Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 52
Cemitério e narizes vermelhos




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Adam chegou em casa pela manhã. Melin tinha saído de casa para ir trabalhar e parou no caminho para levar o vencedor que nada ganhou para a Vila dos Vitoriosos. Ela o deixou no assoalho abaixo da porta e foi para os pomares, Adam ficou sentado, vendo seu peito se encher e esvaziar de ar. Ele perdeu a conta de quantos minutos inúteis ficou ali do lado de fora da casa vendo pequenos flocos de neve. Seu peito estava apertado e seu corpo não tinha forças, seu pai abriu a porta e quando o viu ali, não falou nada, apenas o deu apoio e o levou para o sofá azul em frente a lareira pintada pelas chamas que ali ardiam. Sr. Zeander se colocou sobre uma cadeira á frente de Adam, com uma xícara de café á sua frente e observou seu filho de cabelos ralos morenos e barba não feita, mergulhar nas almofadas, no calor da sala e em seus pensamentos. O homem estava caçado como Adam, não cansado de uma leve preguiça em levantar, ou um cansaço como não aguentar mais trabalhar. Era um cansaço de ver todas as pessoas vivas e não se sentir vivo por dentro. Cansaço de viver. O homem colocou sua xícara sobre o cômodo branco e adormeceu na cadeira de carvalho. A casa adormeceu junto com seus moradores.

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A manhã foi costumeira. Sr.Zeander perguntou a Adam aonde ele estava na noite em que se passara e essa foi a primeira vez que o garoto não mentiu. Ele contou tudo sobre a família Finnigas e sobre Melin. Ele tinha passado a gostar de Melin. Depois disso seu pai foi trabalhar levando junto cada criança. Adam os acompanhou até a escola e ficou encarando aquela velha construção com salas precárias e com um cheiro muito original de sua parte. Ele tinha uma lembrança para cada uma delas, e todas Florence participava.

O garoto desceu uma lomba de terra que dava para o cemitério e o olhou. Era um campo aberto com várias árvores de folhas verdes que só nasciam no inverno. Florzinhas brancas como papel seco enfeitavam os galhos como se eles usassem brincos de neve. Cruzes pontilhavam o chão de grama verde com diversas escrituras, o garoto caminhou até uma grande lápide de mogno negro e o encarou. Weeny Zeander. O nome de sua mãe estava incrustado na madeira escura e parecia se apagar. Estava a dois dias do enterro de Florence Finnigad, que iria ser enterrada abaixo de uma magnólia. As vezes os dois iam visitar sua mãe para matar o tempo e ela sempre falava:

–Eu vou me deitar em sono eterno bem ali em baixo. Gosto da sombra e do cheiro daquele lugar.

–Flo, não tem graça brincar com isso. - Adam falava de um jeito sério.

–Eu não estou brincando Adam Zeander.

Então os dois ficavam quietos por algum tempo e Adam restaurava sua voz.

–Porque você quer ser enterrada? Não prefere ser cremada?

–Nunca. Olha, se você olhar do jeito dos vivos, isso é um cemitério.Agora se você olhar do modo dos mortos, é um lindo jardim. Eu quero dormir em um jardim. Quero dormir aqui pra sempre.

Então Adam a abraçava e falava:

–Eu vou estar aonde você estiver.

E a garota respondia:

–Vamos ver.

Adam começou a chorar. Começou a chorar no jardim dos mortos em frente ao túmulo de sua mãe mas encarando a futura cama de grama de Florence Finnigad.

Uma bola de neve atingiu a cabeça de Adam e ele parou de cair em lágrimas. A ponta de seu nariz estava vermelha como uma das renas do Papai Noel, em causa da noite que ele tinha passado em baixo da neve e pelo choro. Seus olhos castanho esverdeados se viraram e viram uma garotinha de gorro rosa com o nariz tão vermelho quanto o dele. Ela sorria abertamente e estava certo que queria brincar.

–O que ouve, Sr.Zeander?? - ela zombou fazendo um biquinho quando pronunciou Zeander. O garoto sorriu, já pegando neve no chão e fazendo uma pequena bolinha, mas a garota já tinha feito três e o atingido.

Uma guerra mundial de bolinhas de neve entre os dois começou e as balas de Melin eram mais fortes e rápidas do que as de Adam. No final os dois se encontravam abaixo da magnólia respirando pesado e suando frio por causa do grande esforço no ar gélido.

Melin tocou a mão no chão e apalpou a terra.

–Ela vai ser enterrada aqui.

Ela comentou isso e nada mais. Adam estava pensando no passeio que ele deveria fazer por cada distrito e que deveria bancar o mentor, algo que ele pouco desejava. “Você nunca vai conseguir fugir da Arena.” Piscki estava certo, extremamente certo.

Adam se levantou e Melin o acompanhou.

–Aonde você vai?

–Pra casa. Você não deveria estar na escola?

–Deveríamos estar fazendo muitas coisas agora, eu e você, mas não estamos. Não é?

Ela correu um pouco para acompanhar o andar de chumbo do garoto e os dois caminharam para a Vila dos Vitoriosos.

Adam catou as chaves nos bolsos grandes de seu sobretudo e abriu a grande porta branca, girando seus dedos claros na maçaneta dourada. A menina se acomodou no sofá azul ao lado de Adam e os dois encararam a lareira crepitar.

–Eu quero chocolate quente.

–Nós não temos chocolate quente. – Adam falou.

–Adam, você é um vitorioso. Eu sei muito bem que vocês tem chocolate quente.

A menina de gorro rosa se levantou, pecou o copo em um dos armários e no outro pegou chocolate em pó. Encheu a caneca o que parecia ser chocolate em pó com um pouco de leite.

Os dois se sentaram juntos e ficaram ali encarando a lareira e contando seus tijolos. 

-Ela está morta, Adam. Está morta e você deve perar de pensar nela como se ela fosse voltar.

-Eu não fasso isso.

-Faz, porque eu fasso. Eu amo ela tanto quanto você. 

Adam deixou seus olhos transbordarem com o líquido transparente e salgado e Melin colocou seus braços em volta dele, como se conseguisse falar que deixaria tudo bem. Que faria tudo ficar bem, mas na realidade não tinha mais nada para mudar. Eles não tinham mais nada.

Melin Finnigad


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