A Vida Como Ela É escrita por kakahcobain


Capítulo 1
Capítulo 1 - Reminiscências


Notas iniciais do capítulo

Essa fic era pra ser uma oneshot, mas como ficaria grande demais, resolvi que irei dividir em 3, 4 capítulos no máximo. Ou seja, será uma história curta.
Bom, espero que gostem do primeiro capítulo. Boa leitura! ^^



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Lembro-me daquela maldita época em que estava morando sozinha. Eu tinha pouco mais de 20 anos de idade e até que a experiência de viver só estava dando pra suportar... Mas apenas porque assim ninguém me incomodaria. Sim, eu destestava, destesto e sempre destestarei cobranças, sermões e conselhos. Nunca consegui digerir muito bem a possibilidade de ter a vida controlada ou manipulada por alguém. Deve ser por isso que liberdade sempre fora uma das minhas maiores prioridades.

O bairro onde morava, mesmo sendo dentro da grande Seattle, era um poço de marasmo e melancolia quando queria ser. Era terrível caminhar pelas ruas escuras nas noites de frio. O sopro gelado parecia invadir violentamente as narinas, atravessando por entre os olhos, até percorrer a extensão do corpo, me fazendo quase sempre derrubar lágrimas e mais lágrimas de desespero. Era como se aquele frio, aquela escuridão e aquele vazio me fizessem lembrar a solidão crônica que me aplacava. Mas mesmo tudo aquilo fazendo emergir em mim sentimentos nada agradáveis, não recusava uma só caminhada por aquelas ruas sombrias e desertas.

Mesmo sem ninguém ao meu redor, me sentia menos sozinha naquelas vielas. Achava que o vento e o leve chuvisco que sempre me acompanhavam, de alguma forma, me entendiam profundamente, fazendo-me aliviar um pouco aquela agonia que sentia. E foi numa dessas caminhadas que eu o conheci...


Fazia uns meses que tinha experimentado maconha pela primeira vez. É mais que óbvio dizer que fiz essa escolha devido aos problemas que me atormentavam na época. Estava duramente à procura de algo que me desligasse daquela merda que insistia em me cercar, e então comecei pela droga mais leve, como vários aconselharam. Em pouco mais de uma semana de uso, não queria me imaginar longe daquelas sensações, daqueles devaneios, daquele alívio. E então logo fiz amizade com um jovem traficante do bairro, que tinha fama de arranjar drogas pesadas.

Em uma noite entediante e melancólica como qualquer outra, passei pelo garoto a procura de droga e em poucos segundos, vi meus olhos brilharem ao verem aqueles pequenos saquinhos contendo pó branco. Ele me alertou, como sempre fingia fazer, mas é claro que estava mais interessado no meu dinheiro do que na minha vida. Sim, estava comprando cocaína pela primeira vez. Já tinha ouvido falar que ela era um santo remédio para quem sofria de dores invisíveis, como as minhas. Então, não hesitei em querer experimentá-la.

Após a compra, tornei a fazer meu caminho de volta. Minha mente parecia fugir aos poucos para mais longe. Minhas mãos, que estavam no bolso do casaco, reviravam aqueles pequenos saquinhos, enquanto uma culpa crescia a medida que dava passos em frente. É nessas horas que um filme começa a passar em sua cabeça, que a lucidez se mostra presente, pelo menos uma vez. Estava tão atordoada, que nem reparei que vinha alguém passando por mim.


– Ai! - Só fui perceber o que tinha acontecido quando já estava caída no chão.

– Você tá bem? - Um rapaz de cabelos loiros estendeu a mão para mim. Correspondi à gentileza e me levantei.

– Sim... Me desculpe. - Ajeitei minha roupa e vi que por causa da queda, os saquinhos de droga haviam se espalhado pelo chão. Corei de vergonha e me abaixei rapidamente para recolhê-los a fim de que ele não visse que eu era uma drogada. Sem sucesso.

