My Last Memory!NewYork escrita por Porcelain


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo ficou curto, mas tem bastante revelações nele. E já tem praticamente uma prévia do que vai acontecer no próximo capítulo.



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No dia seguinte, Sophie resolveu ir à loja de bonecas de porcelana que Brandon tinha lhe recomendado. A morte da sua tia ainda estava lhe afetando, mas queria distrair-se um pouco para esquecer-se um pouco disso. Estava com o endereço anotado em um pequeno papel, e seguiu até uma loja branca com uma grande placa bege escrito “Porcedoll” com uma rosa vermelha enfeitando-a.

A morena entrou confiante, admirando as bonecas que, aparentemente, eram perfeitas. O salão era circular com um piso que imitava um tabuleiro de xadrez. As prateleiras onde as bonecas estavam devidamente arrumadas eram curvadas para ficarem mais adequadas à parede. Um balcão de vidro com vestidos e outros acessórios em cima do mesmo estava posicionado no meio do salão.

— Olá? Tem alguém aqui? – Sophie perguntou, enquanto admirava as diversas bonecas que a rodeavam. Todas tinham um jeito único. Uma roupa única. Nenhuma se repetia e nem se podia dizer que eram parecidas. Aquela loja era um lugar agradável, bem arejado e repleto de beleza e delicado. Um pesadelo para garotas como Meiko e Arya, e um sonho para garotas como Lola e Sophie.

A morena caminhou até atrás do balcão, onde notou uma pequena escada no chão que dava até uma porta vermelha. Sophie resolveu descer, até porque seria falta de educação invadir uma loja vazia sem nem, ao menos, procurar a proprietária e desculpar-se, certo?

A garota abriu a porta vermelha, e sentiu a atmosfera mudar totalmente. A sala que se estendia diante de seus olhos era escura, e só se iluminava por uma pequena lâmpada no teto. Também era cheia de bonecas de porcelanas nas prateleiras, mas estas pareciam estar com algum defeito. Uma garota loira com olhos heterocromáticos (um era verde e o outro, vermelho) sentava-se em uma poltrona com uma boneca no colo. Ela usava um longo vestido de camadas com vários broches e babados, como uma legítima condessa inglesa do século XX.

A parte mais estranha era a boneca no colo da mesma. Ela tinha longos e lisos cabelos negros. Pele claríssima, que não poderia ter sido feita se não fosse por porcelana. Usava um belo vestido preto com botinas pretas também. Um pequeno broche de rosa branca era preso no vestido. Seus olhos eram cor de turquesa. Sim, uma boneca igual à Sophie.

Meiko retirou seu óculos de sol e pendurou-o em seu decote. Estava um grande calor em Nova York, de modo que pessoas se abanando com panfletos e com roupas cada vez mais curtas surgissem de todos os lados. Gee usava uma regata branca que deixava seus músculos à mostra, mas isso não o impedia de suar. Lucky usava uma camiseta desabotoada até o final, deixando seu peitoral definido à mostra também. Mesmo assim, todos sentiam o mesmo calor. Os dois rapazes não conseguiam parar de olhar para os seios de Meiko, que pareciam estar mais marcados com aquela regata preta que a garota vestia.

— Por que nos chamou tão cedo, Mack? – Meiko perguntou irritada, seus olhos eram rodeados por olheiras vermelhas e profundas.

— Vamos gravar o primeiro videoclipe do álbum. – Ele disse, tentando disfarçar o tom de empolgação. Mack era o empresário do Blood Demon. Ele fazia tudo perfeitamente, e sempre auxiliava os três no que tinha que fazer. Ele é do tipo sério, que não diz nada sem que ninguém lhe pergunte.

— Videoclipe? – Meiko arregalou os olhos. – Não dá pra fazer só uma animação pobre com a música no fundo?

— Dá sim. – Mack aproximou seu óculos para mais perto da face com o dedo indicador. – Mas não vamos fazer isso. O Blood Demon é mais que animações pobres com música no fundo. Blood Demon é atitude, é mostrar que somos capazes de fazer o que quisermos com um toque sombrio!

