Cavaleiro De Cristal escrita por LBeyond


Capítulo 7
Nigthmare and Coma


Notas iniciais do capítulo

Bem! Eu sei! Que esse capitulo demorou muito...
Onegai! Me desculpem!
Espero que não tenham se esquecido de mim...
Esse capitulo é bem especial pra mim, primeiro porque... Saiu completamente diferente do roteiro original! E é tudo muito novo para todos.
Então espero que gostem...



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Os dias haviam se tornados silenciosos desde aquele sábado, quando Líli ficou muda ao telefone e não quis mais saber do videogame.

A jovem desligou o telefone e saiu da sala em direção ao corredor onde chorou silenciosamente. Joshua não ousou a perguntar o que havia acontecido, já sabia a resposta: Dustin morreu.

Não deixava de se sentir aliviado por algo, mas ao mesmo tempo o aperto no coração do garoto se tornou enorme.

Esperou em silêncio a chegada de seus pais. Agora seriam somente eles três.

Então por que ele não tinha um bom pressentimento disso?

O casal chegou ao apartamento, a Sra. Clarent apoiada pelo marido ainda chorando baixo, e ele com marcas nos olhos gritando para o mundo que havia chorado muito pelo filho morto.

Líli foi receber o casal, com terríveis olheiras e a maquiagem borrada, não por que tivesse chorado muito, mas porque qualquer pequeno choro para a tia a deixada naquele estado. Dentre tantas coisas que Líli poderia dizer naquele momento para o tristonho casal, ele disse a mais sabia de todas: Nada!

Fez um cumprimento silencioso e saiu do apartamento.

A mãe do jovem morto ainda chorava e o seu marido se controlava para confortar a esposa. Joshua se sentiu com um peso no coração, deveria dizer alguma coisa? Achava que sim.

Se levantou em direção ao casal choroso e disse em um sussurro quase imperceptível:

- Sinto muito...

- Sente muito! Sente muito! – gritou a mulher descontrolada – Você matou o seu irmão! Seu assassino! – a mulher irada deu-lhe um tapa tão forte que foi parar no chão da sala.

Arrependeu-se profundamente de ter tentado consolá-la. Levou a mão enfaixada ao rosto sentindo a quentura no lado atingido, tinha certeza de que estava vermelho.

- Assassino! – gritava a mulher descontrolada em prantos.

- Calma querida! Por favor controle-se! – dizia o esposo a ponto de chorar segurando os braços da esposa por trás para impedi-la de agredir o menor novamente.

- Me controlar? – disse ela se livrando dos braços do marido e se virando para encará-lo – Me controlar? – repetiu – Como quer que eu me controle... – disse calmamente – Se estivemos criando um assassino dentro de nossa própria casa... Esse tempo todo!!! – gritou novamente.

Joshua se sentia magoado, e humilhado. Sua própria mãe proferia aquelas palavras a seu respeito. As lagrimas transbordavam de seus olhos e escoria pelo seu rosto tingido de vermelho, seu rosto ainda ardia onde ela o avia espancado e onde sua mão ainda estava pousada.

- Eu não sou um assassino! – gritou ainda do chão reunindo toda a sua coragem para enfrentá-los – Eu não sou um assassino... – repetiu baixinho para si mesmo como se quisesse se convencer disso.

Levantou-se do chão tombando para manter-se em pé.

- Como não? – disse agressiva ao menino que se levantava – Como não é um assassino! – gritou – Você matou o amigo de Dustin! E o seu próprio irmão!!! – gritou ainda mais agressiva.

- Fiz isso pra proteger Micha! – gritou Joshua de volta.

- Fez isso para proteger Micha? Fez isso por Micha? – disse incrédula – E cadê ela agora? – esperou pela resposta do menino que não disse nada – Em Joshua? Cadê a Micha agora? – sem respostas – Em Joshua? Cadê ela? Cadê a Micha? – gritou descontrolada – Cadê ela? Você a matou! Seu assassino! Você a matou assim como matou seu irmão e o amigo dele! Seu assassino!

Ela continuou dizendo palavras agressivas enquanto o marido tentava segurá-la, não conseguindo, ela acabou por espancar o menino com tapas violentos novamente, fazendo o menino cair ao chão de novo. A mulher tentava desesperadamente acertar o menino a qualquer custo. O marido a segurava pelas costas tentando contê-la.

- Eu não matei Micha! – o grito do menino ecoou na sala, ele havia se levantado do chão, estava em pé de cabeça erguida o rosto molhado e tingido de vermelho. O cômodo ficou em silêncio. Joshua abaixou a cabeça e saiu correndo em direção ao seu quarto.

- Joshua, filho espera! – disse o Sr. Clarent largou a esposa e foi atrás do filho, quando estava alcançando-o ele entrou no quarto, bateu a porta e se trancou lá – Filho, por favor vamos conversar. Sua mãe não queria dizer isso e...

- Ela não é minha mãe! Vocês não são meus pais! – gritou com a voz embargada do outro lado da porta.

O silêncio se tornou predominante. Quebrado com um sussurro baixo do Sr. Clarent.

- Mas você ainda é meu filho... Boa noite filho... – foi um sussurro baixo e triste, mas o menino pode ouvir claramente o que ele disse.

Tomado pela tristeza e ainda em prantos, o menino escorregou de costas pela porta e sentou no chão chorando. Com certeza não teria uma boa noite de sono.

Foi até o banheiro de seu quarto e tomou um banho demorado, demorado o suficiente para lavar suas mágoas. Vestiu seu pijama de caveira que a tia lhe deu de presente e deitou na cama, logo dormiu sendo embalado pela mágoa, e sonhou terríveis pesadelos: ele matando Micha de diversas formas e escondendo seu corpo em algum lugar da floresta.