– Deixa eu adivinhar... Primeira vez? - Ele falava num tom baixo, como se quisesse que ninguém mais ouvisse tal pergunta.

– E qual diferença faz...? - Pronunciei colocando por fim o último punhado no bolso.

– Toda... Se é sua primeira vez, ainda dá tempo de te impedir de usar isso. - Enquanto me dizia, chacoalhava o bolso da calça jeans. Tirou de lá uma carteira de cigarros.

Quando finalmente pude ver melhor seu rosto, vi que ele era um homem bonito, mesmo apesar de bastante pálido e de portar uma magreza berando a anorexia. O que mais me intrigava era a ironia no seu tom de voz, que ao mesmo tempo não demosntrava nenhuma ameaça.

– Mesmo que não seja da sua conta, saiba de uma coisa: Tenho motivos pra fazer isso. - Desviei de seu corpo imóvel e comecei a andar de volta pra casa a passos largos.


O caminho de volta fora todo reservado para reflexões, como sempre. Me veio a possibilidade de eu estar prestes a fazer mais uma burrada na vida. Eu era mestra em sentir culpa, a famosa palavrinha de cinco letras que me acompanhava desde os meus primórdios. Impaciente, catei um cigarro do bolso e suspirei ao sentir a fumaça me invadir.


Chegando em meu apartamento, encontrei meu gato deitado perto da porta, eu acabava de acordá-lo com o barulho da chegada.

– Meu amor, me desculpe... - O peguei no colo e acariciei seu pelo acobreado. - Vamos pra sua caminha... Mamãe tá morta de cansada.


Assim que o coloquei sobre minha cama, retirei minhas botas pretas, as colocando em qualquer canto do chão. Olhei para ele e sorri ao ver que ao menos ele era feliz. Bom, pelo menos parecia... Há quem acredita que os felinos absorvem os ''ares'' de seu lar de forma impressionante, mas já que são apenas boatos... Só faltava eu ser feliz.


Tirei o casaco preto e o coloquei sobre a cama. Afundei a mão num de seus bolsos, acabando por fechar os olhos ao sentir que tocava a droga. Era a dúvida que se manifestava, e junto dela vinha a culpa, o medo e o remorso. Repousando minha cabeça sobre o travesseiro, logo em meus pensamentos surgiu a figura do rapaz loiro e magrelo. Sei que tinha o visto apenas por poucos segundos, mas era como se o conhecesse de um longíquo passado. Não sei exatamente o que me dava essa impressão, mas acho que eram aqueles seus profundos olhos azuis, que mesmo com toda a escuridão dos becos de Seattle, pude ver que eram brilhantes e particularmente tristes. Ou seja, aqueles olhos me faziam relembrar a dor invisível que eu sentia, trazendo a falsa certeza de que eu já o conhecia.

Só me lembro que adormeci com tudo aquilo na cabeça e que por esse motivo sonhei com o rapaz durante toda a noite. Posso dizer que esse primeiro sonho em que ele apareceu foi o responsável por minha vontade de querer vê-lo novamente. O pouco que lembro era que estávamos de mãos unidas, caminhando por um longo corredor repleto de portas brancas. A impressão que eu tinha era que estávamos no céu, ou alguma dimensão com atributos semelhantes. Na incerteza de qual porta abrir, olhei para ele já parando de caminhar. Ele trazia um belo sorriso no rosto e gentilmente carregou minha mão até uma fechadura, a revirando junto comigo. Logo nossos olhos se semicerraram devido à grande claridade que provinha da porta escolhida.

Depois da vertigem, entramos por ela e nos deparamos com um grande campo verde, repleto de crianças sorridentes e bem arrumadas. Novamente ele segurava minha mão enquanto caminhava e parecia já saber de que lugar se tratava. Andando um pouco mais, percebemos um lindo lago de águas preciosamente azuis. Estava tão encantada com a beleza de tal paisagem que levei um susto ao perceber uma pequena sombra perto de nós. Era uma menina bem pequena e ruiva que se aproximou e entregou a ele uma flor amarela, semelhante a um girassol. O loiro sorriu pra ela e não hesitou: Tratou de prender a flor atrás de minha orelha, me fazendo derramar algumas lágrimas de emoção. Infelizmente despertei com o barulho do despertador quando senti que ele grudava de leve seus lábios nos meus.


