Capitulo 34

“Não vai acontecer nada”

-Tiveste o mesmo pensamento em relação ao anel e ao Angel e enganaste-te. O que te faz pensar que agora será diferente? – “Nada! Nada me faz ter certezas de nada!” era o que eu queria responder a Edward, mas invés disso limitei-me a contempla-lo. Não queria que ele fosse a Itália, não o queria colocar em perigo, não queria que a Bella se aborrecesse! – Estás a ver, eu sei que também pensas que pode ser uma armadilha. Eu vou contigo, não há nada que possas dizer para me demover desta ideia. – continuava Edward, agora mais perto de mim.

-Claro que tal ideia me passou pela cabeça. Afinal de contas sou uma Volturi, lembras-te? – retirei da mala o meu colar com o símbolo dos Volturi, aquele que provava quem eu era, a quem pertencia. - Eu fui treinada para estar preparada para qualquer situação, mesmo ser traída pelos meus. – Edward deu mais um passo na minha direcção – Eu sei defender-me Edward. Demasiado bem por sinal, e eles sabem disso. – Edward tentou alcançar o meu ombro com a sua mão, recuei perante aquele gesto, apesar de todas as células do meu corpo vibrarem perante aquela aproximidade. – A Bella não vai gostar! – disse finalmente com o meu ar mais sério e frio que conseguia. Aquela era talvez a única forma de fazer com que ele não fosse.

Edward recuou e sentou-se no divã ao lado da minha mala. Colocou a cara sobre as suas mãos, parecia derrotado. Não consegui ver aquele sofrimento nele e apesar do meu bom senso me dizer para permanecer naquele local imóvel, o meu corpo ganhou vida e agachou-se perante Edward.

-Ela vai compreender, eu sei que vai. – Repetia ele vezes sem conta. Talvez numa tentativa dele próprio acreditar naquelas palavras. Hesitei tocar-lhe, não estava acostumada a este tipo de sentimentos, nos Volturi era tudo mais “frio”. Edward deixou cair as mãos e fitou-me os olhos vermelhos – Eu não consigo pensar que algo de mal te pode acontecer. Tu és importante para mim Caroline, eu … - Edward vacilou nas palavras que ia dizer, depois de voltar a focar o chão terminou – Eu não consigo!

Apesar de o meu primeiro instinto fosse dizer que o desejava ao meu lado em Volterra, não sabia ao certo se era aquilo que realmente queria. Nem se devia querer assim tanto um homem casado. No meu íntimo, sabia que não deviria querer Edward desta maneira, mas o meu corpo reagia de todas as formas sempre que estava perto dele.

-Fala com a Bella, se ela te deixar não sou eu que me vou opor. – Edward levantou-se num ápice e exibiu um grande sorriso e deu-me um beijo na testa.

-Até já! – disse ele enquanto saltava pela janela do quarto e se dirigia a sua casa.

-Edward, despacha-te! - falei alto o suficiente para ele me ouvir. Depois não consegui controlar o sorriso que se formou nos meus lábios. Dirigi-me à caixinha que estava numa das bolsas de fora da mala e retirei o meu anel de lá, voltei a contempla-lo.

Senti Jasper a aproximar-se do quarto, num gesto irreflectido coloquei o anel no dedo numa tentativa de esconder o meu segredo e de Edward.

-Entre! – disse após Jasper ter batido à porta de forma cavalheiresca.

-Caroline! – como sempre fazia, após dizer o meu nome Jasper fez uma pequena vénia. Depois olhou para mim e sorriu dirigindo-se para mais perto. – Se não te importares eu gostaria de ir contigo para Volterra. Não sou muito forte, mas tenho experiência em combate.

Não conseguia deixar de mirar Jasper com os meus olhos vermelhos arregalados. Ele estava ali a dizer que iria comigo para Volterra para me proteger, mesmo sabendo que talvez o resultado fosse a sua própria morte. Não estava habituada a este tipo de preocupação para comigo. Angel costumava preocupar-se comigo, mas Angel não era vampiro. Ele ainda mantinha algum do seu comportamento angelical.

-A Alice viu alguma coisa? – perguntei quando me ocorreu que ele poderia estar ali por saber algo que Alice tivesse visto numa das suas visões.

