No final do expediente, Lily voltou para casa de metrô pensando apenas em esquecer o desastroso aniversário de James. Depois de se livrar das roupas horrorosas e da maquiagem pesada, tomou um banho, colocou uma roupa simples e foi até uma livraria que ficava no centro de Londres.

Lá comprou um lanche e uma xícara de chocolate, escolheu um romance e se acomodou em uma confortável poltrona.

Concentrada na historia, esqueceu os problemas e quase não notou que a luz tinha diminuído, até que começou a incomodá-la. Então ergueu a cabeça e viu James parado bem na sua frente.

– Como vai Lily? – perguntou ele sorrindo. – O livro é bom?

– Ainda não terminei a leitura. Mas parece ser muito bom.

– O que faz por aqui? Por que não está com a Lene?

– A Lene está preparando as coisas para a chegada do bebê. Ela disse que era para eu sair e me divertir. Passei o dia no museu e ainda não estava com vontade de voltar para casa. – desde quando mentir ficou tão fácil?

Lily resolveu tomar mais um gole de seu chocolate, mas o liquido frio não diminuiu a secura que sentia na garganta.

– Eu ia mesmo pegar uma xícara. – James comentou. - Quer que eu traga mais café?

– Não, eu... - ela parou antes de dizer que não tomava café. - Obrigada James, mas preciso ir.

– Eu te levo pra casa.

– Imagina, de jeito nenhum.

– Tem certeza?

– Sim... Tenha uma boa noite James

– Boa noite para você também Lily.

Ele se afastou para ir pegar o café. Quando ficou sozinha, Lily resolveu pagar suas despesas e ir embora.

***

James a viu ir embora. Estão esse seria o jogo. Tinha imaginado que ela manteria a farsa. Mas também estava esperando que por algum motivo ela resolvesse contar a verdade.

Mulheres!

Por isso nunca tinha se casado. Por isso mantinha Emmeline sempre por perto. Por que ela nunca ficava tempo demais antes de partir para alguma sessão de fotos ou algum outro trabalho como modelo.

Emmeline tinha feito muitas insinuações de que desejava um compromisso mais sério com ele. Teria que tomar uma atitude quanto a isso. Mas mandar um fax ou mensagens por terceiros não fazia seu estilo

Teria que fazer alguma coisa também no caso de Lily ou Marie qualquer que fosse o nome dela. Nunca tinha perdido uma batalha contra Marlene e não iria sofrer a sua primeira derrota, especialmente quando o resultado da vitória seria tão doce e compensador. Ele tinha visto fagulhas. Agora queria o fogo. E iria conseguir. Só precisava de um bom plano. Então Lily Evans, também conhecida como Marie Jones, não teria nenhuma chance.

***

A semana se passou sem mais nenhuma novidade.

– Marie!

Às onze horas e quarenta e cinco minutos da manhã de sexta-feira, James saiu de sua sala segurando uma pasta de couro. – Estamos de partida. Pegue sua bolsa e o notebook e vem comigo. O avião está esperando.

– Avião? – perguntou Lily confusa.

Ela pegava suas coisas quando Dorcas entrou na sala.

– Avião? – repetiu ela.

Lily e James mal se falavam desde o dia do encontro na livrara. Até a verdadeira Lily ele estava evitando. Marlene ligou para ela dizendo que ele não tinha ido mais na casa dela.

– Avião. – ele repetiu impaciente – Estamos partindo para a Flórida agora mesmo. Se tudo correr bem, estaremos de volta ainda essa noite, no máximo amanhã. O gerente da filial de Nova York andou desviando parte dos lucros e alterou livros fiscais. Conseguimos a prova de que estávamos precisando. Vou ter de demiti-lo do cargo e tentar fazer um acordo com a prefeitura. Os meus advogados estão na Flórida com todos os documentos, por isso estamos indo para lá. Meu pai sempre diz que o presidente deve estar no comando de situações como essa. Eu sou o presidente. Por isso estamos viajando.

– Estamos.

– Não se preocupe com nada. Prometo que você vai ser recompensada por esse transtorno. Normalmente Marlene ou Minerva cuidariam disso, mas como não tenho nenhuma das duas aqui. Você terá que ir comigo.

– Entendi.