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Alguma coisa muito estranha em mim me fez desistir de experimentar a droga. Já chorando, peguei uma tesoura e cortei cada saquinho, despejando no vaso sanitário o conteúdo de cada um. Ainda ecoava em meus ouvidos a voz do rapaz loiro, como também toda aquela paz que senti quando sonhei com ele. Como poderia estar sendo tão afetada por uma pessoa que nem sabia o nome?! Era estranho, era frustrante, mas ainda tinha esperanças de poder vê-lo novamente. E fiquei tão vidrada naqueles olhos, naquela expressão de dor contida, que naquelas noites seguidas saí às ruas na expectativa de encontrá-lo. Foram várias noites vagando sozinha pela escuridão na procura do clarão daqueles olhos azuis. Já estava me sentindo mal pela dependência que criei na minha mente carente e infantil. Até que tive a última idéia.


Resolvi procurar meu velho amigo traficante. Já que ele conhecia Deus e o mundo naquele bairro, talvez pudesse me dizer alguma coisa a respeito daquele rapaz.

– Olá sumida... O que te traz aqui tão cedo?

– Preciso de uma informação. - Ele me olhava atento. - Preciso que me diga se conhece um sujeito loiro, cabelos compridos, bem magro, altura mediana, olhos azuis... Acho que ele mora aqui perto.

– Deixe me ver... - Ele parecia forçar a memória de alguma maneira. - Pela sua descrição... Só pode ser o Cobain.

– Cobain? Qual o primeiro nome dele? - Perguntei curiosa.

– É Kurt. - Disse ele tragando um cigarro bem pequeno. - Ele tem uma banda de rock... O nirvana.

– E como faço para encontrá-lo? Sabe onde ele mora? - Perguntava tentando não mostrar tanto interesse, mas acabava falhando em tal tarefa.

– Isso eu não sei... Mas fiquei sabendo que eles vão fazer um show hoje à noite aqui em Seattle. Se tiver sorte pode tentar encontrá-lo lá.

– E onde vai ser esse show?

– No Crocodile Café... Sabe onde é? - Ele jogou o cigarro no chão, pisando nele em seguida para apagá-lo.

– Sei... - Do nada me senti mais animada. Acredito que tenha sido a esperança de poder revê-lo.

– Então... Bom show. - Tentei forçar um sorriso, mas não deu muito certo. - Mas a motivo de mera curiosidade, se me permite... Porque quer tanto encontrar esse cara?


Eu sinceramente não sabia muito bem como responder àquela pergunta. Porque exatamente saí de minha casa e caminhei até ele para extrair aquelas informações? Era muito complicado explicar. E é melhor não tentar explicar o quase inexplicável.


– Eu o conheci a pouco tempo... Mas como foi bem rápido, não pude obter muitas informações. Precisava trocar uma idéia com ele, só isso. - Menti ao mesmo tempo em que falava a verdade. Principalmente por causa do verbo precisar. Aquilo era quase que uma necessidade para mim.

– Então é melhor se apressar. Parece que esse show vai encher bastante... Se não correr pode ficar sem ingresso. - Ele sorriu como se achasse que minhas intenções com Kurt eram outras. Acabei me despedindo logo.

– Ah, e obrigada pelas informações. - Disse me afastando aos poucos.

– Não foi nada. Estou às ordens. - Ele me acenou rapidamente até eu me virar completamente em direção a meu caminho de volta.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Devo continuar? Gostaria sinceramente de saber a opinião de vcs!
Então, por favor, mandem reviews! xD
Bjks



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