Dois Uchihas, Uma Haruno escrita por Mari May


Capítulo 1
A indiferença de Sasuke




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         Sasuke acabara de sair e trancar a porta. Sempre chegava na escola um pouco antes do sinal tocar, ao contrário de seu irresponsável irmão...

- Aposto que vai matar aula de novo. – dizia ao guardar as chaves no bolso, ainda parado em frente à porta – Tomara que repita de ano.

         Alguém chegou por trás e tapou seus olhos com as mãos.

- Adivinha quem é! Hihihi!

- Oh, Deus! Quem será? – Sasuke falou, irônico – Será que é a Haruno?

- Aaah, droga! – Sakura tirou as mãos dos olhos dele, frustrada – Descobriu pela minha voz, né?

- Hum... Também.

         Ele começou a caminhar em direção à escola, seguido pela garota.

- Como assim “também”?

- É que você sempre usa esse perfume desde o ano passado.

         Sakura corou com a resposta.

- Ah, é que... Bem... Você me deu de aniversário, né?

- É? - Sasuke se fez de desentendido, apesar de saber exatamente do que ela estava falando.

- Poxa, Sasuke-kun, que falta de consideração!

- Deixe de bobagens. É só um simples perfume, Haruno.

- Não é bobagem! Pra mim é importante! E pára de me chamar de Haruno! Por que não me chama pelo nome?

- Porque não somos tão íntimos a esse ponto.

- Quer dizer que não me considera como amiga???

- Aiai... Não foi isso o que eu quis dizer...

- Mas é o que parece!

         Sakura cruzou os braços e virou o rosto para o lado oposto ao que Sasuke estava.

- Shikamaru tinha razão ao dizer que as mulheres são problemáticas...

- Hunf!

- Haruno...

- O que foi??? – Ela respondeu, ainda com o rosto virado. De repente, sentiu seu braço sendo puxado rapidamente.

- AAAAAH!!!

         Ela se desequilibrou e caiu com a cabeça recostada no ombro de Sasuke, que a havia puxado.

- Tenha mais cuidado. – o garoto falou, apontando para o poste onde Sakura quase bateu. Ela ficou vermelha, tanto por estar tão próxima de Sasuke quanto de raiva. Tratou logo de sair de perto dele.

- Há! Até parece que eu ia mesmo bater! 

- Uh, claro... – irônico outra vez – Vamos, senão a gente vai se atrasar.

- Quer saber? Pode ir na frente! Eu vou com o Itachi!

- Então, prepare-se para criar raízes. Ele vai matar aula. – pensa um pouco - Pra variar.

- Não me importo de ir sozinha!

- Ora, deixe de frescuras!

- FRESCURAS???

- Ai, meus tímpanos!

- Vou esperar e ver se ele vai mesmo faltar.

- Tá. Se não quer acreditar em mim, problema seu.

- “Não somos tão íntimos” a ponto de confiar um no outro. Você nem me chama pelo nome, então por que eu acreditaria?

- Chantagens não funcionam em mim, Haruno...

         Sakura não acreditou que ele ainda a chamava assim. Continuou estática, esperando a reação de Sasuke, que simplesmente se virou e prosseguiu, deixando-a incrédula com essa atitude.

- É... Você é muito insensível... Pensei que, com o passar dos anos, você passaria a me tratar melhor, mas... Continua frio e me trata como se eu fosse uma garota qualquer, não como sua amiga de infância...

- Já disse que chant...!

- NÃO É CHANTAGEM!

         Sasuke ergueu a sobrancelha, meio assustado. Depois, sua fisionomia voltou ao normal e ele disse:

- Tudo bem, tudo bem... Vamos agora?

- Não.

- Ótimo. Nos vemos no colégio.

- Grrr! VAI SE ARREPENDER POR ME TRATAR ASSIM!

- Jura? Me avise caso eu não perceba que me arrependi. – para completar a provocação, Sasuke sorriu.

- Oh! – Sakura exclamou, ofendida. – Grrr...

         Involuntariamente, ela começou a caminhar depressa, bufando de raiva e pensando: “Como ele se atreve???”

- Mudou de idéia?

- Quê?

         Só então Sakura percebeu que estava, novamente, ao lado dele.

- Eu sabia que você viria andando depressa, sem ter noção de que estava fazendo isso... Conhecer tão bem uma pessoa faz ela se tornar previsível até demais...

         Ao terminar a frase, ele sorriu de novo olhando para Sakura, que ruborizou e olhou para o outro lado, tentando disfarçar.

- Hehe... – ele riu para si mesmo.

         Sakura ficou pensando na habilidade que o Sasuke tinha de fazê-la explodir de raiva e logo depois acalmá-la com uma frase ou atitude meiga... Por trás desse rapaz orgulhoso e sério, havia um cara gentil e muitas vezes engraçado pelas suas ironias. Claro, engraçado quando as ironias não se dirigiam a ela... Mas tudo bem, não era sempre que ele implicava com ela, pois não era de sua natureza fazer isso, já que, geralmente, ele trata a todos com indiferença, exceto quando precisa ser educado com os mais velhos.