Era já o quinto pesadelo seguido que tivera sem acordar, quatro pesadelos de matar Micha de quatro formas diferentes. Nesse pesadelo estava enterrando Micha desacordada e ainda viva em um buraco que havia aberto atras da casa onde eles tinham ido naquele dia. Sentiu-se enterrando parte dele mesmo naquele buraco, fechou os olhos jogando mais uma pá de terra no buraco, sentiu algo úmido sendo atirado em seu rosto, mas quando abriu os olhos novamente era ele que estava sendo enterrado vivo, seu corpo estava dolorido, tentou olhar para quem o enterrava, mas a luz do pôr do sol branco dentro do céu cinza, o impedia de ver algo alem de uma silhueta negra que jogava terra dentro do buraco onde estava.

Seu corpo todo doía, sua voz saia sem sua permissão em protesto de dor, olhou para sua perna que mais doía, se arrependeu disso quando viu uma enorme fratura exposta terrivelmente feia na perna esquerda, fechou os olhos com força, ver aquilo parecia só acentuar a dor, olhou novamente para ver o estado real da perna, estava coma tíbia fraturada ao meio, o osso bem exposto por estar usando uma bermuda, a carne exposta pingava um sangue vermelho escuro.

Arqueou que dor, a dor era tanta que já podia sentir sua vista ficando embaçada pela perda de sangue. Baixou a vista novamente para ver quanto sangue tinha perdido. Resposta: Muito, mordeu os lábios a ponto de sangrarem para reprimir o grito de dor.

Mas uma coisa lhe chamou a atenção, apesar de nunca ter visto um osso humano fraturado, mas ele tinha certeza que ossos não eram azuis, muito menos transparentes feito cristais. Mas a dor lhe corrompia o pensamento já não sabia mais o que via. Só sabia que sentia dor, muita dor.

Um risinho feminino lhe interrompeu os pensamentos. Olhou para cima a pessoa que lhe enterrava havia parado de jogar terra e estava parada com a pá fincada na terra admirando o menino se contorcer de dor no fundo do buraco. Um outro vulto chegou perto do primeiro, um ruído agonizante chegou aos ouvidos do menino, o impedindo de ouvir qualquer outra coisa, a dor era intensa, sentiu o líquido quente escorrer pelos ouvidos, os tapou com as mão desesperado, gritando de dor.

O sol se pôs, sua visão ficou turva e depois voltou ao normal, e pela primeira vez pode ver aqueles que lhe olhavam do topo do buraco. Um homem estranho de feições arrogantes e com um sorriso de má índole, rosto marcado por cicatrizes e um enorme dividia seu rosto bem ao meio, metade de seu rosto era morena quase negra e a outra era branca feito a luz, o cabelo do lado esquerdo era loiro e o outro lado era preto, cada lado era penteado de maneira diferente, usava vestes negras remendadas com costuras bem linha branca com duas faixas  vermelhas cruzadas, e no ponto de intersecção elas pareciam estar costuradas ao corpo dele na altura do estômago, no meio tinha um zíper com um pequeno símbolo em azul.

E a primeira era uma garota de curvas acentuadas, cabelo liso e negro, uma franja reta curta caia sobre as sobrancelhas desenhadas da mascara que usava, os lábios finos e vermelhos da fria e gélida mascara mostravam um sorrisinho arrogante de vitoria. Logo a reconheceu com a garota da mascara de seus sonhos, mas porque ela parecia estar tão contente em enterrá-lo se naquela noite, naquele sonho, se parecia tão envolvida emocionalmente com o menino?

O ruído ainda gritava a plenos pulmões, fazendo com que o sangramento dos ouvidos de Joshua já encharcasse suas mãos, e de repente eles pararam de falar um com o outro e o barulho cessou. O homem se virou e saiu caminhando, ela relutou em segui-lo, pode se ver um olhar meio... triste por debaixo da sombra daquela mascara, ela se afastou do buraco. Joshua tentou gritar para que ela não se afastasse, sabia em seu intimo que se ela se fosse ele não mais existiria, quando ele desapareceu de sua vista, sentiu uma dormência, já não conseguia gritar nem de dor nem de desespero, sua vida estava se esvaindo de si, sua visão escureceu e solo começou a tremer, e a terra deslizou para dentro do buraco e Joshua se acordou num espanto, sentou na cama ofegante, suado, com o coração acelerado, sentiu algo escorrendo no ouvido, tocou o liquido com os dedos era... Sangue.

Seus ouvidos sangravam, olhou para o travesseiro em que sua cabeça a pouco descansava, estava com uma enorme mancha rubra em seu centro, a cama estava imunda de terra e respingada de sangue, uma mancha de sangue também manchava a colcha que o recobria na altura de sua perna esquerda.

No susto puxou o lençol sujando o chão de terra, enrolou desesperado a calça moletom do pijama que usava, também sujo de sangue, e ficou intrigado com o que viu: uma enorme cicatriz na perna, mas não uma cicatriz qualquer, era como se ela já estivesse lá há muito tempo, a pele mais rosada e sensível ainda estava um pouco inchada e dolorida, como aquele sonho tivesse sido real e a perna houvesse acabado de se currar.

Perguntas pairavam na sua cabeça: fora real ou não? Se sim, como? Se não, o que era aquela recente cicatriz? E a terra de onde tinha vindo? Quem era aquela garota mascarada de seus sonhos? E quem seria aquela nova figura que lhe inspirava medo?

