que os alquimistas usavam para desintegrar os corpos de strigois.

Eu estava ciente do olhar de Adrian em mim o tempo todo. Ele não falava, apenas observava. Algo em seu olhar fazia com que arrepios percorressem meu corpo, mas eu não permitia que isso me distraísse.

Um sorriso se formou em meus lábios quando a mistura estava pronta.

-Pronto para pedir desculpas? – eu disse enquanto fechava cuidadosamente a garrafa em que havia a preparado a bomba.

-Eu ainda não vi nada explodindo – ele disse calmamente.

Deixando a garrafa o mais longe possível do meu corpo eu a chacoalhei, pronta para a pequena explosão.

Por um segundo, era como se o mundo estivesse paralisado esperando a reação química.

E então, Adrian começou a gargalhar.

-Mas o que - ? – Minha voz soou perplexa. Chacoalhei a garrafa com mais força. Nada.

Absolutamente nada.

-Sage, Sage, Sage – Adrian disse tentando controlar seus risos histéricos. – Eu acho que eu estava certo.

-Não – eu disse ainda chacoalhando a garrafa. – Eu fiz tudo certo. Isso tem que funcionar.

-Talvez você tenha que admitir que eu estava certo.

Pela primeira vez, desviei meu olhar da garrafa e olhei para Adrian. Seu sorriso estava muito largo, sua expressão muito confiante.

-Você – eu disse quase rugindo.

Olhei freneticamente para os reagentes, algo estava errado.

-Eu não acredito que você comprou as substâncias erradas – eu disse, minha voz se elevando. – Você não comprou bicarbonato! Adrian! Você comprou cloreto de sódio!

Adrian balançou sua cabeça.

-Se eu me lembro bem – ele disse -, a aposta era que você conseguiria fazer uma bomba exatamente igual a do livro. E bom, eu não estou vendo nenhuma bomba aqui, Sage.

-É obvio que não está – eu gritei – você me deu os reagentes errados!

Adrian sorriu.

-Você está dizendo que uma alquimista não sabe diferenciar bicarbonato de um simples sal de cozinha?

Tudo o que eu queria naquele momento era dar um tapa na cara de Adrian.

-É obvio que eu consigo – eu disse exasperada. – Mas, eu não esperava que eu precisasse. Eu não conferi as substâncias porque achei que você não faria algo tão baixo.

-Eu nunca disse que jogaria limpo, Sage – Adrian disse com um sorriso torto.

Respirei fundo. Eu precisava de toda a minha força de vontade para não jogar a garrafa que estava em minhas mãos na cabeça de Adrian.

-A propósito, eu acho que você deveria ir se arrumar, Sage. – Ele disse caminhando em direção à sala. – Você tem um encontro hoje.

Essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes de Adrian sair da cozinha, deixando-me boquiaberta.