Prólogo

Dustin encara Antonio que está arrumando as caixinhas de DVDs lançamentos. Antonio percebe irritado.

Antonio: - Que foi?

Dustin: - Eu não queria estar aqui.

Antonio: - Olha que coincidência: Eu também não queria que você estivesse aqui.

Um longo silêncio é feito, até que Dustin o quebra.

Dustin: - Eu não gosto de você.

Antonio: - Você também não é uma das minhas vadias prediletas.

Novamente um longo silêncio é feito.
Dustin está no balcão brincando com uma caneta, fazendo um barulho insuportável, enquanto Antonio se segura para não voar nele.

Dustin: - Você é um saco.

Antonio: - Com duas bolas e um “cano” no meio, espero. (pequena pausa) Você pode me lembrar o porquê de eu aceitar cuidar de você? Logo de “você”?

Dustin suspira.

Dustin:- Agatha teve que levar o Adam até o dentista porque ele tem medo. Minha irmã saiu com a Claudia e o dinheiro que essa ta conseguindo do velhão. E como o Adam não confia mais em mim pra me deixar sozinho em casa, estou aqui. (pequena pausa) Ah... Sem esquecer que a Agatha vai te pagar em dobro essa semana.

Antonio: - Nenhum pagamento em dobro vale a pena, quando se trata de você – Antes do Dustin falar alguma coisa, ele continua – Mas por que o Adam não confia em você para ficar em casa sozinho?

Dustin: - Do mesmo jeito que você também não confiaria sua casa a mim.

Antonio: - Claro que confiaria.

Ficaram um tempo em silêncio.

Dustin: - Não confiaria, né?

Antonio: - Não mesmo!

Dustin desanima e volta a brincar com a caneta.

 

No carro, Adam está sentado na frente e Agatha dirige até o dentista.

Adam: - Meu dente não está doendo mais. Acho que podemos voltar!

Agatha: - Adam, não precisa se preocupar. Ele só vai tirar seis cáries.

Adam: - “Só?” Você ouviu o tamanho da gravidade que você acabou de falar?

Agatha: - Contei pro meu marido surtado que ele vai tirar seis cáries?

Adam: - Exato! Eu sou surtado! (pequena pausa) “Surtado?”

Agatha: - Qual é, Adam? “Surtado” pra você pode ser considerado um elogio.

Adam: - A questão é a seguinte: Estou com seis cáries!

Agatha: - Que bom que estamos sendo realistas. – Disse, já irritada.

Adam: - O que estou querendo dizer é: Eu nunca tive cáries na vida! Nem placa, nunca precisei usar aparelho. Nada! Eu tenho até flúor no banheiro!

Agatha: - Sério? – Perguntou surpresa – Flúor?

Adam: - E eu sempre fiz isso para nunca ter que ir ao dentista, pois eu tenho um pavor. Só que esses últimos meses eu não cuidei tão bem assim deles. Eu fui esquecendo de fazer a limpeza bucal.

Agatha: - Talvez você esquecer tenha sido por causa de você poder ter tomado um pouco de flúor e esse foi pro cérebro.

Adam: - Boa! - Começa a ironizar também – Vou ver se injeto uma seringa de flúor no meu corpo para ver se afeta o sangue e assim viro o Flúormen!

 

Em uma cafeteria, Gabriela e Claudia tomaram café e comiam um pedaço de bolo.

Claudia: - Café bom, bolo melhor ainda.

Gabriela: - Essa cafeteria só tem rico. Adoro ser rica!

Claudia: - “Ser rica?”

Gabriela: - Ok, ok! Adoro fingir ser rica! E você? Como vai com o “40”?

Claudia: - Vai muito bem. Quer dizer, ele é lindo, rico, inteligente, maduro...

Gabriela: -... tem 40 anos...

Claudia: - E daí? Eu sei que sou onze anos mais nova que ele, mas você transa com um cara nove anos mais novo que você.

Gabriela: - “Transo?”

Claudia: - Você não falou que tinha algo com um ajudante da locadora da Agatha?

Gabriela: - É! Transo! – Admite.

Claudia: - E esse cara? Como ele é?

Gabriela: - Ele é um pouco magro, cabelos negros, alto, mas pior de tudo: Ele é pobre.