A dor fora tão real, seu corpo ainda protestava dolorido, e seus ouvidos ainda pingavam sangue. Mas isso era o que menos lhe preocupava no momento. Perturbado, cansado e ainda ofegante, seus pensamentos estavam emaranhados, desorganizados e bagunçados. Nada se encaixava naquele momento.

Correu para o banheiro, e tirou as roupas sujas jogando-as em qualquer canto do cômodo. Tudo que queria naquele momento era se limar daquilo de corpo e alma.

Saiu do banho, se enxugou, enfaixou as mãos e a testa novamente, selecionou uma de suas novas roupas: uma camiseta preta de Elfen Lied, um casaco cinza com desenhos em preto do Assassin’s Creed, uma calça jeans preta, um cinto com correntes escolhido pela tia – assim como o resto da roupa -, um tênis adidas preto com detalhes brancos, as luvas pretas de couro e uma bandana preta para esconder as faixas.

Depois de se vestir, pegou sua nova mochila preta com desenhos de  caveiras, pôs dentro tudo o que achou que ia precisar: seus cadernos de escola, seu estojo, seu livro da escola, o livro que estava lendo antes das férias e que não teve a oportunidade de terminar, uma lanterna, uma blusa limpa, uma embalagem de novas faixas para trocá-las, sua carteira, dinheiro e as chaves de casa.

Feitas as malas saiu de casa sem falar com ninguém e se dirigiu a pé até a escola. Era uma e meia da manha, Joshua se dispôs a andar a enorme distância de seu prédio a escola para organizar as ideias. A viagem foi tranquila, e ele chegou a escola as seis da manha sem nenhuma interrupção, mas também sem nenhuma resposta para as perguntas que se fazia mentalmente. Sentou de costas para o muro da escola, ao lado do portão e lá adormeceu...

...

- Joshua...? – uma voz feminina lhe chamou na escuridão, olhou em volta a procura da dona da tal voz.

– Joshua...? – ela cantarolava seu nome em meio ao nada, nada se via, nada se ouvia, nada alem da voz a lhe chamar baixinho e que por mais que olhasse em volta e apalpasse o nada na escuridão não a achava.

– Joshua..? Joshua...? Joshua...?

A voz foi ficando mais perto, ela lhe chamava cada vez mais rápido, mais alto, e mais e mais e mais. E outras começaram a chamá-lo, e num instante várias vozes lhe chamavam ao mesmo tempo, uma multidão, como uma população inteira. Uns chamavam-no baixinho e cantarolado, outras em bom-tom e suplicando, outras o chamavam desesperadas. Mulheres e homens, garotos e garotas, meninos e meninas, jovens e velhos, adultos e crianças o chamavam, gritos e choros podiam ser ouvidos, o medo e o desespero inundavam o nada, a morte era presente em meio à escuridão, mas não se via nem se tocava nada disso, Isso fazia o desespero do menino que se virava para todos os lugares tentando enxergar algo na escuridão, no nada tentava enxergar algo que não estava ali.

Desesperado, se jogou ao chão, as mãos agarravam a cabeça, tentando tirar aquelas vozes de dentro da sua mente, os olhos arregalados, pupilas contraídas, desespero estampado em sua face, presente em cada gesto do seu corpo, desespero invadindo a alma do menino, que não podia nem vê-los nem tocá-los, então como poderia ajudar vozes tão desesperadas?

De repente em meio à multidão de vozes uma se ressaltou, a voz de uma garotinha o chamava alegremente, rindo e gargalhando, uma voz divertida que passava tranquilidade. Ao ouvir aquela voz, era como se todas as outras fossem sumindo gradualmente, só a voz daquela garota lhe interessava agora, parecia tão alegre, tão... feliz, ela o chamava como uma irmã menor chama o irmão mais velho para brincar. Era como se o nada da escuridão tivesse tomado uma coloração azul, em poucos momentos seu mundo escuro tinha-se tornado azul.

A menina começou a chamar Joshua cada vez mais rápido, estava ficando mais perto, a sensação que tinha é que ela chegaria a qualquer momento, correndo para os seus braços, alegre e sorridente, feliz, como uma irmãzinha menor. Era fato, já podia até ver um pequeno vulto, que foi tomando forma quanto mais se aproximava, o vulto tinha a forma uma menina pequena de longos cabelos que carregava algo flutuante parecido comum balão de aniversário.

Mas a voz da garotinha, à medida que ia se aproximando ia ficando assustada, como se algo a estivesse assombrando, uma expressão de interrogação se formou na face do garoto, logo a voz da pequena tornou-se mais necessitada e desesperada e como se o começo do desespero dela fizesse todas as outras vozes voltarem quanto mais o vulto da menina se aproximava, correndo desesperada e já sem o balão que antes segurava.

O seu mundo de nada antes escuro que se tornara azul estava sendo mancado por uma cor escura horrível de se dizer, o lindo nada azul cristal se deteriorava naquela cor se assemelhando a uma carne apodrecendo ou uma papel queimando lentamente, o cheiro de vazio de antes tinha sido substituído por um forte cheiro de morte e putrefação, as vozes estavam mais rápidas que antes, e mais fortes, entretanto a voz da pequena ainda se destacava entre todas as outras não por ser a mais bela – o que isso com certeza era –, mas por que dentre todas era a mais necessitada e desesperada.

Gritava o nome de Joshua em socorro, ele queria correr e ajudá-la, ajudá-la mais do que qualquer outra voz, mas seu corpo não respondia, estava paralisado, sua alma estava repleta de medo, um medo como uma fobia e sem origem. De repente, a voz da menina gritou seu nome num grito alto e agudo, a última silaba de seu nome ainda era pronunciada no grito longo e demorado da menina, tudo ficou manchado com aquela cor. Cor amaldiçoada que perseguia o pobre rapaz, agora seu mundo era daquela cor: Vermelho Sangue...

