Esperando O Fim escrita por Chiisana Hana


Capítulo 10
Capítulo X




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

ESPERANDO O FIM

Chiisana Hana

Capítulo X

Três meses depois.

Com a falta de identificação do responsável por começar o fogo no condomínio e a posterior morte do mandante, o inquérito foi arquivado. A maioria das casas não teve danos na estrutura e precisava de reparos simples, o que facilitou o andamento da reconstrução e a volta dos moradores para lá.

Saori aproveitou a obra para realizar modificações no condomínio. O local acabou ganhando uma segunda rua, com novas casas para os cavaleiros de bronze e de prata remanescentes, e no final dessa rua começou a ser construída a casa que pertencerá à milionária. Ela não queria nada exuberante ou luxuoso, apenas uma casa grande, confortável e arejada. Não desejava criar o filho no Santuário, portanto o condomínio seria o lugar perfeito para ele. Mais que tudo, Saori queria que seu filho tivesse uma infância normal, que tivesse amiguinhos, brincasse na rua, corresse, e eventualmente ralasse o joelho como qualquer criança. Estava decidida a não dar ao filho a vida de princesa que teve, pois sabia melhor que ninguém o quanto aquela vida podia ser ruim.

Às autoridades, Dohko apresentou um relatório onde informou que Shiryu permaneceria no Santuário cumprindo pena de trabalhos forçados por conta do assassinato do herdeiro Solo. Por conta, Shiryu e Shunrei tinham resolvido ficar em Atenas por tempo indeterminado. A saúde de Keiko também fora levada em conta quando os dois decidiram ficar. A menina estava mais forte e tinha mudado bastante nos últimos meses, perdendo um pouco da aparência de bebê prematuro, mas eles ainda não se sentiam seguros para fazê-la enfrentar uma viagem longa. Aproveitando-se disso, Dohko instigou-o a participar ativamente da vida do Santuário, quase como um assessor, embora houvesse quem apostasse que na verdade ele preparava seu sucessor. De certa forma, era verdade. Dohko gostaria de ver Shiryu sendo Mestre e sabia que ele era capaz, mas por enquanto esperava apenas que ele se convencesse a ficar de vez na Grécia. Não era segredo que o dourado queria muito ter os três sempre por perto, principalmente para acompanhar o desenvolvimento de Keiko. Adorava ter a neta em casa. Divertia-se cuidando dela e mal podia esperar pela fase em que ela aprenderá a andar e falar.

Além disso, ele gostava de ver Shunrei fazendo companhia a Saori. Enquanto ele e Shiryu cumpriam suas funções no Santuário, Shunrei e Keiko costumavam receber a visita da deusa, que já exibia uma barriga de cinco meses. A mudança em Saori era imensa. O medo irracional que tinha quando Julian era vivo deu lugar a uma alegria singela que ela encontrou no amor de Seiya, na amizade de Shunrei e nas pequenas coisas do dia a dia.

– Fico imaginando como é meu bebê – Saori disse a Shunrei numa das visitas. – Keiko nasceu com quase o tempo que ele tem agora. Acho que agora ele tem mais ou menos a aparência dela naquela época. E veja só como ela mudou! Agora já tem cabelo, a pele está mais forte, já ganhou peso. Ela está tão linda, Shunrei. Acho que se parece um pouco com o pai.

– Também acho, mas ele diz que se parece comigo.

– E eu adoro as roupas coloridas que ela usa. Seiya disse que vai copiar você e comprar roupas assim para o nosso filho.

Shunrei riu. Era verdade. Keiko estava quase sempre de vermelho, rosa forte, às vezes lilás. Também tinha muitas roupinhas estampadas.

– Eu gosto muito de cor, mas parte da culpa é do avô! – ela disse. – Ele gosta de vê-la com cores alegres e sempre traz roupinhas e tecidos diferentes que eu nem sei onde ele arruma. Dia desses ele apareceu com um pano estampado com uns lagartos sorridentes para eu fazer um vestido. Shiryu ficou meio indignado no começo, porque ele ficava chamando nossa filha de ‘lagartinha’, mas depois acabou achando engraçado.

– Dohko é sempre tão espirituoso – riu a deusa. – Espero que ele presenteie meu bebê com alguma coisa nesse estilo.

– Fique despreocupada, ele o fará. E se não o fizer, o Seiya fará. Aposto.

As duas começaram a rir imaginando as peripécias que Seiya aprontaria com o filho.

Shun também acabou ficando no Santuário por tempo indefinido. Ele e June passaram a ser os responsáveis pela organização e restauração do arquivo do Santuário.