         Sasuke reparou que Sakura ficou com o semblante triste de repente.

- Por que está assim? – perguntou.

- Hã? Assim como?

- Triste. Ficou assim do nada. É por minha culpa?

- Ah, bem... Mais ou menos...

- Hum...

         Ele ainda a olhava, querendo uma resposta.

- Vai dizer ou não? Apesar de não parecer por causa da maneira como eu lhe chamo, nós somos amigos de infância. Sei que está chateada.

         Surpresa, Sakura arregalou os olhos. Não esperava que ele dissesse isso.

- Eu estava pensando... Na sua personalidade...

- O quê que tem?

- É que...                                  

- Sakura, até que enfim!

- Hã??? – ela e Sasuke falaram ao mesmo tempo.

         Ambos estavam tão distraídos que nem notaram que já haviam chegado ao colégio e estavam no portão.

- Ino?

- Sim! Vem, temos que resolver como vamos fazer aquele trabalho!

- Trabalho? Ah, sim, o de matemática, né?

- Esse mesmo! Desculpa atrapalhar vocês... Huhuhu...

- INO!!!

         Sasuke, que já estava de braços cruzados desde que Ino havia chegado, revirou os olhos e se despediu das duas.

- Foi mal, amiga, mas é que, entre seu romance e o trabalho... Hihihihihi...

- Cala a boca!!! – Sakura exclamou, acanhada.

         Elas acharam que Sasuke não tinha ouvido, mas ele ouviu. Já estava acostumado a comentários do tipo. Ele e Sakura eram vizinhos e sempre vinham juntos ao colégio (Itachi, quando vinha, era depois deles). Provocá-la já havia virado rotina. É diferente de quando ele e seu... Bem... Colega de classe, Naruto (que o considera um grande amigo), discutem. Com Sakura é, digamos... Menos desgastante. Ele faz isso porque adora irritá-la, embora a garota não mereça tanto. Já Naruto, por ser um idiota, é um mar de zoações, provocações e agressões. Ele realmente merece uns “Cala a boca!” e uns tapas bem fortes na cabeça de vez em quando... Pensando melhor, de vez em quando não: freqüentemente.

- BOM DIA, SASUKE! – veio berrando um loirinho alegre e saltitante.

- Que ótimo, agora também fiquei surdo do outro ouvido... – Sasuke murmurou baixinho e suspirou.

- Hã? Disse alguma coisa?

- Nada que seja do seu interesse.

- É do meu interesse sim! Quero saber o que é!

- Quer saber?

- Quero!

- Quer mesmo?

- Aham!

- Quer muito?

- Siiim!

- Fique na vontade. Vou pra sala.

- QUÊÊÊ??? Aaah, isso não é justo, Sasukeee!!!

- Suponho que as brigas matinais já tenham começado. – falou Neji.

- Uaaah... Que sono... – disse Shikamaru, chegando logo depois.

- Oi, Naruto! – Rock Lee falou, animado.

- E aí, cara?

         Eles haviam se tornado amigos após descobrirem que nutriam um amor platônico pela Sakura. Platônico porque dava para perceber o quanto ela gostava de Sasuke. Porém, como ele (aparentemente) não sente o mesmo por ela, ambos têm um pouquinho de esperança.

         Foram todos para a sala. Pouco tempo depois, chegou Shino, que apenas falou “Bom dia.”, rápido e objetivo. Chouji veio com ele, mas não disse nada porque estava comendo...

- Bom dia, gente! – Kiba também tinha acabado de chegar.

         As garotas, Sakura, Ino, Hinata, Tenten e Temari, chegaram juntas. Kankurou surgiu na porta dando bom dia. Gaara chegou por último e apenas disse “Olá.”, tão rápido e objetivo quanto Shino.

         A professora Kurenai, de matemática, foi a primeira a dar aula. No final, lembrou aos alunos do trabalho que seria para depois de amanhã.

- QUÊ??? – Naruto havia se esquecido completamente... – E agora??? – olhou para Sasuke. – Er... Sasu...

- Não.

- Você nem sabe o que vou perguntar!

- Nem quero saber.

- Aaah! Por favor, Sasuke!

- É sobre o trabalho de matemática?

- É... – Naruto respondeu, com cara de cachorrinho sem dono.

- Definitivamente, não.

- Por favooooor!

- Sasuke-kun, não seja tão cruel! O Naruto é irritante, mas é seu amigo! – disse Sakura, que estava sentada na carteira ao lado do Uchiha.

- Mandou bem, Sakura-chan! Só não gostei da parte do “irritante”...

- Mas você é. – a turma inteira respondeu em uníssono, menos Hinata.

- E-ele não é irritante... – defendeu Hinata timidamente – Ele só é... Mu-muito... Agitado...

- Então, como apenas você tem paciência para aturá-lo, faça com ele.

- É que... É que... Eu prometi à Tenten-chan que faria com ela... De-desculpe, Sasuke-kun... E... Mil desculpas... Na-naruto-kun...

