Pouco Além (A Harry Potter Story) escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 21
Paz Armada: parte 3


Notas iniciais do capítulo

Depois de mais alguns meses... o retorno.

Acompanhem a perspectiva de Harry e Rony acerca dos eventos recentes e da guerra que se aproxima.
Vejam também Rudolf, o amigo brasileiro de Matt, refletindo sobre suas próprias expectativas acerca do futuro do mundo bruxo.



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            Fazia poucos meses desde que havia tido aquela conversa cheia de teorias extravagantes com seu amigo auror, e Rudolf continuava a remoê-la em sua mente.

            Matt Stick havia ligado para ele numa noite do verão europeu, o que indicava que no hemisfério sul, onde o Brasil ficava, já era inverno. Passados alguns meses, a primavera havia se debruçado sobre o país de Rudolf, mas na cidade de origem dele, Natal, as quatro estações não eram bem definidas. O inverno mais parecia uma mescla do clima de outono e começo da primavera, sendo marcado apenas por algumas chuvas mais intensas do que no restante do ano. Já as outras estações, inclusive a primavera, se assemelhavam a uma prévia do verão, devido à localização da cidade, próxima à linha do Equador e no litoral do Rio Grande do Norte, no Nordeste do país, sendo também a capital desse estado.

            Mas as mudanças climáticas amenas pouco importavam para Rudolf Fontes no momento. Ele se empenhava para entender o que seu amigo estava teorizando, sobre a força descomunal que abatia os Guerreiros do Apocalipse ao tentarem passar da Grécia para o restante do território europeu, e vice-versa.

            Rudolf já compreendia que seu amigo estava disposto a encontrar evidências sólidas sobre a existência dos Cavaleiros de Atena, e de que eram eles quem abatiam os Guerreiros do Apocalipse em solo grego, impedindo-os de avançar para o restante da Europa. Mas havia muitas implicações a considerar, caso o amigo provasse estar certo. Como explicar para a sociedade bruxa mundial a existência de um grupo mítico da Antiguidade grega que até então todos acreditavam tratar-se apenas de uma lenda? E se os Cavaleiros não fossem de fato uma lenda, o que mais dos mitos gregos também não seria?

            Ele temia que Matt eventualmente esbarrasse em alguma barreira que freasse sua obstinação em comprovar sua teoria, mas acreditava que o auror conseguiria superar quaisquer obstáculos dessa categoria. Mesmo quando o desânimo se abatia sobre ele, Matt tinha como a característica forte a determinação em superar toda adversidade.

            Com base no que o amigo britânico lhe havia dito sobre as descobertas de Mylor Silvanus, seu colega auror, e na forte suspeita de que seu antigo mentor Winnifred Fuller ainda estivesse vivo, escondido em algum lugar inóspito, mas cooperando secretamente com a causa deles, Rudolf tinha todos os motivos para crer que Matt, além de buscar a confirmação sobre a existência dos Cavaleiros de Atena, desejava também obter o apoio deles na guerra que ficava cada vez mais próxima de se concretizar contra os Guerreiros do Apocalipse, cujo avanço pelo mundo se intensificava a cada ano.

            Mas Matt era uma pessoa muito ocupada, sempre atuando em missões de reconhecimento e de perseguição aos Guerreiros, ou trabalhando em seu escritório na Seção dos Aurores. A chance de ele eventualmente desistir de sua busca pelos Cavaleiros, ou mesmo de esquecê-la, era muito alta. Quando a guerra contra os Guerreiros engrossasse ou explodisse de fato, talvez o esposo de Thaila nem se lembrasse mais de que, mais cedo em sua vida, havia destinado boa parte de seus esforços em tentar provar a existência de um grupo de combatentes míticos que lutavam em nome da deusa grega da guerra.