– Caiu como uma luva essa história de mexer no arquivo – June disse quando Shun lhe deu a notícia. – Se houver alguma coisa sobre mim, nós descobriremos.

– Fui eu que pedi ao Mestre – Shun revelou. – Você quer descobrir a verdade sobre sua origem, não quer? Saga disse que os documentos tinham se perdido. Vamos descobrir se é verdade. Dohko me falou que há muita coisa espalhada em várias salas, tudo bagunçado e parcialmente deteriorado, mas se houver algo, nós encontraremos.

June abraçou-o e beijou-o entusiasmada e agradecida.

– Ah, Shun, você é demais! – ela disse e envolveu o namorado num abraço. – Eu não teria pensado nisso. Mas me diga, tem certeza de que não se incomoda em mudar-se para cá e deixar tudo no Japão, seu apartamento, a escola?

– Tenho – ele respondeu convicto. – Não sou apegado a coisas materiais e posso terminar meus estudos aqui. Não muda nada, continuo sonhando com a medicina. E sabe, June... eu sei que é cedo e que nós somos muito jovens, mas estou pensando que devíamos nos casar... 

A declaração pegou June de surpresa. Embora fosse o que ela quisesse há muito, não imaginou que esse também fosse o desejo de Shun.

– Bom, eu caso agora mesmo se quiser! – ela disse, empolgada.

Shun sorriu. Tinha certeza de que June se entusiasmaria com a ideia de casar-se.

– Vamos descobrir o que temos de fazer, organizar as coisas, ver a papelada... – ele disse. – Assim que nossa no condomínio ficar pronta, nos casamos. Só espero que o Ikki já tenha voltado dessa viagem que ele fez.

-S-A-I-N-T-S-

Noruega.

Hyoga passou o dia gravando cenas de batalha extenuantes. Dispensou dublês em todas elas, surpreendendo o diretor e a equipe com as técnicas demonstradas. Dava saltos incríveis, quase não aparentava cansaço e possuía uma resistência surpreendente ao frio. Enquanto os outros atores e a equipe técnica se agasalhavam fortemente, ele andava com roupas leves mesmo sob a neve intensa.

No final do dia de gravação, quando já estava no hotel preparando-se para dormir, sentiu alguém comunicar-se com seu cosmo.

“Hyoga, sua filha vai nascer”, Mu avisava.

-S-A-I-N-T-S-

Atenas, Grécia.

23 de maio de 1991.

Eiri tinha começado a sentir as contrações pouco depois do jantar e Mu levou-a para o hospital. A médica que a examinou explicou que o parto ainda demoraria e deu-lhe remédios para estimular a dilatação. Eiri sofria com as dores, mas Mu começou a emanar sua energia cósmica, procurando acalmá-la e amenizar a dor.  Logo surtiu efeito.

– Assim está bem melhor – Eiri disse, suspirando de alívio enquanto era confortada por Mu. – Como ela está?

– Está assustada com o que está acontecendo – Mu respondeu. – Mas está bem. É normal que fique assim, ela está sendo expulsa do lugarzinho seguro que ela conhece para vir ao desconhecido.

– Você me avisa se ela começar a sofrer aqui dentro?

– Claro, meu bem. Não se preocupe. Agora você só precisa manter-se calma para que corra tudo bem.

Não tardou para que Hyoga chegasse. Veio da Noruega na velocidade da luz. Parecia ofegante, mas na verdade estava nervoso. Respirou fundo muitas vezes até sentir-se calmo o suficiente para entrar no quarto onde Eiri estava.

– Está tudo bem? – ele perguntou ao entrar. Mu estava ao lado da cama, com uma das mãos sobre a barriga de Eiri.

– Hyoga... – Eiri sussurrou. Por um momento, ela ainda sentiu aquela pontinha de raiva irracional e pensou em pedir que ele saísse, mas decidiu que não era justo. Ele era o pai, e se tinha vindo, era porque se importava com a filha.

Hyoga aproximou-se. Só então Eiri respondeu sua pergunta.

– Sim, está tudo bem.

Os dois homens aguardaram um de cada lado da cama, confortando Eiri na medida do possível, uma vez que as dores aumentavam. Quando finalmente chegou a hora, a médica quis saber quem ia acompanhar o parto. Hyoga deu a vez a Mu, que insistiu para que ficassem os dois na sala de parto. Explicaram à doutora que um era o pai biológico e o outro era o marido de Eiri, Diante da situação incomum, a médica acabou cedendo.

O parto natural foi relativamente rápido e os dois pais emocionaram-se  na hora em que a médica tirou a menina de dentro de Eiri.