– Vamos viajar no jato da companhia e vamos passar a tarde toda em reuniões importantes. Quanto às roupas, já entrei em contato com o hotel em que vamos ficar hospedados e pedi que mantenham as lojas abertas até a nossa chegada. Quero que compre tudo o que precisar, algo que seja mais simples. Quero que construa uma imagem mais clássica e profissional, não que pareça que vai a um show de rock. Marlene e eu sempre deixamos algumas roupas no armário do avião. Se as roupas dela servirem em você, garanto que ela não vai se importar se você usar. Não cabe nela mesmo né?

– Sim. Sr. Potter.

Era irônico. Tinha apenas as roupas do corpo para montar o disfarce. Já James mesmo sobre forte pressão parecia ótimo. Nem precisaria mudar de roupa, por que o terno que vestia era elegante e perfeito, até os óculos que ele usava, davam um charme a sua aparência.

Chegaram até o avião e logo se sentaram pra que ele pudesse decolar. Logo que o piloto anunciou que podiam soltar os cintos, James falou:

– As roupas estão naquele armário. – disse apontando para uma porta que tinha no fim do corredor.

– Obrigada.

Sem alternativa, Lily abriu a porta do armário e pegou o primeiro conjunto de saia e blusa social que encontrou ali. Ele queria uma profissional? – pensou ela entrando o banheiro. – Ele teria uma profissional.

Com a determinação renovada Lily retirou a peruca e soltou os longos cabelos ruivos. Depois usou um creme de limpeza pra retirar a maquiagem.

Por um momento desfrutou do prazer de ver seu verdadeiro rosto no espelho. Mas logo se entregou a tarefa de construir uma nova imagem para Marie.

Usando uma tesoura que sempre carregava na bolsa, cortou a peruca, agora teria os cabelos na altura dos ombros. Depois de colocá-la, refez a maquiagem de teatro, mas preferiu usar um tom menos carregado para deixar o rosto mais natural. Concluída a maquiagem, ela vestiu o conjunto azul de Marlene e olhou o resultado final. Faltavam os óculos. Os de lentes grossas e escuras foi trocado por um incolor com armação dourada. Agora sim parecia uma secretária de verdade. Não uma maluca, indo para um show de rock.

Orgulhosa, saiu do banheiro e voltou a se sentar na sua cadeira cruzando as pernas.

James prestou atenção nelas por um momento depois desviou os olhos.

– Cortou o cabelo? Ficou... melhor.

– Segui suas instruções.

– Obrigado. Agora sim parece uma secretária de verdade.

– Quanto tempo até chegarmos?

– Mais ou menos uma hora.

– Entendi... O que devo esperar nas reuniões?

James resumiu para ela a situação e com um pouco de surpresa ouviu as sugestões que ela dava. Algumas pareciam ser melhores que as dele.

Quase duas horas depois o avião pousou na Flórida.

– Pronta para desembarcar?

– Acho que sim.

Ao se levantar Lily esqueceu que tinha deixado a sua bolsa aberta. Estojos de maquiagem começam a cair de dentro de sua bolsa. Uma nuvem de pó branco subiu de uma embalagem que tinha caído no chão, manchando uma parte do terno de James. E ainda conseguiu pisar em cima de um tubo de batom vermelho.

– Marie! Tudo bem?

– Tudo... Mas a sua roupa, eu sinto muito. Eu posso tentar limpar.

– Tenho outro terno lembra?

Lily assentiu. Se ajoelhou no chão e começou a recolher os estojos quebrados.

– Para com isso! – James puxou ela pelo o braço e a colocou em pé. – Vamos comprar mais disso. Por favor, não suje suas roupas. Temos que ir direto para a reunião e não vai dar tempo de você se trocar também.

– E você?

– Eu sou bem rápido. Prometa que não vai por as mãos nessa sujeira.

– Só quero pegar o que pode ser reaproveitado. Prometo que não vou me sujar.

– Ótimo.

James se trocou rapidamente e desceram do avião para o carro que já estava esperando por eles.

– Não se esqueça de incluir maquiagem na compra de hoje. – James comentou enquanto entravam no carro. – Não deve ser difícil encontrar maquiagem por aqui.

Comprar maquiagem é realmente muito simples. A menos que seja maquiagem para teatro.