-Não, ela não consegue ver nada. Ainda não foi tomada nenhuma decisão, pode ser por eles saberem como funciona o poder dela. Assim tu não vais preparada para nada. Pode ser uma armadilha Caroline! – disse por fim Jasper aproximando-se de mim e fazendo um sorriso triste.

-Eu sei. Mas quero acreditar que eles não me fariam isso. O Angel parecia demasiado preocupado, e os gritos de Jayden desesperados até.

Angel não me iria mentir novamente, algo em mim sabia disso. Mas Aro podia ter dado ordens para ele agir daquela forma. Poderia ter ameaçado Jane para conseguir que Angel fizesse aquilo que ele queria. Sabia que Aro não era mau, ele apenas tinha uma sede enorme por poder, e era capaz de qualquer coisa para alcançar esse poder. Eu sabia-o mais do que ninguém, já tinha visto os segredos de Aro com um simples toque. Parecia-me justo, ele via os meus segredos, eu via os dele.

Senti uma onda acalmar-me, olhei para Jasper e agradeci com um sorriso.

-Vamos? A Esme já marcou os bilhetes. O Emmett não pode ir, visto ter ido caçar para longe com a Rosalie. O Carlisle tem o hospital, não se pode ausentar, mas diz que se for necessário que voa para Itália logo que possível. A Alice não vai, porque… - Jasper olhou para mim e com ar envergonhado mas feliz ao mesmo tempo – pode ser perigoso para ela, sabes?

Não consegui deixar de sorrir, será que um dia iria ter alguém a preocupar-se assim comigo? Foi então que obtive a minha resposta. Os Cullen, eles estavam preocupados comigo, senão não iriam para Volterra comigo.

-Dá-me uns segundinhos e já vou ter ao carro. – pedi gentilmente a Jasper. Precisava de uns segundos sozinha. Após Jasper ter saído do quarto fechei os olhos, apurei todos os sentidos e fiquei uma estátua, tentei usar o poder da Alice, mas nada, estava tudo confuso. Via Jayden sentado no chão do salão principal, ele parecia assustado. Alec estava mesmo ao lado, estava a “cegar” Jayden. Eu teria que lá ir.

Levantei-me, olhei mais uma vez para o anel, e guardei-o novamente na mala. Quando cheguei ao mercedes de Carlisle depositei a minha mala no porta bagagens. Já lá se encontrava as coisas de Jasper, uma mala um pouco grande para apenas uns dias.

-A Alice fez a minha mala. – disse Jasper num tom embaraçado, pareceu adivinhar á minha pergunta mental. Evitei o contacto com os olhos dele, pois sabia que me ia rir.

-Trata da tua mãe, sim? Adoro-vos, às duas! – ouvi Edward dizer a uns metros da garagem. Todos dirigimos o olhar para a entrada da garagem, onde vimos Edward entrar com uma mala e Bella com Renesmee ao colo.

Depois de ter instaldo a mala no carro, Renesmee saltou para o colo do pai para se despedir. Todos desviamos o olhar, para deixar a família se despedir.

-Caroline – ouvi dizer atrás de mim, olhei e vi Bella ao meu lado, e todos de olhos postos em nós, inclusive Edward.

Bella e eu afastamo-nos um pouco deles, falando demasiado baixo de forma a só eu ouvir o que ela dizia.

-Eu sei que gostas dele, que gostas muito dele – frisou as ultimas palavras mais para ela do que para mim, depois voltou a focar o seu olhar no meu – não te vou pedir para o protegeres, porque sei que o irias fazer de qualquer das formas. Mas tem cuidado, por ele, pelo Jasper e por ti. Principalmente por ti. O Edward gosta demasiado de ti para te perder, todos gostam. Até eu! – no fim fez um sorriso envergonhado.

Aquela última declaração tinha-me surpreendido, não estava à espera que ela admitisse que gostasse de mim. Quer dizer, nunca pensei que ela me odiasse, mas também nunca me ocorreu que ela gostasse de mim. Afinal de contas, eu e o marido dela tínhamos um passado. Ele era meu, antes dela aparecer.

-Tem cuidado contigo e com a tua filha. Eu trato de tudo lá. Não vai acontecer nada, não te preocupes. Prometo-te! – segurei na mão dela e sorri. Aquele “não vai acontecer nada” tinha dois sentidos, e sabia que Bella tinha percebido. Não iria acontecer nada de mal a Edward, da mesma forma que não iria acontecer nada entre mim e Edward.

