Depois do desfile somos levados até o Centro de Treinamento que será como uma casa para todos os Tributos antes de serem colocados na Arena.

O Centro De Treinamento É um prédio bem grande com um andar para cada Distrito. Para chegarmos ao nosso andar só precisamos entrar em um elevador com paredes feitas de cristal e apertar o número 12.

Meu quarto é maior ainda do que aquele no trem. Tem uma quantidade enorme de botões para todos os lados. Do lado de fora da janela consigo ver as pessoas da Capital comemorando. Todos estão eufóricos e parece que estão fazendo uma grande festa onde não param de gritar "Jogos Vorazes, Jogos Vorazes" Não existe um jeito de entender essas pessoas. Elas estão prestes á ver crianças sendo jogadas em uma arena cheia de Bestantes para lutarem entre sim até que apenas um sobreviva e comemoram. Será que não passa pela cabeça delas que essas crianças têm famílias em casa desesperadas chorando por elas? Não posso ficar nem um segundo á mais nessa janela então resolvo tomar um banho. O chuveiro também é cheio de botões, mas apenas fecho meus olhos e aberto alguns deles. Aperto mais botões para escolher alguma roupa e em segundos estou vestido e meus cabelos estão penteados.

Logo me chamam para o jantar.

Sento-me a mesa com Portia e Cinna em uma varanda com uma bela vista para as ruas da Capital. Katniss chega logo em seguida. Haymitch se junta á nós apenas quando o jantar esta sendo servido. Sopa de cogumelo, folhas verdes com tomates minúsculos, rosbife fatiado, espaguete ao molho verde e queijo com uvas.

Agora todos falam dos trajes que iremos usar na entrevista - Nada de chamas eu espero. Passei a minha vida inteira perto de fornos, assando pães que agora fico com aquelas pessoas que preferem o frio, o gelo. - Volto à realidade quando uma garota ruiva nos serve um lindo bolo e acende chamas em cima dele - porque tudo aqui tem que ter ligação com o fogo? - Katniss encara o fogo e depois se dirige a garota.

– O que a mantém acesa? É o álcool? - Ela olha para a garota em busca de respostas - Essa é a ultima coisa que eu gost... Oh! Eu te conheço!

A garota balança a cabeça em negativa e se retira apressada da sala.

– Não seja ridícula, Katniss. Como você poderia conhecer uma Avox? - Diz Effie - Inimaginável.

– O que é uma Avox? - Pergunta Katniss

– Alguém que cometeu um crime. Eles cortaram a língua dela para ela não falar mais - Diz Haymitch - Provavelmente é alguma traidora. Pouco provável que você a conheça.

– E mesmo que conhecesse você não pode se dirigir a eles, a menos que seja para dar alguma ordem. - Diz Effie - É claro que você não a conhece de fato.

– Não, acho que não a conheço. Eu só... - Katniss começa a gaguejar, sem saber o que falar.

Presumo que ela vai se meter em uma grande furada então estalo os dedos para que prestem atenção em mim e digo o nome da primeira pessoa que vem à minha cabeça.

– Delly Cartwright. É ela. Também estava achando o rosto dela familiar. Ai então me lembrei que ela é uma sósia de Delly. - Delly Cartwright é uma velha amiga minha brincávamos juntos quando éramos crianças. Não parece nem um pouco com a garota Avox, mas acho que Katniss captou a mensagem.

– É claro! Era nela mesmo que eu estava pensando. Devem ser os cabelos. - Diz ela.

– Alguma coisa nos olhos também me faz lembrar dela. - Digo exagerando nossa cena um pouco. Apesar de tudo acho que isso convenceu à todos de que Katniss não conhece a garota Avox.

– Ah bom, se é isso - Diz Cinna - E respondendo sua pergunta, o bolo contém uma bebida alcoólica, mas todo o álcool foi consumido no fogo. Mandei prepará-lo especialmente em homenagem à estreia feérica de vocês. - Ótimo, quer dizer que as chamas vão mesmo me perseguir onde quer que eu vá.

Depois que terminamos de comer o bolo, vamos para a sala de estar assistir a reprise do Desfile dos Tributos. Todos estão muito bonitos em suas roupas representando seus distritos, mas quando eu e Katniss nos apresentamos, a multidão vai á loucura. O programa acaba.

– De quem foi à ideia de vocês ficarem de mãos dadas? - Haymitch pergunta.

– De Cinna - Responde Portia.

– O toque perfeito de rebeldia. - Diz Haymitch.

Confesso que não entendo bem o que isso significa. Rebeldia? Da ultima vez que um grupo de rebeldes se formou, o resultado foram os Dias Escuros. Eu e Katniss não podemos ser rebeldes. Daqui a alguns dias seremos jogados na Arena. Eu vou morrer. Katniss vai voltar para o Distrito 12. Fim. Não vejo nada de rebelde nisso.

Eu e Katniss andamos pelo corredor. Haymitch diz que é hora de dormir, mas tem algo que eu quero muito perguntar á Katniss. Quando chegamos à porta de seu quarto, eu me encosto-me à porta bloqueando sua passagem. Ela me encara.

– Delly Cartwright. Imagina só encontrar uma sósia dela por aqui. - Digo claramente pedindo uma explicação. Afinal ela me deve essa.

Katniss olha de um lado para o outro, me encara. Em dúvida se deve realmente me dizer algo, imagino eu. Por fim ela olha para o corredor e eu tenho uma ideia.

– Você já esteve no telhado? - Pergunto. Ela balança a cabeça em negativa. - Cinna me mostrou. Dá pra ver praticamente a cidade toda. Mas o vento está um pouco forte.

