Esperando O Fim escrita por Chiisana Hana


Capítulo 20
Capítulo XX




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

 

ESPERANDO O FIM

 

Chiisana Hana

 

 

 

Capítulo XX

 

 

21 de fevereiro de 1992

 

— Entrem, entrem – Seiya disse aos entregadores que descarregavam do caminhão o enorme piano de cauda que ele comprou. – Vai ficar ali. – O cavaleiro apontou o canto da sala perto da janela.

Depois de deixarem o instrumento no lugar indicado, os homens descarregaram outras embalagens menores. Enquanto Seiya desembrulhava e arrumava tudo, o afinador chegou para cuidar do piano. Quando finalmente tudo ficou pronto, Seiya admirou com orgulho a nova configuração da sala de estar, com o piano branco em posição de destaque.

Pouco depois, Saori voltou de sua sessão de terapia. Costumava receber a psicóloga em casa mas com isso passou a quase não sair do condomínio, então a profissional sugeriu que ela começasse a ir ao consultório. Incentivada por Seiya e Tatsumi, ela concordou.

Ao perceber o carro parando na porta, Seiya correu até lá para receber a esposa. Cumprimentou-a com um beijinho discreto.

— Como foi a sessão? – ele perguntou. – Tudo bem?

— Oi, querido. Sim, está tudo bem. A doutora perguntou por você. Não entendeu por que não foi com a gente já que você sempre faz questão de ir, mesmo que seja pra ficar lá fora com a Heiwa. Aliás, nem eu mesma entendi.

— Eu disse que precisava fazer uma coisa… – ele justificou, conduzindo-a para dentro de casa.

— Você está muito cheio de mistério… o que está aprontando?

— Você já vai ver – ele disse e abriu a porta da casa com um gesto exagerado e cômico.

Atrás deles, com Heiwa no colo, Tatsumi sorriu. Sabia do que se tratava, afinal ele mesmo deu a dica a Seiya e convenceu Saori a passar no shopping depois da terapia para que demorassem um pouco mais a voltar.

— Uau! – Saori exclamou ao ver o piano. Ao redor dele, dois violões e uma guitarra.

— Você precisa voltar a fazer as coisas que gosta – Seiya disse a ela carinhosamente.

— Eu amei, Seiya – ela disse, com os olhos cheios de lágrimas. – De verdade.

— Vamos encher essa casa de alegria! Eu também quero retomar velhos hábitos e ensinar nossa filha a gostar de música.

Só então Saori notou o pianinho infantil encostado na parede.

— Que gracinha! Ela vai adorar.

Observando a cena, Tatsumi lembrou-se de quando Saori era pequena e o senhor Kido a presenteou com um piano muito parecido com aquele. O próprio milionário ensinou os primeiros acordes e quando as habilidades da neta superaram as suas, contratou um professor. Ainda demoraria para Heiwa começar a usar o pianinho, mas seria bonito ver mãe e filha tocando juntas.

Saori sentou-se na banqueta e alongou as mãos, depois dedilhou as teclas devagar, com cautela, quase com medo do som que elas produziam.

— Hum, está afinado – ela constatou satisfeita.

— Ah, sim, o afinador veio e deixou prontinho – Seiya explicou.

A deusa fechou os olhos e tudo veio como uma onda de lembranças. O avô ensinando-lhe as primeiras notas “porque uma mocinha da alta sociedade como ela devia aprender a tocar piano”. A princípio, estudava para agradá-lo, mas depois tomou gosto e quis aprender mais porque quando tocava quase entrava em transe e esquecia toda a pressão de ser quem ela era.

“E eu ainda nem sabia direito o que viria no futuro”, ela pensou.

Ainda de olhos fechados, Saori começou a tocar a Sonata K 332 de Mozart(1), sua música favorita, buscando sentir de novo aquela leveza. Quando terminou, Seiya estava parado a seu lado, com Heiwa no colo e um olhar de pura admiração.

— Olha a mamãe tocando – ele disse para a bebê. – Não é a coisa mais linda essa mamãe pianista, Heiwa?

Saori sorriu para eles e agradeceu mentalmente por ter Seiya em sua vida. Às vezes estava bem, quase se sentia feliz, em outras surgia uma tristeza inexplicável e repentina, e ela mal conseguia sair da cama. A essa tristeza, somava-se a culpa. Aos olhos dos outros, não fazia sentido que uma garota rica, bonita, que possuía tudo que o dinheiro pode comprar e também o que ele não pode, como um marido amoroso e uma filha saudável, sentisse tristeza. Devia ser feliz. Era obrigatório ser porque as pessoas lá fora estavam sofrendo, as pessoas lutavam todos os dias para sobreviver com o mínimo. Ela não tinha o direito de se sentir triste. Mas se sentia. Por sorte ou destino, Seiya estava a seu lado. Não importava como ela acordava, ele sempre a recebia com palavras amorosas e um sorriso. Ele era quem segurava a barra com Heiwa quando ela se sentia incapaz de cuidar da filha. Ele que não a deixava desmoronar. Quanto tempo duraria essa paciência era o que ela se perguntava. Talvez ele se cansasse algum dia e ela não poderia culpá-lo.

— Eu te amo tanto, Seiya – Saori declarou e afastou-se um pouco para o lado deixando espaço para ele na banqueta.

