Eu parti há tanto tempo... Imagino se ela ainda se lembra de mim. Seria melhor se não lembrasse, afinal, eu não posso estar com ela. Meu pai me obrigara a casar com uma estranha.

Convidei minha amada para ser capaz de vê-la uma última vez antes de afogar minha vida em infelicidade. Vê-la, linda como eu sei que ela estaria, mais deslumbrante do que antes.

                Queria poder falar com ela, sentir sua presença perto de mim. Para que ela, e simplesmente ela, me fizesse feliz uma última vez. A aura que ela emanava me acalmava, me relaxava.

Liguei para a minha irmã Utau, para acertar os últimos detalhes da cerimônia que iria me prender a uma mulher que eu não amava pelo resto da minha vida, mas quando ela atendeu, ela disse somente:

-Ikuto, não posso falar agora, a Amu... Ah meu Deus, não me diga que - E desligou.

Depois daquelas palavras, fiquei desesperado. O que havia acontecido com Amu? Ela havia se machucado? Será que... é o que eu estou pensando? Droga, Ikuto, continue positivo.

Continuei ligando para Utau, mas ela havia desligado o celular. Depois de cerca de meia hora de tentativas em vão, ela me atendeu.

-Alô? Utau? O que aconteceu?

-Ah, Ikuto - Sua voz era ao mesmo tempo, embargada, deprimida, cansada e derrotada. - Desculpe não te atender antes, mas... - Ela parecia estar escolhendo bem as palavras. Pelo menos, foi o que eu senti.

-Aconteceu algo com a Amu? - Eu a cortei, indo direto ao ponto.

-Bem houve um acidente. Ela estava olhando o seu convite e... não viu o carro - Ela começou a chorar, e continuou falando entre soluços. - Uma testemunha, à pedido dela, escreveu suas últimas palavras, e são para você: "Ikuto, não fique triste. Você não me ama, por que haveria de ficar? Me convidar para seu casamento foi muito cruel, sabia? Mas agora, eu estou morrendo, e estou realmente feliz, porque não vou mais sofrer por sua culpa. Adeus, meu amado Neko."

Desliguei a ligação, atônito. Ela sofreu tanto por minha causa. E eu achando que ela não ligaria, que tinha me esquecido. Eu sou mesmo um idiota. 

Ela também morreu por minha causa. Ela me amava, e tudo o que eu lhe dei foi sofrimento. Ela ficou feliz por morrer, só para não ter que sofrer mais por minha causa. Tudo o que me restava era ir ao seu encontro e implorar seu perdão.

                Conquistá-la novamente. Sei que será possível. E com esses pensamentos, eu peguei uma faca. Me esfaqueei repetidas vezes, e caí no chão, a vida se esvaindo de mim. E assim como minha amada, um sorriso insistia em aparecer no meu rosto enquanto minha respiração cessava para sempre.