-Joshua! – a voz familiar de uma garota lhe chamou, se misturando um pouco com o grito da garotinha que ainda ecoava em sua mente - Joshua! – repetiu ela – Joshua! Acorda!

Abriu os olhos, espantado e se deparou com a figura de Shelly, abaixada na sua frente com um olhar preocupado.

- Shelly? – perguntou – Que horas são? Ai! – disse se levantando em um salto, mas logo sentindo seu corpo protestar por ter dormido em posição tão desconfortável.

- Calma, não se preocupa. São sete e meia. – ela olhou no relógio – Sete e trinta e cinco. – se corrigiu.

Shelly ficou observando o menino se espertar, e a curiosidade lhe tomou conta:

- O que você faz na escola tão cedo? Tipo, você sempre chegava quase na hora da aula...

- Cheguei aqui ainda de madrugada, sentei aqui e acho que peguei no sono.

- Por que você veio pra cá de madrugada? – ele não à respondeu apenas deu de ombros e se abaixou para amarar o seu cadarço e pegar sua mochila do chão – Mas você parecia perturbado dormindo, estava tenso... Estava sonhando com o que?

Ele apenas se levantou com a mochila no ombro e olhando para o nada dentro da escola disse misterioso:

- Fantasmas... fantasmas que me perseguem... – e pôs-se a andar para dentro da escola, ele se virou e viu que Shelly não o acompanhava – Você vem?

- Vou, claro. – disse se apresando para chegar perto dele, e ficou parada o encarando de perto.

- O que foi? – disse Joshua intrigado.

- Você... está estranho, quer disser, diferente do que era.

Ele olhou em volta vendo se não havia ninguém por perto, confirmado que estavam sozinhos, puxou Shelly pelo braço sutilmente e a puxou para o corredor deserto da escola, largando sua mochila no chão.

- Joshua o que fo... – ela se calou quando ele a segurou pela nuca e colou suas testas e fechou os olhos.

Shelly deixou o fichário que segurava cair no chão ao seu lado. Joshua pôs sua mão coberta pela luva no ombro de Shelly, escorregando pelo seu braço carinhosamente para segurar em sua mão.

- Joshua... – disse num sussurro. Seus rostos estavam próximos de mais, a menina, com a face vermelha, podia sentir a respiração calma do garoto – Sua testa... – começou a menina – ainda está machucada?

Ele fez que sim.

– Ainda dói?

Fez que sim novamente.

- Joshua eu... – ela se calou.

O rosto Joshua estava cada vez mais próximo do de Shelly, os olhos ainda fechados, com um suspiro quase mudo a menina também fechou os olhos e esperou ansiosa pelo que iria vir: um beijo.

Já podia-se imaginar, ele começaria calmo e apaixonado, tão carinhoso e terno quanto da última vez, seria....

- Sua mãe disse para você ficar longe do garoto assassino. – disse uma voz rude, assustando os dois apaixonados fazendo-os separarem-se rapidamente.

- Coil... – disse Shelly quase num sussurro.

Joshua a olhou com uma expressão de interrogação perguntando silenciosamente quem era aquele garoto corpulento, de cabelo castanho rente, e de feições rudes.

- Parece que ainda não fomos apresentados... – disse Joshua vazio.

- Esse é Coil, meu primo... – disse Shelly sem graça.

- Vem Sheillany! Fica longe desse assassino! – disse puxando ela pelo braço com força.

- Ai. Me larga ta me machucando. Para. Para com isso. – reclamava Shelly tentando se soltar do primo que a arrastava para longe de Joshua.

- Se você ficasse longe do assassino você não estaria se machucando eu só estou tentando evitar que você seja a próxima na mesa do necrotério.

- O Joshua não é assassino. Ele é meu amigo. – dizia firme para Coil.

- Agora você sai beijando em todos os seus amigos. E ainda por cima está ficando oferecida.

- Como se você me deixasse ter algum amigo. E eu não sou oferecida! Por acaso você viu algum beijo, hein? Não né! Você não tem nenhum direito de falar algo sobre mim ou sobre o Joshua!

- Esse assassino estava-te agarrando! Com certeza tinha um canivete no bolso pronto pra te esfaquear!

- Para de me chamar assim! Eu matei pra defender a minha irmã. – disse Joshua em um tom agressivo.

- E cadê ela agora? – Coil provocou ele largando Shelly de lado, Joshua não respondeu apenas abaixou a cabeça – Como eu suspeitava. Você também deu fim nela. Ta vendo Shelly ele é um assassino.

- Joshua... – lamentou Shelly vendo que uma lagrima escorreu pelo rosto dele. Enquanto isso Joshua pensava: “Eu não dei fim na minha irmã. Eu não matei a Micha” – Joshua...? – repetiu vendo que a mão de Joshua se contorcia de raiva – Joshua...?

- Eu não matei a minha irmã! – disse Joshua partindo par cima de Coil agressivo.

Joshua jogou Coil no chão se pôs em cima dele e o socou com todo o ódio e raiva que sentia naquele momento. E continuou socando-o. Parecia que sua raiva estava toda sendo descontada naquele garoto que um dia lhe perturbou tanto.

Sim! Coil era um dos valentões que batia em Joshua. Como Newton disse: Tudo que vai volta. Bem talvez não nessas palavras, mas foi quase isso que ele quis disser com o Principio da Ação e Reação. Talvez essa lei realmente não se aplicasse muito a esse caso, porque segundo Newton ação e reação tem a mesma intensidade, já isso... Estava passando dos limites...

...

Joshua estava sentado na sala da diretora, aguardando a mesma chegar para falar com ele. Naqueles minutos de espera silenciosos aquelas palavras de poucos minutos ecoaram em sua mente.