— Eu também te amo e estarei sempre aqui para você e para a Heiwa – ele disse como se adivinhasse o pensamento dela e sentou-se. Depois de um breve silêncio, acrescentou: – Isso não vai mudar nunca, eu prometo. E você sabe que eu sou muito bom em manter promessas.

— Eu sei – ela confirmou e, torcendo para que ele continuasse assim, começou a tocar um dos noturnos de Chopin.

 

—S-A-I-N-T-S-

 

Na semana entre o Natal e o Ano Novo, Hyoga e Pandora encontraram-se todos os dias, até que ele teve de voltar para os EUA. Agora, depois de dois meses sem se verem, apenas falando por telefone, o cavaleiro russo desembarcou em Atenas e foi direto do aeroporto para o apartamento dela.

Assim que abriu a porta, Pandora foi surpreendida por um beijo urgente, ansioso e com mais sentimento do que em todas as vezes anteriores.

— Pand... nem fui em casa ainda de tanta saudade que estou sentindo – ele disse, largando no chão a mochila que carregava.

— Saudade, Hyoga? Sei. Parece mais tesão — ela provocou, tocando o evidente volume na frente da calça jeans que ele usava.

— As duas coisas – ele respondeu. — Senti as duas coisas com muita intensidade.

— Aham. Estou vendo e tocando a sua saudade. E ela está bem grande.

— É sério, Pandora. Não foi só isso. Vai dizer que não sentiu minha falta também?

— Talvez sim, talvez não – ela quis soar indiferente e fria, mas a verdade era que passou esses dois meses morrendo de saudades dele e fantasiando um futuro onde criavam Stephen juntos no condomínio Olympus, onde o menino poderia ficar perto do pai.

— Sentiu sim… – ele afirmou depois de colocar uma mão por debaixo do vestido curto que ela usava. – Estou tocando a sua saudade também… Uma saudade bastante úmida...

— Ah, agora eu não posso mais fingir que não estou excitada.

— E pra quê fingir? Estou aqui, sou todo seu, faça o que quiser comigo.

Pandora não disse mais nada. Só mordeu levemente o lábio inferior, ajoelhou-se, abriu a calça de Hyoga e matou a saudade de tê-lo em sua boca.

Acabaram fazendo amor ali na sala mesmo. Depois, ficaram largados no sofá, completamente nus. Só então Hyoga lembrou-se de algo e foi pegar na mochila. Voltou com uma caixa turquesa com a logomarca da joalheria Tiffany e entregou-a a Pandora.

— Pra mim? – ela indagou surpresa.

— Aham. Lembrei de você quando vi e não resisti.

Pandora desfez o laço branco que fechava a caixa e tirou dela um conjunto de colar e brincos de ouro branco com grandes pedras negras de ônix em formato de gotas. Com certeza um presente que custou alguns milhares de dólares, mas não era o preço que a estava comovendo, era o gesto. Um gesto que ela esperou de Ikki e nunca veio. A alemã lutava com todas as forças para não chorar, não queria demonstrar fraqueza na frente de Hyoga, mas algumas lágrimas escaparam.

— Você está chorando? É só um colar e um par de brincos.

— É que eu não esperava nada, Hyoga. Isso que está rolando entre a gente... você disse que não queria rotular. E estava tudo bem assim. De verdade. Eu não quero repetir o erro de achar que isso é mais do que é, porque com o Ikki eu pensei que fosse algo mas ele só gostava de transar comigo.

— Eu não sou o Ikki – ele afirmou, um tanto magoado.

— Estou muito grata, muito emocionada – ela confessou e enxugou as lágrimas com as costas da mão –, mas não posso aceitar o presente. Não quero olhar para essas joias e achar que elas significam algo.

— Mas elas significam! Eu adoro você.

— Não, você adora fazer sexo comigo, adora que eu seja ousada e não uma garotinha cheia de pudores.

— Não é só isso. É muito mais. Vamos contar a todo mundo que estamos juntos.

— Não brinca comigo desse jeito, Hyoga.

— Eu não estou brincando. Também já cometi esse erro... como foi que você disse? De achar que era mais do que era realmente era? Eu sei do que você está falando porque fiz isso com a Eiri. Eu acreditei e fiz ela acreditar. Mas agora, com você, é diferente. E, admita, você sente o mesmo por mim.

Ela queria gritar que sim, que estava perdidamente apaixonada por ele, mas não o fez. Era muito fácil pra ele dizer que agora era diferente, mas teria de fazer muito mais para provar que era. Um par de brincos e um colar não eram o suficiente, “adoro você” não era o bastante, ele teria que dizer com todas as letras que a amava, teria de provar. Só depois disso ela conseguiria acreditar.

— Eu fico com as joias – ela finalmente disse –, mas por enquanto vamos deixar como está. Ainda não sei se quero que saibam sobre nós. Não quero que a confusão com o Ikki comece justamente hoje no dia do aniversário da Keiko.

— Se é o que você quer… — ele falou um tanto chateado.

— Não fica assim. Vamos, levanta daí, temos que nos arrumar para a festa, prometi que ia levar o Stephen. Vamos juntos e nos separamos na portaria.

— Está bem, está bem. Depois posso dar banho no Stephen e arrumá-lo se você quiser.

— Você faria isso? – ela perguntou, lembrando-se daquela primeira noite na casa dele, mais especificamente da manhã, onde ele acordou primeiro, cuidou de Stephen e fez o café, como se fossem uma família.

