Aquela quarta feira amanhecera com uma pontada de tristeza, a mera idéia de ser a principal suspeita do homicídio de Laszlo deixara-a perturbada, acordara com o cacarejar das galinhas. Sua mente mal conseguiu manipular uma frase completa, o que diria na frente do investigador? Seu sangue começou a correr mais rápido nas veias de tanto nervosismo.

- Droga.!– praguejou alto.

Sentia seu corpo pesado por efeito daqueles malditos calmantes para controlar sua enxaqueca e agora estava sendo apontada como uma assassina, tinha acabado de comer a bolacha de nata e virou em apenas uma golada o café já morno na xícara de porcelana chinesa.

Ela pegou a xícara suja e levou até a pia tentando manter-se em pé, primeiro o forasteiro machucado próximo a pedra lisa, sua horta toda destruída e depois a bomba sobre a morte de Laszlo Vendelstein que para piorar as coisas era seu noivo e tinha acabado de discutir com ele na frente de um monte de gente.

- Deve ser a maldita sorte dos Velkans. – zombou enquanto lavava a xícara e os utensílios que usou para fazer o café.

Naquele momento sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha fazendo-a se curvar, ao se virar  deparou-se  com os olhos negros daquele estranho em suas costas. Pareciam lhe cortar por inteira.

- Você mencionou os Velkans?

Cass franziu o cenho.

- Por que, acaso conhece meus parentes? – quis saber.

Ele se aproximou dela com passos faceiros e com um olhar penetrante, deixando-a constrangida.

- Não receoso, mas me equivoquei apenas. Pode me chamar de Matthew. – disse.

Só então se voltou para encará-lo, obrigando-se a não retroceder diante da análise dos olhos escuros daquele estranho. Brilhantes, eles passearam por seu rosto, depois pelos cabelos arrumados no alto da cabeça e amarrados com finas tiras de couro. Depois se estreitaram de leve ao pousar na camisa leve de veraneio e no short que ela usava.

- Você é minha salvação, só você pode confirmar que eu estava esse tempo todo cuidando de seus ferimentos. Caso ao contrario eles vão me prender por uma coisa que não fiz. – murmurou.

Um sorriso enigmático surgiu nos lábios carnudos daquele estranho.

-Se depender de minhas palavras fique sossegada.

Ela agradeceu com um gesto, ao consultar o relógio assustou -e com a hora. Caminhou com passos rápidos na direção da estante onde guardava as chaves do Jipe, Matt acompanhou-a em silêncio apenas observando o ambiente. Cassandra estava com a mente ainda perturbada para começar a interrogá-lo, mas faria.

A delegacia de Cárpatos ficava praticamente nos pés da imensa montanha de Gerlachovsky, assim que a jovem estacionou o veiculo próximo a entrada da delegacia pode notar alguns olhares curiosos em sua direção, não tinha muitos policiais naquela região por causa do baixo orçamento que o governo liberava para esses cargos, podia contar nos dedos das mãos a quantidade de oficiais da lei.

- Sempre pontual senhorita Velkan. – anunciou o investigador Andriy.

Ela mostrou -he um sorriso social e caminhou na direção dele enquanto Matthew aguardou a sentado próximo a porta de saída. O investigador apontou na direção da sala dele.

- Deve saber que irei te fazer algumas perguntas, pois foi a ultima pessoa que viu Laszlo Vendelstein.

Ela balançou a cabeça de forma positiva, sentou se na cadeira a frente da mesa de Andriy.

- Sim.

Ela anotou algumas informações em um pedaço de papel, ela suspeitou que tivesse haver com sua atitude perante as perguntas.

- Como todos sabem, a senhorita era noiva dele e ambos não estavam tendo um relacionamento saudável. Tinha suspeitas ou duvidas sobre o caráter dele.

Cass endireitou se sobre a cadeira e o encarou profundamente.

- O senhor quer saber se ele me traía  e se é esse o motivo que me levou a matá-lo? Esta me julgando sem ao menos ouvir.

Ele a encarou esperando uma resposta.

- Não investigador Andriy, mesmo achando as atitudes extremistas de Laszlo sobre nosso movimento, nunca desejaria nenhum mal para ele. Apenas saí cedo da festa da ONG e fui para casa, mas acabei encontrando um rapaz ferido próximo a pedra lisa, e pelo que sei os policiais que deveriam estar de vigia naquela noite não apareceram.

Andriy franziu o cenho.

- E acaso é aquele rapaz que a veio acompanhando-a?

Ela balançou a cabeça de forma positiva, fez um gesto para Cass se retirar, precisava verificar com seus próprios olhos o tal rapaz a quem ela se referiu. Matt passou por ela lançando lhe um olhar de canto dos olhos, Cass caminhou na direção do balcão.

Aquele interrogatório demorou em torno de meia hora para terminar, assim que a porta se abriu ela sentiu seu coração acelerar, mas surpreendeu-se ao ver ambos rindo como se já se conhecesse há tempos. O investigador caminhou na direção dela juntamente com Matt.

- Fique descansada, sua versão fora confirmada pelo Matthew, precisamos reforçar aquela área da montanha.

Ela encarou-o sem entender nada, a alguns minutos atrás estava praticamente acusando a do homicídio de Laszlo Vendelstein. Agradeceu com um gesto e seguiu na direção do Jipe, não sabia o que ambos tinham conversado, mas tinha apaziguado seu lado.

Ao entrar no Jipe ela encarou-o de forma analítica.

- O que disse a ele?

Matt apertou o botão para abrir a janela.

- Apenas disse a verdade, por que? – perguntou.

Ela suspirou. Havia uma razão para isso. Mesmo que estranha fosse iria descobrir, pois a forma com que o tal Matt adentrou a sua vida fora um tanto absurda e de fato bem misteriosa.

Cassandra girou a chave na ignição do veiculo e partiu rumo às altas colinas da montanha de Gerlachovsky, ele a observou abrir caminho por entre a bela paisagem. Aos poucos sentia sua força vital reagir dentro de seu robusto peito sentia se ficar inquieto.

Cass sentiu um frio na espinha, mas não desviou seus olhos do foco da rua, precisava organizar seus pensamentos. Estava livre por alguns dias de um novo interrogatório a respeito da morte do engenheiro. E precisava se ausentar da diretoria da ONG Lună.