— Na verdade, Blood Demon é uma banda de músicas sombrias com letras melancólicas criadas pela minha mente perturbada. – Meiko murmurou, olhando para o lado. Uma mulher japonesa de cabelos loiros passou pelo corredor, parando ao lado de Mack.

— Hm, aqui estão o mais novo sucesso da Sony Music! – A japonesa disse empolgada, lançando um olhar sedutor para Lucky.

— Ah, esta é Megure Koyama. – Mack disse. – Ela que recomendou vocês para os fãs dela, e é graças à ela que o single “Fly Butterfly” teve mais de 3 milhões de downloads no iTunes, milhares de acessos no site oficial da banda, e já está em segundo lugar dos singles mais baixados da semana segundo a lista da Sony Music.

— Nossa. – Meiko disse, tentando fingir-se surpresa.

— Não precisam agradecer, eu gosto de ajudar os novatos. – Megure piscou para Lucky, deixando o garoto corado.

— Não íamos. – Meiko disse ríspida, percebendo a troca de olhares dos dois. – Não precisamos da ajuda de ninguém pra termos sucesso.

— Ér... Meiko... – Gee segurou o braço da garota, imaginando um meio de acalmá-la. Mack e Megure fitaram a garota, surpresos.

— Como é, Meiko? – Megure arqueou as sobrancelhas. – Acho que não ouvi direito.

— Não precisamos da ajuda de ninguém para termos sucesso. Entendeu agora? – Meiko disse as palavras pausadamente, com o mesmo semblante sério e o olhar frio e fatal.

— Ah, entendi sim. Não precisa ser tão rude. – Megure disse. Virou-se com raiva e deu passos largos e pesados com sua bota rosa cheia de espinhos.

— Você sabe que está suicidando sua banda, né? – Mack olhou para Meiko com o mesmo semblante de surpresa de segundos atrás. – Ela vai falar muito mal de vocês no site oficial.

— Pouco me importo com essa vadia. Eu acredito na capacidade da nossa banda, e tenho certeza que no meio dessas 3 milhões de pessoas que baixaram nossa música, existem algumas que gostaram realmente da nossa banda. E essas pessoas vão recomendar pra outras que também vão gostar, e assim por diante. Ela só foi burra o suficiente de nos ajudar a levar o Blood Demon ao mundo. – Meiko colocou seu óculos de Sol lentamente, firme com suas palavras. Gee a fitava com bastante orgulho. Aquele gênio forte de Meiko era um de seus maiores charmes.

— Então, que tal começarmos o videoclipe? – Mack perguntou, sério como sempre.

Toneide estava com a agenda livre. Não teria nenhum afazer da Vogue, então decidiu fazer algo que a tirasse do tédio. Ela já tinha dormido tudo o que sua preguiça permitia, e estava com vontade de fazer outra coisa. Queria passar a tarde observando Gee matar zumbis no videogame, mas o mesmo estava ocupado demais com a banda. Louis deveria estar supervisionando alguma coisa na Vogue, e Ângela deveria estar na recepção terminando de organizar o calendário do próximo mês. Luka deveria estar em alguma outra sessão de fotos, e Patch também.

Guii estava terminando os figurinos da peça, então não teria como os dois ficarem juntos preguiçosamente no chão da casa ou em outro lugar impróprio para se jogar e ficar até sentir sono e dormir. Pierre estava auxiliando nos ensaios, então ele não poderia reclamar da bagunça da ruiva, muito menos obrigá-la à ajudar em algum afazer doméstico.

Lola continuava no Maid, provavelmente sendo escravizada ou assediada por algum cliente pervertido (ou Luisa). Ela gostava de bagunçar algo para ver Lola arrumar desesperada antes que Sophie percebesse. Gegaito foi à uma editora ver se gostariam de publicar seu livro – que, até agora, era um mistério para todos – e Sophie disse que iria à uma loja de bonecas.

— Que coisa. – A ruiva comentou. – Preciso fazer algo antes que eu sinta sono e comece à dormir de novo.

Toneide vestiu uma roupa curta qualquer e saiu. Já eram duas horas da tarde, e aparentemente todos já estavam ocupados com algo. Ela gostava de ter o próprio emprego e ser independente, mas ficava totalmente perdida quando não tinha nada a fazer.