— Lógico – ele respondeu. – Arrumo o Stephen enquanto você termina de se arrumar. Mulher sempre demora mais mesmo.

— Ah, seu babaca – ela disse em tom de brincadeira. – Só por isso eu vou ficar pronta bem rápido.

— Eu duvido — Hyoga provocou e deu um tapinha nas nádegas de Pandora.

 

—S-A-I-N-T-S-

 

Condomínio Olympus.

 

Em frente a suas casas, Ikki e Shun conversavam enquanto esperavam suas mulheres se arrumarem. O mais velho comentava animado sobre as aulas de habilitação náutica que começou a fazer algumas semanas atrás.

— Já vi uns barcos legais para comprar — ele concluiu. — Se vocês não derem para trás.

— Por mim, continua de pé— Shun afirmou. — Estou feliz porque finalmente você está fazendo algo da vida. Melhor se fosse um trabalho e tal, mas já é alguma coisa.

— Ah, nem vem encher o saco, Shun — bufou o irmão mais velho. — Por que você não fala isso para o Shiryu também? E o Pangaré? Nenhum dos dois faz porra nenhuma.

— Porque os dois têm filhas pequenas e são pais muito presentes. Além disso, o Shiryu, você sabe, está “cumprindo pena”, embora extraoficialmente seja o braço direito do Dohko.

— Tá, tá... Tô sabendo…

— Quando estiver habilitado, você vai poder trabalhar com isso? Fazer transporte turístico como aquele capitão que o Shiryu contrata, sei lá.

— Para trabalho, tenho que tirar outro tipo de habilitação. E, bom, eu não preciso trabalhar. A maior parte da grana da minha herança foi investida e está lá rendendo. E quanto a você? Está indo bem nos estudos? Somos vizinhos mas quase não nos vemos porque você vive com a cara enfiada nos livros.

— Verdade. Sinto falta da convivência com você apesar desse seu jeito, mas estou focado em meu objetivo. Não é fácil correr atrás de todo o tempo que perdi. Estudo oito, às vezes dez horas por dia, mesmo assim não sei se conseguirei passar no vestibular. E se passar, começarei outra fase também de muito estudo.

— E a June tá contente com isso?

— Ah, ela me ajuda muito, me dá muito suporte, mas me cobra atenção também. Tenho que ser firme para que ela entenda que eu preciso estudar se quiser alcançar meu sonho. Ela pode ser um pouco dominadora às vezes…

— Um pouco? Às vezes? – Ikki questionou e deu uma gargalhada. – Não é bem isso que parece.

— Digamos que, em certas ocasiões, eu gosto disso, mas não quando preciso estudar.

— Sei… — Ikki disse de modo irônico. — Sei bem como é. Ela não te dá umas chicotadas na hora do vamos ver, dá?

— Só se eu pedir… — Shun respondeu com um sorriso travesso bem na hora que June saiu de casa. – Por falar nela…

— E aí, June? – Ikki perguntou. – Aturando bem com nosso futuro médico que estuda sem parar?

— Adoro a ideia – ela respondeu. – Mas já disse a ele que é preciso equilibrar as coisas. Não pode só ficar estudando.

— Quero ver vocês dois reclamarem quando eu finalmente for médico.

— Eu não vou reclamar, cunhadinho — Esmeralda disse ao sair da casa e ouvir parte da conversa. — Pelo contrário, vou adorar. E para isso você tem que se dedicar, não é?

— Ouviram? — Shun questionou. — A Esmeralda me entende.

— Ela só quer ter um médico de graça — Ikki disse rindo e deu um beijo carinhoso no rosto da esposa.

— Não escute o que ele diz, Shun — ela riu de volta. — E agora vamos porque não quero chegar atrasada.

Rindo, os quatro seguiram caminhando para a quadra e os dois irmãos trocaram um olhar cúmplice. Compartilhavam os mesmos sentimentos: uma alegria singela e um enorme alívio por saberem que a guerra ficou no passado, em um tempo que já parecia muito distante, e que agora podiam fazer planos sem medo, rir juntos e caminhar tranquilamente para o aniversário da sobrinha.

 

Como 1992 era o ano do macaco no horóscopo chinês, o animal foi escolhido como tema da festinha. A decoração era simples, apenas com muitos balões em tons de vermelho e dourado, e macaquinhos de pelúcia espalhados pelo salão.

A pequena aniversariante usava um vestido de tule vermelho e passeava pela quadra no colo do avô, enquanto os pais dela recebiam os convidados e cuidavam para que tudo saísse dentro do planejado.

Shiryu desejava uma festa mais íntima, apenas para as pessoas mais próximas, mas Shunrei e Dohko o convenceram de que o primeiro aniversário de Keiko merecia uma grande celebração na quadra. Agora que a festa estava acontecendo, ele se deu conta de que os dois estavam certos. Olhou ao redor e sorriu ao ver a bela cena que em breve se tornaria comum no condomínio: cavaleiros com esposas e namoradas, alguns também já com filhos, comemorando o primeiro aniversário de uma criança da nova geração. Olhou com um carinho especial para a mesa onde estavam seus irmãos: Shun e Ikki com June, Esmeralda, Pandora e Stephen, o pequeno herdeiro da marra do Fênix; Seiya com Saori e sua pequena Heiwa, e Hyoga, que acabava de chegar carregando Natássia. Sorrindo, Shiryu aproximou-se do grupo com uma câmera nas mãos e tirou uma fotografia para eternizar esse momento.