            Em todo o caso, Rudolf tinha ciência de que, cedo ou tarde, precisaria compartilhar com Matt suas próprias descobertas. Ele havia feito suas próprias pesquisas sobre mitos antigos nos últimos anos, inclusive acerca dos Cavaleiros, com descobertas interessantes. Ele ainda não havia revelado ao amigo tudo o que sabia acerca do assunto... Mas algo em seu íntimo lhe dizia que ainda não havia chegado o momento apropriado. De toda forma, Rudolf estava um pouco à frente de Matt no que dizia respeito às informações descobertas sobre a lenda dos Cavaleiros, mas, por motivos de força maior, não podia revela-las ao amigo ainda, e se Matt tivesse que descobrir o mesmo que o natalense havia descoberto, teria que fazê-lo sozinho.

            De forma sigilosa, Rudolf também conduzia pesquisas sobre os próprios Guerreiros do Apocalipse e as diversas culturas nas quais eles estavam inseridos. Somente Matt e Thaila sabiam de sua pesquisa. Ele desejava estar preparado para alertar a sociedade bruxa de seu país acerca da ameaça representada pelo avanço dos Guerreiros, visto que muitos bruxos brasileiros ainda desconheciam a existência e o poderio do grupo de magos das trevas.

            Em seu íntimo, o jovem professor ponderava se seria possível que a guerra contra os Guerreiros se expandisse mais ainda pelo mundo, a ponto de incluir inclusive o Brasil em sua rota. Se isso acontecesse, pelo menos Rudolf poderia informar a população a tempo de se prepararem adequadamente para o conflito – isso se as autoridades bruxas não freassem seu esforço. Por outro lado, se a guerra realmente chegasse a Natal e ao restante do país, não ia fazer diferença se os brasileiros soubessem ou não quem eram os inimigos ou que ameaça representava. Os Guerreiros não fariam distinção na hora de fazer suas vítimas...

            Ele sacudiu a cabeça e continuou a digitar em seu notebook sobre sua pesquisa acerca dos Guerreiros. Não podia pensar na tragédia antes dela acontecer. Ele fitou, pela janela do quarto, o pôr-do-sol pitoresco da Zona Sul de Natal, tentando acalmar a mente.

            O historiador terminou de escrever o capítulo do dia de sua pesquisa e decidiu sair para dar uma volta, quem sabe descer até a praia ou ir para uma pracinha de food trucks localizada a poucos quarteirões de distância de onde morava. Precisava espairecer e aproveitar aquele dia de paz, visto que ele tinha plena consciência de que o mundo bruxo não iria gozar de paz por muito mais tempo.

...

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            Do outro lado do mundo, Harry Potter andava de um lado para o outro, preocupado. Seu amigo, Matt Stick, que estava atuando interinamente como seu superior no Esquadrão de Aurores, havia sido designado para uma missão lá no Leste Europeu e ainda não havia dado notícias. Harry queria crer que o amigo estava bem, mas esse silêncio o incomodava. Matt até costumava passar dias sem dar notícia quando estava em campo, mas agora essa demora estava passando dos padrões dele. O que ele poderia ter encontrado na Macedônia?

            Na ausência do escocês, Harry havia sido designado para chefiar a equipe de Matt de forma temporária, ali no escritório do Ministério. O filho dos Potter não se considerava tão experiente para o cargo, mas a maioria dos aurores jovens o olhava com respeito, admiração, e até inveja no caso de alguns. Todos já tinham ouvido falar das batalhas que Harry enfrentara ao longo da vida.

            Apesar de haver várias equipes no Esquadrão de Aurores, a equipe de Harry e Matt era a mais badalada. A maioria dos recém-chegados ao Esquadrão queria entrar em peso naquela equipe, mas o chefe do Esquadrão insistia que só os melhores no processo seletivo poderiam entrar nela. Senão, as demais equipes ficariam esvaziadas. O diferencial daquela equipe era ter um líder cujo apelido era “o caçador de Guerreiros” e que era filho do maior ativista político bruxo da Escócia, e ter um líder interino que era conhecido como “o Eleito” e era o bruxo da qual falava a profecia mais famosa dos últimos tempos do mundo da magia. Ficava claro porque todos os novatos queriam entrar nela. Harry ainda se sentia um pouco incomodado com toda a atenção que os novatos davam a ele, e pela admiração excessiva que sentiam – mas parte dele gostava de saber que, de algum modo, podia servir de exemplo para aqueles jovens.