– É uma menina – a médica anunciou o que eles já sabiam, e mostrou-a aos dois pais e a Eiri.

– Ela é tão linda! – Eiri murmurou emocionada, acariciando a filha ainda coberta pelos resquícios do parto.

Depois, quando a levaram para o banho, Hyoga acompanhou-a, enquanto Mu ficou com Eiri. A menina tinha bom peso e era saudável, e a cabecinha tinha só uma leve penugem loira. Ela abriu os olhinhos brevemente e Hyoga viu que eram azuis como os dele. Podiam mudar de cor no futuro, mas ele esperava que não. Queria de verdade que ela tivesse seus olhos. Ele ficou olhando-a e depois de um tempo achou que ela não se parecia em nada com ele ou com Eiri, mas lembrava muito sua falecida mãe.

“Será mesmo que eu ainda me lembro dela como era ou a imagem está se perdendo com o tempo?”, ele se perguntou, sentindo um medo intimidador. Tinha superado a fase de lamentar exageradamente a perda da mãe, mas não queria esquecê-la de forma alguma.

Depois do banho, a enfermeira deixou que ele segurasse a filha.

– Minha princesinha... – Hyoga murmurou, aninhando-a junto ao peito. Ele sentia uma ternura inexplicável e quase um calor, como se a garotinha aquecesse seu coração frio e fechado para as coisas do amor. – Espero que a vida seja boa para você, meu bem. 

Ele mesmo levou-a até Eiri, que àquela altura já estava de volta ao quarto, e colocou-a nos braços dela. A mãe acariciou a filha sob os olhares embevecidos de Mu e Hyoga. Com a ajuda da enfermeira, levou-a ao seio e amamentou-a pela primeira vez.

– Saí da locação do filme às pressas, nem trouxe os presentes dela – Hyoga disse. – Estava com algumas coisas lá no set, mas na hora da correria acabei esquecendo.

– O importante é que você veio – Eiri disse, enquanto amamentava a filha.

– Eu sempre disse a você que me importava, Eiri. Sempre.

– Agora eu estou vendo que sim. Deu tudo certo, ela é saudável, linda e perfeita, vocês dois estão comigo... Não tenho do que me queixar. Estou muito, muito feliz.

– Eu também – Mu disse. O cavaleiro de ouro achou que se sentiria meio perdido ali com a presença de Hyoga, mas na verdade o que sentia era uma cumplicidade com ele, como se pudessem de fato dividir o papel de pai da menina.

– Eu sei que sim – Hyoga disse. – Fico tranquilo porque sei que nos meus momentos de ausência, os quais espero que sejam poucos, você vai ser um bom pai para ela.

– Farei o melhor que eu puder, Hyoga. Tenha certeza disso.

Depois de paparicarem a pequenina, os três chegaram a um impasse: como chamariam a menina? Eiri queria chamá-la Agnes, enquanto Hyoga obviamente queria dar a ela o nome de sua mãe, Natássia. Mu também tinha um nome preferido: Eithne. Eiri já sabia disso, mas na hora ele preferiu não se manifestar e deixar que os dois resolvessem a questão. No futuro, quando tivesse uma filha sua, colocaria o nome preferido.

– Está bem – Hyoga concordou com Eiri, pondo fim ao impasse. Queria mesmo que ela tivesse o nome de sua mãe, mas decidiu evitar confrontar Eiri nesse momento delicado. – Agnes é um bom nome. Amanhã logo cedo eu sairei para registrá-la.

Ele concordou, mas sua expressão de decepção foi tão comovente que Eiri não resistiu e resolveu fazer a vontade dele.

– Natássia também é um bom nome – ela disse. – Ela vai gostar de ter o nome da avó.

 Hyoga sorriu de uma forma que Eiri jamais tinha visto. Pareceu-lhe um sorriso de criança, como os que ela via todos os dias no orfanato, um sorriso puro, natural, desprovido de qualquer dissimulação ou afetação.

-S-A-I-N-T-S-

Lima, Peru.

Depois de relatórios semanais sem grandes progressos, Estebán finalmente traz um promissor. O detetive tinha descoberto que a tal mulher que levou Esmeralda na verdade era uma conhecida dona de um prostíbulo da cidade. Esmeralda passou algum tempo no local, mas saiu de lá há alguns meses. Continuou investigando e descobriu que muito provavelmente ela tinha sido levada por um senhor residente em um povoado localizado nos arredores de Cusco.

– Nós vamos para lá – Ikki disse, sentindo-se esperançoso outra vez.