— Obrigado por terem vindo, pessoal — ele disse.

— E você acha que esse povo ia perder uma boca livre? — Seiya perguntou rindo.

— É sério. Estou feliz por estarmos todos reunidos, como a enorme família que somos.

— Só não vá chorar! – Ikki falou. – Por favor, vai ser um saco você chorando aqui.

— Eu vou deixar pra chorar mais tarde.

— Ei, já que estamos todos juntos – continuou o cavaleiro de Fênix –, tenho notícias sobre o iate. Olhei alguns que se encaixam no nosso perfil. Preciso que vocês assinem os cheques e aí no próximo verão, teremos um barco... – Ele apontou para si mesmo. – E um capitão.

— Você? – debochou Pandora. – Isso eu quero ver.

— Qual é, Pandora? Estou tendo aulas.

— E de quanto vai ser esse cheque? – Shiryu quis saber. – Já falei, tenho uma filha pra criar e mais um bebê a caminho.

— Abre essa mão, Shiryu! – Ikki respondeu. – Vai ser bom, você vai poder levar seus pimpolhos para passear sempre que quiser.

— Sei… Sempre que eu conseguir a colaboração da sua boa vontade. Depois falamos sobre esse cheque, certo? — Shiryu encerrou o assunto e pediu licença para cumprimentar os outros convidados.

— Daqui a seis meses é o Stephen – Ikki falou quando pegou o filho no colo. — Acho que até lá já poderemos comemorar no iate novo. O que acha, Pandora?

— Não, nada disso. Eu quero uma festa tradicional.

— Mas vai ser bem no verão — Ikki tentou justificar.

— Já estou planejando tudo. Você só vai receber o convite e a conta pra pagar a sua parte.

— Tá certo, foi só uma ideia. Como ele está indo com as papinhas?

— Faz uma sujeira inacreditável mas é tão fofo vê-lo descobrindo os sabores.

— Ah, vou adorar ver isso! – comentou Esmeralda, brincando com a mãozinha do enteado.

— E você, como está, Pandora? – Ikkiperguntou.

— Estou ótima, incrível, maravilhosa!

— Hum, sim, que bom, é que fiquei pre…

— Nem termine a frase – Pandora cortou pois imaginava onde ele iria chegar. — Não me venha com essa conversa de “fiquei preocupado com você”.

— Mas eu fiquei. Você continua saindo com aquele cara do Natal? — Ele notou o colar no pescoço dela, a gota negra de ônix enfeitando o decote profundo do macacão azul marinho que ela usava, e completou: — Essas joias foram presente dele?

Pandora revirou os olhos.

— Não era da sua conta e continua não sendo — ela respondeu e fez um bico de insatisfação.

— Não seja inconveniente, amor – Esmeralda advertiu o marido e ele não fez mais perguntas.

Pandora riu ao ver Ikki tão dominado pela esposa e, como estava se sentindo fabulosamente maldosa, não resistiu a uma alfinetada.

— É, as pessoas mudam – ela disse ironicamente. – Quem diria que ele ia obedecer assim? Você precisava ter visto o tanto de marra que ele tinha, Esmeralda. Parecia um cão raivoso latindo para todo mundo.

Esmeralda olhou para o marido e sorriu.

— Eu ouvi falar disso – ela declarou –, mas agora está voltando a ser quem ele era quando eu o conheci.

— Ah, que lindo – Ikki debochou. – As duas madames vão ficar falando de mim como se eu não estivesse aqui?

— Desculpa, querido – Esmeralda pediu e fez um carinho nele. – É que realmente ouvi coisas terríveis sobre você, mas também ouvi outras maravilhosas.

— Depois você vai me contar quem andou dizendo as “coisas terríveis”.

Esmeralda sorriu e balançou a cabeça como quem dizia “não vou, não”. Pandora resolveu continuar provocando, mas mudou seu alvo.

— Hyoga, você está calado hoje – ela disse. – Também está tentando adivinhar quem me deu essas joias?

Ele deu um sorriso charmoso e respondeu:

— Com certeza foi alguém de muito bom gosto. São lindas.

— São, né? – ela perguntou, segurando o pingente e levando-o a olhar diretamente para o decote. – E como foram esses meses lá nos EUA?

— Foram de muito trabalho – ele respondeu. Depois de um suspiro, acrescentou: – Ah, mês que vem estarei no Oscar.

— Jura? – Pandora perguntou afetando surpresa, embora já soubesse disso há semanas.

— Meu filme foi indicado somente em categorias técnicas, mas o elenco todo vai. Será incrível pisar naquele tapete vermelho.

— Espero que seja o primeiro de muitos – Shun disse, sinceramente torcendo por ele.

— E que algum dia você seja o indicado – Saori completou.

— Tomara. Estou trabalhando para isso.

— Um brinde ao Pato ator! – Seiya puxou rindo e ergueu sua taça de vinho. – Só lembrando que fui eu quem disse que ele levava jeito.

— Verdade – Saori confirmou. – Podíamos organizar uma reuniãozinha lá em casa para assistirmos juntos. O que acham?