Já estávamos instalados no avião, Jasper ia sentado sozinho nos bancos do lado oposto ao meu e do Edward. Não compreendia porque não tínhamos ficado todos juntos, afinal éramos só três e ao meu lado estava um lugar vazio.

Jasper colocou os fones nos ouvidos e fingiu dormitar na viagem. Eu pedi um cobertor e uma almofada e Edward imitou-me. Antes da descolagem falamos de algumas banalidades da actualidade, da morte de Bin Laden, do tempo, fingimos planear os locais a visitar em Itália, essas coisas. Ainda gozamos um pouco com Jasper, atirando-lhe uma almofada, almofada essa que foi agarrada demasiado bem para um suposto humano que dormia.

Depois do avião descolar e as luzes começarem a baixar de intensidade para os viajantes que desejavam dormir. Posicionei a minha almofada numa posição que me parecesse confortável e fingi dormir.

-Menina, desculpe, não pode ir para aí. Esse é o lado de primeira classe. – ouvi a hospedeira dizer, enquanto se dirigia ao intruso.

-Eu sei. Enganei-me à pouco, eu vou viajar nesta parte do avião, vê? – não aguentei, abri os olhos e rapidamente olhei para trás. Edward e Jasper copiaram o meu movimento. Depois não consegui parar de sorrir, ali estava aquela mulher pequena com os seus cabelos espetados em tudo que era sentido.

-Alice? – perguntou Jasper estupefacto.

-Olá família. – Alice já se dirigia a nós ignorando a hospedeira que tentava, inutilmente, carregar parte da bagagem de Alice. A bagagem foi facilmente colocada nos porões em cima das nossas cabeças pela própria Alice, o que suscitou o olhar de muitos e alguns comentários. – Penso que este lugar me pertence – afirmou sentando-se graciosamente ao lado de Jasper.

-Não era suposto ficares em casa? Eu despedi-me de ti. – Jasper continuava abismado perante a presença de Alice naquele avião.

-E achas que vos deixava a diversão toda? Aliás, não te vês livre de mim assim tão facilmente. – disse dando um beijo a Jasper. Eu e Edward trocamos olhares e sorrimos perante a felicidade daqueles dois. Será que eu e Edward éramos assim em humanos? Ou se nos tivéssemos encontrado quando fomos transformados, será que agora ainda seriamos assim?

-Vamos lá salvar a Caroline! – falou Alice levantando o braço de entusiasmo. Abanamos a cabeça perante a ideia daquela pequena maravilhosa mulher. Era impossível se dar mal com ela. Ela era magnífica. Uma verdadeira amiga. Sorri para Alice e agradeci.

Eu e Edward voltamos a entrar no nosso estado de dormência vampírica no avião, com cabeças para lados opostos. Aliás tive mesmo que usar todas as minhas forças para a minha cabeça não encostar ao ombro de Edward. Já Alice e Jasper estavam bastante aconchegados um ao outro.

Após trocas de aviões finalmente chegamos a Volterra, felizmente estava um dia chuvoso, o que significava não haver problema deslocar-nos pelas ruelas de Volterra sem manto e à luz do dia. Estava demasiado silencioso, em parte devido ao mau tempo. Dirigimo-nos a um hotel nas redondezas de Volterra, disse que teria que me arranjar com os trajos da guarda e que era melhor deixar ali as malas. Depois de instalados cada um no seu quarto, tomei um banho rápido e enverguei as minhas vestes guardadas no fundo da mala, de onde ainda não tinham saído desde que deixei Volterra.

O colar reluzia em cima da minha capa cinza escura. Olhei ao espelho e pela primeira vez não me senti poderosa com aquelas vestes, sentia-me diferente. Como se não me conhece-se mais, como se não soubesse mais quem eu era, a que lugar pertencia. Os meus olhos vermelhos já não eram aquele vermelho vivo, estava um pouco mais esbatido, talvez devido à alimentação em Forks.

Bateram à porta, eram eles, estava na hora de dizer a verdadeira razão porque viemos para o hotel.

-Vocês não vão comigo para o castelo! – disse eu depois de estarem todos instalados no meu quarto. – É demasiado perigoso, eles podem pensar que nós estamos prontos para os atacar. Pode não ser uma armadilha.