Claudia: - Amiga, posso te falar uma coisa?

Gabriela: - Não tem como você me levar de volta pra minha casa e terei que pegar ônibus?

Claudia: - Não. O que quero dizer é que você pensa demais em dinheiro e coisas materiais. Quando você se apaixonar por alguém, só essa pessoa interessará para você.

Gabriela: - Eu já me apaixonei por um cara que nunca gostou de mim. Por isso agora, eu prefiro me importar comigo mesma. Cansei de sofrer por nada.

Claudia: - Ou seja, você vai transar até achar alguém legal.

Gabriela: - Do jeito que você fala, parece que é um plano ruim.

Claudia: - Você ta tendo algo com esse cara e ganhou o que até agora? O que adquiriu até agora?

Gabriela: - Bom, pedir um bom tempo das minhas noites fazendo algo produtivo.

Claudia come o resto do pedaço de bolo e dá um tapinha de leve em sua cabeça.

Gabriela: - Ei!

Claudia: - Viu? Além de perder o tempo fazendo algo produtivo, ganhasse também um tapinha. Sou uma bela amiga ou não sou?

 

Na locadora, Dustin está no balcão, ainda brincando com a caneta, enquanto Antonio recebia o dinheiro das locações no caixa.

Dustin: - Antonio!

Antonio: - Fala, mó! – Ironiza.

Dustin: - Ta vendo essa caneta? – Levanta ela e mostra para ele o objeto.

Antonio: - Não. Tem certeza que ela não é invisível?

Dustin: - Enfim, imagina se eu escondesse essa caneta no seu...

Antonio: - Epa, epa, epa! Qual é o seu problema, cara? Tais muito engraçadinho, você!

Dustin: - Estou? Pensei que estava chato.

Antonio: - Vamos matar o tempo, então.

Dustin: - E o que sugere?

Antonio: - Por que o Adam não tem confiança em deixar você sozinho em casa?

Dustin: - Por que ele é um gay!

Antonio: - Eu sei! Já li o livro dele. Mas o que você fez?

Dustin olha para Antonio, sem ter certeza que podia contar.

Antonio: - Eu juro que não conto pra ninguém!

Dustin: - Dá a sua palavra?

Antonio: - Dou meu corpo inteiro se você quiser! – Após a frase, Antonio e Dustin ficaram surpresos – Ok! Pode ser só a palavra mesmo!

Dustin fica receoso, mas ele ia contar pro Antonio.

Dustin: - Bom, tudo começou quando eu comecei a sair com uma garota.

Antonio: - Comeu?

Dustin: - Ei! Não use “comer! É tão vulgar!

Antonio: - Não comeu, né?

Dustin: - Não. Enfim, um dia a Gabriela ia ficar a noite todo fora por causa de um comercial e o Adam e a Agatha iam viajar pra São Paulo para divulgar o livro gay dele. Iam ficar alguns dias foras.

Antonio: - Então, nesse dia você ficou a noite, sozinho, em casa.

Dustin: - Isto! Como eu vi uma oportunidade podendo ter a casa inteira pra mim, sem ninguém, liguei pra essa garota para ela vir pra cá.

Antonio: - É aí que as coisas esquentam, né?

Dustin: - É aí que as coisas ferraram!

Antonio: - Por quê? O mocinho da história parecia que ia se dar bem!

Dustin: - O que aconteceu é: Tínhamos poucas horas e ela quis dar um passeio, uma volta, uma saída, uma...

Antonio: - Ta, ta! Já entendi!

Dustin: - Eu tive que pagar um McLanche pra ela.

Antonio: - Nada como gastar dinheiro com uma transa.

Dustin: - Bom, quando chegamos, eu já aliviado e com o troço lá em cima, comecei a me despir.

Antonio: - Oh, no, baby!

Dustin: - Aí ela também foi pra tirar a roupa.

Antonio: - Yeah, baby!

Dustin: Quando ela começou a tirar as roupas dela, adivinha o que aconteceu?

Antonio: - Você não tinha camisinha na hora?

Não era isso que ele ia dizer, mas ele também não tinha camisinha no momento.

Dustin: - Não! Acha que sou tão irresponsável?

Antonio: - Você é o Dustin, então, sim!