            Rony também fazia parte da equipe – mas ele por vezes escapava do trabalho no escritório e só se interessava pelas poucas missões de campo que eram atribuídas para a equipe. Ultimamente ele também havia começado a ajudar Jorge na administração da loja Gemialidades Weasley, e por isso implorava que Harry não o dedurasse para o chefe do Esquadrão e que fizesse as tarefas dele em seu lugar. Harry não podia culpa-lo – o amigo estava realmente gostando de trabalhar na loja com seu irmão. E a loja, além de ser excelente, estava dando cada vez mais lucro: mais pessoas sentiam que era necessário rir e se divertir, ainda mais com a ameaça dos Guerreiros do Apocalipse pairando sobre elas, sem que ninguém soubesse quando os Guerreiros iriam voltar a atacar a Grã-Bretanha com intensidade.

            Em meio a tudo isso, Harry tentava conciliar as missões da equipe, as preocupações com as missões de Matt e de outros amigos, e as tarefas da Seção de Aurores com uma nova responsabilidade: ser pai de família. Seus filhos Tiago, Alvo, e Lílian, contando com seis, quatro e dois anos, respectivamente, eram a alegria de casa e de seus avós Molly e Arthur. Por mais que sua rotina e a rotina de Gina estivessem intensas como nunca, Harry sentia orgulho pela família que eles haviam construído. Seu único pesar era por seus pais não terem podido conhecer os netos.

            Mesmo com a rotina intensa, o outrora menino da cicatriz conseguia encontrar um tempo de folga aqui ou ali. O chefe dos aurores era também um fã de Harry, e por vezes dava broncas em Matt dizendo que o escocês não estava ajudando Potter a alcançar seu potencial total. Por isso, o chefe dava carta branca a Harry para que escolhesse os dias de sua folga quando quisesse, mas Harry tentava não abusar da boa vontade do velho bruxo. Naquela noite em especial, tendo saído mais cedo do Ministério após conferir com os recrutas que Matt ainda não havia deixado nenhuma nova mensagem, ele foi para sua casa em Londres se preparar para sair. Ele e Gina haviam arrumado um lugar para morar próximo ao Ministério, apesar de ainda passarem boa parte do tempo na Toca com os pais de Gina, e porque as crianças ficavam mais a vontade para se divertir no terreno da Toca. Após se arrumar, ele ficou andando impacientemente pela sala. Gina estava demorando a se arrumar, mas Harry não estava agoniado só por isso; ele ainda tinha esperança de receber alguma notícia do amigo escocês naquela noite.

            O restaurante para o qual ele e Gina iriam havia sido uma recomendação de Duda; apesar de ele e o primo raramente se verem, o filho dos Dursley ainda mandava selos e cartas com alguma frequência para Harry, e em uma delas, havia colocado a recomendação de um restaurante premiado, cujo dono era um amigo antigo de Duda. O primo ainda havia dito na carta que, se Harry mencionasse ser parente de Duda, receberia tratamento diferenciado no local. Num gesto incomum, Harry telefonou ao primo, perguntando se o amigo dele poderia recebê-los no restaurante naquela noite. Duda disse que poderia se certificar disso em dois minutos, e não deu outra, em dois minutos ele ligou de volta para Harry dizendo que seu amigo estaria pronto para recebê-los com os melhores pratos da noite, e que os atenderia pessoalmente.

            Duda ainda afirmou que, se pudesse, faria da noite um jantar de dois casais – Duda estava de namorada nova -, mas como estava extremamente atarefado na empresa em que trabalhava com tio Válter, devido à crise econômica no mundo dos trouxas, não poderia fazer companhia ao primo naquela noite.

