POV Bella.

Aos poucos a luz do sol invadiu meu quarto. Revirei-me na cama tentando pegar no sono novamente. Não consegui. Derrotada, levantei da cama cambaleando e segui para o banheiro. Fitei-me no espelho. Meu cabelo estava um caos, alguns fios saiam do meu rabo de cavalo e minha franja estava um horror. Meus olhos tinham olheiras leves e meu pescoço tinha algumas manchas vermelhas. Ossos do ofício.

Liguei o chuveiro e entrei na água morna. Relaxei durante o banho, a água morna aquecia meus músculos e eu me sentia mais leve, sem dor. Quando saí do chuveiro me enrolei em uma toalha e voltei para o quarto. Abri o meu armário e peguei meu uniforme de trabalho. Vesti o uniforme de camareira e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo. Por cima do uniforme eu vesti um sobre tudo preto e calcei meu all star branco. Comi duas torradas e bebi um copo de suco de laranja e saí do meu apartamento.

Quando olhei para o relógio já era 09h50min da manhã. Puta merda, vou me atrasar. Saí correndo pelas escadas do prédio onde eu moro e dei um bom dia para o porteiro assim que cheguei ao térreo. Saí correndo pela rua até chegar ao ponto de ônibus. Quando atravessei a rua para chegar ao ponto um carro apareceu e freou com força. Pulei assustada e gritei para o motorista:

–CUIDADO, IDIOTA!

O homem que dirigia abriu a janela e mostrou o dedo do meio pra mim. Eu sorri para ele e também mostrei meu dedo do meio. Ele fechou a janela e partiu. Algumas pessoas do ponto riam e outras estavam assustadas.

...

–Bella, você está atrasada de novo. –Rosalie disse me entregando as chaves dos quartos. Rosalie era linda, uma das mulheres mais lindas que eu já tinha visto em toda a minha vida. Tinha olhos verdes e cabelos loiros, a pele era clara e suas bochechas levemente rosadas. Ela era a gerente do hotel Harpers e sempre me ajudava. Trabalho no Harpers Hotel a 2 anos e durante esses anos eu e Rosalie viramos amigas.

–Desculpe. Eu esqueci de ligar meu despertador. –sorri para ela e ela também sorriu.

–Ok. Ande. Hoje temos muito trabalho. Alguns empresários chegarão de L.A e ficarão hospedados aqui.

–Sim, chefe. –eu fiz reverência para ela e ela revirou os olhos.

...

Esbarrei em uma ou duas pessoas que estavam andando pelo lounge do hotel. Todos eram homens e estavam vestindo ternos elegantes. Andei até a recepção e esperei Rosalie aparecer para, antes de encerrar meu expediente, entregar as chaves dos quartos.

Arrumar quartos não era o que eu tinha planejado para o meu futuro, mas era o trabalho que eu considero digno. Já era 18h30 min e Rosalie não apareceu. Olhei para o lounge e todos estavam conversando baixo e alguns bebiam coquetéis. Do lado de um vaso de planta, um menino estava sentado no chão olhando os homens que conversavam. Ele aparentava ter 6 ou 7 anos, era loiro e vestia uniforme escolar. Ele estava abraçando as pernas e o queixo apoiado no joelho. Caminhei até ele e ele não reparou quando eu me aproximei dele.

–Oi. Precisa de alguma ajuda? –eu me abaixei e sorri para ele. Ele me olhou com aqueles olhinhos azuis e sorriu. Seu sorriso era lindo e engraçado, lhe faltava um dente, bem na frente.

–Meu dente caiu. –ele ergueu a mão me mostrando o dente. Ele sorriu e eu ri de leve.

–Precisa de alguma coisa? Talvez um pedaço de papel para você enrolar o dente e levar para casa. –eu disse rindo.

–Por que eu faria isso? –ele perguntou. Seu rosto estava levemente inclinado para o lado.

–Oras, para a fada do dente pegar ele enquanto você dorme.

–Não acredito na fada do dente, moça. –ele sorri e guarda o dente na mochila. Ele olha meu crachá e sorri. –Isabella. Nome legal. –ele abraça novamente as pernas e coloca o queixo no joelho.

–Obrigada...

–Louis. Meu nome é Louis. –ele diz esticando a mão para um aperto. Eu aperto e sorrio. Aquela pequena criança está me encantando.

–Se você não acredita na fada dos dentes então por que guardou o dente? –eu pergunto rindo. Ele olha para os lados então se aproxima mais de mim.

–Meu pai ainda acha que eu acredito. Eu já peguei ele escondendo o dinheiro no meu travesseiro, mas nunca contei. –ele disse cochichando. –Ele me dá um bom dinheiro.

Nós dois rimos.

–Louis... –um homem disse quando se aproximou de nós. Eu me levantei e fitei o homem. Ele era lindo. Seus olhos eram azuis, o cabelo era cor de bronze e estava levemente bagunçado. Ele passou a mão pelo cabelo e suspirou. Louis se levantou e colocou a mochila no ombro. O homem me olhou e depois olhou para Louis. –Quantas vezes eu já te disse para não falar com estranhos?

–Desculpe. –ele respondeu olhando para baixo. –Isabella só estava perguntando se eu queria ajuda. Não é Isabella?

–Sim. –eu respondi. O homem olhou para mim sério e eu pisquei algumas vezes. –Sim, senhor.

–Então você trabalha aqui? –o homem perguntou rindo. –Sabia que se você sofrer algum acidente fora do trabalho você ganha auxílio?