Dustin: - O que aconteceu foi que o Adam entrou na casa, pois tinha esquecido as passagens do avião que eles iam pegar pra ir pra São Paulo.

Antonio: - E depois?

Dustin: - A garota foi embora, o Adam voltou pro aeroporto, sem contar a minha irmã e fiquei frustrado pelo resto da noite.

Antonio que estava se segurando antes, começa a rir agora com a história do Dustin.

Antonio: - Seu idiota! Mané! – Começa a rir novamente.

Dustin: - Ei! Você deu sua palavra!

Antonio: - Que eu não ia contar. Não que eu não iria rir!

A risada de Antonio dura até que a porta da locadora é aberta, aparecendo a Gabriela.

Gabriela: - Antonio!

Antonio: - Minha burguesinha! – Ele se vira pro Dustin – Sentiu? Que nem a música do Seu Jorge – Antonio vai até Gabriela e a beija – Por que estás aqui?

Gabriela: - Eu preciso conversar com você – Olha para Dustin – A sós!

Antonio: - “A sós?” Estou entendendo o que você está pensando. – Tem um cantinho ali bem bom. Podemos deixar o Dustin no caixa e...

Gabriela: - Eu não vim pra transar com você!

Antonio fica sem reação e Dustin dá uma risadinha.

Dustin: - Toco!

Antonio o olha repreendendo.

Dustin: - Vocês querem ficar a sós, né? – Dá um sorriso forçado e sai da locadora, sentando na calçada do lado de fora.

Antonio: - Que foi? É grave o que você quer conversar? Fiz algo errado?

Gabriela: - O que você fez até agora foram muitas perguntas, querido.

Gabriela pega a mão de Antonio e o leva até o balcão para sentarem nas cadeiras.

Gabriela: - Isso não vai ser fácil.

Antonio: - “Isso” o que?

Gabriela: - Novamente: Muitas perguntas, querido.

Antonio se cala batendo as pernas de ansiedade.

Gabriela: - Ok! Tudo bem, Gabriela! – Diz pra si mesma – Andei pensando hoje e perguntei pra mim mesma: “O que eu quero?”

Antonio: - “Sexo é que não é!” – Pensa tenso.

Gabriela: - Eu já to numa idade em que preciso ter coisas sólidas, concentras e você só quer saber de sexo, rock n’ roll e livros.

Antonio: - Isso não é o nome de uma série? (pequena pausa) Mas eu sou maduro! Eu quero algo sério!

Gabriela: - Então, por que você nunca assumiu namoro comigo?

Antonio: - Sei lá! Eu ainda estou deixando a ficha cair! Era difícil que eu estava conseguindo pegar uma mulher de 28 anos gostosa.

Gabriela: - Obrigada pelos elogios. Mas o que estou querendo dizer é que eu quero algo muito mais além que você quer. Eu quero casar, eu quero ter filhos, eu quero viajar mais!

Antonio fita Gabriela confuso.

Gabriela: - Você quer casar?

Antonio: - Não.

Gabriela: - Você quer ter filhos?

Antonio: - Não.

Gabriela: - Você quer viajar?

Antonio: - Meus pais moram aqui e eu amo eles.

Gabriela: - Então...

Antonio: - Você vai terminar comigo, né?

Gabriela: - É! Obrigado pelos momentos.

Antonio: - Não vou dizer que não estou animado com isso, mas respeito e entendo sua opinião.

Gabriela: - Obrigada! – O abraça – Bom, vou indo.

Antonio: - Ok!

Antonio leva Gabriela até a porta da locadora e eles veem Dustin sentado na calçada.

Gabriela: - Já quer ir pra casa? – Olha pra Dustin.

Dustin: - Ainda, não.

Gabriela: - Ok! Vou indo! Tchau! – Vai até o carro.

Dustin: - Enfim, o que aconteceu?

Antonio: - Ela terminou comigo.

Dustin se segura, mas ri depois.

Dustin: - Há, há, há! Ficou falando de mim antes, mas você também se ferrou!

Antonio: - Mas você nunca transou! Eu já fiz!

Dustin: - E daí? Você acabou de ser dispensado! (pequena pausa) Mané!

Dustin continua rindo e entra na locadora.
Antonio olha para os céus.

Antonio: - Me desculpa, eu não devia, mas eu o odeio!