— Que ideia ótima, amor! – comemorou Seiya, feliz por vê-la animada para receber os amigos. – Vai ser incrível! Pode deixar que eu organizo tudo.

— Eu topo! – Shun disse e foi acompanhado pelos outros presentes.

— Então está combinado! – Saori exclamou. – Vamos assistir a cerimônia do Oscar lá em casa.

 

Pouco depois, todos os convidados foram chamados ao redor da mesa para os parabéns. Nos braços do pai, Keiko animou-se com a música e as palmas, e achou engraçado quando os pais sopraram a velinha. A seguir, todos saíram da quadra para ver a queima de fogos de artifício que Dohko preparou. Durante alguns minutos, os artefatos iluminaram o céu dos arredores do condomínio Olympus, mas Keiko se assustou com o barulho e começou a chorar.

— Tudo bem, meu amor – Shiryu confortou-a, aconchegando-a junto ao peito, e colocou o outro braço ao redor da cintura de Shunrei. — Papai não vai deixar nada acontecer com você nem com a sua mãe.

O casal ficou admirando os fogos assim, abraçados, felizes e gratos porque além de ser o aniversário da filha, fazia exatamente um ano que quase foram separados pela morte.

As imagens de Shunrei inerte na mesa cirúrgica e do corpo prematuro de Keiko numa bandeja de inox ainda assombravam Shiryu, mas ele lutava diariamente para guardar na memória somente o olhar da esposa quando ela voltou à vida, o primeiro choro de Keiko, o primeiro sorriso dela. Queria guardar somente as boas lembranças, mas ainda era recente demais, levaria mais algum tempo para que essas imagens se tornassem apenas um borrão.

Todos voltaram para a quadra e a festa continuou, mas logo os convidados começaram a ir embora, especialmente os que tinham filhos pequenos. Keiko também se cansou e adormeceu nos braços do avô.

— Nossa princesinha caiu no sono — Dohko disse, entregando-a a Shunrei.

— Ela foi um anjo hoje — Shunrei disse. — Só chorou na hora dos fogos. Vou levá-la pra casa e acho que ficarei lá com ela. Confesso que já estou um pouco cansada também.

— Vá com as duas, Shiryu — Dohko disse ao discípulo. — Eu cuido das coisas aqui. Já está acabando mesmo.

— Certo. Obrigado por tudo, Mestre.

— De nada — ele respondeu, abraçando os três. — Vejo vocês na semana que vem. Vou me recolher no Santuário por alguns dias.

— Alguma coisa acontecendo? — Shiryu perguntou, sem saber se realmente queria ouvir a resposta.

— Não, está tudo bem — ele respondeu, dando um tapinha nas costas de Shiryu. — Eu só preciso resolver algumas coisas, tomar algumas decisões, não é nada demais.

O discípulo assentiu e foi para casa com a esposa e a filha, alheio ao olhar comovido que o Mestre lhe dirigiu.

Já em casa, Shunrei tirou o vestido de Keiko para deixá-la confortável e colocou-a no berço. Depois tomou um banho rápido, vestiu um roupão e foi para seu quarto, onde encontrou Shiryu sentado na cama, usando somente a calça do pijama.

— Vem cá – ele chamou no tom mais doce que pôde encontrar. Ela sorriu e sentou-se no colo dele. — Eu só queria dizer que estou profundamente grato por você estar viva, por esse ano incrível que tivemos e que eu me orgulho de ver a mulher que você se tornou, a esposa maravilhosa, a mãe que você é. Eu te amo ainda mais do que antes, Shu.

— Eu também te amo ainda mais e também me orgulho muito de você.

— Eu não disse isso antes porque não queria soar machista e dominador, mas justamente porque eu te amo tanto assim é que eu vou dizer agora: pelo amor de Deus, me ouça quando estivermos no meio de uma crise e eu disser para não fazer algo.

Ela deu uma risada.

— Eu sabia que você queria dizer isso desde o primeiro dia! Não acredito que demorou um ano!

— Desculpa, eu realmente acho que não soa bem. Não quero ser essa pessoa.

— Eu sei que não devia ter saído do Santuário naquele dia — ela admitiu, fazendo um carinho no peito dele. — Pus muita coisa em risco.

— As duas coisas mais importantes: a sua vida e a da Keiko…

— Prometo que vou obedecer, meu amor. Mas só em casos de crise. Em tempos normais, continuarei sendo uma teimosa.

— Já está muito bom assim — ele falou e deu um beijinho no pescoço dela, bem no local onde ele sabia que mexia com ela. — Agora que tal aproveitar que a Keiko está dormindo?

— Acho uma ótima ideia.

— Depois que o segundo nascer, estaremos bem encrencados. Vai ser difícil dormir, imagina fazer amor…

— Daremos um jeito — ela disse e abriu o roupão.

 

No dia seguinte, em seu passeio matinal com Keiko, Shiryu acabou encontrando-se com Seiya e Hyoga que também passeavam com suas garotinhas.

— Quem diria que estaríamos os três assim, pais de menininhas quase da mesma idade, hein? — Seiya perguntou.

— Sempre achei que se conseguisse sobreviver à guerra, me casaria e seria pai logo — Shiryu respondeu. — Eu sonhava ter uma família, filhos, dar para eles o que eu não tive. No fundo, eu sabia que seria o primeiro.

