This Is The Last Time I Will Forget You escrita por Bonnie


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. :D



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Um mês havia se passado e tudo continuava da mesma forma. Na realidade, não estava nada da mesma forma; já não fazia mais tanto frio, a primavera estava para chegar - e com elas as flores nasceriam em seu perfume; o apartamento estava mais silencioso do que antes, todo o lugar parecia mais solitário e triste; a distancia entre os amantes era quase palpável e o tremor nos olhos de ambos era significante demais para ser deixado de lado.

Era final de tarde, uma tarde ensolarada, de um sábado de calor ameno. Uma música calma tocava pelo apartamento e duas pessoas dançavam lentamente pela sala de estar, passos ritmados, posturas firmes e ao mesmo tempo leves. Mas estes não eram Uruha e Aoi, não era preciso chegar muito próximo para notar isso, para notar que o loiro mel e outro homem, cujo nome Kouyou mal lembrava, eram quem dançavam sobre o tapete felpudo da sala.

Havia um sorriso nos lábios rosados e uma taça de vinho rose em suas mãos. Os corpos se movimentavam compassados, a música invadindo seus ouvidos e os transportando para outro lugar. Algumas palavras eram sussurradas ao pé do ouvido, alguns risinhos e uns goles do vinho adocicado. Estaria tudo perfeito demais se não fosse tão errado.

Se havia intimidade? Sim, havia. Certa intimidade não íntima, que não chegava a lhes fazer ofegar em expectativa ou semicerrar os olhos. As mãos não se moviam pelos corpos, os olhares não se encontravam. Era uma dança, somente isso, não havia entrega ou cumplicidade.

Apesar disso os lábios tocaram-se por alguns segundos até terem o beijo iniciado. Não era um beijo com sentimentos. Era apenas um beijo. Lábios, nos lábios. Línguas tocando-se. Não deveria ser mais do que era, não poderia, não tinha porque ser. Era apenas um beijo.

Não deveria ter sido mais que um beijo. Não era. Porém não fora isso que um par de olhos negros encontrou. Os lábios grossos interpretaram mais que um simples beijo, interpretaram lábios que pertenciam a si tocando lábios estranhos a si. Não poderia ser apenas um simples beijo.

Um balançar de chaves, um baque na porta, passadas silenciosas até a sala e então estava feito. Os olhos castanhos foram arregalados, o tanto que sua etnia permitira. Uma taça de cristal foi de encontro ao chão, quebrando-se em pedaços. Um susto e o coração falha uma batida. Corpos afastando-se rapidamente, enquanto um terceiro parece paralisado pela cena presenciada por si.

Não havia expressão alguma no rosto de pele amorenada.

- Kouyou... – Um sussurro, quase inaudível, uma lágrima solitária que escorreu e morreu sobre os lábios carnudos, sem cor.

- Não, não é nada disso que você está pensando. – O clichê sendo lançado, numa breve tentativa de reverter a situação. No entanto essa frase sempre vai soar cínica demais, usual demais, culpada demais.

Homem que não se sabe exatamente quem é parecia totalmente fora de contexto, não se encaixando a cena, ao lugar, ao roteiro. Era desnecessário naquele momento, ignorável. Parecendo notar que não faria diferença alguma ali, deixou o local de cabeça baixa, talvez pensando no que havia perdido, sem nem ao menos tentar explicar o que já era comprovado por fatos.

- Quem disse que eu estou pensando alguma coisa, Uruha? – Riu seco e sem dizer mais uma única palavra seguiu seu caminho até o quarto. O coração apertado, a vontade de chorar.

Não choraria. Sempre fora o mais emotivo, o que mais demonstrava sentimentos. Não queria ser assim, não mais. Não choraria, havia finalmente entendido que não deveria derramar lágrima alguma, não por algo tão instável quanto um castelo de cartas.

- Yuu, me escute, por favor. – O mais alto seguiu o outro até o quarto. O tom de súplica em sua voz, passos indecisos e hesitantes sobre o piso de madeira.

- Eu não preciso ouvir nada, não quero ouvir nada, eu vi.  – Estava mais interessado com closete com suas roupas, que agora eram arremessadas de seus braços para cima da cama. – Já vi o suficiente, não precisa perder seu tempo tentando me convencer do contrário.

- O que você está fazendo? – Lágrimas já escorriam pelo rosto pálido. A culpa trazendo um peso indesejado, fazendo com que aquelas mesmas lágrimas marcassem a pele, como fogo queima em labaredas. – Yuu...

- Arrumando as minhas coisas, como você pode ver. – Abaixou-se para pegar uma mala sob a cama. – E não me peça para ficar, não chore, não se humilhe. Não piore ainda mais essa situação, não se rebaixe tanto, por favor. – Suspirou.

- Você não pode me deixar, não foi nada além de um beijo. – Alterou perceptivelmente o tom de sua voz. – Eu amo você, Yuu. Eu amo.

- Pode até ter sido somente um beijo, mas se eu não houvesse chegado poderia ter sido algo muito além. Não poderia? – Jogou as roupas de qualquer jeito no interior da mala. Balançando a cabeça para os lados, em sinal de descrença. – Não venha dizer que me ama, não agora. Tanto tempo para você ter feito isso e você acaba por escolher o pior momento. Estive do seu lado durante anos, e quando não há mais estrutura alguma nos segurando você decide se “declarar”. – Fez aspas com os dedos. – Kou, você não percebe que não consegue convencer nem a si mesmo que me ama, como pretende convencer a mim? – Pegou sua mala e deixou o outro sozinho no cômodo.

- Você não é ama, é isso? Por isso que está indo embora, não é? Estava apenas esperando um bom motivo para me deixar. – Saiu a passos largos atrás do outro, o alcançando já na porta do apartamento.

- Não, Kou. É por eu te amar demais que estou te deixando. E por favor, não diga que me ama sem sentir dentro de você que isso é verdade. – Sem ao menos parar para respirar saiu, deixando o outro parado em frente à porta.

Agora mais do que nunca Kouyou se sentia sozinho. Se estar com o Yuu era o mesmo que nada, estar sem ele parecia pior ainda. Doía. Faltava o ar. Os pensamentos pareciam implicar consigo, dizer que ele era o maior idiota de toda a humanidade.

Depois de muitas horas sentado no chão, a observar a porta fechada, que ele pode começar a perceber a grande burrada que havia acabado de fazer, perceber que jogou pela janela sua única chance de ser feliz.

É incrível como só se consegue começar a dar valor quando se perde.

Nunca havia parado para pensar no dia em que Shiroyama o viria com outro, não fora a primeira vez que o traíra, talvez não teria sido a ultima se não tivesse sido pego. A culpa nunca doeu tanto assim. Já havia imaginado sendo pego, várias vezes, mas nunca imaginou que um dia veria o outro sair pela porta da frente, com uma mala em mãos e lágrimas presas nos olhos negros e magoados.

As horas foram passando e ele continuava assim, a noite já havia caído e ele parecia não ter forças para se levantar. Poderia ousar dizer que acabara de deixar sua vida escorregar por entre seus dedos, mas nunca seria clichê a esse ponto, nem mesmo num momento como o qual se encontrava. Apenas chorava, soluçava, gritava. Tudo que ele não havia sentido durante uma vida inteira ele estava sentindo em questão de segundos e ele não sabia como fazer seu peito parar de doer.

Talvez você tarde demais para ele se deixar levar por sentimentos tão fortes.


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Notas finais do capítulo

Podem matar no Kouyou, mas do Yuu ninguém chega perto, é meu. HÁ