 

Adam e Agatha chegam a casa, enquanto Gabriela está na cozinha fazendo o jantar para todos e Dustin à ajuda.

Agatha: - Chegamos!

Gabriela: - Oi!

Agatha olha pra sala e não vê ninguém.

Agatha: - Onde está você?

Gabriela: - Aqui na cozinha.

Agatha: - E o Dustin? – Ela vai pra cozinha e Adam vai logo atrás, mancando.

Adam e Agatha ficam surpresos ao ver Dustin mexendo em um pote com uma colher bem grande na mesa.

Adam: - Acho que vou pedir uma pizza!

Dustin: - Eu estou fazendo bolo de chocolate. O que estou fazendo é muito produtivo, é gostoso, tem farinha e açúcar...

Adam: - Engorda também...

Dustin: - E você? Por que está mancando?

Agatha: - Ele ta mancando, pois quando o dentista apareceu com as ferramentas, Adam se levantou da cadeira e bateu o joelho na mesa. Ele até mijou nas calças. Sorte que eu trouxe roupa reserva. Meio que imaginei o que ia acontecer.

Adam: - Mas tem um bom nisso tudo.

Dustin: - “Bom?” Você bateu seu joelho na mesa e mijou nas calças. O que de bom poderia ter acontecido?

Adam: - Eu não levei anestesia! Sem agulha!

Dustin: - Caramba! Que maneiro, “champz!” Quer andar comigo no recreio? – Vai para cumprimentar Adam.

Adam: - Boa! – O cumprimenta - Estás aprendendo

Agatha e Gabriela ficam tentando entender a piada.

Dustin: - Vocês não entenderam?

Adam: - Deixa, Dustin! Eu entendi e achei bacana!

Dustin: - Eu sei! Mas eu queria que elas entendessem também.

Adam: - Pior que fazer uma piada ruim é ter que explicar ela.

Dustin: - Mas você acabou de dizer que era uma baita piada.

Adam: - Eu minto, Dustin. Muito por sinal!

Dustin: - Tanto faz! Você mijou nas calças!

 

Epílogo

Adam chega ao quarto e Agatha o espera com uma camisola.

Agatha: - E aí, meu gatão? Gostou da sua presa?

Adam: - Ah... Entendi! Você quer “sex animous!”

Agatha: - Você adivinhou meu pensamento.

Adam: - E você, a da minha parte de baixo. – Adam vai até a cama e a beija.

Adam: - Espera um pouco. E o bebê? A gente pode machucá-lo!

Agatha: - Sério que você ainda acha que consegue pinicar seu troço nele?

Adam: - Não! Eu já desencalhei disso. Mas não podemos forçar muito, né?

Agatha: - Estou grávida não faz nem um mês e...

Adam: - Ok! Mas só pra garantir, vamos com calma, ta?

Agatha: - Foi isso que o cara me falou na minha primeira vez.

Adam e Agatha vão para baixo das cobertas até que é escutado um barulho.

Adam: - Oh, shit!

Agatha: - Adam! Você peidou?

Adam: - Pior! Acho que ca…

Agatha: - Não complete, por favor. Mas que cheiro ruim! O que você comeu?

Adam: - A “gororeba” da Gabriela. Você não comeu?

Agatha: - Não. Não tive coragem. (pequena pausa) Mas o que tinha naquela coisa que ela fez?

Adam: - Não sei! Parecia ser uma mistura de feijoada com batata assada e polenta. Uma legítima “gororeba.” Isso estragou o clima, né?

Agatha: - Bastante...

Adam: - Ok! Vamos fazer assim: Eu pego a arma e você uma sacola.

Agatha: - Pra que?

Adam: - Vamos fazer a Gabriela comer a “gororeba” dela e apontar uma arma pra ela comer e a sacola é pra quando ela vomitar.

Adam e Agatha deitam frustrados.

Agatha: - O ar ainda está ruim.

Adam: - Sabonete com cheiro de lavanda?

Agatha: - Pode ser!

Adam: - E depois “sex animous?”

Agatha: - “Yeah!”

Adam corre, mas bate numa das pernas da cama e cai no chão.

Agatha: - Adam! Você está bem!

Adam: - Não! Bati meu joelho de novo! Ai! (pequena pausa) E acho que mijei nas calças de novo também.

Fim do Epílogo