— Toneide? – Uma voz familiar a chamou. A garota virou-se e se deparou com Patch, que se aproximava com um largo sorriso no rosto.

— Ah, oi Patch. Pensei que você estava em alguma sessão de fotos pra revista. – Ela disse. – E o Louis, ele te puniu?

— A punição dele era eu ficar sem camisa durante o dia inteiro. – Ele riu. – Fala sério, que tipo de punição é essa?

— Vai saber. – Toneide disse, ignorando o fato de que Louis é gay. – Então, o que está fazendo aqui?

— Eu ia almoçar, mas a Ângela está ocupada demais, então... – Patch coçou a cabeça, constrangido. – Você quer vir comigo?

— Se está me chamando para um encontro, saiba que não é nada legal fazer uma garota sentir como se fosse a última opção. – Toneide colocou as mãos na cintura e fitou os olhos castanhos do homem.

— Não é um encontro, só estou pedindo pra você me acompanhar no almoço e...

— Não, me peça do jeito correto. – A ruiva interrompeu-o com um sorriso travesso na face. Há tempos não se sentia assim, “poderosa”.

— Antonieta, gostaria de me acompanhar até o restaurante para podermos almoçar? – Patch pediu, sem graça. Toneide riu.

— Claro que não.

— O QUÊ? M-Mas...

— É brincadeira. Claro que eu vou. – A garota pegou-o pelo braço e os dois foram até o restaurante, que não ficava tão longe dali. Os dois sentaram-se em uma mesa que ficava perto da janela. O restaurante era bastante agradável, com uma decoração que harmonizava tons de vermelho e verde. Vários vasos de plantas enfeitavam o local. Na TV que estava ligada, passava uma reportagem sobre a mulher que fora morta no colégio de Guii.

— Bianca Huller era uma grande exportadora das joias Lamonier em Nova York. O assassinato ocorreu na madrugada de ontem, no colégio Saint Barbra School. As autoridades ainda investigam como o assassino conseguiu entrar no colégio. Até agora, a única pista aparente foi um pedaço de lã negra. Este assassinato pode conter algum vínculo com o de Megan Scott, que foi morta à alguns dias atrás em um beco escuro perto do prédio da Vogue. – Dizia a jornalista.

— Olha quem encontramos aqui! – Joe sentou-se na mesma mesa e fitou Toneide com um sorriso safado no rosto. – Como vai, ruiva?

— Lola, já está na hora de conversamos sobre o verdadeiro motivo que te aceitei na Eat Me. – Joseph disse. O Maid Café estava fechado, pois era o horário de almoço das Maids. Os cinco estavam sentados à mesa da cozinha, onde tinham alguns doces e salgados que sobravam.

— Você não me aceitou por que sou bonitinha e fofa? – Lola perguntou chateada. Joseph pegou uma maçã e deu uma grande mordida na mesma.

— Na verdade, eu te aceitei porque você é Lola Bucksworth, a ninja mais influente do Japão. – Ele disse, olhando sério para a morena.

— Mas... Meu nome é Lola Aizawa. E eu sou só uma ex-empregada doméstica distraída e que gosta de coisas fofas! – A garota protestou, com as sobrancelhas arqueadas. Joseph olhou tenso para as outras três Maids.

— M-MAS... SE VOCÊ NÃO É A LOLA BUCKSWORTH... – Joseph dizia desesperado.

— Calma, antes de tudo eu irei explicar. – Helena disse, bebendo uma xícara de café. – O Eat Me é só um disfarce pra um dos maiores exportadores de joias ilegais de Nova York.

— Isso quer dizer que o Joseph exporta joias ilegalmente e as vende para joalherias famosas. Então o Maid Café é um disfarce pra ninguém perceber. – Luisa falou.

— Mas... O que essa Lola ser ninja e o Eat Me ser um disfarce pra ninguém perceber que o Joseph exporta joias ilegalmente têm a ver? – Lola perguntou, feliz por conseguir dizer uma frase tão longa e correta.

Antes que Lola pudesse fazer algo, uma faca passou de raspão em seu pescoço e sua ponta prendeu-se na parede.