- Não se sinta culpada, Hinata-chan... – falou Naruto, que não tinha intenção de magoá-la.

- Ma-mas...!

- Tudo bem...

- E-eu...!

- Tá tudo bem, Hinata-chan... – uma gota surge em Naruto.

- Si-sim, ma-mas...!

- Calma, calma, tá tudo bem... – Naruto não sabia o que fazer.

- Sasuke-kun! – sussurrou Sakura.

Sasuke a olhou e entendeu que ela estava suplicando indiretamente, pelo olhar, para ele fazer alguma coisa, pois aquela “discussão” não levaria a lugar algum. Entendeu também o que era para ele dizer. Muito contrariado, mas ciente de que era o devia fazer, disse:

- Ok, Naruto, eu faço esse trabalho com você... – ele olhou de lado para Sakura, que estava sorrindo, aprovando sua atitude. O Uchiha ruborizou levemente e disfarçou, olhando para a janela oposta ao local onde Sakura estava: por que fez o que ela, ainda que indiretamente, lhe disse para fazer? Ele não estava nem um pouco a fim de fazer o trabalho com o barulhento do Naruto, e sim com ela... Mas peraí, por que com ela??? Porque eles são vizinhos e seria mais fácil de se encontrarem? Talvez... Nem ele mesmo sabia ao certo. Só sabia que, já que não queria, bastava não ter feito. Porém, foi ELA quem pediu. ELA. A quem ele era capaz de decifrar o que queria dizer apenas observando seu semblante. Se ele não aceitasse a sugestão dela, com certeza a garota ficaria chateada. E ela já estava assim quando eles chegaram. Aliás, ele nem sabia o porquê. Mas ela estava, e tinha a ver com sua personalidade. Portanto, não custava nada ceder aos caprichos dela de vez em quando e fazer suas vontades. Obviamente, não era sempre que ele faria isso.

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         Mais um dia escolar havia passado depressa. Na saída, Sakura foi falar com Sasuke:

- Hoje não vou com você por que vou dormir na casa da Ino... Tá?

- Por mim, tanto faz. Virou um hábito nosso voltarmos juntos já que somos vizinhos, mas se não quiser, não precisa me dar satisfações.

         Assim, ele pôs a mochila nas costas e se dirigiu à porta. Sakura o segurou de leve pelo braço, deixando-o surpreso, e disse:

- Mas eu QUERO lhe dar satisfações, pois eu acho que, no fundo, você se importa comigo... Nem que seja um pouco...

         Ele apenas a observou, sem mudar a expressão do rosto.

- Até amanhã. – disse secamente.

- Indiferente como sempre, né? Até comigo...

- Sinceramente, não entendo por que eu deveria te tratar de outro jeito. – ele continua seu “longo” caminho até a porta.

- Ta, né...

         Ela voltou para pegar sua mochila, cabisbaixa. Sasuke, que já estava na porta, resolveu dar uma última olhada. Ainda de cabeça baixa, ela saiu da sala, e ele pôde notar uma lágrima rolando pelo seu rosto, que foi rapidamente enxugada.

         O Uchiha estendeu a mão, como se fosse pedir para ela esperar, mas já era tarde: ela já havia chegado até Ino. Percebendo a atitude que teve inconscientemente, abaixou o braço, se sentindo péssimo. Como se não bastasse, sentiu o peso dos olhares reprovadores de Naruto e Lee, que viram a cena toda.

- O que foi? – perguntou, certo de que iria se arrepender das respostas.

- Ah, nada... Nada demais... – Rock Lee disse, sarcástico.

- Você APENAS magoou a pobre Sakura-chan! – completou Naruto, no mesmo tom de ironia.

- Isso não é da conta de vocês.

- Ela demonstra claramente o que sente por você, e olha como você a trata! – protestou Naruto.

- Era o que me faltava... Ouvir sermão desses dois...

- É praticamente impossível encontrar uma garota que goste mesmo de você, sem enxergar apenas o seu exterior. – retrucou Lee.

- Vão cuidar de suas vidas. Além disso, não correspondo ao sentimento dela, se é que ela gosta tanto assim de mim como vocês pensam.

- Como você não percebe??? – Naruto e Lee falaram ao mesmo tempo, sem acreditar que Sasuke era incapaz de perceber o amor de Sakura.

         Ele foi embora, enquanto os outros dois balançaram a cabeça negativamente.

- IDIOTA! TOMARA QUE ALGUÉM A ROUBE DE VOCÊ! – berrou Naruto.

- Pare de berrar no corredor da escola, imbecil!

- SÓ VAI PERCEBER O VALOR DO QUE TEM QUANDO PERDER!

- Er... Naruto... – Lee cutucou o loirinho.

- Que é?

Ele olhou na direção em que Lee apontava: Sasuke o fuzilava com os olhos. Naruto engoliu em seco, sabendo que, se falasse mais alguma coisa, nem que fosse uma mísera letra do alfabeto, iria apanhar. E apanhar muito.


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