— É, mas na verdade o primeiro seria eu — Hyoga disse. — Se fosse o problema com o Julian que adiantou o nascimento da Keiko.

— Nem me lembre disso – Shiryu falou. – Ontem foi um dia maravilhoso, mas não consegui evitar lembrar de um ano atrás, do desespero daquele dia.

— Foi por pouco… – Seiya disse. Também foi o dia em que ele também quase perdeu Saori, mas não costumava pensar muito nisso. Achava que era uma honra estar ao lado dela, cuidar dela e de Heiwa, e só conseguia ser grato.

— Muito pouco – Shiryu completou e deu um beijinho na filha. – E a Saori como está? Não deu para falar muito com vocês ontem, mas achei que ela estava com uma aparência ótima.

— Ela está bem melhor. Comprei um piano e ela voltou a tocar. Também vou ter umas aulas de violão. Eu sei tocar mais ou menos, mas quero aprender direito pra um dia ensinar a Heiwa. Você podia ir às aulas, Shiryu.

— Eu? Imagina. Não levo o menor jeito.

— Já tentou?

— Bom, não… Acho que nunca me interessei muito por música.

— Então vai! – Hyoga incentivou. – Você vai perder o quê? Se estiver por aqui, acho até que vou também. Pode ser bom para minha carreira.

— Terças e quintas à tarde lá em casa — Seiya disse. — É só chegar. A gente podia até fazer uma banda! — delirou o cavaleiro. – Já pensaram?

— É, podíamos, Os Desafinados de Athena – debochou Hyoga.

— Não viaja, Seiya… – Shiryu disse.

— Vocês levam tudo muito a sério! No dia do Oscar lá em casa, vocês vão ver, vou tocar uns negócios bem legais com a Saori.

— Eu não vou ver porque estarei lá na cerimônia – Hyoga riu.

— Você já é metido, imagina depois de aparecer nisso.

— Metido eu vou ficar se algum dia for indicado, Seiya. Mas por enquanto vou só curtir a cerimônia mesmo. E se preparem, se tudo der certo, terei uma surpresa…

— O que você está aprontando, Hyoga? – Shiryu perguntou.

— É coisa boa… pelo menos pra mim é… Agora preciso levar a Nat pra casa e sair para um compromisso. Um bom dia para vocês.

Os outros dois desejaram a ele um bom dia também e ficaram confabulando, tentando adivinhar o que o Cisne estava escondendo que só seria revelado no dia da cerimônia de entrega do Oscar.

 

—S-A-I-N-T-S-

 

Los Angeles, 30 de março de 1992

 

— Eu ainda não sei direito porque topei essa loucura… — Pandora disse enquanto era maquiada por um profissional.

Hyoga já estava vestindo seu smoking e esperava a namorada ficar pronta.

— Porque é o Oscar, Pandora! Você topou porque é o fucking Oscar e nós estaremos lá no tapete vermelho!

— E o que você vai dizer quando perguntarem sobre mim?

— A verdade. Há semanas estou dizendo que não quero mais esconder.

— Então seus irmãos vão ficar sabendo sobre a gente pela televisão?

— Por que não?

— Admito que vai ser interessante – ela disse, ainda sem acreditar que ele faria mesmo isso. Achava que provavelmente na hora ele ficaria intimidado e diria que ela era uma amiga.

— Só queria ver a cara deles! — riu o cavaleiro. — O Ikki provavelmente não vai curtir muito, mas o problema é dele. Ele que vá fazer terapia.

Pandora deu uma gargalhada.

— Ele precisa muito.

— E quem não precisa?

— Antes de sair, vou ligar para saber como o Stephen está. A Esmeralda cuida bem dele, mas eu me preocupo mesmo assim.

— Coisa de mãe, querida. Mas ele está bem.

— Ele só tem sete meses. Deu uma dorzinha deixá-lo ainda que seja só por uma semana.

— Ele vai ficar bem. Foi bom ter avisado meu agente com antecedência porque ele fez contatos e arrumou todos aqueles vestidos incríveis nas melhores maisons.

— Sim, queria usar todos, fiquei maravilhosa em todos, mas esse que eu escolhi está perfeito, não está? Vai deixar muita gente de boca aberta.

— Com certeza, vai — ele respondeu, olhando para o decote profundíssimo do vestido de renda preta, cujo forro cor da pele dava a ilusão de nudez. — Você está fabulosa.

Quando o maquiador terminou e foi embora, Hyoga pegou uma caixa no armário.

— Você não ficar abaixo das atrizes – ele disse e entregou a caixa a Pandora.

Ao ver a logomarca da joalheria Cartier, ela sabia o que ele queria dizer: alguns milhões de dólares em joias emprestadas. No caso, um incrível colar de diamantes com rubis, o par de brincos correspondente e um anel.

— Tem um número de sete dígitos aqui, com certeza – ela constatou, admirando as peças de alta joalheria. — Se eu perder uma pedrinha disso... Nossa, vão te esfolar vivo.

— Não são emprestadas. São suas.

— Minhas?

— Sim. Eu vou te cobrir de joias.

— E admito que comecei a gostar disso, mas tem outras coisas mais importantes, coisas que não são exatamente objetos e que eu quero muito.

— Eu sei. Vou te dar essas também.

— Vamos ver se vai mesmo — ela disse e colocou o anel e os brincos, depois pediu que ele a ajudasse a fechar o colar.

