Estavam sentadas ao redor da fogueira como de costume. O céu estrelado sobre elas e o calor do fogo aliviava os inúmeros problemas que as atormentaram ultimamente. Xena gostava de atiçar o fogo, vê-lo faminto e incontrolável a lembrava de si mesma. Mas gostava mais ainda da maneira como ele iluminava Gabrielle, de como a luz contornava seu corpo e fazia brilhar ainda mais seus olhos. A Barda revirava sua bolsa de pergaminhos, ajeitava-os com cuidado sobre suas pernas, organizando-os de alguma forma que apenas ela entendia. Não escrevia mais com a mesma frequência, gostava de reler seus antigos pergaminhos, quase sempre com uma expressão melancólica no rosto. Gostava da leveza da sua juventude, quando nada era assim tão complicado quanto parecia e ela pensava que logo ela e sua guerreira poderiam ser felizes para sempre. Hoje em dia ela não tinha tanta certeza.

-Xena, eu queria te mostrar uma coisa.
-o que?
-Bem, esses pergaminhos... – Disse olhando para os manuscritos em suas pernas- Eu escrevo eles todos os dias, desde que te conheci. Não são como os outros, eles não narram as nossas aventuras. Eles são...sobre mim. Sobre meus sentimentos, sobre os nossos sentimentos. Eu os escrevo todas as noites, quando você está dormindo.
-E por que você quer me mostrar eles agora, Gabby? -Algo me diz que eu devo mostrar, quero que você saiba exatamente como eu me sinto. Você sabe que eu só sei me expressar de verdade por escrito.
Pegou um dos pergaminhos e entregou à Xena, que parecia meio confusa. Ela não sabia se deveria mesmo fazer isso, era algo tão intímo e por mais que soubessem tudo uma da outra, isso iria além.
-Esse é o primeiro. Eu escrevi quando você foi ao meu vilarejo. Sei que vai parecer meio infantil, mas é um dos meus favoritos.
Xena começou a desenrolar o pergaminho, tinha de admitir que estava curiosa, e se esse era o desejo da sua barda, ela iria ler.

[Pergaminho I]

Hoje o dia foi demais. Tenho certeza que os Deuses atenderam aos meus pedidos e me mandaram quem pode me salvar dessa cidadezinha. Bem, melhor eu começar do começo. Hoje fomos atacados pelos homens do Draco, queriam levar as mulheres como escravas. Fiquei com medo, mas não deixei que notassem isso e tentei enfrentá-los. De repente, surgiu uma mulher, uma guerreira. Seu nome é Xena. Nunca vi uma mulher como ela, era alta, forte, tinha a pele bronzeada, cabelos longos e negros e olhos azuis profundos. Ela os derrotou em segundos. Jogou um círculo de metal, que logo depois voltou para as mãos dela, nunca vi nada igual. Pedi para ela me levar com ela, que se recusou. Claro, guerreiros não assumem que precisam da companhia de alguém.

-Desde sempre, convencida, né?! –Xena comentou com um sorriso
- Continua lendo...

Já me decidi. Essa noite vou fugir e me juntar à ela. Sei que ela vai para Amphipolis, não deve ser tão difícil assim encontra-la. Finalmente vou sair dessa cidade, eu não pertenço a esse lugar. Não posso ser quem a minha família quer que eu seja. Eu quero ser como a Xena, livre e independente. Lutar pelo que acredito, carregar uma espada, impor medo hahaha Ai, vai ser tão legal ! Mal posso esperar. Já arrumei minha bolsa, e escondi embaixo da cama, quando todos estiverem dormindo, eu saio. Vou sentir falta da Lila, mas sei que ela vai me entender, vou deixar um bilhete para ela explicando os motivos. Mas não vou dizer pra onde fui, vai que ela acaba falando pros nossos pais. Bom, todos estão se retirando para dormir, melhor eu fingir que estou com sono também e me preparar. Mas estou tão ansiosa que aposto que mal vou fechar os olhos.

Gabrielle