— Além disso, primo... tenho a impressão de que você e Gina precisam de um tempo a sós. Todas aquelas fotos com as crianças que você mostrou... confesso que te achei um tanto cansado em algumas delas! – disse Duda, rindo, pelo telefone.

— É mesmo, Dudão. Você está mesmo muito observador – admitiu Harry. – Ginevra se certificou de tudo. As crianças estarão com os avós. Você se lembra de que mencionei que Molly reclama sempre que as crianças não passam tempo o bastante com ela. Como se já não fossemos à casa deles quase todo dia da semana.

— Ah, sim, me lembro bem. E primo... Sei que talvez eu nem devesse perguntar. Mas você mencionou algo numa das cartas um tempo atrás... Algo sobre uns tais Guerreiros. Isso ainda tem sido um problema? Esses caras podem causar problemas também para o... você sabe, para o “nosso” lado?

            Harry suspirou levemente. Realmente, Duda estava mudado. Além de observador, o primo estava mais maduro e, pelo tom de voz, genuinamente preocupado com o bem-estar de Harry.

— Sim, Duda, eles são um problema ainda. Para o seu lado e para o meu lado do mesmo modo. Eles têm estado muito quietos ultimamente, mas sabemos que eles estão por aí. Aquele meu amigo, o Matt... Ele trabalhou no gabinete do Primeiro-Ministro, você deve se lembrar... Ele vive indo ao estrangeiro, caçando pistas do paradeiro deles. Já faz algumas semanas desde que a missão mais recente dele no exterior começou. Eu talvez nem devesse estar falando disso pelo telefone... Mas fico preocupado, todo esse tempo e ele não deu informações ainda.

— Poxa, primo... Que barra. Pela sua voz, você parece mesmo muito preocupado.

— Pois é. Sei que ele é experiente, mas toda essa situação me preocupa. Depois de toda aquela confusão com Voldemort, achei que finalmente íamos ter paz. Mas agora a paz parece cada vez mais um objetivo inalcançável.

            Harry ouviu a porta do quarto se abrir enquanto falava.

— Acho que a Gina já está pronta. Duda, eu vou indo... Mais uma vez eu agradeço pela indicação do restaurante.

— Sem problemas, primo. Aproveitem. Tente relaxar a cabeça ao menos por essa noite. Às vezes parece que você carrega o peso do mundo nos seus ombros.

            Você não sabe o quanto está certo, Duda... Harry ficou feliz por constatar mais uma vez a sagacidade do primo.

— É verdade, preciso mesmo relaxar. Obrigado pela conversa, Dudão. Vamos tentar nos falar mais vezes. Quero ver se você está mesmo mais esperto ou se foi só impressão minha.

— Haha... Pode deixar, primo – respondeu Duda, gargalhando do outro lado da linha.

— Sei que raramente nos falamos, mas acho que isso tem que mudar. Já que não sabemos quando essa guerra irá começar de fato... É melhor aproveitarmos o tempo que temos antes dela chegar. Mande lembranças para a Petúnia e o Válter.

— Claro, pode deixar. Mando para a tia Guida também?

— Céus, não! – exclamou Harry dando uma risada nervosa. – Ainda não superei o trauma de vê-la em forma de balão.

— Haha... claro, primo, só estava te testando...

— Sei. Bom, a gente se fala, Duda. Vou indo.

            Harry desligou e continuou a andar de um lado para o outro. Mesmo tendo ouvido o barulho da porta, Gina ainda não havia chegado à sala. Ele nunca entenderia a demora das mulheres em se arrumar.

            Ainda estava com os pensamentos a mil, quando a voz da ruiva o chamou de volta à realidade.

— Terra para Harry? Gostaria que meu marido parasse de andar em círculos e me desse o prazer de sua companhia. – Potter se virou. A ruiva estava deslumbrante. Usava um vestido vermelho, com uma leve estampa da Grifinória bordada na altura do abdômen.