Em seguida os dois desceram e entraram na limusine que os esperava em frente ao prédio. Minutos depois, desembarcaram em frente ao Dorothy Chandler Pavilion, onde a cerimônia do Oscar aconteceria. Os flashes seguiam as celebridades pelo tapete vermelho e não foi diferente com eles. Pararam e posaram para fotos várias vezes e, mais adiante, foram abordados para uma entrevista para a tevê. O repórter perguntou a Hyoga quem era a bela morena misteriosa e ele respondeu sem hesitar:

— Não tem mistério nenhum. Essa é Pandora Heinstein, minha noiva.

Pandora ficou chocada por ele ter mesmo dito isso, mas manteve a pose e disfarçou bem. Então os jornalistas quiseram saber que estilista a tinha vestido e de quem eram as joias. Ela achou que ia se intimidar pelas estrelas, pelos flashes e pelas câmeras, mas estava se sentindo incrivelmente à vontade e, com bastante desenvoltura, num inglês perfeito, respondeu que usava um Versace e que as joias da Cartier foram um adorável presente de noivado. Depois de mais algumas entrevistas, os dois cumprimentaram várias celebridades, inclindo Sir Anthony Hopkins e Jodie Foster, favoritos a levarem estatuetas pelo magnífico trabalho em O Silêncio dos Inocentes. O casal encontrou-se também com o elenco do filme de Hyoga, todos felizes por participarem da cerimônia apesar de apenas duas indicações técnicas.

— Russo, como você tem uma namorada como essas e não fala nada? — perguntou o diretor.

— Eu gosto de manter um segredinho — Hyoga respondeu. — Mas agora percebi que ela precisava ser apresentada ao mundo.

— Muito prazer, senhorita… — o diretor cumprimentou a alemã, beijando a mão dela.

— Heinstein – ela se apresentou. — Pandora Heinstein.

— Encantadora! Onde estava escondida?

— Em um castelo na Alemanha – ela respondeu sorrindo e jogando charme.

— Ah, mas uma mulher como você precisa ser vista, não pode ser a princesa presa na torre.

— Não sou mais – ela disse e deu uma piscadela sedutora.

— E o que você faz, querida?

Hyoga pensou que ela ia se enrolar, mas ela continuou respondendo com segurança:

— Eu sou musicista. Harpista, para ser mais exata. Mas também toco um pouco de violino.

— Estarei esperando um convite para o recital!

— No momento, estou um pouco de molho, faz um tempo que não pratico, mas em breve voltarei a tocar e então convidaremos todos para uma festinha.

— Esperarei ansiosamente por esse dia.

Depois de confraternizarem brevemente com os colegas de filme e outras estrelas, todos tomaram seus lugares para a cerimônia que começaria em alguns minutos.

— Eles adoraram você! – Hyoga comentou baixinho. — E você estava totalmente à vontade, até jogando charme, dando respostas espirituosas. Fiquei com um pouco de inveja.

— Admito que gostei muito. E quanto a você, acho bom se acostumar, porque chamo a atenção por onde passo. É só eu querer. Espero que já não esteja arrependido de me apresentar como noiva.

— De jeito nenhum. É o que sinto, senhorita Heinstein, futura senhora Yukida.

— É sério mesmo isso?

— Claro. Caso agora se você quiser.

— Seu russo maluco – ela disse.

— Pessoal, a cerimônia vai começar — o colega ao lado deles advertiu. Os dois entreolharam-se, sorriram e fizeram silêncio.

 

No condomínio Olympus, os irmãos de Hyoga e suas famílias estavam reunidos na casa de Saori, esperando ansiosos para vê-lo em seu primeiro tapete vermelho. Todos já estavam tremendamente surpresos por ele ter aparecido com Pandora a tiracolo, quando ele se referiu a ela como sua “noiva”, o choque foi geral.

— É o quê? – Seiya quebrou o silêncio depois de alguns segundos. – O Pato e a Pandora? Alguém aqui sabia disso?

— Pelas caras, ficamos sabendo agora – respondeu Shiryu, olhando ao redor.

— Na verdade, eu já desconfiava – Esmeralda comentou, com o filho de Pandora no colo. – Ela estava saindo com alguém daqui desde o Natal e me garantiu que era um dos solteiros… Eu imaginei que fosse ele, só não tinha certeza. Mas quando ela avisou que ia viajar e pediu que ficássemos com o Stephen bem na semana do Oscar, bom, foi só juntar as peças.

— Ele está bem louco… — comentou June. — A vampirona não ficou com o Ikki e catou o meio-irmão famoso…

— Ju, não fala assim dela… — Shun pediu. — É a mãe do meu sobrinho.

— Você a defende porque não sabe o que ela insinuava sobre você.

— Eu sei sim e não me importo. Você também não devia se importar.

— Não dá pra negar que os dois formam um casal belíssimo – acrescentou Shunrei. — Olha a imponência dessa mulher desfilando no tapete vermelho. Mais bonita que a maioria das atrizes.

— Será que ele comprou mesmo essas joias que ela tá usando? — duvidou June. — As joalherias emprestam para a cerimônia.

— Bom, ela disse que foi um presente de noivado — Saori comentou.

— E ela já apareceu com outras joias — comentou Esmeralda, lembrando-se do conjunto que ela usava no aniversário de Keiko.

