Olhei meu celular e vi duas mensagens: uma de Mary Jane e outra de minha irmã. Nicole havia adiado seu voo para amanhã de manhã, assim, poderia se despedir de meu pai. Sua mensagem dizia que meu pai já estava em casa. A de Mary Jane me convidava para uma festa que seu irmão daria. John havia pedido a ela que me convidasse. Parecia uma proposta bem interessante, eu precisava de uma distração e uma festa seria perfeito. Uma festa de John. O tipo de festa que Harry havia me pedido para não ir. Mas por que eu não iria? Eu sabia me cuidar. E Harry me parecia estar exagerando quando disse aquelas coisas. John foi tão gentil comigo quando saímos para jantar... E nada como um ruivo maravilhoso para me fazer esquecer uma tarde estranha. Não que o dia tenha sido ruim. Foi perfeito. Apenas a última parte dele foi estranha. Por que eu fui falar aquilo? Sacudi a cabeça para espantar esses pensamentos. Eu iria para uma festa me encontrar com John e pensava em Harry, qual é meu problema?

- Marcela - Harry me cutucou - Chegamos em Holmes Chapel.

Eu estava tão distraída que nem percebi. 

- Você está bem? Está tão distante.

- Estou apenas pensando.

- Então, vamos fazer alguma coisa à noite? 

- Não dá, minha irmã vai embora amanhã e meu pai chegou hoje. Precisamos de um momento "família" - menti. Me senti muito mal por isso, mas Harry não ficaria nada feliz em saber que eu faria exatamente o que ele me disse para não fazer. E nós não havíamos nascido grudados, certo? Ele não era meu pai, não precisava saber tudo sobre mim.

- Ah, tudo bem. Preciso me despedir de Nicole também.

- Despeça-se amanhã, vá conosco levá-la ao aeroporto.

- Tudo bem - falou confuso.

Chegamos em nossa rua.

- Tchau, Cachinhos - falei. Mesmo as coisas estando um pouco estranhas, não pude deixar de chamá-lo assim.

- Tchau.

Corri para casa.

- Oi, família! - gritei para quem conseguisse ouvir. Mary Jane apareceu no alto da escada.

- Oi - falou sorrindo - Como foi seu dia?

- Ótimo, maravilhoso, perfeito! - terminei de trancar a porta e subi as escadas correndo.

- E então, nós vamos à festa?

- Nós não vamos a lugar nenhum. Eu vou.

Ela fez uma cara indignada.

- Por quê?

- Porque você está em uma gravidez de risco. Você não vai de jeito nenhum.

- Mas quero ir com você.

- Escute, eu vou porque seu irmão me convidou. E... eu estou precisando de uma distração. Mas você, senhorita, deve ficar de repouso. Você já sabia disso. A não ser que queira perder o bebê - falei séria.

Ela suspirou.

- Claro. Você está certa.

- Não preciso ir se você não quiser que eu vá.

- Não, tudo bem. Quero que você vá. John gostou mesmo de você. Vá tomar banho, precisamos escolher sua roupa! - ela disse animada e batendo palmas.

Uma coisa que eu admirava em Mary Jane: ela era muito animada. Sempre alegre. Aceitou a gravidez melhor do que muita gente. Fui tomar banho e um sentimento de culpa me invadiu. Eu estava fazendo algo que Harry me dissera para não fazer. Sacudi a cabeça novamente para tirar Harry de meus pensamentos. John. Foque nele, Marcela. Ele era um doce, havia me convidado para sua festa. Mas Harry havia dito que ele era violento quando bêbado... Mas que droga, Marcela! Acabei de tomar banho e jurei que não pensaria mais em Harry durante a festa.

Quando cheguei em meu quarto, minha roupa já estava escolhida.

- Mary Jane, você quer que eu vá vestida de prostituta? Que roupa é essa que você escolheu para mim? - em cima de minha cama estava uma saia preta curta e uma blusa transparente também preta. O salto era enorme.