“Joshua não. Por mim.” ela disse.

Essas palavras lhe despertaram sentimentos de vergonha, a culpa pesava na consciência

“Joshua, não. Por mim. – Joshua ficou com a mão parada no ar por um momento, pensando e depois saiu de cima de Coil e foi embora, sem falar nada, somente o som de Coil cuspindo sangue quebrava aquele macabro silencio.

- Joshua calma, eu só... – tentou se justificar enquanto ele pegava sua mochila do chão. Mas justificar o que? Pra que?

- Por favor, Shelly. Me deixa pensar um pouco, e organizar as ideias. – disse Joshua interrompendo Shelly que tentava falar com ele.

- Tudo bem.”

E agora, ali estava ele, sentado esperando a diretora.

Que vergonha Joshua!, pensou ele, Porque dar pinote essa hora? Pra que esse acesso de raiva? Ela deve estar pensando que você é um louco, ou melhor, que ficou louco. Talvez você seja mesmo o que Coil falou... Um Assassino! Não, não Joshua! Afaste esses pensamentos! Eles estão errados. Todos estão! Você não matou Micha, matou para proteger ela! Alem de tudo é Micha sua irmã querida que você ama tanto. Mas e se...

- Joshua Clarent! – a voz da diretora o chamou raivosa – Entre aqui!

O garoto se apresou a tirar sua mochila do chão pendurando-a em um só ombro, entrou na sala, a diretora entrou em seguida fechando a porta. Ela indicou para que o garoto se sentasse em uma das duas cadeiras enfrente a sua.

- Sente-se Joshua. – disse a Diretora Amanda – Olha Joshua ouve uma queixa de que você bateu em um aluno. Isso é verdade?

- Sim. – respondeu Joshua rígido e frio.

- Porque você fez isso Joshua? Você sempre foi um menino tão comportado. O que ouve?

- Ele ficava me chamando de assassino, eu perdi o controle. Ele disse que eu matei a minha irmã.

- Isso tem algo haver com o ocorrido de alguns dias atrás?

- Sim. Mas eu fui declarado inocente, foi para defender a minha irmã! – ficou um ar pesado no cômodo.

- E o seu irmão? Ainda está em coma? – disse a Diretora tentando tirar aquele ar pesado do lugar desviando a atenção da conversa.

- Ele morreu! – disse ainda mais frio. É, não deu muito certo sua tentativa diretora. Isso só deixou o ar da conversa mais pesado ainda.

- Eu... eh... Sinto muito. Meu pêsames. Você... deve estar muito triste pela morte do seu irmão.

- Não! Não sinta. Eu não sinto!

- E-e a sua irmã como está?

- Desaparecida!

Ficou um silencio tenebroso e assustador, no rosto da Diretora tinha uma expressão quase de medo.

- Quantos dias de suspensão? – disse quebrando aquele clima.

- Dez dias. – disse voltando a si de seu transe de medo.

Joshua pegou sua mochila  e saiu da sala.

- O coitadinho. – disse a diretora quando ela saiu - Deve está sofrendo muito. – ela achava que esse jeito de agir diferente do de antes era por causa da dor que ele sentia.

Só que Joshua a ouviu...

- A senhora nem faz idéia. – disse atravessando o corredor.

Joshua entrou no corredor principal que dava acesso à todas as salas, atravessava ele justamente quando o primeiro sinal tocou e todos os alunos saíram das salas, entre ele e Shelly.

Joshua passava em meio a multidão de cabisbaixo, ninguém percebia sua presença, ele parecia invisível, todos o ignoravam. Mas Shelly o procurava em meio à multidão. Quando o avistou chamou pelo seu nome, mas ele desapareceu num piscar de olhos.

Joshua saiu pelo portão da frente do colégio que, naquele momento, não tinha ninguém. E saiu andando pela rua, sem pressa. Não podia voltar para casa e dizer simplesmente que fora suspenso antes mesmo de assistir a uma aula, ainda mais com esse clima tenso.

Não! Definitivamente não podia ir para casa. Só tinha um lugar para que poderia ir...

Tlim Tlim fez a porta do estabelecimento quando Joshua a abriu. Não havia muito tempo que tinha estado lá, mas tudo parecia estar tão diferente. Continuava estranha aos olhos não atentos e belo aos olhos dos admiradores, mas ainda tinha aquela magia que intrigava Joshua.

Uma barulho veio do segundo andar, um barulho familiar, todos os seus sentidos se apuraram e gritaram: “Não olhe! Não olhe!”, mas a curiosidade o venceu novamente, aquilo tudo parecia um grande e forte Dejavu de outrora, e ele olhou.

Seu olhar foi subindo em direção ao segundo andar, onde ele já sabia o que lhe aguardava, sentiu aquele calafrio repentino e um vento percorrer a sua espinha, sentiu-se observado. Não havia nada para causar aquele vento repentino, nem janelas aberta, nem porta, nem nada, como da outra vez.

Seu olhar alcançou o segundo andar dando de encontro com aquele par de olhos arregalados em um tom brilhante azul cristal lhe encarando fixamente, um corpo pálido se escondia por detrás da parede branca, deixando apenas revelar uma mão incrivelmente branca (a ponto de se confundir com a parede) que pousava ao lado do rosto pálido, suas unhas pintadas de branco fincavam na parede, esfarelando a tinta branca. Ele estava encoberto pelas sombras exceto por um pequeno feixe de luz que iluminava uma pequena parte de seu rosto pálido e iluminava seu cabelo branco.

Ele!