— E ela disse que o vestido era o quê? — Saori perguntou. — Um Versace?

— Isso – June confirmou. — A vampira está usando um Versace e diamantes e rubis verdadeiros no pescoço. É uma safada de sorte mesmo!

— Como é que o Hyoga larga uma bomba dessa ao vivo na tevê? — indagou Seiya.

— Lembra que ele disse Seiya que tinha uma surpresa? — Shiryu comentou. — Era isso.

— Ele deve estar só se divertindo como fez com a Eiri – alfinetou Ikki, que estava calado até então. Não conseguia e nem queria disfarçar a irritação.

— Ele me pareceu bem sério quando falou “minha noiva” — Shiryu constatou. – Ele a apresentou assim para o mundo inteiro, na cerimônia do Oscar. Não é como anunciar numa festinha na quadra.

— Deve estar planejando casar com ela em uma daquelas capelas em Las Vegas – debochou June. — Naquela gótica, cheia de caixões, velas pretas, morcegos e teias de aranha.

— Se for isso mesmo — Shun disse —, esse casamento é válido, amor.

June deu de ombros.

— Ele também está lindo de smoking — Shunrei comentou. — Parece um príncipe.

Shiryu não conteve um discreto olhar de ciúme.

— Repararam nas abotoaduras? — Saori perguntou. — Têm o formato do báculo de Athena. Ele está lá no meio das celebridades, mas não esquece quem é.

— Ah, é verdade — Shunrei assentiu. — Não tinha percebido. Não acha que os dois aparecerão em destaque em todas as revistas da semana?

— Com certeza! — Saori afirmou.

— Ah, o Pato nem é tão famoso assim — ralhou Ikki. — É só um babaca estreante russo. Vocês estão todos loucos! Vão falar da Pandora, sim, mas porque ela está quase nua, com os peitos de fora nesse vestido Ver-sei-lá-o-quê. E pra mim já deu dessa merda. Vamos embora, Esmeralda.

— Não — ela respondeu com firmeza.— Eu vou ficar aqui e ver até o final. Estou adorando!

Irritado, ele foi embora pisando duro, enquanto a esposa continuou comentando com as amigas.

— Ela parece totalmente à vontade, não parece? — instigou a loira.

— Como se tivesse nascido para isso — Shunrei confirmou.

— Olha Stephen, olha a mamãe na tevê! — ela apontou, mostrando-a ao enteado.

 

Mais tarde, quando voltou para casa já perto do fim da cerimônia, Esmeralda colocou o enteado adormecido no berço e foi questionar Ikki, que bebia uma cerveja na sala. No chão, várias outras latas já vazias.

— Você está com ciúmes? – ela perguntou diretamente, pois não gostava de fazer rodeios. Já passou por coisa demais na vida para não ir direto ao ponto em tudo.

— Não! Que ciúmes!? Da Pandora?

— Você ficou bravo, muito bravo, e não fez questão de esconder.

— Só acho que eles deviam ter contado!

— Por que deviam? — ela questionou sem alterar a voz.

— Porque sim! Eu tinha o direito de saber!

— Por quê? – ela repetiu calmamente. – Ela estava solteira, ele também. Por que tinham de dar satisfações?

— Porque tem meu filho no meio!!

— Seu filho continua sendo seu filho. A filha dele continua sendo a filha dele. O que as crianças têm a ver? Me dá uma resposta racional, Ikki. Por que você está bravo?

— Eu não sei porque estou bravo, Esmeralda! Só sei que não gostei e pronto. Mas isso não tem nada a ver a com gente… Eu queria que ela encontrasse alguém e fosse feliz, mas logo o Hyoga?

— E por que não? Ele é seu irmão! Sério que acha que havia alguém melhor?

— Ele é um cafajeste, só está brincando com ela!

— Bom, foi o que eu ouvi por aí sobre você.

— Era diferente…

— Você queria que ela continuasse eternamente esperando por você, é isso?

— Eu não sei, Meme… Não sei o que estou sentindo, mas garanto que não é nada com a gente. Eu amo muito você, se eu quisesse ficar com ela, eu ficava, mas eu não quero. Meu amor sempre foi você.

— Você é baita de um vaidoso, Ikki – ela disse e sentou ao lado dele no sofá. Pegou a cerveja da mão dele e deu um grande gole. — Acho que estou entendendo. Você gostava de ter uma mulher bonita como ela apaixonada e dependente, não é?

— Vai ver era isso mesmo.

— Ia ter que enfrentar um páreo duro com o Hyoga se quisesse ficar com ela. Acho que você não ganhava essa briga, hein?

— Claro que eu ganhava. Eu me garanto.

— Convencido.

— Você está brava comigo?

— Um pouco. E também com um pouco de ciúmes.

— Não, não precisa ficar. Eu só estou sendo um idiota.

— Que bom que admitiu!

— Ah, Meme, para… Eu não sou sempre um idiota.

— Tá certo, tá certo. Vai, levanta essa bunda daí e vai pegar uma cerveja pra mim.

— Como é que é? — ele perguntou rindo. — Eu que devia mandar você ir pegar cerveja pra mim. Eu sou o homem da casa.

— Vai logo! — ela ordenou rindo. — É o seu castigo! E traz uma bem gelada!

 

Continua…

 

 

 


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Notas finais do capítulo

(1) Essa foi a música que ela tocou no episódio 19 do anime.





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