A viagem de carro levaria mais de vinte horas, então os dois partiram de avião no dia seguinte, e o detetive começou suas diligências imediatamente após o pouso. Em poucos dias, Estebán localizou uma moça que se encaixava na descrição de Esmeralda. Ela tinha chegado há poucos meses e vivia na zona rural, no sítio de um casal idoso, ajudando-os nas tarefas diárias. Entretanto, investigando mais a fundo Estebán, descobriu que corria o boato de que o homem a tinha trazido de Lima para ser sua amante.

Assim que Estebán entregou esse relatório, Ikki alugou um carro e partiu para lá com o detetive. No sítio, um velhote de aparência suja e amarfanhada os recebeu com desconfiança. Ao vê-lo, Ikki não pôde evitar compará-lo com o antigo dono de Esmeralda na Ilha da Rainha da Morte. Era só um pouco mais novo e robusto, mas a sujeira e a expressão eram as mesmas.

– O que querem aqui? – ele berrou, brandindo a vassoura que usava para varrer a frente da casa.

– Precisamos falar com sua empregada – Estebán tomou a frente, temendo que Ikki, em sua ânsia, estragasse tudo.

– O que quer com ela? – o homem retrucou, ainda áspero e desconfiado.

– É um assunto importante, do interesse dela.

– Que tipo de assunto?

– Eu sou advogado de um parente dela que faleceu – mentiu Estebán. Sabia que dinheiro sempre era o único assunto interessante para atrair a atenção de pessoas como aquele homem, e viu satisfeito os olhos dele brilharem ao mencionar ‘la plata’.

– Ela está na roça, quebrando milho. – O tom dele já havia mudado, embora ainda estivesse ligeiramente desconfiado. – Eu levo vocês lá.

Estebán sorriu discretamente para Ikki e os dois acompanharam o homem até a parte da propriedade onde ficava o milharal.

A cada passo, Ikki sentia o coração aos saltos. Se Esteban estivesse certo, era sua Esmeralda quem estaria ali adiante. A única vez na vida em que sentiu as pernas fraquejarem tanto foi quando ela tinha sido “morta”. Agora sentia o mesmo, mas pelo motivo oposto.

No milharal, eles logo avistaram uma moça vestida com um traje típico peruano: o vestido preto, bordado com flores de tons alegres, cor-de-rosa e verde-cana principalmente. Ikki achou que devia ser um vestido bonito quando era novo, mas agora não passava de um trapo imundo.

De costas para eles e alheia à movimentação, a moça arrancava o milho dos pés e punha numa cesta.

– Esmeralda! – chamou o homem. Ikki precisou firmar-se para não cair de joelhos ao ouvir o nome. – Tem um doutor advogado querendo falar com você.

Ela virou-se lentamente, assustada, com o olhar voltado para o chão. Naqueles segundos, milhões de coisas passaram pela sua cabeça. O que um advogado podia querer com ela? Não tinha notícias da família desde que fora mandada como escrava para Ilha da Rainha da Morte e achava muito improvável que eles a estivessem procurando, ainda mais naquela distância. Tinha feito algo errado quando estava em Lima? A prostituição? Mas já estava tão longe de lá...

Quando ergueu o olhar e viu Ikki ao lado do suposto advogado, ela deixou cair a espiga que tinha na mão. Não conseguia acreditar nos próprios olhos.

– I-Ikki... – ela murmurou, estupefata. 

Ele também não conseguia acreditar. Susteve a respiração com medo de que o ar que saía dos seus pulmões pudesse fazer a imagem de Esmeralda sumir. Ela estava mudada. Agora tinha um rosto ainda mais castigado pela vida dura que levou nos anos em que viveu nas ruas. Sua aparência era a de uma mulher de mais de trinta anos, não dos dezessete que tinha. A pele perdeu o viço e os cabelos, o brilho. Os olhos verdes, entretanto, continuavam lá, e apenas eles ainda conservavam algo daquela antiga Esmeralda, alento de Ikki na Ilha da Rainha da Morte e seu único amor.

Ikki não acreditava em Deus ou num poder superior ao do cosmo. Nem mesmo na deusa que seguia ele acreditava plenamente. Sozinha, sem a ajuda dele e dos amigos, ela não teria sido capaz de fazer nada. Era a força de humanos como ele quem lhe garantia a supremacia sobre os deuses que queriam tomar a terra. Havia algo ainda maior? Algo que criou o homem e lhe definiu o destino? Nunca tinha acreditado nisso.

