Abri os olhos e me senti insuportavelmente enjoada. O cheiro nauseante, a última sensação que eu me lembrava ao perder os sentidos, continuava á me envolver.

A escuridão era total.

Eu quis gritar, chamar alguém, mas algo me apertava a boca, esmagava meu rosto e fazia doer minha cabeça. Eu tentei me mexer e me senti embrulhada como um pacote. As minhas mãos estavam amarradas ás costas, e havia uma lona que me prendia os tornozelos, que quase cortava a circulação de meus pés.

Tudo se sacudia. Eu estava dentro daquele carro. Meu corpo tremia de pavor e frio. E doía. Era uma dor geral, minha cabeça parecia estar prestes á explodir. O que será que eles fariam comigo? Será que eu iria morrer tão nova assim?

Aquilo só podia ser um pesadelo... Eu logo iria acordar ao lado de Niall, iria receber seu sorriso doce de bom dia, aquele seria um dia de sol e tudo estaria perfeito...

Nos meus olhos, brotavam lágrimas fartas, quentes, ao encarar o fato de que aquilo não era apenas um pesadelo, aquilo era verdade...

Meus gritos abafados pela mordaça, ecoavam somente dentro de mim mesma. Ninguém podia me ouvir. O que eu sentia era medo, medo, e mais medo...

P.O.V (Point Of View): Niall Horan.

-Olá, meninas.– dissemos nós, após termos chegado da entrevista.

-Ué, cadê a Gabi?

-Nós íamos falar isso á vocês agora.– disse Lívia, com um certo pavor nos olhos –Ela saiu faz um tempão pra ir comprar remédio na farmácia e não voltou até agora!– eu fiquei meio que apavorado.

Tá, eu fiquei completamente apavorado.

-Já tentaram ligar pra ela?

-Já! E ela não atende! Cai na caixa postal o tempo todo...

-Meu Deus...– eu me sentei no sofá, eu já estava soando de nervosismo.

-C-calma, gente. Daqui á pouco ela vai entrar pela porta e vai dizer que não estava ouvindo o celular tocar, ou que encontrou um monte de fãs que a atrasou e...– Zayn tentava parecer positivo. Ele queria me manter calmo, mas eu simplesmente não conseguia.

-Eu preciso saber o que está acontecendo... a Gabi, m-meu anjo... Ela não pode!

-Calma, Niall.– Liam acariciava meu braço, tentando me confortar –Vai ficar tudo bem...– eu fiquei tentando ligar pra ela o tempo todo. Ela não atendia. Ficamos meia hora naquela agonia. Foram os minutos mais agonizantes da minha vida! E se estivesse acontecendo algo com ela?

-Eu não vou fazer show nenhum com Gabi perdida.

-Niall... a gente...

-Eu não vou! Não vou! Me recuso á colocar os pés no palco nessas condições! Eu preciso encontrá-la!– o celular de Louis tocou. Ele olhou para a tela e arregalou os olhos.

-É uma chamada de Gabi.

-Atenda!– gritei. Ele não pensou duas vezes, atendeu o celular no viva-voz.

-Gabi?

-Louis Tomlinson?– a voz não era a de Gabi. Era a voz de um homem adulto, era grossa e rouca. Seu tom era intimidador...

-Quem é? Onde está Gabi?

-Quem está aí com você?

-Meus amigos! Onde está Gabi?

-Sua amiguinha está aqui conosco. Ela está viva... por enquanto.– eu estava praticamente arrancando os cabelos e não somente roendo as unhas, mas também comendo meus dedos.

-NÃO TOQUEM NELA!– gritei.

-Desde que vocês nos paguem o que quisermos.

-Quanto vocês querem?

-15 milhões.– eles se entreolharam.

-EU PAGO!- não hesitei em gritar isso.

-Niall! É muito dinheiro...

-Não ligo! Eu quero minha namorada de volta! Eu pago á você os 15 milhões! Desde que não encoste um dedo nela!

-Nos retorne quando estiver com o dinheiro na mão. E se houver polícia envolvida, matamos a garota. Tu tu tu tu...

-AH MEU DEUS!– eu estava chorando –Ela deve estar muito assustada! Devem estar torturando ela! Precisamos do dinheiro agora!– eu peguei meus documentos e saí correndo pela porta da frente.

-Niall! Espera, vou com você!– Louis veio correndo atrás de mim. Eu nem quis esperar os elevadores, saí correndo pela escada. Louis subiu no banco de motorista na van, e eu fui ao seu lado. Eu estava com muitas lágrimas nos olhos.

Eu não podia nem imaginar a possibilidade de perde-la. Louis também estava sério, quieto, preocupado. Ele dirigia rápido, ultrapassava os sinais vermelhos, mas estávamos pouco nos ferrando pra isso. Entrei no banco, retirei o dinheiro que precisava e fomos o mais rápido que conseguimos de volta pro apartamento.

O pessoal estava muito nervoso. Estavam todos andando em voltas, Carol chorava e Harry tentava acalmá-la. Quando entramos, todos vieram correndo pra nossa direção.

-Estão com o dinheiro?

-Sim.

-Chamamos uma promotora de uma agência de investigação para nos ajudar.- disse Liam, andando em minha direção.

-O quê?! Eles nos deixaram bem claro que não queriam polícia envolvida nisso!– uma mulher ruiva, formalmente vestida, usando óculos e aparentando ter uns 40 e poucos anos, se aproximou de mim e disse com a voz macia:

-Prazer, sou Sally. Eles não saberão que a polícia estará envolvida. Usaremos um sistema no qual é prendido nas rodas da van, a polícia conseguirá rastrear o local onde os seqüestradores estão, e prende-los.

