Pergaminhos íntimos escrita por KirsikkaLia


Capítulo 10
Pergaminho IX




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Xena sentou-se na beira do mar, observando o movimento constante das ondas, deixando que a água fria molhasse seus pés. Atrás dela, um pequeno grupo de homens com armaduras precárias e armas piores ainda tentavam armar um acampamento.  Se resumiam aos jovens loucos por aventura e os idosos que ainda queriam lutar por sua terra.

Infelizmente, aquele grupo foi o melhor exército que ela tinha conseguido reunir naqueles poucos dias.  Sabia que seriam de pouco ajuda, aliás eram mais iscas do que soldados. Mas ela já havia estado em situações piores e sabia como lidar.

-Xena...Xena...- Gritava um dos “soldados” por entre suas barbas brancas.

A Guerreira se levantou com um esforço e foi até o soldado.

-As tropas inimigas estão se aproximando. O que faremos?

Ela explicou o plano, que já tinha formado desde o início. Os homens ouviram atentamente e foram para suas tendas, lutariam apenas ao amanhecer. Xena não queria dormir, a saudade da sua Barda apertava seu coração. Pegou a bolsa e pegou um outro pergaminho que Gabrielle tinha mandado ela levar. Decidiu ler, assim matava um pouco da saudade.

[Pergaminho IX]

Você não vai acreditar! Parece que os Destinos estão zombando de mim. Os Deuses devem estar querendo testar as minhas forças.

Xena está no corpo da Callisto. Dá pra acreditar que a minha melhor amiga está no corpo da minha pior inimiga?!?!
É horrível. Não consigo ver a minha Xena naquele corpo. Olho pra ela e sinto raiva, embora eu saiba que por dentro é ela. Só consigo esquecer isso quando fecho os olhos e a abraço. O toque pelo menos continua o mesmo.

Estou com medo de que ela fique presa nesse corpo para sempre. Acho que eu não suportaria. Eu não conseguiria aprender à ama-la assim. Os Deuses teriam que tirar minha visão.
Ela conseguiu um acordo com Hades, e tem apenas um dia para conseguir trocar.

Estou observando ela sentada, mas sinto um arrepio pelo meu corpo todo só de olhar, ainda mais quando ela sorri pra mim, e eu lembro daquele sorriso cínico da Callisto e mal posso retribuir. Não quero magoa-la, eu sempre disse que ficaria com ela não importando o que acontecesse, mas... Não sei se vou poder continuar andando com ela se não conseguirmos trocar.

E justamente hoje ela quis falar comigo sobre aquele beijo. Aquele que eu dei nela quando estava chorando pelo Pérdicas. Tinha muita coisa que eu queria falar pra ela, mas daquele jeito não consegui. Apenas respondi que tinha sido um engano, um erro que eu esperava não cometer de novo. Os olhos dela pareceram se encher de lágrimas e eu me senti um nada por ter dito aquilo, quando na verdade queria dizer o contrário. Mas eu não consegui me conter, quis feri-la como se fosse mesmo Callisto.

Estou pensando em alguma maneira de remediar a situação, mas é difícil ignorar a aparência dela.

Estou super cansada e com sono, mas não queria ir dormir. Porque eu não consigo dormir longe dela, mas e se eu dormir do lado dela e acordar no meio da noite com a Callisto?! Eu tenho até medo de esquecer que é a Xena e sair batendo nela (como se eu conseguisse, mas enfim...)

Sinceramente não sei o que fazer. Eu não quero deixar ela magoada e sozinha nesse momento, mas não sei como ajudar.

Acho que vou dar uma volta e tomar um banho pra esfriar a cabeça.

 

Gabrielle

Xena deitou e abraçou o pergaminho. Queria que existisse alguma forma de falar com a sua amada, saber se ela estava bem.
Achou que seria melhor descançar antes da batalha, puxou a bolsa para guardar o pergaminho e um pequeno pedaço de papel caiu de dentro. Ia joga-lo de volta quando reparou que havia algo escrito:

“Quando eu te vejo, penso que jamais
Hermíone foi tua semelhante;
que justo é comparar-te à loura Helena,
não a qualquer mortal;

oh eu farei à tua formosura
o sacrifício dos meus pensamentos,
todos eles, eu digo, e adorarte-ei
com tudo quanto eu sinto.”*

Um sorriso tomou conta do seu rosto, juntamente com as lágrimas que transbordavam de seus olhos. Dobrou aquele pedaço de pergaminho, e colocou com cuidado dentro da armadura, do lado do coração. Se algo a protegeria seria aquilo, as doces palavras da sua Barda.

Ajeitou as peles e dormiu. Sonhou com Gabrielle, sonhou que estavam juntas num campo, deitadas sobre as flores, que misturavam seu perfume ao da loura, e ela podia quase sentir seu toque, seu beijo.

Acordou pela manhã feliz pelo sonho, mas um temor a abateu, e começou a imaginar se realmente sentiria aqueles beijos novamente. Tentou afastar os pensamentos, se armou e seguiu para a batalha com seus homens.

 

[Continua...]

 


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Notas finais do capítulo

* Poema "Quando eu te vejo" de Sappho de Lesbos.

Espero que gostem do cap. ^^



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