— Uau. Agora entendo a razão da demora – brincou ele.

— Seu bobo. Agora vamos, a noite está só começando.

            Ele ofereceu o braço à esposa. Juntos, os dois se encaminharam para a porta. Ao pegar a chave para abri-la, Harry hesitou.

            Gina pigarreou.

— Harry, vamos. A gente precisa dessa noite, se não ficaremos malucos. Não fique se preocupando tanto assim. Se algo de ruim tivesse acontecido com o Matt, a Thaila ou qualquer outra pessoa, já teríamos ficado sabendo. Agora vamos pelo menos curtir a companhia um do outro, está bem?

            Harry a fitou. Realmente, não era só Duda que tinha ficado mais sábio depois de ficar adulto.

— Claro, meu amor. Era só... Deixa pra lá. Talvez eu esteja me preocupando demais. O Duda estava falando comigo agora há pouco... Ele disse que eu pareço carregar o peso do mundo nos ombros, e que eu devia relaxar mais.

— E Duda está coberto de razão – afirmou Gina. – Agora vamos. Estou faminta. Ser jornalista esportiva está cada dia mais intenso. Vamos lá devorar o cardápio desse restaurante que o Duda gentilmente nos indicou de tão bom grado.

            Harry sorriu. Realmente precisava desfrutar mais desses momentos com Gina, com sua família e seus amigos. Ele abriu a porta e os dois saíram para a noite.

            A guerra viria, isso ele tinha certeza. Mas enquanto ela não vinha, sua esposa e sua família precisavam dele.

...

...

...

...

            Rony estava tenso, mas firmou as mãos no volante. Não iria desistir tão fácil. Do lado de fora do carro, Hermione o observava, parecendo se esforçar para não rir.

— Estou te vendo, sabe – afirmou o ruivo. – Se quer dar risada, vá em frente. Mas quando eu passar nesse bendito teste, não reclame se for eu quem estiver dando risada.

— Ah, claaaaaro, Ron querido... Eu tenho plena certeza de que você vai, sim, passar no teste sem ajuda. – Hermione escondeu o riso com uma das mãos.

            Os dois estavam na estradinha rural que levava à Toca. Hermione havia sugerido que aquele era o melhor local para Rony praticar para passar no exame de habilitação. Harry já havia passado no teste há anos, mas também, ele havia sido criado como trouxa. Rony não gozava da mesma sorte. O carro havia sido uma cortesia do pai de Hermione, que tinha um amigo dono de uma locadora. Rony já havia batido o carro algumas vezes, e a esposa sempre acabava reparando-o com magia. Ela havia encantado o carro previamente para que reagisse bem aos feitiços dela, já que tecnologia e magia nem sempre se misturavam bem.

            Rony colocou os pés nos pedais, mas hesitou, imaginando estar se esquecendo de algo.

— Não se esqueça de ligar o carro antes de dar partida, querido – disse Hermione, a cada momento com menos sucesso em disfarçar o riso. Quando Rony enfim conseguiu ligar o carro e começou a andar bem devagar, ela emendou: - Vamos, Ron, você consegue. Vai ser moleza. Igual a quando você superou o Córmaco no teste de quadribol.

            Sem tirar as mãos do volante, Rony olhou para ela e deu um sorrisinho irônico. Mione não se conteve e soltou uma gargalhada.

            Aprender os costumes dos trouxas, como andar de carro, era importante em tempos como aqueles. Cada vez mais, o Ministério exigia que seus funcionários tivessem a capacidade de se misturar com a sociedade trouxa, uma vez que os Guerreiros já estavam fazendo isso de forma sublime, e ganhando cada vez mais seguidores devido a essa iniciativa.

            Rony aumentou um pouco a velocidade. Hermione, que vinha andando ao lado do carro, pegou a varinha, sacudiu-a e fez uma vassoura sair da oficina do Sr. Weasley direto para a mão dela. Em seguida, ela sentou na vassoura (embora não fosse muito fã de voar) e passou a acompanhar o movimento do carro de Rony de perto, levitando acima do chão.