-Não! De jeito nenhum! Eles disseram que se houver polícia, ele a matará! Sem essa!

-Niall,– Liam se aproximou de mim –nós precisamos fazer isso. Eles não vão saber que a polícia vai estar envolvida. Depois poderão prender quem fez isso com ela e...

-Não!

-Niall...

-Não, Liam! Eu não posso arriscar perde-la! Não posso! Vamos ligar logo pra eles.– Louis pegou seu celular e discamos para o numero de Gabi. O mesmo homem atendeu.

-Alô?

-Estamos com o dinheiro.

-Certo. A polícia está aí?– Louis nos entreolhou.

-Não.

-Ok. Se soubermos que tem polícia por trás disso, digam adeus á sua amiguinha. 15 milhões?

-Sim. 15 milhões. Onde podemos te encontrar?– o homem nos passou o endereço e anotamos.

-Lembrando: sem polícia! Tu tu tu tu...

-Vocês ouviram o homem! Sem polícia!

-Sr. Horan... nós...

-Me escute bem, Sally!– eu apontei o dedo indicador pra ela e a lancei o olhar mais frio que consegui –Eu não vou deixar eles fazerem nada com ela! Se eu a perder... eu juro que eu vou atrás de você! Então, não se intrometa! Porque está tudo ocorrendo bem. Nós vamos lhe entregar o dinheiro, sem polícia, e eles vão me entregar minha namorada. Não quero seus serviços!– eu fiquei a encarando por um tempo –Vamos, Louis.– Louis e eu saímos pela porta da frente e fomos em direção ao endereço.

Paramos na frente de uma casinha simples. Era uma casa branca, parecia ser velha, conseguia ouvir as paredes rangendo, e ouvia silenciosos e abafados gritos.

Gabi...

Eu precisava salvá-la logo. Eu jurei que ela nunca ia me perder, eu nunca iria perde-la também. Peguei o saco de dinheiro, Louis me olhou com lágrimas transbordando de seus olhos e colocou a sua mão direita sobre meu joelho.

-Cuidado, Niall.- respirei fundo.

-Eu vou conseguir.

Eu bati na porta.

“Deus, por favor me ajuda!” supliquei. Um homem de máscara, alto a abriu e me fitou nos olhos. Seu olhar era cortante, o mal cheiro de dentro daquela casa penetrou no meu nariz e tive um enjôo repentino, mas mantive a postura.

-O dinheiro.– me disse ele, esticando a mão.

-Primeiro a garota.– ele bufou, mas saiu da minha frente, o que me deu uma visão completa de dentro daquela casinha. O ambiente estava escuro, só era iluminado por entre as persianas que permitiam que um pouco da luz do sol tomasse conta da sala. Havia no fundo da sala, uma cama e... Gabi estava em cima dela, seu rosto estava sujo, ela estava suada, seu cabelo bagunçado, correntes prendiam seu tornozelo á cabeceira da cama, e quando me viu, ela começou á chorar.

-Niall!– gritou ela.

-Cala a boca!– um homem ao lado dela apontou uma arma em sua cabeça.

-Não toque nela! Ou não terá nenhum dinheiro!– eu saí correndo em sua direção, e me ajoelhei na sua frente, eu comecei á chorar, dei um beijo em sua mão e sorri pra ela –Vai ficar tudo bem, meu anjo.

-O dinheiro.

-Solte-a.– o homem ao seu lado desatou as correntes de seus tornozelos, e com um impulso, a jogou no chão. Ela gemeu e eu a ajudei á levantar. Ela estava fraca.

-Agora o dinheiro.– eu coloquei o saco em cima da mesa, fitei os olhos do assaltante, peguei na mão de Gabi e corri pela porta da frente. 

-Não tão rápido...– aquele homem gigantesco colocou a mão na porta, bloqueando nossa passagem.

-O que? Já te dei o dinheiro, agora nos deixe ir!

-Imagine só o quanto nos darão para salvar a namorada e seu amiguinho...

-Não! Fizemos um acordo! Me deixe ir embora!– o homem deu uma risada. Meu olhar se dirigiu ao de Gabi, ela transmitia pavor.

Eu investi contra a porta, o que a fez abrir num solavanco. Eu caí de costas no chão, o homem agarrou o braço de Gabi e quando ia preparar a arma para matá-la, ele arregalou os olhos para algo que estava atrás de mim e pareceu estar paralisado. Eu virei de leve a cabeça e vi que milhares de policiais estavam com as armas apontadas para ele.

-Largue a arma.–disse Sally, mirando na cabeça do bandido. Ela me lançou um olhar do tipo “eu te avisei” e sorriu. O homem deixou a arma cair no chão, perto de mim, o que ativou um tiro que voou em minha direção e rasgou minha coxa.

Aquela dor estava insuportável. Parecia que eu havia perdido a perna. Eu queria gritar, parecia que aquele machucado tinha sugado todas minhas forças. Eu me remoía no chão, tentando de qualquer jeito amenizar aquela dor insuportável.

-Niall!– Gabi se jogou no chão ao meu lado, chorando, e pressionou suas mãos sobre o sangue que escorria pela minha panturrilha –Chamem a ambulância, por favor!– Louis veio correndo na nossa direção, e se ajoelhou ao lado de Gabi com o celular nas mãos, enquanto ele ligava para a ambulância. A imagem foi ficando embaçada –Calma, meu loiro. Vai ficar tudo bem...– a voz dela me confortou, eu consegui sorrir pra ela.

Fechei os olhos e me perdi na escuridão.