Mas dessa vez não lhe causou a mesma reação que da outra vez, desta vez ele já estava preparado, por parte, foi lá só para vê-lo, encará-lo, confrontá-lo.

Ficaram se encarando por um longo tempo, até que ele começasse a recuar, recuar, recuar, até que quando estava quase sumindo da vista de Joshua ouviu ele esbarrando em alguém.

- Oi maninho! – disse Raffs. Cristiano olhou para ele e para o andar de baixo – O que foi? Tem alguém ai, é?

- Oi Raffs! – gritou Joshua.

- Joshua! Oi! Salve, salve! – disse se inclinado no guarda-corpo do andar – A que devo a honra de sua visita, cadê sua tia? E... pera, cê não devia estar em aula? – disse confuso.

- É sobre isso que eu vim falar, posso?

- Claro. E vejo que as roupas lhe caíram muito bem! – disse descendo pelo buraco. Raffs estava diferente, o alto moicano colorido deu lugar a um caído moicano preto e seus olhos estavam castanhos? Ele usava um boné cinza, uma blusa de mangas compridas e uma calça jeans de fundo baixo e um tênis preto. Deveria eu ignorar o estranho fato dele estar usando uma mascara preta parecida com essas do hospital só que de tecido? Acho que não...

- Obrigado. – disse Joshua modesto.

- Há, que isso Joshua-san. Todo cheio de modéstia!

- É o meu jeito.

- Então... comece a falar rapazinho! – disse fazendo posse de pai bravo, ele até engrossou a voz para isso.

- Eu fui suspenso. E queria que a tia Líli viesse-me buscar porque eu não quero ir pra casa.

- Tudo bem, eu já passei por isso de ser suspenso.

- Foi? – disse Joshua surpreso – Mas, pelo que foi?

- Eu tentei fazer uma rebelião no colégio... e me dei mal! E ai, eu, Líli...

- Tia Líli também?!? – perguntou Joshua ainda mais surpreso. Líli havia já lhe contado muitas coisas da sua adolescência, mas nenhuma delas sobre uma suspensão.

- É. Éramos nos dois e mais sete amigos lutando por algo na escola.

- Algo? – perguntou confuso.

- É! Eu não me lembro o que era, mas era algo importante... – Raffs ficou um tempo olhando para o nada, talvez tentando lembrar o que era o tal algo, mas parece que não conseguiu – É não vou lembrar. – admitiu a derrota desistindo. – Enfim, fomos suspensos, meus pais apoiaram a minha iniciativa e a sua mãe dedurou Líli para os pais e ela ficou de castigo.

- Pelo visto elas já não tinham um bom relacionamento desde ai.

- É, elas sempre foram opostas. Líli era liberal, e sua mãe rígida; ela rebelde e a outra certinha; ela... bem, opostas. – disse quando pareceu perder adjetivos contrários para classificar as duas.

Ficaram um tempo em silêncio, Joshua esperando Raffs ligar para Líli enquanto o mesmo parecia estar perdido nos próprios pensamentos, e como um estado despertou.

- Ah é! Eu tenho que ligar par Líli, né? Que cabeça a minha. Sobe ai! – disse pondo o pé no primeiro degrau de uma escada de cordas, que Joshua nunca havia notado antes, e subindo velozmente.

Joshua o seguiu, chegando no segundo andar, ele olhou o estranho lugar que tanto despertava sua curiosidade. À frente, logo que se subia via a parede branca na qual tinha uma porta preta, ali deveria ser o escritório. Ao fundo uma parede com cartazes de tudo quanto é tipo, desde musicais e bandas de rock até cartazes de protestos inclusive um de Hitler – não que Raffs fosse nazista, é claro, pois isso ele não era. Seguindo a parede branca dobrando a direita via-se um cenário de uma sala de estar conjugada com uma cozinha americana, com designe moderno e sofisticado parecida com a sua, porta-retratos de Raffs com a familia, com os pais, com o irmão, com os amigos e com Líli. Era uma casa quase normal, claro se não fosse pelas peculiaridades, ao contrário não seria a casa de Raffs.

- Vem Joshua não se acanhe, su casa és mi casa! – ele fez uma reverencia curvada, Joshua o fitou confuso por aquela frase - Ou seria ao contrario...? – disse fazendo cara de confuso com as suas palhaçadas de sempre, fazendo Joshua rir das maluquices dele – Anyway, não se incomode e pode ir entrando! Vou ligar pra sua tia. – anunciou e sumiu da vista de Joshua.

Joshua começou a olhar os porta-retratos, Havia varias fotos de Raffs sozinho, na época de escola quando ainda era aparentemente “normal”, e outras dele se modificando ao longo do tempo até chegar nas fotos que ele estava tocando em um show com a sua banda da qual Joshua desconhecia.

Andando em direção ao centro da sala tinha um enorme tapete marrom e três sofás da mesma cor, que fazia um belo contraste com o piso branco e preto. Havia uma mesinha ao lado do sofá de três lugares, em cima dela havia um groso livro que na capa estava escrito “100 teorias do universo”, um livro que Joshua particularmente achava interessante e bom, apesar da maioria achar uma leitura complicada. Ao lado do livro havia uns óculos de grau com aro preto, semelhante ao que Joshua usava, só que com um grau mais leve.

E ao lado de tudo isso havia um porta-retrato diferente de todos os outros, Joshua ficou curioso todos eram tão simples, por que esse teria que ser diferente? Pegou o objeto em suas mãos e admirou a foto; era uma foto de Líli e um rapaz ao qual o reconheceu como sendo Raffs, sua tia estava igual como sempre esteve, mas ele estava diferente, usava roupas certinhas cabelo em tons comuns e arrumadinho e os óculos que se encontrava em cima da mesinha. Raffs estava com um olhar tímido e envergonhado, quando Líli estava despojada do jeito que sempre foi, os dois estavam de mãos dadas pareciam um lindo casal de namorados... não pera!