Acho que era isso que ela queria. Um lugar seguro para conversarmos. Tenho certeza que a Capital tem milhões de câmeras neste prédio então não é seguro falar que nós estávamos mentindo.

– Podemos ir lá em cima? - Pergunta Katniss

– Claro. - Respondo.

Levo Katniss até o telhado. A vista da cidade é muito bonita daqui onde estamos. Vamos até a borda do telhado. As ruas ainda estão cheias de pessoas comemorando. - Essas pessoas não dormem durante os Jogos? - Como eu disse, o vento bate forte aqui no telhado.

– Perguntei a Cinna porque eles nos deixam subir aqui em cima. Será que eles não ficam preocupados com a possibilidade de algum tributo se jogar? - Pergunto tentando puxar assunto com ela.

– O que ele disse? - Katniss pergunta.

– É impossível. - Respondo. Ergo a mão no espaço vazio a minha frente para mostra-la o campo de força. Imediatamente ouvimos um som e eu abaixo a mão. - Tem um tipo de campo de força que te lança de volta ao telhado.

– Sempre preocupados com nossa segurança - Diz ela sarcasticamente. - Você acha que estamos sendo filmados?

Não gosto da sensação de estar sendo filmado. É como se alguém estivesse invadindo minha privacidade.

– Talvez. - Digo sem saber ao certo a resposta. - Venha ver o jardim.

Levo-a ao lindo jardim que Cinna me mostrou. Os sinos pendurados nas arvores fazem barulho graças ao forte vento da noite. Presumo que seja um lugar seguro para conversarmos então fico na expectativa.

– Estávamos caçando na floresta um dia. Escondidos, esperando alguma caça aparecer. - Sussurra ela.

– Você e seu pai? - Sussurro também.

– Não, eu e meu amigo Gale. - Tinha que ser com Gale. - De repente, todos os pássaros pararam de cantar. Exceto um. Como se estivesse dando um alerta. Foi quando a vi. Tenho certeza que era a mesma garota. Tinha um garoto com ela. Suas roupas estavam em frangalhos. Estavam com olheiras. Estavam correndo como se a vida deles dependesse disso. - Ela fica em silencio por um minuto, ao que parece, lembrando-se daquele momento. - O aerodeslizador apareceu do nada. Quero dizer, em um dado momento o céu estava vazio, e no outro a coisa estava lá. Não fez nenhum som, mas eles viram. Uma rede desceu sobre a garota e a levou para cima com a rapidez de um elevador. Eles arremessaram uma espécie de lança sobre o garoto. Era atada a um cabo e eles o içaram da mesma maneira. Mas tenho certeza de que ele estava morto. Ouvimos a garota gritar uma vez. O nome do garoto, eu acho. Então o aerodeslizador já não estava mais lá. Desapareceu no ar. E os pássaros começaram a cantar novamente, como se nada houvesse acontecido.

– Eles viram vocês? - Pergunto eu.

– Não sei. Estávamos embaixo de algumas pedras. - Responde ela, mas estava diferente, meio alterada.

– Você está tremendo. - Digo, não sei se ela está tremendo de frio ou se está tremendo por se lembrar da cena. Tiro minha jaqueta e coloco sobre os ombros dela. Para protegê-la. Ela parece hesitar por um momento, mas no fim fica com a jaqueta. Eu acho que não vou ter outra oportunidade de conversar com ela então não quero que nossa conversa acabe tão cedo. – Eles eram daqui? – Pergunto e abotoo a jaqueta em seu pescoço. Ela balança a cabeça concordando. – Pra onde você acha que estavam indo?

– Eu não sei – Responde ela. – Também não sei por que teriam saído daqui.

– Eu sairia daqui – Digo. Depois percebo que posso estar sendo filmado, então eu simplesmente dou risada. – Eu iria pra casa agora se permitissem. Mas você tem que admitir que a comida é de primeira. – Ela apenas me encara. Deve ter percebido que eu disse que sairia daqui no sentido de ‘fugir’ daqui. – Está ficando frio. É melhor a gente ir embora. – Digo. Vamos segundo para os dormitórios novamente, mas eu continuo a tentar conversar com ela. – Seu amigo Gale. Foi ele que afastou sua irmã na colheita?

Como se eu não soubesse.

– Foi. Você conhece ele? – Pergunta Katniss.

– Não. Ouço as garotas falarem muito sobre ele. Pensava que ele fosse seu primo ou alguma coisa assim. – Então eu afirmo o que quero que seja mentira. – Vocês se gostam.

– Não, não somos parentes. – Não sei o que isso quer dizer. Ela não respondeu minha pergunta exatamente.

– Ele veio se despedir de você? – Pergunto.

– Veio. – Responde ele e parece me observar atentamente. – Assim como seu pai. Ele trouxe biscoitos para mim.

Poxa. Por essa eu não esperava. Meu pai não me disse nada sobre ir visitar Katniss.

– É mesmo? Bem, ele gosta de você e da sua irmã. – Digo. – Ele conhecia sua mãe dos tempos de criança.

– Ah, sim. Ela cresceu na cidade. – Diz ela. Chegamos à frente de seu quarto. - Nos vemos amanhã de manhã então.

– Certo. – Digo e vou para meu quarto.

Durante meu sono, vejo Katniss perto de mim, estamos apenas conversando, mas estamos felizes. No final Gale aparece e à leva de mim. Ele tem que estar sempre presente? Tem que atrapalhar até em meus sonhos? Será que Katniss gosta mesmo dele? É bem provável. Não consigo dormir mais.