— Nós protegemos a Eat Me de alguém que resolve pôr as mãos nas joias. – Arya disse, girando uma faca de cozinha nos dedos pelo cabo. – Eu tenho ótimas habilidades com facas e espadas e eu tenho uma mira excepcionalmente boa. Por isso que sempre ganho do Paul em arremesso de facas.

— Eu tenho ótimos reflexos e consigo criar armas com o que tiver ao meu alcance. – Helena disse, retirando um elástico de cabelo e amarrando-o em um garfo. Depois, retirou uma pequena faca e atirou-o perfeitamente ao lado da outra faca que estava cravada na parede. – Viu? Um pequeno arco e flecha.

— Eu sei criar venenos letais ou fatais e colocá-los em dardos! – Luisa disse, animada. – Dependendo de onde o dardo atingir, o lugar pode ficar paralisado ou rígido.

— Você não é a Lola Bucksworth? – Joseph disse, por fim.

— Não. Eu mal sei segurar uma faca sem cortar alguém! – Lola murmurou.

— Mas isso é bom, não? – Arya perguntou, sarcástica.

— Então acho que temos um problema. – O moreno com uma mecha vermelha de cabelo suspirou, arrumando sua cartola com grandes orelhas de coelho. – A Lola Bucksworth disse que viria à Nova York pra preencher a vaga de emprego, mas acabei aceitando a Lola errada! Ela me disse que era morena, e quando eu vi que seu nome era Lola, pensei que fosse ela!

— Mas existem tantas morenas no mundo! – Arya disse, franzindo o cenho.

— Então... Vou ser demitida quando a outra Lola vier? – A morena perguntou cabisbaixa. Ela olhava para suas mãos, imaginando que cara faria quando dissesse à Sophie que fora demitida de seu primeiro emprego em Nova York.

— Não sei, Lola. Não tenho certeza se essa Lola virá mesmo. – Joseph recostou-se à parede, retirou as duas facas que estavam cravadas na mesma e suspirou. – Até lá temos que torcer pra ninguém roubar as joias ou a Lola verdadeira chegar.

Mel e Nicholas resolveram acompanhar Guii até o teatro. O garoto carregava várias sacolas com os figurinos, e Nicholas o ajudava à carregar algumas. Mel, como sempre, dizia que se dormisse lá não era pra ninguém acordá-la pra não ficar com vinte pontos no pescoço.

— A Broadway devia ser chamada de sonífero. – Mel resmungou, coçando os olhos. Nicholas riu.

— Deve ser bastante interessante participar de um musical. – O garoto comentou. Guii passou pela bilheteria com os dois e atravessou o longo corredor entre as poltronas, onde Pierre auxiliava os atores no palco.

[Maddison]

E então sempre haverá outro sorriso!

Yeah, sempre haverá outro sorriso...

Depois do amanhecer...

[Ravenna]

Sim! Sempre haverá outro sorriso!

[Maddison]

Sempre haverá outro sorriso...

[As duas]

Depois do...

[Todos]

Amanhecer!

— Maddison, você precisa treinar mais o seu agudo pra chegar no L alto. – Pierre comentou. – Tirando isso, está tudo ficando ótimo.

Guii aplaudiu e subiu no palco pelos degraus laterais. Nicholas e Mel o seguiram.

— Aqui estão os figurinos. – Ele disse, retirando um por um por meio da etiqueta que continha o nome do ator que usaria o figurino.

— Eu adorei! – Maddison disse, rodopiando com seu vestido azul que contrastava com seus cabelos loiros nos braços. – Ficou ótimo, Guii!

— Obrigado. – O garoto entregou um vestido violeta à Ravenna que admirava a peça.

— Gostei da roupa de caubói. – Daisuke riu. – Foi você que fez?

— Ah, eu só fiz a camiseta. O colete e as botas de couro eu comprei em uma loja de fantasia. A calça jeans eu comprei em uma loja local e fiz uns cortes no joelho. – Guii disse, entregando os figurinos de Nathan e Brenda com um sorriso sarcástico.

— Oi, Nicholas. – Nathan fez um sorriso natural e ajeitou seu cabelo castanho.