Joshua pensou na possibilidade de um dia Raffs e Líli tivessem sido um lindo e fofo casal perfeitinho, mas seu pensamento foi brutalmente interrompido quando viu um ser estranho de escamas em tons frios, olhando fixamente para ele em cima da mesa.

A bizarrice tava demorando para aparecer!

Tinha uma iguana em cima da mesinha! E para completar ela tinha uma dupla pálpebra que fechavam na horizontal e vertical, respectivamente.

Ela encara Joshua tombando a cabeça de um lado para o outro como se o analisasse, foi se aproximando de Joshua e mordeu seu dedo, roubando-lhe o anel que usava, e saiu em disparada pela casa.

- Hei! – exclamou, Joshua colocou o porta-retratos no lugar e saiu correndo para pegar a iguana ladra.

Ela correu desengonçada pela casa entrando nos corredores e saindo em outros até que entrou em um quarto, Joshua entrou em seguida, rápido o suficiente para ver-la subindo na cama daquele quarto para a mesa.

- Hei! Me devolve! – ralhou Joshua com a iguana. Mas ela só olhou para ele e andou até a ponta da mesa onde tinha um aquário redondo com um castelinho de cascalho dentro. A iguana olhou para Joshua e descaradamente jogou seu anel dentro do aquário.

O anel efervesceu e foi parar no fundo do aquário, Joshua olhou intrigado e chateado para aquilo, a iguana olhava carinhosamente para o aquário como se esperasse que de dentro saísse algo, ela apoiou a cabeça sobre as duas patas da frente e esperou. De dentro do aquário saiu um peixe-dourado diferente de todos os outros que Joshua já havia visto na vida, parecia um peixe-dourado comum, mas era branco como se fosse albino, mas os olhos eram em um cinza azulado, e tinha desenhos azuis cristal por todo o corpo e a calda parecia um véu de brilhantes.

Por um instante Joshua jurou ter ouvido a iguana suspirar pelo peixe. O peixe nadou, nadou, deu voltas no aquário e encontrou o anel de Joshua no fundo de seu território, o examinou durante um tempo e o pegou com a boca, saiu nadando e voltou para seu castelo, mas antes de entrar olhou para trás e acenou para a iguana como se agradecesse o presente. Confusão pairava sobra a cabeça de Joshua como uma nuvem.

- Ele faz isso para agradar ela! – disse um voz atrás de Joshua, a porta que estava completamente aberta foi lentamente se fechando deixando revelar atrás dela aquela figura branca de Cristiano – Ela gosta de aço e ele gosta dela. Romântico, não? – perguntou a Joshua fechando a porta deixando os dois isolados naquele cômodo. Só eles dois, a iguana e o peixe – O nome dela é Rin Cristal. – disse passando por Joshua e tocando no aquário – E esse é o Blue Exorcist. – disse fazendo um carinho debaixo do queixo da iguana, quer dizer, do Blue.

Ele ficou um longo tempo em silêncio, fazendo carinho em Blue que ronronava freneticamente – não me perguntem nada, eu só narro – Joshua não ousou dizer nada, nunca tinha ficado a sós com o estranho Cristiano. Uma figura pálida e... tão estranha... tão...

- Eles não são daqui! – disse Cristiano quebrando o silencio mortal – São como nós, não pertencem a esse lugar, mas estão aqui por que quiseram e por destino e consequência de suas escolhas. – Joshua o olhava mais confuso ainda, sobre o que ele estava falando? Mas ele não ousou perguntar. Cristiano ainda acariciava Blue, e Blue ronronava. Cristiano ficou em silêncio novamente. Mas esse já era um silêncio diferente, um silêncio com a silenciosa certeza de que o que viria depois seria marcante.

- Deixe-me ver! – exigiu Cristiano quebrando o silêncio silencioso.

- O que? – perguntou confuso, pela primeira vez ousando a voz.

- Deixe-me ver ela! – Joshua continuava confuso, Cristiano ia se aproximando de Joshua cada vez mais – Deixe-me ver ela, a marca que todos nos carregamos por que escolhemos carregar nossa cruz, a marca que decide nosso destino de viver e morrer um pelo outro!

- Que papo é esse Cris... – falou nervos, mas perdeu a voz, ele estava perto de mais, perigosamente perto, sua respiração já era rápida ao contrário da de Cristiano que era calma e serena.

- Se quiser eu mostro a minha! – disse tirando o cachecol, revelando o pescoço branco e sem nenhum sinal de veias – Pegue! – disse segurando a mão de Joshua e a levando em direção do seu pescoço.

Joshua se assustou com esse ato e recuou bruscamente e corando violentamente.

- Q-q-q-que negócio é esse!

- Cris! – ouviu-se Raffs batendo do outro lado da porta, tentando girar a maçaneta – Cris! Por que essa porta tá trancada? Cris! Cê ta me ouvindo? – mas ele nada respondeu, só abaixou a cabeça murmurando algo provavelmente xingava o irmão silenciosamente – Cris! Eu estou falando com você abre essa porta! – dizia mais serio, Joshua olhava para a porta e para Cristiano como se esperasse alguma reação dele, mas ele novamente nada fez, então Joshua resolveu abrir a porta ele mesmo - O Joshua está ai... Oi Joshua! – disse surpreso quando Joshua abriu a porta – O que você... – ia perguntar algo, mas olhou para trás de Joshua e viu Cristiano recolocando o cachecol e abotoando o penúltimo botão da camisa que usava, ainda cabisbaixo – O que vocês estavam fazendo, hein? – disse com uma cara de decepção – Você não estava fazendo nada de estranho de novo, né Cris?! – disse repreensivo.