- Ora, se você comprou essas roupas significa que você gosta delas! Você não deixaria essas lindas peças encostadas no armário, deixaria? Você não vai parecer uma prostituta, vai apenas estar gostosa.

Revirei os olhos.

- Mary Jane! Estamos falando de mim e seu irmão aqui!

Ela riu.

- Vista-se.

Vesti aquela roupa mesmo.

- Viu? Eu disse que você ficaria gata.

- Não tenho como contestar.

Olhei-me no espelho. Se John não me achasse bonita com aquela roupa, ele precisava de grandes doses de testosterona. Sem querer ser convencida, mas acho que eu havia esquecido a modéstia em Londres.

- Então, por que você precisa de distração? - Mary Jane perguntou.

- Longa história. Não temos tempo agora.

Eu já estava pronta, estava apenas esperando que minha irmã saísse do banho para que ela pudesse ver e aprovar (ou não) minha roupa. Ah, como eu sentiria falta dela! Ela logo apareceu em meu quarto.

- Levante-se - obedeci - Agora dê uma voltinha - me senti um cachorro obedecendo aos comandos do dono: "Deita, rola, levanta!".

- Muito linda, parabéns pela escolha de roupas, Mary Jane! - Nicole elogiou.

- Então a roupa está aprovada. Preciso ir.

As duas foram comigo até a porta.

- Desejem-me sorte - falei enquanto entrava no táxi.

- Com essa roupa você terá mais do que sorte - Nicole provocou. Fingi que nem ouvi.

Cheguei. Era uma típica festa de filmes, com umas pessoas bêbadas nadando, umas pessoas se pegando em vários cantos - com sorte eu seria uma delas -, pessoas bebendo, dançando, etc. Não é bem o tipo de festa que eu gosto, mas não parecia tão ruim.

Não foi muito difícil encontrar John. Ele estava na cozinha pegando bebida para alguém. 

- Olá - ele disse me olhando de cima a baixo - Pensei que você não vinha.

- Por que não viria?

Ele não respondeu.

- Então, onde está minha irmã?

- Ficou em casa, obviamente. Eu não deixaria ela vir para uma de suas festas. Da última vez não deu muito certo.

- Muito bem, vamos mudar de assunto. Quer? - ele me ofereceu um copo de cerveja.

- Não bebo.

- Por que não?

- Porque não.

Ele levantou as sobrancelhas, surpreso.

- Tudo bem então. Vou te apresentar a uns amigos.

Ele me levou em direção a um grupo de pessoas que dançavam e me apresentou a alguns de seus amigos. As meninas pareciam ser bem simpáticas. Se eu achava que tinha ido vestido de um jeito um pouco indecente, depois que vi as roupas dessas meninas mudei de ideia.

Dançamos bastante. John andava para cima e para baixo, nem vi ele direito durante um tempo.

- Cheguei - alguém me agarrou por trás. Olhei para ver quem era. John olhava para mim - Agora sou todo seu.

Ele havia bebido bastante, mas pelo menos parecia entender as coisas à sua volta. Ele me virou de frente para ele.

- Achou que eu não viria? - sussurrou e depois me beijou. Mas foi um beijo diferente da noite em que saímos juntos. Era mais... safado. Vamos dizer que eu tive que controlá-lo. Se essa era a violência a que Harry se referia, bem... Eu não ligava muito se eu fosse a vítima. Deus, como aquele ser era sexy. Chegava a ser maldade. Eu estava precisando disso.

O resto da festa passou bem rápido e fiquei bem triste quando chegou a hora de ir embora. John insistiu que me levaria de carro, mas como ele estava bêbado e minha casa era bem perto da casa dele, fomos a pé. 

- Quero continuar te vendo - John disse e me beijou de novo. Depois foi embora.

Durante a festa eu não havia pensado uma vez sequer em Harry. Talvez John fosse o antídoto.