-Nem penses, nós viemos aqui para te proteger, nós vamos contigo! – Jasper insistia na ideia de ir comigo, embora soubesse que eu tinha razão. Se não fosse uma armadilha, eles poderiam pensar que eu os desafiava.

-Jasper, eu sei que tu sabes ao que me refiro. É demasiado perigoso, para todos nós. – apontei para nós os quatro, não apenas para eles. – Vocês esperam, se eu não der notícias vocês aí entram à minha procura. Mas com cuidado, por favor. – Olhei para Edward, este estava tenso. Agora apercebi-me que eles terem vindo, seria provavelmente uma missão suicida para eles. Se eu não aparecesse nem desse notícias, eles iriam à minha procura, e aquilo significava o fim para eles.

Comecei a ficar nervosa, Jasper tentou acalmar-me, mas era impossível, a minha guarda começou a ficar cada vez mais forte, o poder de Jasper começou a não ter efeito em mim. Edward dirigiu-se a mim, segurando na minha mão pedindo para me acalmar, Alice fez o mesmo.

-Nós vamos contigo! – afirmou Alice pegando no seu impermeável.

-Por favor, não tornem isto difícil. Vocês não podem ir. – Não tirei os olhos de Edward, este rodava a cabeça em forma de negação. Eu sabia que eles estavam determinados a ir comigo.

Levei a minha mão, que outrora esteve na posse de Alice, e levei ao rosto de Edward. Aquele toque foi como um frenesim em todo o meu corpo, como se todas as minhas células o reconhecessem. Senti que Edward também sentiu algo parecido, este fechou os olhos ao meu toque.

-Il mio guerriero, il mio protettore, il mio ben intenzionati a, tu sei sempre con me! – soltei a mão que ele segurava e pousei no seu coração. Era onde sempre estaríamos juntos. O meu coração já lhe pertencia, e eu sabia que parte do dele também me pertencia. Ambos fechamos os olhos, e as nossas faces aproximaram-se, e foi então que os meus lábios tocaram a testa dele. -  Mi scusi! – sussurrei ao ouvido de Edward. Depois soltei-me do abraço dele e olhei para os três, interpretei o meu papel de guarda Volturi perante os meus amigos e dei uma ordem directa a eles.

-Vocês vão ficar aqui, vão esperar uma hora, se eu não ligar, vocês depois decidem o que fazer. Mas se ficar muito perigoso voltam para casa. – sabia que eles não iriam desobedecer, usei o poder de Jayden. Vi pelas caras deles que estavam zangados, principalmente Edward. Mas não havia nada que conseguissem fazer.

Antes de passar a porta do quarto para o exterior olhei mais uma vez para os meus novos amigos, estes ainda permaneciam no mesmo local, todos me miravam. O meu olhar prendeu-se no de Edward, seria a última vez que o iria ver? Queria acreditar que não. Com certeza que Angel não me iria mentir, ou iria? Se fosse, realmente, uma armadilha, teria que me manter a salvo de forma a proteger os Cullen, principalmente o Edward.

Foi a fixar cada promenor no olhar triste de Edward que fechei a porta. Ainda com a mão na maçaneta fechei os olhos, e por momentos baixei a minha guarda para lhe dizer em silêncio «Amo-te».

-Boa noite menina Caroline – ouvi Giovana dizer quando entrei no castelo. O contrato dela com os Volturi estava a terminar, será que ela o sabia? Talvez ainda acreditasse que alguém a transformasse em vampira. Provavelmente iria pelo seu próprio pé até ao salão principal, onde acabaria por ser o almoço de alguém. Não lhe respondi, segui em frente. Queria saber como estava o meu aluno, como estaria Angel. Será que seria mesmo uma armadilha, se fosse teria que agir rapidamente. Coloquei o meu escudo o mais alto que consegui, ninguém iria conseguir fura-lo. Mas se tudo fosse verdade, ainda não sabia o que fazer com Jayden.

Parei em frente às portas do grande salão. Respirei fundo, mesmo não necessitando, e abri as portas.

Olhei em volta, e lá estavam todos, tal e qual como tinha visto na minha visão. Jayden no chão ladeado por Alec e Jane, o Angel um pouco mais afastado a olhar para Jayden. No entanto, ao contrário da minha visão, agora, Aro sorria para mim.