            Enquanto tentava fazer o carro ganhar velocidade, Rony olhou de esguelha para o lado. Hermione havia sacado o celular e estava digitando velozmente.

— Ei! Não vá tirar foto minha ou mandar mensagem...

— De jeito nenhum, querido! – respondeu ela, e logo voltou a digitar. – Ah, a Gina não para de me perguntar se você já bateu o carro de novo. Ela disse que gostaria de estar aqui, assistindo.

— Gostaria mesmo... Diz pra ela que eu tô dizendo pra ela ir arrumar algo pra fazer – rebateu Rony. – E me deixar praticar em paz.

            Hermione riu levemente e continuou a digitar. Sem dar muita atenção ao que sua irmã podia estar comentando com ela, Rony continuou guiando o veículo, mas sua mente estava divagando.

            Pensou em Harry, que estava chefiando a equipe deles na Seção de Aurores na ausência de Matt. Pensou no próprio Matt, que ainda estava na Macedônia e não dava notícias há dias. No Ministério, os aurores já especulavam sobre o motivo da demora dele; muitos diziam que ele havia feito uma descoberta exorbitante, mas que os aurores mais velhos estavam tentando abafar. Afinal, o que Matt havia descoberto de tão impressionante, e por que os veteranos iriam tentar esconder isso?

            Rony recordou-se da guerra contra Voldemort. Havia muitas semelhanças com o período atual. Mas também havia muitas diferenças. Era como se estivessem sendo observados das sombras o tempo todo – mas, ao mesmo tempo, o silêncio ensurdecedor acerca dos movimentos dos Guerreiros na maior parte dos meses era algo bastante incômodo.

            Mesmo ansiando para ser enviado numa missão no exterior logo, Rony estava cauteloso. Sabia que Harry estava muito preocupado com tudo aquilo. O amigo perdia o sono imaginando quando Matt, Thaila e outros amigos deles dariam notícias acerca de suas próprias missões. Se Rony demonstrasse que queria sair em missão também, seu amigo e agora cunhado só ficaria ainda mais preocupado.

            Além disso, o ruivo pensava em seus pais, em seus irmãos, em Hermione, e nos filhos deles, Rosa e Hugo. A família deles não merecia mais uma dose de preocupações. O jeito era esperar que Matt mandasse notícias, voltasse são e salvo para a Grã-Bretanha e só então eles pudessem se juntar, como nos velhos tempos, para traçar um plano de ação contra qualquer que fosse a iniciativa tramada pelos Guerreiros.

            Enquanto divagava, Rony conseguiu completar uma volta completa pela estradinha. Hermione e o Sr. Weasley haviam feito alguns desvios nela, para que se tornasse um circuito em forma de círculo e, assim, o ruivo pudesse praticar ao volante tranquilamente. A pista terminava quase em frente à Toca, e quando se deu conta disso, Rony começou a diminuir a velocidade, se preparando para estacionar.

            Ainda na vassoura, acompanhando o trajeto, Hermione ergueu os olhos do celular e percebeu repentinamente que Rony havia completado o trajeto, e sem bater o carro nenhuma vez.

— Nossa, Ronald! Pelo jeito você está mesmo melhorando!

— Eu avisei, querida, eu avisei... – disse, contando vantagem. – Agora vou tentar estacionar.

            Abismada, Hermione desceu da vassoura e ficou parada, de pé, observando Rony manobrar o carro para tentar estacionar adequadamente.

            Mesmo algo simples para um trouxa, como passar no teste de habilitação, parecia uma vitória espetacular para Rony. Com uma guerra se aproximando, ele se permitiu vibrar internamente com aquela pequena conquista. Era preciso saborear esses momentos agradáveis antes que a calmaria terminasse.


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Notas finais do capítulo

Em breve retornarei com mais capítulos.



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