— Ah... Oi Nathan. – Nicholas olhou para o lado com a face corada. Mel roncava em uma das poltronas do teatro.

— Mas que roupa horrível! – Brenda berrou. – Onde estão os babados, os laços, as camadas?

— Na loja de tecidos. – Guii disse. – Sua personagem não é rica pra usar roupas com babados, laços e camadas. Ela é uma simples mulher, e essa foi a roupa mais simples e bonita que eu consegui fazer.

— Bonita aonde? – Brenda analisou a peça de roupa de cima a baixo, com a testa franzida. – Não vou vestir isso!

E com um rápido movimento, Brenda segurou o centro do vestido com as duas mãos e rasgou-o com força. Guii olhou-a pasmo. Nicholas e Nathan observaram o vestido bordô com uma faixa lilás cair ao chão com vários fiapos e pedaços de tecidos arrancados por Brenda.

— OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – Guii gritou, aproximando-se da garota com raiva. Apertou o pescoço da mesma, com as duas mãos, fazendo bastante força. – VOCÊ É LOUCA? VOCÊ ESTÁ PEDINDO PRA MORRER.

— LARGA ELA! – Nathan puxou os braços de Guii e empurrou-o bruscamente do palco, fazendo-o cair e bater as costas no chão. Pierre, que voltava com um copo de café, notou que Guii ofegava e uma gota de suor escorria de seu rosto.

— M-Meu pé... – Ele murmurou, tocando no pé direito com as mãos. – EU TORCI O PÉ! MEU PÉ ESTÁ DOENDO! VENHAM ME AJUDAR, NÃO ESTÃO VENDO?

Brenda acariciava seu pescoço, que estava vermelho com marcas de unhas. Nathan observava o garoto, aflito.

— O QUE ACONTECEU? NÃO FUI EU QUE ESCONDI A DENTADURA DA AVÓ NA... Bacia do cachorro? – Mel acordou e notou que Nicholas ajudava o garoto à se levantar.

— Vamos levá-lo ao hospital. – O loiro pediu. Mel coçava os olhos.

— O que aconteceu? – Mel fitou o palco e observou o vestido rasgado, Brenda acariciado o pescoço, Nathan suando frio e Guii com o pé torcido. Não precisava ser um gênio pra adivinhar o que houve.

— Espero que pense bem da próxima vez que for fazer um vestido pra mim. – Brenda sorriu maliciosa.

— Sophie, eu estava esperando a sua visita! – A garota loira deu um pequeno sorriso, acariciando a boneca em seus braços.

— Como você sabe o meu nome? – Sophie estava aflita. A porta fechou-se bruscamente, fazendo um grande barulho assustar a morena. A ideia de sair dali correndo acaba de ser descartada.

— Eu sei tudo sobre você. – Ela riu. Sophie pode notar que na boneca havia riscos vermelhos que imitavam sangue por todo o corpo da mesma. Engoliu em seco. – Eu sei sobre sua avó, sua falecida tia, seu pai que anda pelo mundo e... Sua mãe desaparecida.

— O QUÊ? O QUE VOCÊ SABE DA MINHA MÃE? – Sophie gritou, com o coração disparado. A loira riu e continuou riscando a boneca com a caneta.

— Não grite. – Ela olhou séria para a morena. – Você pode acordar meus cachorros famintos que estão no quarto ao lado. Se sente, vamos ter uma longa conversa.

Sophie olhou para trás e notou um pequeno banco soterrado por tecidos e olhos de bonecas. Retirou-os de cima e sentou-se, receosa. Não estava gostando nada do rumo da conversa, e sentia-se estranha com os olhares da garota loira sobre si.

— Me fale o que você sabe da minha mãe, por favor. – Sophie pediu.

— Sua mãe era uma garota nada responsável, Sophie. Eu gostaria de dizer que o fato de sua mãe estar desaparecida é culpa da sua tia, Megan. Na festa de 15 anos de Angelina, vários conhecidos e desconhecidos de sua família compareceram. Dentre esses desconhecidos, estava Charlles.

— Meu pai... – A morena murmurou.

