A garota da chuva observava agora partes importantes de si caírem. Sentia que derretia, expulsando-se de si mesma. A garota que era feita de água agora desmanchava-se como que desejando a morte. Ela chorava.

Não chorava de tristeza, como havia sido apenas alguns anos atrás ao lado da mesma garota. Desta vez, o efeito que suas lágrimas causavam era feliz, tão feliz a ponto de quase matá-la. Porque ambas ainda se lembravam do que havia acontecido há tanto tempo.

Dois fins dentro de apenas uma história.

Um começo levado por dois fins opostos.

O começo de um fim, para o fim de um começo.

A mistura de negro com negro, os cabelos lisos e idênticos que se embaraçavam entre os dedos daquele que estava há sua frente.

O puro gelo que jamais derreteria ou evaporaria enquanto marcado pelo tempo que o tocava.

Assim era o efeito que as bocas causavam uma na outra.

Gray e Ultear se beijavam.

E suas duas stalkers não podiam fazer nada além de observar.

Se Juvia ou Meredy dissessem que não se lembravam daquele momento, com certeza mentiriam. Mesmo sem ajuda do Sensorial Link, Meredy sabia que Juvia sentia a mesma dor que ela. A dor de ser trocada, de ter o coração partido.

No início, elas confiaram completamente que o namoro dos dois jamais iria longe. Juvia continuava a gritar para quem quisesse ouvir que Gray ainda a amava, como sempre. Meredy era mais discreta. Sabia que não era verdade, que Ultear não olhava para ela mais do que como filha. A filha que agora ela criaria com Gray.

Mas Juvia estava errada, e restou à ambas apenas terminar o trabalho de se conformar. Agora, dois anos depois, eles ainda estavam juntos.

E com uma filha de verdade.

Mas isso já não fazia a diferença pra elas. Assim como o amor havia-as unido uma vez, a decepção fez o mesmo, fortalecendo mais do que o possível a amizade entre as duas garotas.

Chuva e ligação. Lágrimas e sensibilidade.

Soava bem, não?

As duas encaravam, com os olhos brilhantes, Smiley.

A garota era tão linda quanto a junção perfeita de seus pais já parecidos.

Imediatamente, ambas as garotas sorriram.

– Eu posso pegar ela no colo?

As grandes amigas riram e coraram ao perceber que tinham falado a mesma coisa ao mesmo tempo.

Gray e Ultear olharam um para o outro. Eles já sabiam que ambas os haviam esquecido. E o motivo. E estavam orgulhosos.

– Não vejo porque não – pronunciou Ultear, estendendo a mão em direção ao pequeno bebê. Um sorriso leve e gentil se fazia em sua face. Delicado como o toque que elas deveriam dirigir à pequena criança.

Os olhos de ambas brilharam, e ao mesmo tempo, colocaram as mãos em torno da cintura do bebê.

As mãos de Meredy estavam sobre as de Juvia.

Ambas coraram.

– P-pode ir primeiro, Meredy-sama!

– Não tem problema, Juvia?

Sem graças, ambas encaravam a pequena joia, enquanto Gray e Ultear riam.

Quem imaginaria...

No fim, ambas levantaram o bebê juntas, com a típica delicadeza que era necessária.

– Sugooooi! – ambas gritaram em harmonia, enquanto o bebê exibia um sorrisinho idêntico ao de seus pais.

Quem diria...

Quem diria, também, que o pequeno papo entre as duas grandes amigas fosse dar naquilo.

Juvia estava surpresa. Imaginava que Ultear ainda era a ídola de Meredy, pela forma como ela ainda se dirigia a ela por “-sama”, e ouvir que agora ela a via como mãe... E Smiley como irmã... A fez tão feliz a ponto de chorar.

Mas a maior surpresa cabia a Meredy.

Nesse caso, onde havia ido parar a Juvia inicial? Que gritava aos quatro cantos o amor que jamais poderia deixar de sentir? Que se jogava sobre os outros e tinha ataques?

Havia mudado para uma Juvia contida.

Insegura.

E que amava de verdade, ao invés de stalkear.

Mas todas essas explicações ficariam pra depois.

O que importava agora eram apenas as três palavras que foram trocadas entre elas.

Eu te amo.

E o beijo de ambas.

Cabelos azuis entre dedos longos, cabelos rosas entre dedos pálidos.

O link sensorial que existia entre elas unindo seus sentimentos como uma magia.

mas não a magia de Meredy.

E sim suas bocas unidas, lentamente dançando com as línguas.

A voz da inexperiência fazendo o desajeito dela se ajustar perfeitamente.

Um beijo entre lágrimas que desfaziam a mulher da chuva.

Lágrimas de felicidade.

Felicidade que Meredy fazia questão de, pela primeira vez em muito tempo, sentir.