Mas somos jovens, entende? A gente só quer o último cigarro do maço, a última hora da noite, o último suspiro de amor, o último para sempre da vida.

Devia ser Julho, por ai, a música alta me confudia a cabeça, o olhar embaçado, procurava algo para me confortar, errado ou certo, eu só queria seguir em frente, estava longe de casa, longe dos problemas, das cobranças, das discussoes. Eu era uma decepção, e eu aceitava isso de olhos fechados, fechados porque minha realidade era totalmente diferente das dos que me cercavam. Não me importava, gostava de ter o mundo de fantasias na minha mão, abrir os olhos, era como suicídio.

Eu tinha 15. Eu não tinha amigos. Eu nunca me importei com amigos. A solidão pode ser útil as vezes. Eu gostava de ser sozinho. Melhor sozinho do que mal acompanhado, já dizia o ditado, e de gente estupida, eu já estou rodeado.

Eu tinha 15. E é normal fugir de casa para entupir a cara de vodka, se acabar em cigarros, e se destruir em drogas. A gente sempre se arrepende dessas coisas depois dos 30. Mas isso só depois dos 30, até lá eu podia morrer, até lá, eu podia aproveitar mais um pouco o tempo que me restava.

Eu acendi o último cigarro, saindo da casa apertada e escura, onde corpos se balançavam sem se preocupar o quanto ridículo aquilo poderia ser. Me pergunto porque ainda ia para essas festas, se era obvio que aquilo não me confortava nem um pouco. Eu só queria encontrar alguém... eu sei, eu disse que gostava de ser sozinho, mas sabe, essa noite tá tão fria, e eu queria alguém para estar todas as noites comigo. Frias ou quentes. Mas, diabos.. eu era invisivel.

–Tem um cigarro?- Eu ouvi a voz rouca me perguntar um pouco alto, o som ainda era alto demais, mesmo do lado de fora da festa.

–Desculpe- Eu me virei procurando o rosto da voz que me sorria- Era o último.

–O último?- Ele fez uma careta, enquanto eu tragava o cigarro, soltando a fumaça no ar.

–É- Eu dei de ombros, pensando em me virar e pegar o rumo de casa, mas as pernas não me respondiam- Mas.. Divido o meu com você- Um pequeno sorriso, o menor que eu tinha, o único que eu tinha, e lhe ofereci o cigarro pela metade.

–Obrigada- Ele aceitou confuso, e tragou, olhando para os pequenos grupos que entravam e saiam da casa- Então. Sozinho?

–É- Mais uma vez dei de ombros, e me encostei no muro rabiscado e pichado.

–Eu também- Ele tentava puxar assunto, talvez agradeçido pelo cigarro- Quer dizer. Eu me perdi dos meus amigos.

–Hm- Eu arqueei as sombracelhas, cruzando os braços.

–E estou nervoso- Ele confessou- E precisava de um cigarrro, e como meu dinheiro estava com um deles...

–Tudo bem- Eu o interrompi, me preparando para andar em direção da loja de conveniencia a frente- Vem. Preciso de mais um cigarro, podemos dividir o maço dessa vez.

–Não quero incomodar- Eu suspirei, revirando os olhos, odiava quando discutiam comigo.

–Eu não me importo- Lhe puxei a mão, enquanto atravessava a rua um pouco mais rápido do que deveria, afinal estava vazia.

Entramos em silêncio dentro da loja.

–Um Lucky Strike- Eu me enconstei no balcão- Lucky Strikes são meus favoritos- Eu falei o olhando, enquanto jogava o dinheiro para o rapaz- Acho que quero um café também. Você quer um café?

–Ah- Ele sorriu, tirando o celular do bolso- Eu preciso ir- Suspirei desapontado, e me virando para a saida, fui logo acompanhado por ele ao meu lado- Meus amigos, sabe, estão...- Saimos da loja e ele sorriu, acenando para um grupo de adolescentes, você sabe, roupas curtas, saltos, nenhuma vergonha na cara- Ali! Ei, obrigada pelo cigarro.

–Tudo bem- Dei de ombros indiferente - A gente se vê.

–Eu sou Naruto.. Sabe, Naruto- Ele se afastou, e eu lhe virei as costas.

–Ei!- Eu o chamei, e ele sorriu, e eu não pude deixar de sorrir de volta- Você tem um sorriso lindo, Naruto.

–Você acha?- Ele alargou o sorriso, e num impulso, desviei o nosso olhar.

–Sim- Abaixei o rosto, com uma careta, já era pra estar longe- Sou Sasuke.

–Olá Sasuke- Ele se aproximou de volta, com as mãos escondidas nos bolsos da jaqueta de couro preta, que combinava perfeitamente com a camiseta laranja... muito extrevagante, pra mim.

–Olá Naruto- Eu senti suas mãos geladas.

Ele me segurava o queixo, forçando-me de leve a lhe olhar nos olhos. Ele mais baixo, puxou-me um pouco a nuca, me roubando um estalar de lábios. Foi apenas um encostar, um roçar. E eu fechei os olhos querendo mais... querendo seus lábios a se pressionarem contra o meu, o seu corpo a se pressionar contra o meu.

Mas eu abri os olhos e ele já estava longe.

Me acenou um tchau, com um de seus melhores sorrisos, talvez, quem sabe. Eu só a vi uma vez, fotografei seus lábios, seus sorrisos, sua voz... Guardei, gravei tudo em mim.

Eu me apaixonei aquela noite.

Eu saio toda noite, com lucky strikes nos bolsos, olhar perdido, e suspiros desesperados.

Quem sabe, ele aparece em uma dessas esquinas. Quem sabe, a gente possa viver nossa historia a qual eu já escrevi o prológo, pra nunca ter um epilógo.

Quem sabe...