— Sim. Naquela noite, Angelina bebeu demais e acabou se deixando levar pelo sorriso sedutor e a simpatia do Charlles. Então ela abandonou a festa e foi com ele até o quarto. Não preciso dizer que você foi um acidente, certo? – A garota misteriosa deu um sorriso sádico antes de enfiar a caneta no olho direito da boneca, causando algumas rachaduras na sua face de porcelana.

Sophie ouvia tudo atenta, mas não queria acreditar no que aquela garota dizia. Tudo naquele lugar lhe causava arrepios. As bonecas quebradas, as aranhas que percorriam as prateleiras, olhos de bonecas espalhados pelo chão e vestidinhos rasgados. Sem falar na sua boneca, que acabara de ficar caolha.

— A Megan sabia de tudo, pois foi ela que ficava oferecendo bebidas à Angelina. Quando ela descobriu que estava grávida, se casou com Charlles mesmo sabendo que ele não ficaria muito tempo por perto, por causa de seu emprego de arqueólogo. – Ela disse. – E então, quando você nasceu, foi como uma luz iluminando aquela família. Angelina, Elizabeth e Charlles ficaram muito felizes. Principalmente Megan, que estava completamente obcecada por você. Até o filho dela, Brandon, ficou feliz com a nova prima.

A sala permaneceu em silêncio em uma pausa da história. A loira começou à acariciar os cabelos artificiais da boneca – agora deformada – e respirou fundo antes de contar o resto.

— Quando você completou 3 anos, Charlles teve que se mudar para a Grécia em uma excursão com o grupo de arqueólogos. Megan ficou, ajudando Angelina e Elizabeth a te criarem. Mas ela estava ficando cada vez mais fascinada pelo seu rosto delicado, os olhos claros e os cabelos lisos e negros como a noite. – A garota começou à desenhar sangue escorrendo da face da boneca, começando do local onde o olho foi arrancado. Sophie teve pequenas náuseas ao observar a sua boneca, que parecia uma versão macabra e pequena de si. – Então ela chantageou Angelina.

— Chantageou? – Sophie perguntou, aflita. Para ela, Megan era um exemplo de boa mulher. Não por sempre mimá-la, mas por sempre estar com um sorriso no rosto e procurando ajudar a todos.

— Sim, ela disse que se Angelina não sumisse pra sempre, iria contar pra Elizabeth, sua avó, que se embebedou e engravidou de Charlles na festa de 15 anos. E a Angelina, sem alternativas, sumiu sem deixar nenhum rastro pra onde ia. E desde aquele dia sua avó começou a te odiar, Sophie. Ela sempre achou que era sua culpa o desaparecimento de Angelina. E, cá entre nós, a culpa foi sua também. – A loira riu escandalosamente, fazendo Sophie arrepiar-se. A garota desconhecida continuou riscando a boneca, e não se contentando, arrancou o outro olho também. Rasgou o vestido e jogou a boneca no chão com força, vendo-a partir-se em vários pedaços. – Ah, posso te mostrar minhas duas novas criações?

Sophie suava frio, observando a boneca em pedaços no chão. Ela podia estar prestes à ser assassinada e não conseguia mexer um músculo de seu corpo.

— Olhe, não são lindas? – A garota aproximou-se com duas bonecas nos braços. Uma tinha cabelos negros com mechas vermelhas, olhos vermelhos como duas perfeitas rubis, e seios avantajados. A outra era ruiva, e tinha lindos olhos azuis. Seus seios eram grandes, mas nada que se comparasse à primeira. Réplicas perfeitas e delicadas de Meiko e Toneide. – Pena que eu estou com vontade de quebrá-las e queimá-las, junto com essa despedaçada aí do chão.

A loira pisou na boneca com força, quebrando os cacos do chão em mais pedaços ainda. Sophie sentia-se angustiada no meio daquele cenário que parecia um macabro filme de terror.

— Quem... QUEM É VOCÊ? – A morena gritou, pulando do banco e com o suor escorrendo de sua testa.

— Nós já nos conhecemos! Eu te atendi no Maid Café quando você veio pra cá. Lembra? A garota loira. Meu nome é Mitsuki. Pra ser mais exata, Mitsuki Lamonier. Não é, irmãzinha?




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Notas finais do capítulo

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