Entretanto, agora sentia que alguma força superior conspirou para que ele e Esmeralda se reencontrassem. Não sabia se podia chamar isso de Deus ou de poder divino, mas definitivamente havia algo.

Ele queria correr até ela, mas as pernas não respondiam como ele esperava, então andou devagar, calculando cada passo, buscando manter o controle. Quando chegou perto dela, levantou a mão para tocar-lhe o rosto. Esmeralda chorava e ele, gentilmente, aparou-lhe as lágrimas.

– Eu não posso acreditar – ela murmurou e abraçou-o desesperadamente, quase como se quisesse se esconder nos braços dele.

– Eu sinto muito, Esmeralda. Se eu soubesse que você estava viva, teria movido o mundo para encontrá-la. Chega dessa vida. Eu vou cuidar de você. Nós vamos embora daqui, se você quiser.

– É o que eu mais quero – ela murmurou.

O dono do sítio assistia à cena com desconfiança.

– Quem é esse? – ele perguntou a Estebán.

– Ah, é um primo dela... – o detetive despistou, torcendo para que Ikki não a beijasse na boca, comprometendo a história inventada.

– E ele vai dividir a tal herança com ela, é?

– Hum... não, ele não precisa! Ele é milionário! Só queria revê-la... e levá-la.

– Levá-la? Como assim?

– É, levá-la. – Estebán resolveu provocá-lo. – Ela por acaso não é livre?

– Bom, sim, mas acho que tenho direito a uma compensação pelos meses que ficou aqui, comeu da minha comida, bebeu, teve abrigo, roupas.

– Nós vamos ressarcir o senhor de alguma forma...

– Hum, agora estamos nos entendendo.

– Quanto acha que é o suficiente?

O homem ficou pensativo e pareceu fazer contas.

– Ela me deve uns dez mil.

– Certo – Estebán concordou sem regatear para surpresa do homem, que se arrependeu de não ter pedido mais.

Ikki se aproximou deles trazendo Esmeralda consigo, agarrada firmemente ao braço dele. Ela dirigiu ao velho um olhar assustado. Temia que ele não a deixasse ir embora.

– Eu posso ir? – ela perguntou, hesitante.

– Depois que eu tiver meu dinheiro – o homem disse.

– Ele quer dez mil – Estebán cochichou com Ikki.

– Pelo que vi aqui – Ikki começou a falar –, ela pagava a moradia com trabalho. Não creio que haja alguma dívida a saldar, mas se é dinheiro que quer, eu pago. Não me importo com isso.

Ele abriu a mochila, contou dez maços de mil e entregou ao velho. Estebán o havia prevenido a levar cerca de vinte mil, só tinha gasto a metade, mas pagaria o que fosse preciso para tirar Esmeralda dali.

– Assim está bom... – o velho disse, ainda arrependido de não ter arrancado mais dinheiro dos dois homens. Esmeralda foi embora sem sequer se despedir dele e da mulher, que apareceu na porta e ficou observando tudo de longe. Ikki teve a impressão de que ela parecia aliviada com a partida da moça. 

Esmeralda optou por não levar nada dali. Ikki pediu que pegasse pelo menos os documentos e ela disse que nunca teve nenhum. Entrou no carro ainda assustada e agarrando-se a ele. Pela reação dela e pelo estado em que se encontrava, ele sabia que era, no mínimo, maltratada e abusada pelo velho. Queria voltar lá e quebrar todos os ossos dele antes de partir, mas manteve o controle.

“Vida nova”, pensou ele. “E sem sangue nas mãos.”

Continua...


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Notas finais do capítulo

-S-A-I-N-T-S-

Hey!

EOF de volta! E com gente nova chegando e gente velha voltando!

Escrevi esse retorno da Esmeralda em 2004 e finalmente a fic chegou nessa parte. O original era um pouco diferente, ao invés de estar num sítio no Peru, ela estava no deserto do Saara com uma tribo de beduínos... OI? Kkkkk Eu sei, não fazia o menor sentido, por isso fiz as mudanças, mas a essência do reencontro ainda é a mesma e eu amo tanto essa cena. Espero que vocês gostem também.

E a filhota do Hyoga!? Planejada desde o original também, mas o nome não era Natássia. Eu não queria cair na escolha óbvia na época, mas acabei me rendendo. É Natássia e pronto! Ah, como acabaram me perguntando sobre a data de nascimento da Keiko lá no Face (não lembro muito bem, mas acho que foi a Franscislene), acabei colocando a data da Natássia logo. E, a propósito, Keiko nasceu em 21 de fevereiro.

É isso!

Obrigada a todos que acompanham a fic!

Beijins!

Chii