- Não! – disse frio ao passar, cabisbaixo, esbarrando no irmão.

- Cris. Volte aqui. Cris! Cri... Ah, deixa pra lá! – disse voltando a palavra a Joshua – Então Josh, o que estava... Nossa! Você está vermelho! Tá se sentindo bem? - disse espantoso ao perceber o estado do menino.

- Não, eu estou bem. – disse envergonhado desviando o olhar para o chão.

- Sua tia chegou.

- Tá. – disse para Raffs.

Ele o seguiu até a sala, pegou sua mochila que ainda se encontrava jogada perto do sofá, e desceu até a loja onde estava Líli do seu jeito de sempre, mas com uma expressão mais preocupada.

- Joshy! O que foi que aconteceu? – disse dando um abraço sufocante no garoto.

- E-eu foi suspenso. – disse lutando contra o “estrangulamento” da tia.

- Disso eu sei. Mas porque? – disse preocupada soltando o garoto – Alguém brigou com você? Te bateram? Te machucaram? – disse revirando o menino em busca de algum machucado.

- Tia eu tô bem! – disse acalmando a tia.

- Serio mesmo? Tem certeza? – insistiu Líli.

- Tenho! Posso escolher não falar mais sobre isso?

- Tudo bem, eu respeito sua vontade. Mas mais cedo ou mais tarde vai ter que falar! – insistiu ela.

- Tá mais tarde eu falo, bem mais tarde. – Líli ficou encarando ele com um olhar de carinho materno solidário, mesmo que Joshua não fosse seu filho, ela ficava feliz em tê-lo por perto.

- Ai, ai Joshy. – disse abraçando-o com zelo e carinho, vista assim isso parecia ser um flagra de um momento mãe e filho.

Joshua não perguntou nada, só retribuiu o abraço, gostava desses momentos com a tia, se sentia amado, ficava feliz só em saber que alguém ainda se importava com ele.

- Quer ficar lá em casa durante os horários de aula pra que os seus pais não te briguem? – disse após desfazer o abraço.

Joshua sorriu, era exatamente o que ele ia pedir, então ele apenas abriu um largo sorriso e confirmou.

Durante os dias em que Joshua ficou suspenso ele passava o dia inteiro pensando, pensando e pensando, as vezes nem via o tempo passar, as vezes nem comia, as vezes se esquecia de viver, e a única coisa que o tirava da rotina de sair de casa e ir para a casa da tia até acabar o horário da aula, era Shelly. Ele fazia questão de sair mais cedo da casa da tia jogar todos os seus pensamentos pro alto para ver-la. Ia até o colégio e acompanhava-a até a casa dela, e daí se despediam e ele voltava para casa.

Joshua e Shelly estavam em uma relação indecisa: não era só amizade e também não era namoro, mas mesmo assim conversavam sobre tudo, menos no que Joshua tanto batia cabeça, parecia que ela sabia exatamente quais assuntos evitar, ela fazia-o rir, ele se sentia bem junto dela, assim como se sentia bem junto da tia, mas nada mais era igual depois que Micha sumiu.

...

Dez dias se passaram.

Por que Joshua está sozinho num quarto?

Num quarto da casa da tia.

Seu quarto na casa de Líli.

Havia poucas horas que havia se mudado para lá, mas tudo parecia tão distante.

Distante de tudo...

Joshua se culpava.

Nunca devia ter feito aquilo.

Nunca devia ter dito aquilo.

Afinal era a única pessoa que o amava, e ele a magoou.

Nunca devia ter feito aquilo,

Naquele dia do céu sangrento.

Mas o que ele fez?

Não se lembrava...

O que fazer quando não se lembra do que fez?

O que fazer?

Culpa...

Culpa tinha nisso.

Que culpa tinha nisso?

Não sabia.

Mas que tinha culpa,

Tinha sim!

Sentia o peso dela em suas costas,

Esmagando-o com o peso do mundo.

O peso da culpa.

Queria esquecer.

Queria esquecer de tudo aquilo.

Não podia.

Seria fardado a lembrar que se esqueceu.

O que um dia não lembrou,

Do que aconteceu,

Ou, até mesmo, do que nunca aconteceu.

Ia dormir.

Fazem um pedido

Repetindo-o a si mesmo:

“Eu quero esquecer.

“Eu quero de tudo isso.

“Eu quero esquecer...

“Tudo.”

O pedido sibilava entre os lábios do menino semi-consciente.

Repetiu o seu desejo até cair nas graças do sono.

Ele adormeceu porem, não mais acordou...

...

Um ano depois...

Sentado no banco de trás do carro, olhava para trás, via o hospital que acabava de sair sendo deixado para trás, trazendo consigo um alívio, um alívio de ter deixado aquelas memórias para trás, um alívio de não ter que se culpar por algo que não lembra.

Não se deve culpar por algo que não lembra, certo?

Com isso em mente, partiria para uma nova vida sem sombras do passado, mas deixando para trás uma luz, uma luz que nunca iria esquecer...


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Notas finais do capítulo

Os nomes do bichinhos do Cristiano são inspirados no anime Ao No Exorcist que em inglês é Blue Exorcist e o nome do personagem principal é Okumura Rin, daí vem a Rin Cristal.
Novamente a mãe de Joshua leva o premio de Pior Mãe Do Ano. Mas o pai está melhorando...
E me desculpem por esse final horrendo! Eu juro que explico tudo no capitulo Extra!
E vou fazer o possivel para postar ele rapido...
Por favor. Reviews!
Ja Nee~



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