Eu o encarei e ele ria. Demorei alguns segundos para perceber do que ele estava falando. Do meu quase acidente hoje de manhã.

–Você? –eu perguntei assustada. –Hoje de manhã... você.

–A senhorita deveria aprender a atravessar a rua com cuidado.

–E o senhor deveria aprender a ter educação. –eu disse séria. Ele que antes ria, agora fechou a cara para mim. Ele pegou a mão de Louis e se aproximou de mim.

–Eu ia me desculpas mas não irei. –ele olhou para meu crachá e sorriu torto. –Isabella, acho que você deveria aprender a ter respeito com os outros ou sua chefe não vai gostar saber que você foi grossa com um hóspede.

–Você não iria... –eu disse assustada.

–Aproveite o resto do dia. –ele piscou para mim e deu as costas. Louis estava sendo puxado pelo pai e se virou para me olhar pelo ombro. Ele sorriu e acenou se despedindo.

Retribui o aceno sorrindo. Quando Louis não me olhava mais eu fechei a cara para o homem. Ele era tão arrogante. Olhei-os entrando em uma Mercedes E350 preta, ambos no banco de trás. Não posso negar, o homem era lindo.

–Bella. –Rosalie disse no meu ouvido. Eu me assustei e dei um pulo e Rose começou a rir. –Desculpe.

–Tudo bem. –eu disse. Peguei as chaves do bolso e chacoalhei na frente de seu rosto. Ela deu um passo para trás e pegou as chaves. –Até amanhã, Rose.

–Até. –ela sorriu e nos despedimos.

...

Passei o meu gloss e me olhei no espelho dentro do armário. Eu estava usando um vestido tomara que caia azul colado ao corpo, eu estava com meu sobretudo preto por cima e meu cabelo estava solto. Peguei minha mochila e coloquei um casaco e meus saltos dentro dela. Calcei minha sapatilha e coloquei a mochila no ombro. Saí do meu apartamento e desci pelo elevador até o térreo. Saí do prédio e segui para o ponto novamente.

...

Assim que eu cheguei na Michelle’s House eu segui para o meu quarto. Todas as meninas que trabalhavam aqui tinham seu próprio quarto, algumas moravam ali e outras alugavam, igual a mim. Esse meu segundo trabalho não era o meu favorito. Prostituta.

Quando minha mãe faleceu –logo depois do meu pai– eu fiquei sozinha. Eu tinha 19 anos quando eles faleceram. A justiça ficou com tudo que era deles, eu fiquei somente com o anel de diamantes da minha mãe. Tive que vendê-lo para poder conseguir alugar algum lugar para morar. O dinheiro do anel só dava para pagar o aluguel e não sobrava para comida e as contas. Corri atrás de emprego e consegui como camareira. Mesmo assim o dinheiro não dava, o aluguel aumentou e não sobrava nada para a comida. Não sabia o que fazer e foi quando eu vi uma mulher se prostituindo na rua que eu pensei nessa hipótese. Desde que eu comecei a fazer programa eu consigo pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro para eu poder comprar algumas coisas.

Subi para meu quarto alugado e joguei minha mochila na cama. A minha sorte de ser camareira é que todas as vezes eu deixo tudo arrumado, não gosto de quartos desarrumados. Abri a mochila e peguei meu salto. Tirei meu sobretudo, o dobrei e guardei na mochila. Coloquei a mochila dentro do armário que tinha dentro do quarto e calcei meu salto. Olhei-me no espelho e respirei fundo.

Descendo a escada eu vi o movimento da casa. Estava cheia. Muitas meninas estavam conversando com os clientes e outras já estavam fazendo o programa ali mesmo. Revire os olhos e fui em direção ao bar. O Michelle’s House era uma espécie de boate, a única diferença é que no andar de cima havia os quartos. Apoiei-me na bancada e bati no sino que havia em cima da bancada. Jared se levantou e sorriu para mim.

–Amiga. –ele pegou a minha mão e a beijou. –Você está um show hoje.

Jared era meu amigo desde que eu cheguei aqui, ele era gay e não foi difícil ser amiga dele. Ele tinha um humor ótimo e nós sempre conversávamos sobre meus clientes. Jared era o garoto do bar e ajudava algumas meninas em algumas emergências. Ele era bonito, tinha cabelos e olhos castanhos e tinha um corpo de dar inveja em vários homens.

–Escuta, você reparou que a casa esta cheia hoje? –ele disse enquanto preparava o meu drink. Eu sempre tomava alguma bebida antes de começar a trabalhar aqui. Jared apontou para um lado onde vários homens vestidos de terno estavam olhando algumas meninas. –Parece que está tendo uma reunião importante no hotel onde você trabalha e eles vieram se divertir aqui.

Ele riu e eu sorri fraco.

Olhei aqueles homens e reconheci alguns que estavam no lounge do hotel. Alguns se separaram do grupo e chamaram algumas meninas. Jared me cutucou e eu me assustei. Ele riu e me entregou o drink.

–Coitada das mulheres deles. Elas acham que eles estão trabalhando, mas eles estão aqui. Em um puteiro. –ele disse rindo. Pegou o pano em seu ombro e começou a limpar a bancada. Eu ri com ele enquanto eu olhava aqueles homens.

Dei um gole na minha bebida e olhei para a entrada da casa. Engasguei assim que vi o homem passando pela porta. O idiota arrogante.